Ações desesperadas!

(Hugo Dionísio, in Facebook, 30/01/2023)

Alguma coisa está em mudança no monte Olimpo e está a deixar em retalhos a união de tendências ligadas à falcoaria estado-unidense. Perceber e prever as acções da elite política que comanda, através dos seus mandatários transnacionais, os nossos destinos, implica conhecer o que reflecte e publica o mais importante think thank de defesa dos EUA.  Esta pesquisa leva-nos a uma entidade que muito raramente surge nos momentos “informativos” da imprensa do atlântico norte: trata-se da RAND Corporation.

O momento mais conhecido da RAND, no que respeita ao conflito no leste europeu, é sinalizado pela publicação do relatório “Extending Russia – Competing from Advantageous Ground” (estender a Rússia – competir por uma posição vantajosa no terreno). Este relatório contém todo o cardápio de malfeitorias que, nas pretensões tornadas públicas, publicadas e assaz repetidas pela cúpula do poder dos EUA, levaria a uma fulminante derrota do poder político, económico e militar da Federação Russa.

A análise manifestada publicamente, pelos diversos intervenientes políticos, dizia que a Federação Russa não passava de “uma bomba de gasolina com armas nucleares”, um “tigre de papel” com um PIB equiparado ao da Holanda e um povo amordaçado por um “ditador louco” que, apenas pelo “autoritarismo” e “repressão”, se mantinha no poder.

Partindo de uma análise cuja informação parecia consubstanciar tais posicionamentos políticos, o relatório da RAND preconizava um tipo de intervenções, algumas das quais bem reportadas – outras nem por isso – na imprensa oficial. Foi o caso da tentativa de revoluções “coloridas” made in CIA na Bielorrússia, no Cazaquistão e nos países da Ásia central, os quais, em conjunto com a Geórgia e a Moldávia, seriam provavelmente “promovidos” e “apoiados” à condição de uma Ucrânia actual. A Federação Russa, tendo de acorrer a todos os fogos – uns porque se transformavam em exércitos por procuração (como a Ucrânia), outros em bases de operações de desestabilização interna lançadas pela CIA -, acabaria por se “estender” até se partir em bocados e colapsar, colocando um fim à ameaça atual. Mesmo sem esta partição, sempre se poderia chegar a um ponto em que, após a destruição do poder político vigente, seria instalado um “regime” mais dócil, apontando a uma “posição mais vantajosa no terreno”.

Dado a conhecer apenas em 2019, somos forçados a constatar que esta estratégia já estava em preparação há muito, principalmente a partir do momento em que o presidente russo perdeu a esperança de poder contar com uma “parceria” ocidental e anunciar o fim do mundo unipolar. Facto é que, o relatório tem uma ligação lógica com a National Defense Strategy de 2018 (estratégia nacional de defesa dos EUA).

Fosse quando fosse, esta estratégia entronca na estratégia de “jugoslavização” da Federação Russa. A verdade é que o itinerário constante desse trabalho foi cumprido quase escrupulosamente pela cúpula de segurança e defesa dos EUA: revoluções “coloridas”; estados transformados em exércitos por procuração; campanha de comunicação e desinformação; operações de desestabilização e sabotagem; sanções e embargos económicos. Um cardápio de fulminantes actividades “democráticas” em crescendo!

E porque é que é importante falar disto hoje? É importante porque nos últimos dias foi publicado um novo documento da RAND Corporation, mas desta feita em sentido inverso, um estudo intitulado “Avoiding a Long War U.S. Policy and the Trajectory of the Russia-Ukraine Conflict” (evitar um conflito de longa duração – a política dos EUA e a trajectória do conflito russo-ucraniano).

Se os trabalhos anteriores apontavam para os objectivos que tão propalados foram por Anthony Blinken, Biden, Nuland ou Kirby, e que passavam por um conflito duradouro que esgotasse as energias russas, de forma a permitir a remoção do obstáculo, pela força, se necessário fosse, o estudo publicado, desta feita, aponta para a realização de uma análise custo-benefício entre os custos e riscos resultantes de uma guerra longa com Moscovo e os benefícios que os EUA podem retirar de uma trajetória, que se prevê de escalada e que pode resultar numa confrontação directa.

Algo mudou e de que maneira. Primeiro era o triunfalismo e a destruição da ameaça, agora, um conflito longo traz riscos e custos que impedem os EUA de se focarem em prioridades mais prementes. Como ficamos? No início pretendia-se, precisamente, um conflito duradouro… Agora, não apenas comporta custos e riscos, como parece ser a própria Rússia que está mais confortável com a previsível extensão do conflito no tempo, ao ponto de designar Gerasimov como comandante-chefe das forças armadas, prevendo mais do que um teatro de operações em simultâneo (a RAND apontava para a possibilidade bilateral polaca).

Segundo o site Moon of Alabama, uma das melhores fontes sobre política externa dos EUA, a publicação deste estudo não surge por acaso, surgindo após uma tentativa por parte do chefe de gabinete dos EUA, Mark Milley, em promover um debate interno sobre possíveis negociações de paz com a Rússia. Perdida a batalha na Casa Branca, não conseguindo demover Biden – pois este só ouve Nuland, Blinken e Sulivan (falcões de serviço) -, optou pela exposição pública da sua pretensão, vindo apelar ao início das negociações primeiro e, talvez, suscitar a publicação deste estudo, depois.

O problema é, como escreve Tyler Durden, num dos melhores sites de opinião da actualidade que é o ZeroHedge, no seu artigo “The most Egregious Mistake” (o erro mais egrégio), recuar e inverter a direcção da política dos EUA, nesta matéria, não é, simplesmente, uma opção. A Casa Branca levou todo o Ocidente numa direção e velocidade tal, em matéria de triunfalismo, arrogância e “egrégia” imbecilidade, que não existe retorno ou inversão possíveis, sem uma total derrota da narrativa oficial e a consequente vergonha eterna. Daí que, estes esforços de Mark Miller devam resultar em muito pouco, a não ser no aprofundamento das fracturas internas, o que pode ser positivo. O facto é que, já existe gente a pretender destoar deste caminho para o abismo.

Agora, ao contrário dos diversos escritos sobre a matéria – segundo os quais, inicialmente, esta estratégia não resultava propriamente de uma necessidade mas de uma escolha, traduzida no tal “erro egrégio” -, que tendem a explicar a impossibilidade de inversão na direção da estratégia suicida actual, com o sectarismo da narrativa oficial – que só oferece certezas e resultados inequívocos -, eu, pessoalmente, tendo a considerar que não se tratou de um “erro”, nem tão pouco de uma escolha, mas sim, de um acto de desespero.

Diz a narrativa – americana – alternativa à corrente oficial, que a estratégia delineada representava uma ameaça existencial para a Rússia, mas não para os EUA. Para os EUA seria possível enveredar por outros caminhos que não os da criação deste conflito.

A meu ver, esta é uma posição condescendente e que desvaloriza os sentimentos de urgência que resultaram da análise catastrófica (nunca tornada pública) que, provavelmente, muitos terão feito quanto à situação da hegemonia estado-unidense. O facto é que, enquanto os EUA gastaram 8 triliões de dólares na guerra ao terror, canalizando para aí todos os seus esforços diplomáticos, económicos e militares… o que fizeram Rússia e China?

Enquanto os EUA usavam o pretexto do terrorismo (que eles próprios tantas vezes fomentaram e instrumentalizaram como arma de arremesso contra adversários políticos – Síria, por exemplo) para dominarem as maiores reservas mundiais de petróleo (no Médio Oriente), secundarizando outros recursos naturais, hoje com importância (como o lítio, por exemplo), a China desenvolveu as suas infraestruturas, industria, exercito e, sobretudo, a sua plataforma internacional de trocas comerciais, hoje conhecida como Belt and Road Initiative (Novas Rotas da Seda). Neste período, o Sul Global pôde experimentar uma nova forma de “soft power”, que em vez de exigir privatizações, dolarização da economia e reformulação do sistema político à moda do que dava mais jeito, tendo o FMI e o Banco Mundial como os procuradores de serviço, a integração na BRI apenas exige que os projectos facilitem as trocas entre os países (daí as infraestruturas). Em troca de recursos naturais, estes países – ao invés de corporações ocidentais e “investimento” traduzido na compra das empresas publicas -, recebem escolas, hospitais, redes 4G e 5G, portos, aeroportos, pontes, e quanto maiores e mais desafiantes melhor.

Nem a propaganda da “armadilha da dívida”, bem conhecida do FMI e dos tratados de associação com os EUA, impediu mais de 120 países de aderirem a esta rede. Entretanto e no mesmo período de tempo, a Rússia pôde reerguer-se do pesadelo neoliberal dos anos 90, recuperando a sua indústria e, acima de tudo, a sua autoestima e orgulho nacional. Um pecado mortal aos olhos da Casa Branca. Foram feitos projectos de integração euroasiática (EUEA), de cooperação internacional (BRICS) e de infraestruturas (INSTC) que contornam a influência dos EUA através dos mares, o que ajuda a blindar a economia dos países envolvidos.

Enquanto este mundo multipolar nascia nas barbas dos falcões mais arrogantes e sectários, o complexo militar industrial centrava as suas atenções na guerra ao terror. Os nossos noticiários, à data, em vez de Ucrânia, começavam e fechavam com atentados suicidas e bombas-relógio. Até que…

Quando começaram a surgir as informações sobre este mundo, sob a forma de dados concretos, o pânico começou a instalar-se. Foi por alturas de 2017/18. É claro que, na minha perspectiva, este pânico não pode confessar-se. A sua exteriorização começou a surgir através do Euromaidan, da pressão e desestabilização sobre nações da América Latina menos alinhadas, com a prisão de Lula da Silva e de outros líderes nacionais, promotores de políticas com as quais a Casa Branca não estava confortável. Aos poucos fomos vendo a política externa dos EUA dirigir-se novamente para o domínio dos recursos naturais e dos mercados e menos para o terrorismo. Chegaram mesmo a “abandonar” o Médio Oriente, deixando aí apenas os cães de guarda sionista e curdo. Era o tempo dos noticiários que abriam e fechavam com a Venezuela.

Contudo, esta inversão de rumo já denunciava, a meu ver, uma espécie de corrida contra o tempo. Tempo que tinha que ser ganho.

Perante a contínua perda de terreno, lá chegámos ao tempo do Covid (que segundo muitos é uma “cartada” da Casa Branca, provocada ou oportunista, logo veremos, a seu tempo) e à construção de uma estratégia militar que terá sido eleita como, o último dos meios – longe de ser remoto –, para “conter” a China, recém classificada como “ameaça existencial”.  O confronto no Pacífico passaria pela criação de uma NATO oriental, baptizada de AUKUS. Nessa estratégia havia que remover os obstáculos que poderiam fazer pender a balança para o lado do inimigo. Esse obstáculo era a Federação Russa. A celebração de uma verdadeira aliança estratégica entre a Federação Russa e a China demonstra que as lideranças destes dois países deixaram de ter qualquer ilusão sobre as reais intenções dos EUA. Quanto mais juntos estiverem, maior a sua protecção e maior a ameaça para os EUA.

É aqui que surge a opção “ucraniana”! A estratégia de estender a Rússia até que partisse não foi uma opção. Foi uma acção desesperada. Absolutamente! E porquê?

Não o digo apenas por causa do que antes referi e da urgência que os dirigentes da elite das Corporações Transnacionais (a espinha dorsal do Império estado-unidense) deverão ter sentido perante a informação que lhes foi chegando. Nesta fase, convém dizer que o “falhanço” da estratégia chinesa teve a sua importância nesse desespero. Para a elite corporativa que controla o poder político dos EUA, a “abertura” económica da China levaria de certeza (não sei em que ciência se basearam) à destruição do poder do Partido Comunista e à instalação de um governo de tipo neoliberal. Hong-Kong já terá sido uma etapa forçada, pois esta gente acreditava que o processo seria mais ou menos “natural”, resultando num colapso de tipo “URSS”, desta feita, na China. Mas não… Em 2015 já se dizia na Casa Branca que teriam de aprender a viver com a China como ela era. Não haveria um novo “Tiananmen” à vista.

Para a elite corporativa transnacional não existe cooperação. Existe domínio. Afinal é esse o combustível e a adrenalina do império. De qualquer um. Mas, voltando ao leste europeu, porque digo que a opção ucraniana foi desesperada?

Primeiro, foi forçada. E foi forçada porque resultou do fracasso de gente como Navalny e outros fantoches neoliberais, que deveriam ter conseguido produzir um desgaste do poder do Rússia Unida. A opção preferencial é sempre a que passa pela desconstrução e submissão interna do adversário. Não o conseguindo, sobrou apenas a militar. A militar é a componente em que os EUA ainda se consideram superiores.

O relatório da RAND apontava para um conjunto de “tarefas” que deveriam ser cumpridas para atingir-se o objectivo de “estender a Rússia” e assim conseguir uma “posição mais vantajosa no terreno”. Foi atingido esse desiderato? Não, nem por sombras.

Primeiro, falharam as revoluções “coloridas” na Bielorrússia e Cazaquistão. Não apenas não removeram os respectivos governantes como pioraram a sua situação no terreno, reforçando o poder da Rússia sobre esses países (os respetivos governos por ela “salvos”). Segundo, falharam as sanções de 2014 em diante, ao não destruírem a economia russa. Pior, deram ao país uma capacidade de viver com as sanções do Ocidente. As sanções foram “a” oportunidade de desenvolvimento, o pretexto que faltava para passar de uma economia apenas baseada na extracção de recursos, para uma economia industrial, em alguns casos de ponta e de ciclo completo, ou seja, com setores-chave soberanos e blindados contra manobras de sabotagem, a partir do exterior. Terceiro, a Geórgia não mordeu o isco e não se armou em exército por procuração, falhando o plano de criação de várias frentes de batalha. De tudo isto a Federação Russa saiu mais forte.

Enquanto o discurso para fora, por motivos ideológicos e estratégicos, continuava a ser o da “bomba de gasolina”, as acções denunciavam apenas desespero. A própria instrumentalização dos acordos de Minsk, acordos sancionados pela ONU, como forma de ganhar tempo para armar a Ucrânia, descredibilizou totalmente o Ocidente aos olhos do Sul Global. Quem engana assim, um país como a Rússia, apoiando-se num processo como o de Minsk, é capaz de tudo.

O facto de conseguirem “convencer” um país ao sacrifício por causa do poder de outro, fazendo assentar esse “convencimento” na instauração de uma doutrina neonazi, que recupera Bandera (responsável direto pela morte de milhões de polacos, ucranianos e judeus), assente na xenofobia, no ódio racial e cultural, conduzindo esse país a um golpe de estado perpetrado por forças comparáveis às SS, e fazerem esta gente toda passar por mártires e heróis, chegando mesmo a retirar o batalhão Azov da lista de organizações extremistas… Tratou-se de outra facada na confiança, por parte de um mundo composto por nações a quem ainda não foi apagada a memória e conhecem o que de mal o fascismo e o nazismo lhes trouxe. Esse mesmo mundo também sabe a contribuição decisiva que a URSS – e a Rússia, por maioria de razões – deram, no século XX, para a derrota do colonialismo e para a libertação nacional da maioria da Humanidade.

Tratou-se, também, da libertação das garras do imperialismo e colonialismo ocidentais. Do mesmo Ocidente que usou a pilhagem como momento de apropriação primitiva de riqueza, que lhe permitiu chegar primeiro ao desenvolvimento e que depois o usou para submeter, ainda mais, os pilhados. Não, este mundo já não confia no Ocidente. Este mundo não é o mesmo mundo que a média corporativa diz estar com Zelinsky.

O discurso oficial negou toda esta realidade e vendeu uma “banha da cobra”, segundo a qual, a Ucrânia, com a ajuda da poderosa NATO, venceria, sem apelo nem agravo, uma guerra de atrito contra a Rússia. Claro, a vitória seria tão retumbante que o atrito nem se iniciaria, pois, às primeiras sanções, o poder cairia na rua. Nem os milhares de agentes russos que a CIA tem no seu bolso foram capazes de o conseguir. O poder não só não caiu como se reforçou, demonstrando que ainda está por nascer a nação orgulhosa que, sendo acossada a partir de fora, se volta contra si própria. Os pressupostos da RAND continuavam a estar cada vez mais longe de se verificarem.

Segundo a imbecilidade resultante do complexo de superioridade das elites ocidentais, um país com 3% do PIB global não teria hipótese contra o poderoso G7/NATO/EU. O que diz muito da metodologia de mensuração do PIB e do uso deste enquanto forma de caracterização de uma economia. Como explicou o “velhinho” Marx, só o trabalho produz riqueza e só a transformação da matéria em algo com valor de uso traduz essa riqueza. É isso a “economia real” de que tanto fala Martyanov. Ao contrário da economia especulativa e ultra-financeirizada do Ocidente, a Rússia tem uma economia real, que produz coisas com valor de uso. Com valor “real” de uso, sem as quais não vivemos, ao contrário de um Iphone ou de um perfume Chanel. Aliás, o Sul Global tem vindo, paulatinamente, a descobrir que tem os recursos, a tecnologia e a riqueza para possuir uma economia real. E não precisa do Ocidente para isso. É o Ocidente que não vive sem o Sul Global e não o contrário. O Sul Global já o percebeu, e os EUA também.

Ao constatá-lo, e ao assistir ao espectáculo deplorável que é o constante confisco de quantias soberanas depositadas em dólares ou euros, que o Ocidente, a mando dos EUA, tanto rouba, hoje assistimos a um movimento de fuga ao dólar…

Também nisto temos muito desespero, como o processo que levou à “instauração” de um Guaidó na Venezuela ou as sucessivas tentativas de revolução “colorida” no Irão. Em ambos os casos, os dois países viram “congelados” as suas reservas no espaço G7/NATO/EU. Se este movimento, por si, já tinha colocado em sobreaviso muitos países – pois já não eram apenas os “comunistas” Cuba e República Popular da Coreia -, desta feita, o congelamento e intenção de confisco das reservas russas fez, claramente, apertar o botão de pânico. Qualquer país, independentemente da dimensão, se não aceitar a submissão, é alvo de confisco de tudo o que tenha em moedas do Ocidente colectivo.

O resultado? O resultado é BRICS+ e a cesta de moedas, é a proposta de moeda latino-americana entre Brasil e Argentina, é o retorno ao ouro, o criptoyuan e a multiplicação das trocas em moedas nacionais, como já sucede entre países euroasiáticos, Irão, China, India, Turquia e Rússia, a que muito recentemente se juntou o Paquistão, ou o caso da Arábia Saudita e China. O desafio parece ser simples: fugir às moedas “malditas”, mas sem parecer que se está a fazê-lo com urgência, não vá tudo cair aos trambolhões.

Este resultado era óbvio e foi tantas vezes previsto ao longo da última década. Inclusive em canais insuspeitos do ponto de vista da ideologia neoliberal como o Bloomberg ou Politico. Mas nem esses avisos demoveram a suicida arrogância e prepotência que resulta de 500 anos de supremacia racial ocidental.

Hoje, depois de Annalena Berbock nos confirmar que fomos arrastados para uma guerra, sem qualquer discussão democrática de fundo e reflexão pública, a não ser as infindáveis horas de propaganda “slava Ukraini” na média corporativa; tal guerra parte, também ela, de uma subavaliação das capacidades militares e industriais da própria federação russa.  Lêssemos o relatório feito pelo Congresso há uns dois anos sobre as capacidades militares da Federação Russa e veríamos que a conclusão geral era qualquer coisa como: muito armamento, mas pouco sofisticado, com problemas de precisão e ultrapassado em relação ao dos EUA. Ora, não é essa a história que contam os mais de 7500 tanques abatidos, os mais de 300 aviões, mais de 200 helicópteros e, mais importante que tudo, as centenas de milhares de vidas perdidas, principalmente de soldados (Zaluzhny terá dito ao Pentágono que seriam 232.000, fontes da CIA falam em 305.000 e a inteligência Chinesa já fala em 500.000 a 680.000). Seja o maior ou o mais pequeno, especialmente quando comparado com as perdas russas, dá-nos uma ideia catastrófica da desproporção de forças. Assistimos, de facto, a um processo de desmilitarização e desnazificação.

Com este pano de fundo, discutiu-se o envio de tanques, em mais um episódio de “armas maravilha”. Mas, desta feita, e depois de as outras não terem surtido o efeito desejado, os EUA já não querem atirar para a fogueira mais negócios de venda de armamento, como aconteceu com os “maravilhosos” HIMAR ou M777. Enviassem para lá os seus tanques Abrams e logo cairia o número de vendas. Assim, os alemães que mandem para lá os seus Panzer Gepard. Sholz não queria? Quando o ouvi dizer que só os enviaria se… Logo pensei: “ainda não recebeu o pedido não recusável de Biden e companhia”. Não demorou um dia a aparecerem imagens dos tanques a caminho da Polónia, ainda antes do anúncio público. É assim a Alemanha dos nossos dias: um aglomerado de cavaleiros teutónicos identitários montados em unicórnios, com armaduras rosa e com girassóis não mão, em vez de espadas. Uma tristeza!

Seja como for, lá se vai preparando uma campanha de primavera em que, para defender os EUA, mais 100.000 militares ucranianos, recrutados à força, serão sacrificados em nome de Bandera (multiplicam-se a velocidade alucinante os vídeos de gente a ser apanhada nas ruas, nos centros comerciais, a esconder-se da polícia…)!

Podendo já garantir-se a derrota da ofensiva (vá lá… um país como a Rússia prefere sacrificar milhões dos seus melhores filhos a submeter-se a um qualquer império ocidental), os EUA preparam-se já para a próxima manobra desesperada. A jogar em Taiwan, Japão e Coreia do Sul. Entretanto seguem-se as tentativas de revolução “colorida”, até agora frustradas (os outros estão a aprender a desarmar o exército de ONG’s da CIA), para arranjar mais candidatos a “Ucrânia” no Pacífico.

O estudo da RAND aponta precisamente para essa “prioridade”. Mais uma que levará a acções cujos requisitos prévios não se verificam e, por isso mesmo, condenadas ao fracasso. Mas como alguém, dos EUA, disse há algum tempo: “já não existem opções boas”. Só as desesperadas. Faz lembrar os últimos tempos do Reich com a sua procura pelas “armas maravilha”.

Mas se o resto do mundo já viu as cenas dos próximos capítulos, aqui no território da NATO, a média corporativa ainda anda em modo ilusório, segundo o qual, o mundo é um quintal dos EUA e o Ocidente coletivo é a referência civilizacional… É como o chavão “a Ucrânia está a ganhar a guerra”.

Será com prazer que assistirei a toda a uma multidão de jornaleiros, analistas, politólogos e outros charlatães a fazer o pino… e a dizer “ninguém previa isto”!

Não é o que fazem sempre? Em sinal de desespero?

E ainda há quem acredite neles!

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14 pensamentos sobre “Ações desesperadas!

  1. Muito bom. Mas para ilustrar o estado de completo desespero do regime genocida EUA/NATO, faltou falar daquele episódio em que uma mulher das forças armadas dos EUA fez uma declaração em que dizia que os EUA tinham PEDIDO AJUDA a Cuba, Nicarágua, Bolívia, e Venezuela, entre outros países das Américas do Sul e Central. Queriam que estes países ajudassem enviando as suas armas (tanques, mlrs, etc) para a Ucrânia, e que em troca ficassem de receber material made in USA.

    Mais, por estes dias veio a público a recusa de Lula em sequer vender material de guerra Brasileiro à Alemanha, para que este não pudesse ser usado contra a Rússia.

    E a entrevista de um Bauer qualquer da NATO/EUA a queixar-se perante uma prostituta portuguesa (quase dizemos a verdade, não é um insulto, é um facto) sobre a tristeza que é o fim daquele período em que o regime genocida EUA/NATO+vassalos era quem decidia que país invadir a seguir, e quando o fazer.

    E por fim as notícias sobre o atingir do limite da dívida dos EUA, que não podem emitir mais bonds e pode entrar en default se Congresso não subir limite da dívida, e mesmo que a possa voltar a emitir, já está com juros altíssimos (abençoados países *cough* China *cough* que se estão a livrar disso). A 1 ano subiram de 0% para quase 5% num espaço de meses. E a 10 anos subiram de 1% para 3.5%. Tendo em conta que se fala em recessão, isto é mais dívida que os EUA não conseguem pagar. Juntemos-lhe a des-dolarização em curso, e está o caldo entornado. Juntemos-lhe ainda o fanatismo NeoLiberal dos Republicanos para mais cortes na despesa (num Estado que já pouco ou nada dá/devolve aos seus cidadãos) e começa a cheirar a crise política. Querem ver que haverá #RegimeChange nos States em vez de ser na Rússia como a RAND queria?

    Tudo isto já está para lá de desespero. Isto é o princípio do fim do império. Até que enfim!

    Falta agora que mais Europeus abram os olhos e exijam uma Europa independente e livre da repressão do Uncle Sam. Tal não acontecerá com os actuais trastes (a quem chamam “líderes”) que não sei se são 100% acéfalos, ou 100% corrompidos pelos dólares, ou 100% agentes do Pentágono/CIA, ou se uma mistura dessas três coisas. Neste momento aproveitam-se os Presidentes da Hungria e da Croácia, os líderes políticos que continuam a prezar pela neutralidade de Suíça e Áustria, e uma parte da oposição de outros países, em Portugal só o PCP e de forma imperfeita o BE, e acima de tudo aqueles Eurodeputados Irlandeses sem papas na língua do grupo GUE/NGL: Clare Daly e Mick Wallace. Sigam as redes sociais destes dois grandes humanos, pois vale a pena. Mais vale um minuto das intervenções destas pessoas, do que toda a vida política de “artistas” como António Costa e companhia rosa e laranja.

    • “E por fim as notícias sobre o atingir do limite da dívida dos EUA, que não podem emitir mais bonds e pode entrar en default se Congresso não subir limite da dívida, e mesmo que a possa voltar a emitir, já está com juros altíssimos”

      São as duas escolhas idiotas de tentar reconciliar as contradições do capitalismo, mas são escolhas. Mesmo em crise, continua a ter o que exportar que se tornaria mais competitivo se quisessem aproveitar uma suposta queda do dólar.
      Mas ficar sem dinheiro que criam nos pcs, isso só se quiserem. Até porque os juros alimentam muita campanha.

  2. Como sempre,muito bom!

    Gosto muito dos líderes ocidentais. Graças a eles, o mundo está a libertar-se e a acordar. A prova é que países pequenos como o Mali, Burkina teve a coragem de fazer frente à grande europa. A Argélia está a correr para os BRICS e a África do Sul em treino militar com os russos. É o Brasil e a Argentina que olham nos olhos de Scholz para dizer que não fornecem os tanques e munições soviéticas à Ucrânia e que não nos alinharemos com as vossas posições.

    Os sauditas, por outro lado, olham Biden nos olhos e dizem-lhe que não vamos aumentar a nossa produção de barris de petróleo, na verdade estão a reduzir, e depois vão vender o petróleo em rublos e Yuan. A Índia, por outro lado, já não teme ninguém e compra petróleo russo como doces. A Coreia do Norte dispara agora os seus mísseis como foguetes. O Irão já não fala de um acordo nuclear, não quer saber de sanções e continua surdo às ameaças dos EUA e de Israel e, acima de tudo, vende as suas jóias de drone aos russos que estão a fugir aos ucranianos.

    O mito do poder europeu caiu finalmente graças a Macron e Scholz que tremem às ordens de Zelinsky.
    Um amigo disse-me em 2019 que os pequenos países pobres nunca poderão libertar-se do Ocidente, mas um dia o Ocidente destruir-se-á mutuamente e os mais pequenos vingar-se-ão. Nessa altura, disse-lhe que era possível, mas talvez daqui a 50 ou 70 anos, não durante a nossa vida.
    Isto deveria ser um alerta para os ocidentais que, se provocarem uma guerra mundial, podem encontrar-se em guerra com o mundo inteiro,e não tem para onde fugirem…

    Os lideres europeus são homens extremamente inteligentes, muito acima da média, e o problema com estas pessoas é que nunca se deve dar-lhes poder. Porque não? Porque, tal como os bilionários, estas pessoas vivem num mundo paralelo. Não têm empatia pelas pessoas que não vivem no seu mundo. Não é culpa delas não compreenderem e não conseguiram compreender. Os lideres europeus na sua lógica racional estão convencidos de que Putin não utilizará armas nucleares porque seria o fim do mundo. Estão errados, se o Ocidente continuar assim, iremos directamente contra a parede. E tudo isto para quê? Para os Donbass, uma região que provavelmente 80% dos europeus ocidentais e certamente 95% dos americanos não sabiam sequer que existia antes deste conflito.

    O Donbass, martirizado desde 2014 por um regime ucraniano ultra-nacionalista na indiferença geral, uma região já meio destruída desde 2016 pelos bombardeamentos ucranianos, para não falar das execuções sumárias, mulheres violadas e depois decapitadas, famílias inteiras queimadas vivas nas suas casas pelos comandos Azov, ultranacionalistas neo nazis que fazem a saudação hitleriana e cujo emblema é uma suástica invertida.

    Assim, para nos fazer esquecer tudo isso, eles falam da independência da Ucrânia e do seu direito de se defender. Mas que independência? Um país cujo governo foi colocado no poder por um golpe de Estado organizado pela CIA, cujo ministro das finanças é um americano, cujo CEO da maior companhia petrolífera é o filho de Joe Biden, cujos 40 a 60% das terras (dependendo da fonte) foram comprados desde 2014 por trusts e fundos de pensões americanos. Um país independente? Isto é uma piada.

    A parte mais triste de tudo isto são os infelizes ucranianos que não pediram nada a ninguém, mais de 300.000 mortos já. É assustador. O problema não são os ucranianos que supostamente se querem defender a todo o custo, pelo contrário, só querem que toda esta loucura cesse o mais depressa possível, o problema é o seu governo de loucos e corruptos até ao âmago na remuneração dos americanos que os utilizam para satisfazer o seu desejo louco de querer destruir a Rússia para confiscar a sua riqueza.

    O que me impressiona são os pseudo-jornalistas não temerem de todo uma terceira guerra mundial que será nuclear, que acabarão por assar como sardinhas, nomeadamente que em caso de guerra, é certamente Lisboa que seria atingida em primeiro lugar
    Sendo as ogivas nucleares de uma certa potência, penso que Lisboa e arredores seria varrida do mapa . É um ataque de aviso, porque a arte da guerra não é destruir o QG do comando militar supremo, para negociar um armistício… Caso contrário, não há nenhum representante constitucional para negociar e isso é o caos final!

    Finalmente, todos os pseudo- jornalistas, que nunca mexeram o rabo dos seus lugares, demasiado apegados ao mel que trazem todos os meses e receosos de que o seu lugar lhes seja retirado, são os primeiros a receber lições de guerra!

    Mas de que guerra se fala? Todos eles pensam que estão em 1914? ou 39/45? Ou eles pensam que será igual à segunda guerra mundial? Estão num delírio total, estão a sonhar, estão a beber demasiado vinho (paizinho,conhecido pelo vinho das tromboses) nos sociais em Lisboa….

    Eles pensam sinceramente que existe uma Linha Maginot imaginária, como em 1414? que os protegerá de um ataque cirúrgico, como diria BUSH senior?
    Quando ouço estas pessoas, digo a mim próprio que são suicidas…

    As apostas são enormes…moedas de reserva, lugares no conselho das Nações Unidas…temos de deixar de acreditar que não existem verdadeiras razões económicas!
    Se o dólar já não é uma moeda de reserva…o Ocidente é o terceiro mundo porque não tem matérias-primas e populações envelhecidas…de momento esta obrigação de usar o dólar está a sufocar 85% do planeta!
    Uma moeda apoiada em ouro…é contra isso que os americanos e os seus vassalos europeus estão a lutar!
    Todos fora do Ocidente compreenderam isto…esta negação da realidade é assustadora!
    Não os russos que estão isolados, mas a NATO, que NUNCA brinca e tem bombardeado incessantemente e cobardemente populações civis que estão demasiado felizes por se vingarem…começa a ser muita gente!

    Os Portugueses deveriam ter compreendido que o que está em jogo é enorme!

    Em caso de guerra com a China, a UE não está de joelhos mas em agonia, sem comércio em ambos os sentidos (especialmente as importações) estamos acabados, seria um desastre mas algo me diz que um regresso da questão Uyghur acontecerá rapidamente na mais pura tradição atlanticista da narrativa messiânica “salvar a minoria oprimida”.

    Em caso d guerra com a China falamos de semicondutores neste “conflito futuro” China/Taiwan, uma vez que a TSMC faz a esmagadora maioria dos semicondutores do mundo (mais de 90% se não estou a ser tolo). É uma enorme fábrica que pode ser utilizada para derrubar a economia mundial, especialmente a economia ocidental. O enésimo erro do Ocidente foi apostar a sua produção principal numa única fábrica baseada em Taiwan em vez de desenvolver as suas próprias fábricas de semicondutores, a STMicroelectronics para citar apenas uma, que está a ficar loucamente para trás e já não representa nada.

    Os EUA estão rodeados por dois oceanos, pelo que não podem ser invadidos. Além disso, é um país enorme e não vai ser posto de joelhos com armas convencionais. Se a China ou a Rússia entrarem em guerra com os EUA, será uma guerra nuclear. Temos de compreender isto. Encontramo-nos numa estrada muito perigosa.

    É evidente que os anglo-saxões (AUKUS) querem simplesmente eliminar todos os potenciais rivais para este século XXI: Primeiro os russos, depois os chineses e depois os indianos.
    Cada um deles tem um representante adequado para se opor a eles, para a Rússia já foi feito com a Ucrânia (mais forte do que os pequenos países bálticos), para a China é Taiwan, e para a Índia amanhã, se continuar no seu caminho nacionalista, o Paquistão tornar-se-á novamente muito pró-americano.

    Quanto à Europa, já está feita, não vale nada, a economia alemã em breve estará no terreno, sem energia para gerir a sua indústria.
    Na verdade, é uma agenda que não poderia ser mais agressiva, uma grande limpeza.

    Como lembrete, após a visita de Pelosi a Taiwan, o povo de Taiwan votou maciçamente nas eleições locais para o Kuomintang. E o Kuomintang reabriu as relações diplomáticas com a China, o povo e o partido não apreciaram de todo as provocações dos EUA. Portanto, é claro que se os taiwaneses não ousarem votar nos EUA, arriscam-se de facto muito. E, como de costume, será feito nos EUA.

    Pesquisei sobre uma análise das capacidades de mobilização do exército chinês, mostrou que, em três meses, a China é capaz de mobilizar 5 milhões de homens. Em seis meses seriam 15 milhões e em dois anos 60 milhões de homens. Se a situação na Ucrânia se deteriorar, é bem possível que os russos possam contar com divisões chinesas na frente oriental (a solidariedade obriga). Preparem-se para agitar as pequenas bandeiras vermelhas nas suas ruas enquanto o exército do dragão passar…

    Vou parar de escrever isto: Eles desafiam a China quando sabemos histórica e factualmente quanto a Europa deve à China, e portanto quanto os americanos devem.
    Esqueci-me de três quartos, mas isso não importa:
    Esqueci-me de três quartos dela, seja ela qual for: pólvora, seda, porcelana, relógios , mecanismos de autómatos, mapas celestes, conhecimentos de arquitectura, ciência, corantes, etc,etc,etc…

    Nesta confusão, aqui está uma das mais antigas nações contínuas e eles, o último da classe e o parvenus arrogante da história do mundo, despojadores, belicistas e arrogantes, que estragaram o mundo, e não agradecem aos chineses a quem tudo devem através do intermediário da antiga Bizâncio que é hoje a Turquia, Grécia, Arménia, Macedónia e ontem até ao Norte de África no Ocidente e Síria no Ocidente; por intermédio dos Persas e dos povos antigos destas regiões que mais tarde se tornaram muçulmanos. ..

    Em suma, aqueles que devem tudo (incluindo a China blue…. e o que foi usado para criar o seu “blue jeans” corante… não importa, há mil coisas que lhes devemos, incluindo o papel.

    Que descaramento, que falta de reconhecimento destas pessoas pretensiosas, desleais e arrogantes, que falta de educação?
    Os civilizados dizem “OBRIGADO”.
    Os selvagens matam, raptam e roubam.
    O selvagem é aquele que usa contra si o que recebeu de si.

    Os chineses têm uma história que é pelo menos de milhares anos mais antiga que a nossa.
    E as últimas investidas, os renegados da Europa e os assassinos querem guerra?
    Há uma dimensão que os humanos ignoram e que os torna fracos: o céu, a terra, aquilo que não podem ver.
    O céu não vai gostar da arrogância destes mastigadores de pastilhas e dos seus seguidores.

    Na China, o rendimento nacional mensal per capita era de aproximadamente 120 euros em 1978 (em paridade yuan/euro calculada em 2015). Este rendimento excedeu 1.000 euros em 2015. O rendimento nacional médio anual per capita era inferior a 6.500 yuan (1.400 euros) em 1978, mas aumentou para 57.800 yuan (12.500 euros) em 2015. No nosso país, aconteceu o oposto, porquê?

    • Porra homem, você escreve ainda mais que… Lol
      São muitas palavras e muita razão.

      “vivem num mundo paralelo. Não têm empatia pelas pessoas que não vivem no seu mundo”

      É a bolha de Davos, previamente formada na “academia” de Washington e Chicago.

      É a que cria bestas que dizem:
      “até ao último ucraniano”
      – Úrsula von der Leyen, sobre guerra proxy da NATO/EUA contra povo Russo.

      E que já antes diziam:
      “500 mil crianças mortas? Valeu a pena!”
      – Madeleine Albright, sobre guerra do império genocida no Iraque.

      Ou até:
      “vamos fazê-los passar fome”
      – John Bolton, sobre as sanções ilegais contra povo da Venezuela.

      E depois temos aqueles que, sem maldade aparente, são superficiais e ficam do lado de quem lhes lava o cérebro, sempre seguidores da indignação selectiva de cada dia contra o país atacado pela CIA e pela “imprensa livre” em cada momento, como a Catarina Furtado a cortar umas pontas espigadas do cabelo “pelas mulheres Curdas do Irão”.

      Ou as presstitutas todas que num dia omitem os ataques terroristas do Apartheid Israelita contra a invadida Palestina, e no dia seguinte fazem manchetes com “terrorista do Hamas ataca civil Israelita”, sem dizerem que isso foi contra-ataque justificadíssimo contra os invasores.

      E depois a UE, perante imagens de crianças em Gaza, com os pais mortos nos escombros das casas, a fazer declarações como:
      “Israel tem o direito de se defender, condenamos as ações violentas dos terroristas”
      – uma ode à hipocrisia e desumanidade na qual também entra o atual regime Ucraniano.

      Resumindo, há uma oligarquia do regime genocida ocidental que foi criada para acreditar mesmo que uma bomba ocidental é boa, uma guerra ocidental é democracia, uma invasão ocidental é justificada, uma sanção ocidental é legal, mas se alguém se defende disso, ora com pedras (Palestina, Cuba, etc) ora com um poderoso exército (Rússia, China, etc), essas pessoas é que estão erradas, e são até terroristas, pois não percebem que os “valores ocidentais” são a única coisa certa do Universo…

      É por isso que digo e repito: este regime tem de cair!
      Se os Europeus abrissem os olhos, e os USAmericanos fizessem uma revolução, talvez sofrêssemos todos um pouco menos. Mas as palas são grandes e pesadas, e a burraria farta-se de zurrar toda contente em cada fardo de palha que a oligarquia lhe serve.
      Este povinho está mais manipulado e condicionado que o da Coreia do Norte!!

      PS: já vi textos na EstátuaDeSal, por exemplo do Carlos Matos Gomes ou do Miguel Sousa Tavares, entre outros, em que se ataca a forma de sociedade do Irão. A minha posição é diferente: não quero viver lá, mas não tenho direito de lhes dizer como viver. Se querem um regime não-laico e muito patriarcal, isso é lá com eles. E se são atacados pelo regime genocida ocidental, isso até me dá vontade de os defender, inclusive aos ayatolas!

      Da mesmíssima forma como respeito um certo povo que vive na zona árida da Argélia e onde a sociedade é matriarcal: só as mulheres têm posses (tendas e mobília), e os homens têm de lhes obedecer.
      Não quero viver aí com esse povo nómada, mas também não tenho qualquer direito de lhes impor a minha opinião.

      A mesma coisa com regimes mais Capitalistas ou mais Socialistas. Cada povo é que sabe como quer viver.
      Eu só tenho direito de criticar o regime em que vivo e de tentar convencer outros eleitores a votarem como eu voto. Mais nada.

      Devia ser simples e fácil de entender esta posição, até porque é uma das regras da ONU: não interferência externa.
      Ou seja, podemos e devemos criticar os regimes que violam está regra: os imperialistas ocidentais, o Apartheid de Israel, e os que fazem guerra/limpeza étnica contra povos dentro do seu território: Ucrânia pós-2014.
      E aqui concordo com a Rússia: é contra estes regimes criminosos que se justificam as sanções e as intervenções militares.

      Força Ucranianos pró-Russos e ex-Ucranianos do Donbass, da Taurida, da Crimeia, e da Novorússia em geral.
      Toda a sorte para quem (Z) arrisca a vida para vos libertar.
      E tudo de mal para quem planeou, provocou, e começou a guerra, e desde Março recusa o seu fim fazendo tudo para a prolongar “até ao último Ucraniano”.
      Que o regime genocida ocidental caia depressa, antes que comece a ÚLTIMA guerra mundial.

    • “No nosso país, aconteceu o oposto, porquê?”

      Resposta curta: por causa do fanatismo NeoLiberal, e por causa das regras sem fundamento económico da ditadura do €uro.

      Juntemos a isso o declínio relativo do Ocidente, e a corrupção e negligência das “elites” portuguesas, seja capitalistas seja políticos por eles comprados, e está desenhada a tempestade perfeita.

      Enquanto Portugal for colónia de Washington (NATO) e Bruxelas (UE), de Estrasburgo e Frankfurt (€uro), de Davos e Londres (oligarquia NeoLiberal), Portugal não sairá do buraco e continuará em morte lenta.
      Foi por isso que emigrei. Não estou para perder o resto da vida num sítio sem futuro nenhum e, pior, em que a burraria ou se contenta com a m*rda que tem ou reforça votação na facharia.

      Se Portugal sair da NATO, tal como Irlanda, Áustria e Suíça, a neutralidade é a sua garantia de segurança, e não precisa do prometido aumento de despesa com “Defesa” de 1.5 para mais de 2% do PIB. São pelo menos mil milhões por ano que podem ser usados onde é realmente preciso!

      Se Portugal sair do €uro, pode ter o melhor dos dois Mundos, tal como a Dinamarca faz:
      – a moeda própria com valor adequado à competitividade da sua economia;
      – política monetária (ex: juros definidos pelo BdP) amiga da poupança, do pleno emprego, e da subida salarial;
      – e uma indexação parcial/limitada via ERM (Exchange Rate Mecanismo), para que o Escudo possa ter o valor certo, mas sem que essas alterações sejam demasiado drásticas (evitando inflação descontrolada).

      Se Portugal sair da UE, pode sempre voltar à EFTA (Noruega, Suíça, Islândia, Liechtenstein) e continuar a ter na UE o seu mercado preferencial para exportações. Sim, não está dentro da UE a decidir, mas isso difere da situação actual de que modo, tendo em conta que também não decide nada agora?
      Por outro lado, permite mais liberdade para outros acordos bi-laterais com outros países, e permite mais liberdade para decisões soberanas. Exemplo concreto: recusar sanções ilegais com efeito ricochete. Ou recusar salvar bancos e em vez disso ter controlo de capitais (como a Islândia fez após a Grande Recessão Mundial de 2008/2009, o que lhe permitiu gastar menos com a banca e sair da crise mais cedo e em melhores condições do que os países do €uro/UE).

      Se Portugal fizer tudo isto, pode então também ver-se livre do fanatismo NeoLiberal, voltar a ser um país soberano com política patriótica e mais opções Socialistas (ex: salvar o SMS em vez de manter o actual processo de privatização em curso).
      Pode implementar um Sistema de Ghent para promover o sindicalismo (e como consequência ter mais % do PIB a ir para salários) em vez da TINA (austeridade permanente e ataque aos trabalhadores, com rendimentos casa vez mais a saírem do trabalho e a irem para o grande capital).

      Imaginem um país com menos dívida externa, com mais pujança económica, com menos humilhações internacionais, com melhores relações com os 85% da Humanidade não-ocidental, que não participe nas agressões da NATO/EUA, que tenha menos emigração e menos envelhecimento demográfico, onde todos têm emprego, onde um salário basta para sair da pobreza, onde se trabalham no máximo 4 dias por semana (4 x 7.5h = 30h/semana), em vez de mais de 40 horas ao longo de 5 ou 6 dias!
      Imaginem diminuir o número de pobres e de sem-abrigo até zero, em vez de ter 45% da população em pobreza antes de apoios sociais.
      Imaginem o fecho do off-shore da Madeira e um controlo para evitar elisão fiscal, e o quanto isto permitiria aliviar o IRS à classe média.
      Imaginem conduzir um carro de marca Portuguesa em vez de um importado.
      Imaginem um sector energético em que se investiu até ser auto-suficiente, em vez de ser preciso importar 70% da energia.
      Imaginem um país que não precisa de saber o que os mercados pensam nem o que não-eleitos de Bruxelas dizem antes de aprovar os seus próprios orçamentos.
      Imaginem um país com imprensa plural e onde há notícias do Mundo, em vez de uma rede de manipulação made in CIA.
      Imaginem um país onde se cumpre a Constituição de 1976, em vez de um país onde um partido fascista está legalizado e quer destruir de vez.
      Imaginem um país com futuro em vez de um país em morte lenta.

      Há três partidos em Portugal com vontade para fazer isto, mas juntos somam só 10%: PCP, PEV, BE – e estão em queda. O Livre e até o PAN, pelo que se vê em muitas votações, até têm o coração no sítio certo, mas a cabeça é demasiado azul com estrelas amarelas…
      As gerações que vão para a rua a 25-Abril com cravo ao peito ou na mão estão a desaparecer, e as novas gerações têm como ídolos o fascista imperialista Musk, ou o/a idiota do momento em cada rede social.

      Ou seja, este futuro país que descrevi nunca vai acontecer. Pelo contrário, há defeitos que se vão manter, e há problemas que se vão agravar.
      2050: 6 milhões de portugueses, 50% reformados com pensões de miséria, 25% sem emprego ou precários com salário de miséria, 24% só a conseguir pagar as contas ao final do mês, e claro 1% muito rico. Ainda menos nascimentos, ainda mais emigração (quando se consegue passar o muro entre Ocidente e Sul Global), perda total de soberania, legislação é decidida em Davos, orçamento é enviado por funcionário do FMI, dívida está nos 200%, em Lisboa já não vivem Portugueses, interior está totalmente desabitado, um facho qualquer é Presidente com poderes totais graças a nova Constituição, o povo já não tem nada seu, acabou a privacidade pois toda a gente tem um chip da Pfizer ligado à NSA, e amanhã mais uma carrada de jovens parte para o serviço militar obrigatório do exército dos Estados Unidos da Europa, porque os EUA (donos dessa colónia) assim decidiram…
      RIP Portugal.

      • Carlos Marques,mais uma vez um excelente texto,tudo verdade e certinho..

        Muito obrigado !

        Escreverei a partir de hoje uma ou duas vezes por semana devido ao trabalho..

        Vou trabalhar mais e terei menos tempo,assim o capitalismo obriga,infelizmente.

      • «e uma indexação parcial/limitada via ERM (Exchange Rate Mecanismo), para que o Escudo possa ter o valor certo, mas sem que essas alterações sejam demasiado drásticas (evitando inflação descontrolada).»

        O problema disso é que o ciclo económico continua a ter que ser idêntico, e seja o padrão ouro, Woods, ERM, ESM, ou Euro, colapsou sempre face à realidade. Não acho que alguém tenha solução para isso, deixem-la flutuar sendo cirúrgico no que é mais relevantemente importado e exportado.

        «acabou a privacidade pois toda a gente tem um chip da Pfizer ligado à NSA»
        Acabou a privacidade pois toda a gente tem um telemóvel sempre com ele onde partilha o que quer e o que não quer, ou mesmo só um PC para pagar as contas e semelhante, e mesmo que ludita, pelos dos amigos, cameras de vigilância, PCs no trabalho, e por aí fora. Não é preciso ficção científica.

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