Opressão “democrática”

(Hugo Dionísio, in Facebook, 09/01/2023)

As mentiras não são democraticas – SOS

O tratamento que a imprensa corporativa do Atlântico Norte deu à questão do cessar-fogo de 36 horas (de 6 para 7 de Janeiro), é um retrato fiel do uso destes órgãos para fins eminentemente propagandísticos. Perante a proposta de cessar-fogo, não foi apenas Biden que a ridicularizou, referindo que o seu homólogo estaria a tentar “ganhar oxigénio”. Foi o próprio regime banderista que declarou rejeitá-la.

Refira-se que, esta “rejeição”, muito raramente foi noticiada na imprensa do Norte Atlântico, em termos tão explícitos, como pudemos encontrar em órgãos noticiosos que operam fora desta órbita, como é o caso da Al-Mayahdeen ou mesmo da Al-Jazeera. O facto é que, não só assistimos a uma ridicularização da proposta unilateral, como não assistimos a qualquer consternação pela rejeição da proposta por uma das partes.

Passado o período das 36 horas, o que sucedeu? O que já se esperava. A intenção de aproveitamento, de uma suposta baixa de guardas, esbarrou num estado de alerta permanente e numa capacidade de resposta rápida, associada à prontidão ofensiva das frentes ligadas aos “músicos” mercenários. Foi simples: “já que não aceitam, também não pensem que aqui vamos estar de pernas abertas”. E a devastação fez-se sentir com 5 aviões derrubados e mais de 600 militares eliminados. E então sim, aí veio a consternação.

Assistimos a um desfilar de acusações porque as forças proponentes “não cumpriram” o seu próprio cessar-fogo. E até já se fala de queixas internacionais. Ou seja, rejeitaram o cessar-fogo e agora estão chateados porque os proponentes não o cumpriram. Mas o que esperavam? Que se deixassem atacar? Que aplicassem um rígido cessar-fogo unilateral enquanto a outra parte aproveitava para atacar sem dó nem piedade? Lógica da batata: “foi uma armadilha”! E se foi? Não serão as armadilhas próprias do combate? E porque rejeitaram a proposta de cessar-fogo? Não o fizessem, e já teriam moral para se queixar. Agora, não aderir e acusar a outra parte de recuar na sua pretensão…

Mas se o desespero é evidente, à medida que se aproxima o general Inverno, e as remessas multimilionárias de material de guerra nem suficientes são para repor o que foi perdido. A questão que se deve colocar é a seguinte: quanta mais destruição é necessária para que o regime banderista e os seus promotores considerem a hipótese de fazer a paz e não a guerra?

Imaginem que o dinheiro usado para comprar, preparar e reparar os 367 aviões, 200 helicópteros, 2,856 drones, 400 sistemas de defesa aérea, 7,460 tanques e outros veículos blindados, 972 lançadores de mísseis, 3,793 canhões e morteiros e 7,978 unidades de equipamento especial (julgo que jipes, pickups e outros), já destruídos pelas forças moscovitas neste conflito, ao invés de ser usado para a guerra, tinha sido usado para a paz? Imaginem que os acordos de Minsk não tinham servido para ganhar tempo para construir este exército (já confirmado por Merkel e Hollande), mas para evitar a guerra, como pretendia o povo e alguns envolvidos?

Para se ter uma ideia do que vale isto tudo, este exército, já destruído, equivale, a números calculados por diversos especialistas, a um ou dois Produtos Internos Brutos do país, quantia gasta durante 8 anos, desde que conquistaram o poder, em 2014.

Temos, pois, um país que estava em paz com os vizinhos, cujo governo, em 2014 – após um golpe de estado e extinção forçada de 13 partidos da oposição, que representavam cerca de metade da respetiva população (considerando as eleições de 2012) -, entra numa deriva militarista que resulta, não apenas, numa guerra civil contra uma das duas etnias mais representativas, como empreende um esforço económico absurdo para construir um exército absolutamente desproporcionado, face à sua dimensão.

Este país, à data, em paz com os vizinhos e, por isso mesmo, sem razões para esta deriva militarista, é vítima de um golpe de estado, trabalhado a partir do exterior, perpetrado para o dividir e o fazer entrar numa deriva belicista e por procuração, que se sabia ser, ela própria, desestabilizadora. O regime saído de 2014 faz isto tudo contra as pretensões do seu povo, prometendo a paz e a reconciliação nacionais, quando se preparava, apenas e só, para a guerra.

Este país, que o Ocidente coletivo diz representar a guerra da “democracia” contra “as autocracias”, manteve-se durante penosos oito anos como o mais pobre e corrupto país da Europa, usando fundos intermináveis para possuir uma das forças armadas mais preparadas DO MUNDO! A suposta “democracia” ocidental não impediu este povo de ser miserável, de se usarem centenas de milhares de milhões de euros em armas e preparação para a guerra, enquanto o FMI – pilar da sua destruição – sugava a propriedade pública que ainda restava, colocando-a nas mãos de obedientes oligarcas. Hoje a Blackrock tem uma parte importante das terras mais produtivas do país. Tudo se paga e a “democracia” garante-o.

Para se ter uma ideia da “importância” da “democracia” ocidental para este país, vejamos que, à data de 1991, este país tinha, de acordo com alguns estudos, o melhor nível de vida da URSS. No final de 2020, este país “democrata” não apenas tinha um PIB per capita 5/6 vezes inferior ao dos seus desavindos vizinhos “autocratas”, como as instituições, economia, cultura, infraestruturas desses dois países estão muito à frente das suas. A “democracia” ocidental não impediu este país de se manter atrasado, devastado e de ser terreno fértil de máfias da prostituição, armas e droga.

Mas se a situação deste país é em si emblemática sobre o papel e objetivos da implantação artificial (porque promovida a partir do exterior) da “democracia” ocidental, olhando para os países que dizem promover tais “valores” da “democracia” e dos “direitos humanos”, constatamos que, mesmo aí, nem todos se podem gabar de serem protegidos por tão “avançado” regime.

Assim, por muitos “valores” que sejam propagados, a verdade é que a “democracia” não impediu os EUA de: manter a pena de morte; abrir e manter em funcionamento um campo de concentração e detenção sem acusação ou direito a defesa, como Guantánamo; implementar legislação que permite a tortura em interrogatórios; criar uma forma de processo-crime sem garantias para o arguido quando se trate da acusação e espionagem ou de terrorismo – o espionage act que vitima Julien Assange; implantar e manter um apartheid sobre os negros e índios, que ainda hoje persiste em muitos estados e sectores sociais; manter sem sistema de saúde mais de 40 milhões de americanos; manter milhões de americanos a viver em tendas, nas ruas, em automóveis, roulottes ou casa pré-fabricadas sem saneamento básico.

Mas se isto não chegar, gostava de deixar uma questão: que outra “democracia” ou “autocracia” se pode orgulhar de possuir a maior população prisional do mundo? Com 5% da população mundial, os EUA têm atrás das grades 25% da população prisional mundial, sendo que, uma esmagadora maioria são negros e latinos. A “democracia” possui um sistema de encarceramento em massa superior e a fazer inveja a qualquer “autocracia”.

Esta mesma “democracia” ocidental, sempre tão leve e descomprometida para a elite ocidental, é tão pesada para o sul global. Afinal, esta mesma “democracia” não impede os países que a propagam, de aplicarem sanções a mais de 50 países pobres, matando de fome e privação alimentar centenas de milhares de crianças, jovens e mulheres, todos os anos. Nestes mais de 100 anos de sanções “democráticas”, são incontáveis os milhões de mortos, doentes e miseráveis causados por tanto respeito pelos “direitos humanos”.

Foi este mesmo respeito pelos “direitos humanos” que justificou – e justifica – as guerras de agressão a dezenas de países. Entre os mais recentes temos o Iraque, a Síria, o Iémen, o Afeganistão, a Jugoslávia, a Sérvia, a Líbia, num desenrolar de bombardeamentos “democráticos” que mataram e destruíram as vidas de dezenas de milhões de seres humanos, muitos deles arriscando as suas vidas em botes de borracha. Depois de verem os seus países destruídos pela pilhagem desenfreada iniciada há cerca de 500 anos, ainda são acusados pela extrema-direita – a face mais agressiva do sistema económico capitalista ocidental – de quererem “invadir” o Ocidente. O mesmo Ocidente que tanta “democracia” lhes levou.

A “democracia” ocidental também não impediu que em 1948 tenha sido implantado um estado apartheid na Palestina. Este estado, não apenas matou e deslocalizou milhões de seres humanos para aí se implantar, baseando as suas ações numa ideologia teocrática que busca na bíblia – e noutros textos religiosos – a base da legitimidade do seu supremacismo racial, e que se mantém até hoje, agravando-se sucessivamente, à custa de armas, entre elas, as nucleares. Hoje, com um governo de extrema-direita, com gente que defende a exterminação do povo palestiniano.

A mesma “democracia” que hoje justifica o “desacoplar” dos países “autocráticos”, classificados como tal, apenas e só, porque não sucumbem à pilhagem dos seus recursos; pilhagem que os manteria na profunda miséria de onde vieram por ação “protetora” dos “direitos humanos”, é aquela que agora é responsável pela degradação – injustificada e inexplicada – das condições de vida dos povos europeus, arrastados para uma luta que não é a sua, nem lhes interessa minimamente.

Considerar que temos de morrer à fome para proteger a “democracia”, deve fazer-nos questionar o papel que hoje tem a própria “democracia”. É que, a “democracia”, não pode constituir um emaranhado de palavras vazias, usadas para justificar todos os fins.

A “democracia” tem de constituir um instrumento do desenvolvimento das condições de vida e de trabalho dos povos, um instrumento e não um fim em si mesma. Tratada como um fim em si mesma, a democracia deixa de o ser, para se transformar num ritual vazio de sentido ao serviço de fins nada democráticos. É o problema da forma e da substância. E um exemplo desta contradição, que encontra no modelo ocidental um fim em si mesmo, é a comparação do comediante encartado, a Churchill.

Esta comparação, totalmente vazia de sentido, não deixa de comportar em si a contradição que a origina e que radica na desvalorização da própria democracia enquanto instrumento ao serviço do desenvolvimento. Se o objetivo é valorizar o comediante, tal só é possível perante a fábula. E, neste caso, podemos dizer que uma fábula – a de que Churchill era democrata – origina outra fábula – a de que o comediante é democrata e está ao serviço do seu povo.

Para se ter uma ideia do que valia a “democraticidade” de Churchill, basta olhar para o que foi o domínio britânico na India. Não é necessário ir a mais nenhum lado. De acordo com um estudo académico realizado, (ver aqui), no pico do poder imperial na India, entre 1880 e 1920, morreram 165 milhões de pessoas em resultado do agravamento das condições vida resultantes da pilhagem de recursos e da repressão.

Este é apenas um pequeno exemplo da brutalidade genocida do imperialismo. Churchill, não apenas o abraçou, como o continuou e como foi peça-chave no agravamento da repressão contra a luta de Gandhi, sendo ator principal de uma sangrenta história que, a contar-se e a recordar-se, faria esmorecer qualquer defensor do imperialismo. A “democracia” de Churchill não impediu a matança, o genocídio material e moral, de continuarem. Hoje, e a provar que a repetição histórica é uma farsa, o comediante de serviço, usa os recursos do Império para conduzir o seu povo para a morte, o seu próprio povo. Actor-chave na deriva belicista, no incumprimento dos acordos e Minsk, na promessa incumprida de paz e na utilização de fundos que fariam falta para desenvolver o seu país, na aquisição de armas, o Churchill farsola abraçou o projeto, continuou-o e deu-lhe ainda mais gás. A “democracia” não o impediu de o fazer.

Outro exemplo do valor da “democracia” ressalta de um olhar sério para a votação das resoluções, que se vai fazendo na Assembleia Geral da ONU. Rapidamente se chegará à conclusão do papel atual, que os poderes de facto, conferem à “democracia” e aos “valores” ditos “ocidentais”. Do ambiente aos direitos humanos, passando pela economia e política, o mundo divide-se constantemente em dois, uma minoria a que chamamos de “Ocidente coletivo” e uma maioria imensa a que chamamos de “Sul Global”, (ver aqui).

 Será que a “democracia” pode estar ao serviço da opressão e mesmo assim ser democracia?


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28 pensamentos sobre “Opressão “democrática”

  1. Meu caro Hugo Dionísio, regra geral, até tendo a concordar com algumas das posições assumidadas pelos colaboradores da Estátua de Sal. Só que o problema não é esse: o problema é que a Rússia invadiu um país soberano. E bem me pode dizer que os Estados Unidos também o fazem, como o fez a Arábia Saudita, por vias ínvias, no Iémen ou em tantos outros lados. Por isso, por muita razão que possa haver em algumas iniciativas russas, o problema geral mantém-se. Os habitantes russófonos estavam a ser maltratados no Donbass, em Donestk? Muito bem, invada-se o país! Há forças neo-nazis na Ucrânia? Há! E na Rússia? Portanto, enquanto a Putin não mandar recuar as suas tropas, estamos perante um problema de direito internacional, com presidentes-fantoches que provaram ter a coragem necessária para permanecer no país. Saiam da Ucrânia e fala-se do respeito pelos direitos humanos. Até lá, o que é que há um país invasor e um país invadido.

    • Ana Araújo

      Antes de mais, a minha prévia solidariedade para consigo !

      Porque a posição que aqui toma é, em traços gerais, a mesma que a minha, isto é, o inconformismo sobre as “verdades únicas” dos apoiantes de Putin, contra as opiniões contrárias !

      Prepare-se para o “fogo de barragem” de que, certamente, irá ser alvo !

      Putin é um criminoso demencial que no seu país, martiriza o seu povo, impõem-lhe a sua vontade, coarta-lhe a liberdade, assassina jornalistas, altera leis para se manter “ad aeternum” no poder, ataca as manifestações populares contra a guerra, fecha estações de rádio e televisão, e só mantém abertas as “vozes do dono”, impede o acesso à Internet, para impedir a difusão para o exterior, das notícias “inconvenientes !

      Como a senhora diz e eu também, há forças neo-nazis na Ucrânia ? Admito que sim ! Também começam a levantar cabeça em Portugal e por toda a Europa. .

      Então o que é Putin e a sua clique de bárbaros faz ? Um “democrata” que invade um país vizinho, “para o defender dos nazis” e o destrói, provocando milhares de mortos, crianças velhos, e a fuga de milhões de pessoas, cidadãos como nós que, dramáticamente, súbitamente, de um dia para o outro, ficaram sem casa, sem vida estável, a família dispersa ou destruída e, na condição de refugiados, sujeitos a todo tipo de humilhações nos países e acolhimento?

      A cegueira desta gente é tanta, que houve por aqui “um cómico” que me atirou que, uma Jornalista e activista contra Putin, Alexandra Politovskaya, assassinada há anos n elevador da sua residência em Moscovo,não fora Putin que a assassinara !

      As “investigações” do crime condenaram dois “executantes” a prisão perpétua, e dois cúmplices a 12 e 20 anos de prisão ! SIM !

      Mas o mandante do assassinato ? E de centenas de outros jornalistas perseguidos, espancados, presos? E as dezenas deles mortos ?

      Porque não é Putin que “puxa o gatilho” ! Como não foi Pinochet, agora Bolsonaro ou Salazar no passado…ou todos os ditadores pelo Mundo.

      Mas todos têm escumalha às ordens, com prazer em prender, torturar, assassinar e fazem-no com servil obediência…Foi assim no Chile, na Argentina de Videla, na ditadura militar no Brasil.

      Quero dizer também, que tenho muitos pontos de contacto e de apoio aos que constam do extenso artigo de Hugo Dionísio.

      E depois ? Em nome de uma Paz podre, de um “pacifismo” que não hesita em dizer que a Ucrânia deve deixar-se esmagar sem luta nem ajuda internacional, pelo rolo compressor de uma gigantesca potência bélica ?

      Uma Paz pôdre, defendida por quem tem a veleidade, direi mesmo o descaramento de tentar ostracizar as vozes dissonantes, que condenam a política expansionista do Putin e os seus crimes (declaradamente para reconstruir o ex-bloco soviético ?

      Quem, em nome “do pensamento único e colectivista” (à “boa maneira” da Revolução de 1917 e da sua dogmática cartilha) ,pode arrogar-se a ter esse direito !

      Não perceberam, ainda, “certos” portugueses, que o permanente definhamento do PCP desde 1975, (cerca de 30 deputados em 75, 6 deputados hoje), a sua perda de influência eleitoral, autárquica, sindical, se deve sobretudo às suas posições permanentemente ambíguas, que levaram à debandada de muitos militantes, e recentemente a sua posição de hesitante subserviência perante a invasão da Ucrânia ?

      Ou esses militantes serão todos “divisionistas e reacionários” ?

      • Se calhar se admitisse mais via que quanto mais se luta, como quanto do que descreve do diabo se aplica ao outro, menos vitória é possível para o tal país supostamente soberano.
        De resto, sim, há muito optimismo ridículo que uma oposição à hegemonia, só por si, resolve alguma coisa e vai brotar soberania e prosperidade. Para nem falar do anti-semitismo, xenofobia, misoginia e homofobia muito mal disfarçada de muito autor, que culpar o povo é o mais fácil para todos.
        Nem um kumbaya irrealista nem o outro são mensagem do PCP, mas fique lá com a vitória moralista, pode substituir as refeições que deixa de comer para ter uma qualquer vitória sobre os escombros; não se surpreenda é se for boa ideia aprender mandarim em menos de uma década, que as instituições não o salvam. Ao menos estará seguro dentro dos muros do paraíso “traído”.

        • Paulo Marques

          Muito confuso, o seu comentário (mas a culpa deve ser minha…)

          Não sou anti-semita, xenófobo, misógino e homofóbico, e muito menos “culpo o povo”…

          Muuuuito antes pelo contrário. Sou do Povo Português, a que me orgulho de pertencer.

          Mas não tem importância nenhuma. Foi só para lhe dizer que a carapuça, a mim não me serve.

          Obrigado.

          • Isso era relativo às pessoas com opinião no polo oposto da falsa dicotomia. Nenhuma serve, e se é para isso, que acabem com o mundo de uma vez.

      • O definhamento do PCP deve-se, antes de mais ao ostracismo a que é votado pela comunicação social. Há uns anos não falavam do PCP porque diziam que era uma cassete. Agora omitem pura e simplesmente as posições do PCP ou se as referem é para desvirtuar as mesmas.
        Compare as aparições do Ventura, da Catarina ou mesmo do líder da IL com as vezes em que aparece o líder do PCP.
        Há dias, na AR, no debate da moção de censura, quando o deputado do PCP começou a falar a jornalista da TSF aproveitou para fazer um resumo do que se passara até então. Quando o deputado acabou a sua intervenção a jornalista abriu o microfone para o primeiro ministro responder. Ou seja, a TSF censurou a intervenção do PCP.
        Depois, ouvimos os comentadores da TSF, Baldaia e outros, a dissertar sobre o definhamento do PCP.
        Definhamento que o PCP também tem alimentado, a par do silenciamento com é tratado pelos meios de comunicação social públicos e privados.

        • JCamacho

          É a sua opinião, legítima não nego, mas com a habitual dose de vitimização.

          Jerónimo de Sousa, pela dignidade com que pautou a sua vida política, laboral e familiar, foi sempre publicamente ouvido com merecido respeito e até reverência, por toda a Esquerda e o PS !

          Silenciamento como ? Não tem o PCP voz activa e visibilidade públicas, desde os plenários na AR, aos “fora” de actualidade política em jornais e televisões, as entrevistas ao ex e ao actual secretário-geral Paulo Raimundo, etc. ?

          A culpa é sempre dos outros ?

          • José Peralta, és algum bot da CIA a trabalhar em Miami ?

            O J Carvalho explica-te como é que o PCP não tem visibilidade na comunicação social e tu vens perguntar-lhe “Silenciamento como ?” ou “a culpa é sempre dos outros” ??

            Tu leste sequer a exposição à qual respondeste e na qual se faz referência à atitude da jornalista da TSF ?

            Uma coisa é dizer que o PS ouve o PCP na assembleia – que remédio, queriam ser como aqueles que marcam presença, vão fumar um cigarro e beber umas sangrias na praia enquanto contam quanto ganham em subvenções vitalícias ?

            Outra é explicar que o definhamento do PCP está diretamente relacionado com o tempo de antena que lhe é dado pelos OCS e, por este facto, não alcançar a população portuguesa como outros partidos políticos o fazem.

          • Já para não mencionar que uma coisa é estar presente em jornais como capa de notícia com as suas visões completamente distorcidas pelos comentadores difusores da propaganda do regime!

            Outra coisa completamente diferente é ter as suas intervenções devidamente difundidas – isto é, no sentido de com ética e correção, sem manipular aquilo que é dito por dirigentes ou militantes -, sem ser apelidado de Putinista ou partido de hipócritas que suportam a guerra por serem a favor da paz e do resumo das negociações entre as partes!

            • Mateus Ferreira

              Sim ! “Sou da CIA” ! Como é que descobriste ? És um avençado do KGB ?

              Dizeres que o definhamento do PCP é culpa da Comunicaçãp Social, quando são os Renovadores Comunistas a voltarem a alertar de novo para o real definhamento do partido, por causa da estratégia errada e ambígua das suas práticas, vê-se bem a tua cegueira “clubista”…

              A debandada progressiva de militantes, a perda de influência eleitoral, autárquica, sindical, e parlamentar, deve-se exclusivamente aos seus dirigentes, que transformaram o PCP, num partido enfraquecido, quando os trabalhadores mais precisavam dele forte para nele se apoiarem nas sua lutas.

              Em 2003 o “Movimento dos Renovadores”, preocupado com o definhamento do partido, e do seu patente e progressivo afastamento das massas populares, teve a coragem de se manifestar publicamente, alertando inclusivamente o Comité Central que, a não inverterem o percurso, o PCP poderia caminhar a breve prazo para a sua extinção !

              Ó sacrilégio ! No partido das parede de vidro “fosco”, onde tudo é discutido à porta fechada, havia um grupo de malucos que punha o dedo na ferida, ainda por cima públicamente, e dizia aos 4 ventos : O REI VAI NU…

              Foram liminarmente expulsos, “à boa maneira estalinista” sem terem direito a defenderem-se das acusações de “reaccionários e divisionistas” !

              Muitos deles, com um passado de luta contra o fascismo, perseguidos presos, torturados pela pide, obrigados eles e as suas famílias à clandestinidade, à emigração forçada!

              Hoje, vê-se que tinham razão, e o novo secretário-geral, Paulo Raimundo, até já admite a sua reintegração…

              É por isso que nem tu, nem o J Carvalho, me “ensinam” algo, porque tem os olhos, os ouvidos, e o cérebrozinho, obnubilados pela vulgata velha, relha, dogmática, conservadora e reaccionária, da Revolução de 1917, estagnados porque “não sabem nem sonham que o Mundo pula e avança”…

              Como gostas muito de “links” para o que te convém, toma lá este, que vem “na Comunicação Social”, que vocês, os puros espíritos, dizem que esconde o PCP, debaixo do tapete…

              Toma e embrulha :

              https://expresso.pt/politica/2021-03-11-Manifesto-46-Renovadores-alertam-para-declinio-do-PCP

              • Mateus Ferreira

                Sobre os FACTOS que eu (o “agente da CIA”…) aqui descrevo, o “avençado do KGB”, passados que são 4 dias, mantém-se num comprometido, mas ensurdecedor silêncio !

                Então, para onde te foi o arreganho ?

                Ah ! Percebo ! Estás a fingir que não leste…

              • Não, José Peralta. Compreendeste tudo mal. Se eu não respondi, não foi por não ter resposta.

                Eu não respondo porque não tenho tempo, nem paciência, nem energia para fazer uma análise do texto que me enviaste.

                Se te dignasses a fundamentar minimamente a verborreia que por aqui atalhas, saberias que não é coisa fácil escrever comentários em que se enumeram factos atrás de factos e onde se procura ser o mais rigoroso possível.

                Portanto, se queres, fica com a tua vitória porque a mim não me incomoda. Quando tiver tempo para escrever mais do que isto, eu escrevo. Até lá, fica na tua colina a admirar o céu ou a ver a CNN.

                Digo-te apenas que, para quem estava tão preocupados com o definhamento do partido e com o afastamento da massas populares, os teus queridos revisionistas conseguem dizer que grassa a pobreza em Portugal, mas que é preciso ouvir os beneméritos empresários, pois estes produzem riqueza. Isto em dois parágrafos seguidos.

                Se alguém quiser ser mais contraditório do que isto, é difícil. Os empresários não criam riqueza, Peralta. Os empresários limitam-se a apropriar-se do trabalho dos outros e, com um certo know-how do mundo do business, a criar redes de contactos que lhes permitem aproveitar-se de fundos públicos para perpetuar o seu ciclo de acumulação de riqueza.

                Dito isto, gostas de “desertores” ou daqueles que se manifestam contra aquilo de que tu não gostas por teres sido propagandeado? Fica na tua. Agora, vir dizer que o PCP está a definhar por não ter contacto com as massas é estupidez e desonestidade.

                Que eu saiba, o PCP continua a ser o único partido com presença em fábricas e locais de trabalho os mais variados, de maneira a apoiar os trabalhadores de todas as áreas da economia na sua luta contra o capital que os explora.

                E que eu saiba, montar uma campanha de difamação contra o PCP e o BE nas eleições de há um ano, chamado-os de intransigentes por não aprovarem o orçamento “mais à esquerda de sempre”, por se recusarem a passar um diploma que não revertia as condições laborais impostas no tempo da troika é sinal do definhamento do partido, então, meu caro Peralta, estás mal.

                Também deves ser daqueles que acham que os professores estão errados por fazerem greves e que é normal o Ministério da Educação questionar a legalidade das mesmas (quando são legais, mas lá está é mais uma manipulação dos portugueses para impedir que os professores tenham direito ao que lhes diz respeito) enquanto a GNR faz operações STOP em autocarros que se dirigiam a manifestações na capital.

                Mais não te digo, não tenho paciência.

                Bom domingo, Peralta.

                • Mateus Ferreira

                  Não tens tempo nem paciência, mas tem-lo o perderes nestes longos arrazoados para fugires aos encartes !

                  A tua pacóvia ortodoxia fundamentalista, é muito parecida à das ratas de sacristia,. Prevejo que vais ter muitos desgostos por, perante os factos irrefutáveis da exaustão e perda de força do “teu” PCP, o novo secretário-geral, já pondera aceitar, disse-o publicamente, conversar com “os desertores” como lhes chamas…

                  E quando não tens mais nada para dizeres, utilizas “argumentos cheios de força argumentativa” tais como :”Também deves ser daqueles que acham que os professores estão errados por fazerem …” blábláblá ” !

                  Eu também posso dizer-te “Tu também deves ser…qualquer coisa ! Se achas que este tipo de alarve argumentação, conduz a alguma coisa, estás completamente enganado.

                  Isto só revela argumentos válidos, não tens nenhuns ! Estás como o “teu” PCP, que com o seu definhamento, corre o risco de ser PCPê zinho…

  2. Lembrando que a Matemática é uma ciência exacta, insisto (para benefício de quem não reparou nele) no link que o Hugo Dionísio disponibilizou no fim do seu excelente texto. Podemos chamar a esta pequena exposição “Aritmética para Totós”, mas é claro que para os supertotós não servirá de nada. Já estou a vê-los, aos saltinhos, guinchando que nem possessos que a Aritmética é uma invenção putinista:

    https://geopoliticaleconomy.com/2022/12/22/west-un-vote-economic-system-equality/

  3. Mais um magnífico capítulo da magnífica obra “Aritmética para Totós”:

    https://seekingalpha.com/article/4568579-raytheon-technologies-hurry-up-and-wait-for-a-generational-boom-in-defense-spending

    Extractos (magníficos por definição):

    “Raytheon Technologies: Hurry Up And Wait For A Generational Boom In Defense Spending”

    “The Conflict in Ukraine Likely Continues to Escalate in 2023 to the Benefit of Big Defense”

    “Raytheon Is a Good Investment for the Uncertain Environment of Early 2023; The Company Has Stuck to 2025 Targets”

    “The changing geopolitical environment means that the share of GDP the US and critical allies spend on defense is moving toward levels last seen in the 1980s when big-power competition last dominated defense spending. Already the level of military sales approved by the US government to NATO members has nearly doubled. Germany, who had long shunned military efforts, is increasingly sending advanced weapons and taking a more proactive role in NATO. Japan also maintained only a skeletal military force and announced plans to double its spending this month. I suspect this is only the beginning of a major ramp-up in global military spending.”

    “The Balance of Power Between the Government and Big Defense Has Shifted Favorably, US Arms Industry Likely Gains at Russia’s Expense”

    “The projected levels of the defense budget depend directly upon expected inflation. As you can see above, the risk to the budget is likely to the upside. However, given the rapidly evolving security needs and the soaring demand, inflation’s direct impact can likely be mitigated with cost cuts and passing costs on to customers.”

    “The share of GDP spent on defense is sure to rise across much of the West and even former clients of the Russian arms industry.”

    “Raytheon’s earnings are expected to be about flat in the first quarter of 2023 compared to last year. However, expected earnings growth accelerates from the 2nd to 4th quarters. Importantly, this acceleration likely occurs as crucial supply chain chokepoints alleviate. This is central to my picking Raytheon as an excellent stock to own in 2023: the earnings momentum is expected to increase throughout the year, and the risks are clearly to the upside given the rising demand for the company’s core products and help from the US government across the value chain, including in the form of subsidization. Solid dividends and share buybacks have been positive and should continue to be, sweetening the pot.”

    “Raytheon will thrive in the coming years on the escalating conflict in Ukraine and increasing efforts to counter China’s military buildup. Amazingly, so far, minimal tangible benefit has come to the companies from their battlefield successes, but it is coming. Hurry up and wait.”

    Autor da prosa (obviamente magnífico):

    “Christopher Robb
    I was Senior Writer and Vice President at Fundstrat Global Advisors for over 2 years. Prior to that, I was Senior Research Analyst at Dentons, now the world’s largest law firm. I focus on company management, fundamentals, earnings, contrarian investing, and the effects of geopolitical developments on risk assets.”

  4. Considero incompreensível que apenas a propaganda oficial seja ouvida.

    Os Estados Unidos conseguiram fazer do Ocidente o inimigo da humanidade.
    Portugal, um seguidor, será vítima do seu envolvimento com a Nato.
    Sem matérias-primas ou recursos energéticos e perdendo influência, estaremos condenados ao empobrecimento e à miséria..

    Os eventos provam que se tem razão.
    Não se trata de “posições” como dizem alguns,nem acredito que os Estátua de Sal e dos que comentam aqui sejam a favor da guerra ou de invasões do qualquer país..

    Eu também não sou a favor que se viole a integridade de um estado,seja ele qual for..
    Há forma e substância.

    E eu tento ver a substância,.

    A questão aqui é:Os seguidores do sistema permitem fazer juízos de valor com certezas ,preferindo negar a verdade agarrando-se à propaganda oficial de cabeça enterrada na areia e posterior à vista completa.

    Sei certamente muito menos do que muitos comentadores académicos em muitas áreas.

    Muitos poderão ter recebido formação numa dessas universiades que dão 20 ou de gestão que servem o sistema actual.

    Bem formatados.
    Mas ao contrário dos dogmáticos, tento compreender e aprender tomando vários pontos de vista.

    Vou tentar explicar a minha observação como observador da historia..

    A esta visão poderia acrescentar uma lista não exaustiva de monstruosidades diplomáticas cometidas primeiro por Washington desde 1944, depois pela Europa institucional, especialmente desde este recente período de 2006 a 2022…

    Porquê omitir qualquer análise dos meios de comunicação social a estratégia grosseira utilizada nos últimos vinte anos pela interferência capitalista da Europa institucional nas fronteiras da Federação Russa, muito antes do processo de Minsk, ela própria deliberadamente sabotada (de acordo com a admissão de Merkel) pelos seus actores europeus e pelos ultranacionalistas de Kiev (incluindo Zelensky)?

    Muito antes de Minsk, o Conselho da Europa estava a trabalhar arduamente de 2006 a 2012 para implantar a “Euro-região Donbass” em três : dois ucranianos (Luhansk e Donetsk) e um russo (Rostov), deslocando claramente as fronteiras desta área já tensa.
    Trata-se claramente de uma interferência arrogante do capitalismo europeu, ele próprio sujeito à zona dólar, numa região cujos povos não o solicitaram expressamente.
    Este projecto capitalista só foi conseguido no papel. O subsequente conflito regional (a partir de 2014) apagou definitivamente a sua implementação.

    Estas euroregiões eram claramente um instrumento de capitalismo anglo-saxónico desenfreado, disfarçado para o povo e uma imprensa surpreendentemente fraca como um “programa pastoral suave para o florescimento cultural dos povos”.
    Estudos académicos (raros e discretos denunciam um liberalismo agressivo que também tomou conta do mundo académico europeu) mostram que nestas zonas pró-capitalistas (euro-regiões e pólos de desenvolvimento europeus), existe uma clara “desqualificação sindical” nas estratégias de emprego.
    A um nível geográfico mais amplo, isto promove a concorrência dos trabalhadores e a instabilidade do emprego.

    A nível europeu, estes “parques capitalistas” específicos formam então uma vasta rede que é adequada para chantagear as multinacionais americanas e europeias para se deslocalizarem, facilitando assim a prática do dumping social (minando as conquistas sociais e sindicais) e do dumping fiscal (estas multinacionais estão sujeitas a uma tributação ridícula, em contraste com as pequenas empresas locais e os trabalhadores independentes).
    Além disso, o capital angariado está centralizado na plataforma bancária mafiosa do Luxemburgo, que acolhe as sedes destas multinacionais com, por um lado, uma virtual ausência de tributação e, por outro lado, acordos financeiros que encorajam a evasão de capitais fora da UE.

    Esta política selvagem de vassalização da Europa por Washington não é certamente nova…
    Michel Onfray recordou recentemente que o desembarque de 6 de Junho de 1944 foi chamado “Operação Overlord”, que se traduz como “suzerainização” ou “vassalização”. A ambição dos EUA para a Europa não poderia ser mais explícita.

    O Plano Marshal foi a implementação metódica deste projecto.
    Desde o desmantelamento da URSS, este projecto “Overlord” continuou a expandir-se para leste e em breve chegará à sua conclusão geográfica na Ucrânia, onde Zelensky já tem estado a orientar radicalmente a máquina política e económica para um liberalismo desenfreado desde 2019, o qual se desfilará então sobre a mão-de-obra local a 250 euros por mês.

    Mas por muito que Washington deseje integrar ‘in fine’ a parte do território submetida a Kiev, como uma extensão da vassalização da Europa, parece improvável que as ambições dos EUA visem a curto prazo uma pacificação de Donbass (incluindo Rostov). Tal pacificação abriria a porta às planícies do Cazaquistão (a menos de 1.000 km da fronteira ucraniana antes da invasão) e a estrada real para o desenvolvimento de um bloco euro-asiático (UE-Ucrânia-Cazaquistão-China) que arruinaria definitivamente o pólo atlântico anglo-saxónico.

    Londres partilha esta preocupação e alinha-se aqui com a política dos EUA.
    Como Washington nos lembra que o seu adversário prioritário continua a ser a China, podemos esperar uma dosagem cuidadosa da ajuda militar dos EUA a Kiev:

    1) defender o território submetido a Kiev e integrá-lo no plano Overlord;
    2) enfraquecer o governo de Moscovo e o poder económico e militar da Rússia, utilizando o povo ucraniano como carne para canhão;
    3) em certa medida, mantendo a barreira de um Donbass instável e/ou submisso a Moscovo para contrariar qualquer grande projecto euro-asiático.

    Moscovo (especialmente os nacionalistas próximos de A. Dugin) também se opõe a qualquer projecto euro-asiático inclusivo, preferindo um bloco euro-asiático resolutamente virado para Leste à exclusão de qualquer integração europeia, seguindo o exemplo da rota norte chinesa do BRI, emulação entre 2013 e 2022 (China-Cazaquistão-Moscovo-Bielorrússia) mas adormecido desde 2022.
    Não devemos esquecer as possíveis tensões internas na Federação Russa e o risco de concorrência entre Rostov e Moscovo, de acordo com os vários projectos euro-asiáticos para o século.
    Deve também recordar-se que a 6 de Julho de 2021, Xi Jinping propôs publicamente a Zelensky uma maior colaboração entre Pequim e Kiev, com o objectivo de estabelecer uma rota BRI central (via Kiev), competindo com a rota do norte (via Moscovo).

    Poucos actores neste conflito parecem ter um interesse estratégico em pacificar o Donbass e em libertá-lo da influência de Moscovo a curto prazo.
    Apenas os ultranacionalistas de Kiev (movimento Azov…) estão agarrados ao seu obsessivo e improvável projecto de reintegração do sudeste da Ucrânia na sua nação racista anti-russa (o que os afasta dos critérios de adesão à UE). Quanto ao actor Zelenski, ele nunca soube desde 2019, se o seu vulgar oportunismo fez dele o fantoche de Kiev ou de Washington.

    O actual mapa de ocupação do Sudeste da Ucrânia (Donbass e acesso ao Mar Negro), cortando firmemente a Ásia à UE, satisfaz estrategicamente os vários adversários (Washington, Londres e Moscovo) de qualquer projecto euro-asiático que tome a rota central (Cazaquistão-Ucrânia-UE).
    Washington e Londres não se sentirão tentados a questionar este bloqueio, mas irão mais provavelmente armar a Ucrânia em dribs and drabs, apenas o suficiente para devorar lentamente o poder de Moscovo.

    Quanto à UE, o profundo interesse em expandir a sua parceria com o Oriente teria sido idealmente encontrado (até à curva negra de 2022) num ambicioso projecto eurasiático para o século de intercâmbio económico e tecnológico com a Rússia, o Cazaquistão e a China… mas isto parece estar cada vez mais comprometido pela interferência belicosa de Washington e da NATO, por um lado, e pela nova orientação de Moscovo na sua aproximação à Ásia e ao Bric e pelo seu distanciamento marcado de uma Europa Ocidental que escolheu definitivamente o seu campo, pela sua gaguez suicida das sanções anti-russas dos EUA e pela sua crescente vassalização ao ogre de Washington
    A UE embarcou agora numa espiral irracional e suicida, da qual a ajuda militar cega a uma Ucrânia notoriamente mafiosa e guerreira não a salvará, bem pelo contrário.
    Acima de tudo, o ano 2022 parece ter estabelecido definitivamente a pedra negra do fim da Europa na história.
    Os povos da Europa nunca poderão “agradecer” aos ultranacionalistas bélicos de Kiev e ao seu herói, Zelensky, o suficiente para os séculos vindouros.

    Espero ter explicado as minhas “posições” que são neutras,mas com uma visão historial..

    • “Quanto à UE, o profundo interesse em expandir a sua parceria com o Oriente teria sido idealmente encontrado (até à curva negra de 2022) num ambicioso projecto eurasiático para o século de intercâmbio económico e tecnológico com a Rússia, o Cazaquistão e a China… mas isto parece estar cada vez mais comprometido pela interferência belicosa de Washington e da NATO, por um lado, e pela nova orientação de Moscovo na sua aproximação à Ásia e ao Bric e pelo seu distanciamento marcado de uma Europa Ocidental que escolheu definitivamente o seu campo, pela sua gaguez suicida das sanções anti-russas dos EUA e pela sua crescente vassalização ao ogre de Washington
      A UE embarcou agora numa espiral irracional e suicida, da qual a ajuda militar cega a uma Ucrânia notoriamente mafiosa e guerreira não a salvará, bem pelo contrário.
      Acima de tudo, o ano 2022 parece ter estabelecido definitivamente a pedra negra do fim da Europa na história.
      Os povos da Europa nunca poderão “agradecer” aos ultranacionalistas bélicos de Kiev e ao seu herói, Zelensky, o suficiente para os séculos vindouros.”

      Caro André Campos, subscrevo inteiramente estes três últimos parágrafos.

    • Caros comentadores, já uma vez aqui tinha falado de algo que me inquieta mas não obtive resposta… Tendo eu opinião próxima da veiculada nesta página a propósito desta guerra (a saber: podia ter sido evitada e foi antes impulsionada por interesses não assim tão obscuros uma vez que são até bastante claros) fico sempre incomodada por encontrar muitas vezes eco ao que penso numa extrema direita trumpista que não aprecio de todo. Porquê ?? alguns dizem-me que “porque Putin é ele próprio um patrocinador dessa extrema direita mundial “(e dão-me logo como exemplo a Le Pen ou o Ventura ); por outro lado temos o partido comunista, o único que desde o principio foi coerente na sua posição contra esta guerra e as sanções daí decorrentes. Não sendo eu comunista, neste caso preciso é com a sua posição que mais me identifico. Ora esta convergência perturba-me porque vai de encontro aos que dizem “os extremos tocam-se” em referencia ao chega / pc e porque não percebo a lógica de tudo isto. Agradecia que alguém comentasse pf.

      • A verdade é que Marie Le Pen é amiga de Putin,e foi a Russia que emprestou dinheiro através de um banco na antepenúltima campanha..Nesta ultima campanha ela não obteve o empréstimo..
        Foi a Le Pen e o seu clã que escolheram o seu lado.. A força e a fraqueza das democracias é ter os líderes que o povo merece.

        Marie le Pen, tem relações com a Rússia, um país que não pode ser ignorado nas relações geopolíticas. Muito pouco tomado em consideração pelo Ocidente… vemos hoje o resultado de uma política europeia cada vez mais expansionista, em detrimento cada vez maior da Rússia. A Marie le Pen é contra a política expansionista da UE, desafiando os receios expressos durante anos por Putin. … não falemos sequer dos conflitos ideológicos dentro da própria Ucrânia, que Zelensky obviamente deixou e que irritam fortemente a sensibilidade nacionalista e patriótica de Putin ..

        A Marie Le Pen nunca apoiou a intervenção na Ucrânia, mas compreende que uma pessoa que lidera a Rússia não queira ser ridicularizada pelos EUA e pela Europa.

        Mas encontrou-se uma única vez com Putin em 2014 para apoiar Putin relativamente às suas reivindicações sobre Crimea…

      • Cara comentadora Maria

        Se me permite uma sugestão.
        Num artigo publicado em 1º de Janeiro de 2023, Oleg Nesterenko, o president do ‘Centre de Commerce et de l’Industrie Européen de Paris, responde, na minha opinião, à maior parte das questões que levanta. Tem a vantagem de ser uma exposição equilibrada, ao ponto de ter sido republicada num site religioso (The Postil Magazine):
        https://www.thepostil.com/conflict-in-ukraine-genesis/

      • Simples, Sra. Maria.

        Oportunismo do mais puro.

        Os partidos de extrema-direita já compreenderam há muito tempo que a melhor maneira de mobilizar as “massas” é apelando a sentimentos tribais e a ideias e “teorias de conspiração” que demonstrem que os políticos são irremediavelmente corruptos, tudo para favorecerem os interesses de privados seus conhecidos que venham arrebanhar os eleitores incautos, fiados na palavra de fascistas de que a culpa para uma qualquer situação que mergulha as pessoas na miséria reside exclusivamente nos sistemas democráticos e nos seus governantes.

        Estão certos quanto aos governantes, mas não quanto à democracia – vamos ao que quero dizer com isto.

        O problema aqui é verificar que, por complexidades inerentes à geopolítica contemporânea, a periferia do Império (conhecida por UE) tem líderes tecnocratas associados aos grandes grupos económicos americanos (que, por acaso, detêm um interesse particular numa Europa submissa), resultando que esses líderes dos partidos tradicionais de centro/centro-direita/centro-esquerda sejam todos uns capachos de interesses oligárquicos do outro lado do Atlântico e que, portanto, se limitem a adotar as posições que são mais convenientes (já para não dizer idênticas) às pessoas que os têm nos bolsos.

        O problema é que não há um lado que esteja isento destas limitações. Se, por um lado, Republicanos são extremamente contundentes nas posições que, por vezes, assumem em relação a determinados acontecimentos correntes, os Democratas tendem a ser capitalistas de bem, defensores de um capitalismo ecológico/filantropo – o que, em si, é uma enorme contradição.

        No entanto, e embora eu esteja convencido disto que expliquei, no fundo, os dois lados são exatamente iguais naquilo que professam e defendem.

        Um exemplo: há dias deparei-me com um vídeo de uma alocução de Donald Trump (é uma palavra forte para Trump, eu sei, chamemos-lhe ataque de verborreia incontrolável) na ONU – não sei em que ano infelizmente…

        Imagine só que, nessa intervenção, Trump diz à Assembleia Geral que, se a Alemanha não tivesse cuidado, iria ficar completamente dependente do gás russo e que perderia a sua independência e soberania energética (estou a parafrasear, mas o essencial do conteúdo é isto).

        Soa-lhe familiar ?

        Ora, naquele momento, a delegação Alemã começou toda a rir-se e a fazer trejeitos escarnecedores ao homem. Afinal, de contas que conversa era esta, não é ?

        Pergunto-lhe: quem é que anda agora a dizer que a Alemanha perdeu a sua independência energética e que precisa de se afastar do gás russo ? Aliás, não só a Alemanha, mas toda a Europa!

        Como lhe disse, sejam Democratas ou Republicanos (já que as opiniões políticas no Ocidente estão, inevitavelmente e por culpa de uma propaganda inédita, reduzidas a estas duas visões do mundo), a conversa é a mesma e o objetivo final também: predominância dos EUA em relação ao mundo. Nada mais, nada menos. A conversa é que vai variando.

        Trump apela a sentimentos nacionais, reforço da hegemonia americana através de um recolher para dentro dos investimentos, de um protecionismo exacerbado, sanções ao maior rival económico, mas sempre mantendo intervenções militares no estrangeiro – sem que, todavia, destas últimas, se ouça falar muito com Republicanos (são mais discretos quando a bombardear países no outro lado do planeta ou a armar golpes de estado).

        Quem ouviu falar da Colômbia ? Muito poucos e, se não fosse o desbocado do Elon Musk (deverei dizer “destwittado” ?), ainda menos teriam ouvido falar disso.

        Os Democratas não.

        Querem investimento no estrangeiro, querem globalização, querem o núcleo Imperial assente em finanças (apesar do seu esforço de mover a base industrial europeia para lá, de maneira a impulsionaram uma indústria morta na região do Midwest, mas isto foi uma fantochada de tal ordem que a Inflation Reduction Act até foi criticada por líderes Europeus como Von der Leyen e, salvo erro, Macron), intervenções “humanitárias” à luz do dia e para todos verem (sob a justificação de combater pela democracia) e querem, acima de tudo, transmitir a ideia de serem progressistas quando, no fundo, só querem saber da cor da pele do indivíduo que está à frente da Goldman Sachs ou da Google – aquelas empresas de bem, ao contrário de oligarcas que não se alinham com os interesses do Ocidente (não faço apologia de oligarcas, limito-me a apontar o óbvio).

        Não querem saber das condições dos trabalhadores – mais do que visível na recente história da greve dos trabalhadores da ferrovia: proibidos de fazer greve por licença de doença, enquanto as empresas para as quais trabalham arrecadaram lucros de 20 mil milhões de dólares durante a pandemia, e sob a justificação de Biden de que isso iria afetar as famílias americanas no Natal por não terem a sua dose de consumismo natalício nas prateleiras.

        Resumidamente: cada um vai à sua base eleitoral e apanha o peixe como lhe interessar sem terem qualquer tipo de escrúpulos quanto à rede que usam.

        Uns falam de Putin como o ditador que tem de ser parado através de uma guerra infinita, cujo armamento fornecido pelo Ocidente é pago pelos povos do Ocidente – mas não pelos oligarcas, é essa a vantagem (por isso é que depois podem falar em cortar em serviços como Saúde, Educação, etc – basta ver o que se passa no UK).

        Outros falam da guerra como um “mau investimento” (no fundo, é esta a visão de muitos trumpistas – a típica mentalidade capitalista), um investimento (investimento, pois Trump e membros do “Grand Old Party” financiaram, tal como os Democratas, nazis na Ucrânia) que, aos olhos do público, é demasiado evidente no seu retumbante falhanço (óbvio na degradação das condições de vida para as bases mais empobrecidas da população).

        Este investimento é ainda mau, pois coloca a primazia militar americana em risco (alguns trumpistas queixam-se da maneira como os stocks dos diferentes ramos militares dos EUA estão a ser paulatinamente esgotados), algo que, na visão de algumas dessas luminárias conservadoras, é visto como um suicídio que precisa de ser interrompido de imediato, nem que isso implique ceder território ao malvado Putin, aquele que é nosso aliado quando dá jeito à propaganda com que manipulamos os palermas do lado de cá e que não é quando temos interesses dentro dos mercados russos (como lojas da Apple ou McDonald’s) ou concessões de exploração de petróleo em plataformas de alto-mar (Sakhalin).

        O chegamos e trumpistas falam, neste momento, da guerra como um erro do Ocidente, que deve ser feita a paz, mas não deixam de dizer que Putin é um assassino tresloucado capaz de cortar os fornecimentos de gás à Europa enquanto vai matando Ucranianos, conquistando território para o seu país e fazendo avançar as suas ambições imperialistas!

        Tudo isto é ridículo, claro, quando se conhece a história do conflito.

        O único partido, todavia, que fala da paz porque expõe a verdade dos factos (golpe de estado em 2014, oito anos de guerra civil, financiamento de partidos nazis, ascensão de ideologias fascizantes e que tolhem o normal funcionamento da Democracia, Estado Falido e nas mãos de uma oligarquia das mais corruptas do mundo e bombardeamentos iniciados pelas Forças Armadas Ucranianas a 16 de Fevereiro) é o PCP e, como tal, e compreendendo que tudo isto é ignorado de maneira a prolongar o conflito e fazer valer interesses hegemónicos dos EUA sobre o mundo, pede o resumo das negociações, o estabelecimento da Paz em continente Europeu, inclusivamente por se saber que as sanções ocidentais à Rússia não têm a Federação Russa ou Putin ou os seus oligarcas como o alvo principal, mas sim a Europa e os seus povos!

        De facto, tudo aponta para isto: aumento do custo de vida, desindustrialização, desinvestimento em serviços essenciais, deslocação das bases industriais para o estrangeiro, retirada de investidores do mercado europeu e subida de taxas de juro para provocar uma recessão deliberada, dado que a inflação é originária do lado da oferta e não do lado da procura, resultando em aumentos massivos de desemprego, tudo isto é o objetivo do conflito atual.

        E apenas o PCP tem a sobriedade de identificar todos estes problemas, pois nunca deixaram de ter em vista os interesses da população portuguesa ou de respeitar os interesses soberanos de outros países.

        A paz, portanto, é necessária para permitir que uma alternativa global à hegemonia americana surja e que venha contrariar as tendências imperialistas que têm subjugado continentes e respetivas populações há décadas – para não dizer um século.

        • Muito obrigada pelas várias respostas. Como disse ontem, é um assunto que me perturba bastante. Agora mesmo estava a ouvir um programa americano que tenho seguido por causa das opiniões anti guerra e oiço que o Brasil de Lula “é uma deriva comunista que deve ser travada”…fiquei chocada !! detesto dar comigo do mesmo “lado da barreira” que estejas pessoas…faz-me duvidar das minhas certezas….

  5. “The U.S. goal of preventing the emergence of regional hegemons in Eurasia, though long-standing, is not written in stone — it is a policy choice reflecting two judgments: (1) that given the amount of people, resources, and economic activity in Eurasia, a regional hegemon in Eurasia would represent a concentration of power large enough to be able to threaten vital U.S. interests; and (2) that Eurasia is not dependably self-regulating in terms of preventing the emergence of regional hegemons, meaning that the countries of Eurasia cannot be counted on to be able to prevent, though their own actions, the emergence of regional hegemons, and may need assistance from one or more countries outside Eurasia to be able to do this dependably.” (“Renewed Great Power Competition: Implications for Defense — Issues for Congress”, US Congress https://crsreports.congress.gov/product/pdf/R/R43838/71)

    “For America, the chief geopolitical prize is Eurasia…and America’s global primacy is directly dependent on how long and how effectively its preponderance on the Eurasian continent is sustained.” (“THE GRAND CHESSBOARD – American Primacy And It’s Geostrategic Imperatives”, Zbigniew Brzezinski, page 30, Basic Books, 1997)

    “Over Extending and Unbalancing Russia” ( https://www.rand.org/pubs/research_briefs/RB10014.html ).

  6. Uma boa parte da perplexidade com que se defrontam cidadãos enfastiados com a agressividade da máquina de propaganda oficial, mas também surpreendidos com as posições da extrema direita, dizia eu, uma boa parte dessa perplexidade desapareceria com o conhecimento da longa ascensão do Partido Nacional-Socialista na Alemanha durante e República de Weimar. Pois aí também se veria como um partido demagógico não desdenhou a infiltração nos sindicatos, o aproveitamento do desespero da juventude desempregada, canalisando as suas energias para acções tão violentas como contraproducentes, grangeando financiamentos avultados, de origem nacional e internacional, para montar gradualmente uma máquina de propaganda bem equipada, financiamentos que também serviram para montar programas de assistência social (sopa dos pobres).

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