Afinal, saiu a mãe de todas as remodelações

(Por Valupi, in AspirinaB, 03/05/2023)

(Não é que o Costa seja flor que se cheire mas até quanto aos odores há uma escala de agradabilidade. E se o que aconteceu ontem tivesse sido um combate de boxe entre o Costa e o beijoqueiro-mor do reino, só poderíamos dizer que, quanto ao resultado do prélio, Costa levou Marcelo ao tapete por KO.

Estátua de Sal, 03/05/2023)


No conjunto das pressões para a demissão de Galamba, a mais importante veio do aparelho do PS e demais figuras socialistas de referência. Carlos César agiu como lobista de Marcelo ao vir no domingo dar como fatal uma remodelação que seria alargada a outros nomes. Era a consequência do tal telefonema de sábado onde um Presidente da República tinha exigido a um primeiro-ministro que abdicasse da sua autoridade, do seu mandato popular, para se sujeitar a repetida perversão da Constituição. Para o César, estava tudo bem, era fazível em ordem a comprar mais tempo a Belém. Que se fodesse o Galamba do brinco, ou lá o que é, na orelha.

Por ser assim, foram os socialistas os que mais se espantaram com a decisão de António Costa na recusa de ceder à chantagem de Marcelo Rebelo de Sousa. Para a direita também houve surpresa e choque, mas foram instantaneamente substituídos por raiva e ódio. Nos socialistas o espanto permaneceu como embriaguez. Estavam a assistir ao nascimento de um líder que não conheciam apesar do tanto que conhecem, e gostam, no actual secretário-geral do PS. Este mostrava uma competência nova, quiçá mais imprevista do que a da formação de um Governo minoritário com o apoio do PCP e BE numa legislatura onde uma aliança da direita teve mais votos e mais deputados do que o PS. Consiste em ter cortado o nó górdio que uma oposição decadente alimentada por um Chefe de Estado disfuncional impuseram como quotidiano político. Não se concebe remodelação mais valiosa na política nacional.

Daí a demissão de Galamba, apenas a condição para a sua retomada de posse. O primeiro-ministro iliba o seu ministro e convida a matilha a persegui-lo a ele, o líder. Caso não tivesse pedido a demissão, o ministro das Infraestruturas estaria diminuído na sua capacidade política. Feita, recuperou o estatuto de membro do Governo na plenitude da sua autoridade — ou melhor, com autoridade reforçada. O efeito regenerador estende-se a todo o elenco governativo. A maioria absoluta conquistada em Janeiro de 2022 poderá ter conhecido a 2 de Maio de 2023 o verdadeiro início do seu ciclo.

E se a dissolução da Assembleia ocorrer dentro de dias, semanas ou meses? É indiferente. O que não depende de nós não nos responsabiliza. É o que fazemos com a nossa liberdade que nos define. António Costa, ontem, definiu-se como um líder digno do legado histórico e combativo de Mário Soares. E com isso o PS continua a ser o esteio da democracia portuguesa.


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4 pensamentos sobre “Afinal, saiu a mãe de todas as remodelações

  1. Cá em casa tb pensamos que a Democracia quase moribunda com o “Circo” comandado perto dos Pasteis mais famosos do Burgo Lusitano ,saiu reforçada e Mário Soares ontem fez festa pq cantou quem ataca o PS ,leva …..Costa ontem ressuscitou e contra a Telenovela das TVs arruaceiras que hoje de cara à banda continuavam a Carpir ,pq o fim da Telenovela teve um fim infeiz ,não de “faca e alguidar”mas de Realpolitique : nada se fala nas TVs arruaceiras da vida do dia a dia dos Portugueses ,mas da “morte da democracia”com estes “actores” de “Circo mediático”……a Direita entrou em coma e o “seu mestre das Cerimónias”,anunciará as próximas cenas ,pq é essa a sua natureza ,indiferente aos problemas reais dum Povo que sofre no dia a dia para sobreViver…..

  2. O que me chateou foi o Costa ter puxado da ‘consciência’.
    Para manter um bruto, grosseiro e mentiroso no governo, basta incocar a coerência na sua equipa sem recurso ao que não se tem.
    A sentença do Costa de ter havido agressor e ladrão a vitimar o ministro, sem que refira que este despede por telefone quem trabalha há 6 anos na função e é seu assistente, e nem direito tem de entrar a recolher meios de defesa e uso pessoal, é a ‘Agenda do Trabalho Digno’ que entusiasma qualquer dependente do funcionamento da sua consciência.

  3. De facto escolher entre o Marcelo e o Costa não é fácil.
    Mas aplaudir o Costa neste caso, acho que nem ao Diabo lembraria!

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