Sem dó, nem piedade!

(Por Hugo Dionísio, in Facebook, 05/12/2022)

Se até aqui, os governadores das províncias europeias, vinham chafurdando, degrau a degrau, em novos níveis de profundidade, na fossa em que se (nos) enfiaram; desta feita, desconfiando da sua convicção escavadora, os seus mestres mandaram parar simplesmente de chafurdar, ordenando a passagem à fase da dinamitação do poço, com toda a gente lá dentro! Menos os mestres, claro!

Primeiro, as sanções… Por muito que venha a ladainha do costume, “foi a guerra”, “a guerra provocou a crise”, ou, identificando em Vladimir Putin. a personagem expiatória perfeita, acrescentam “a culpa é do Putin”; como toda a gente séria avisou, a UE iria sofrer ricochete. Foi o que se viu.

Mas, não contente, a corporação que é a UE, escalou, não um, mas nove (!!!!) pacotes de sanções, nove bombardeamentos, cada um mais poderoso que o anterior. Parecem aqueles filmes em que o torturador vai dedo a dedo, até ao fim. Em cada um deles, os povos europeus viram perdidas novas parcelas de subsistência.

Não era difícil de prever: matérias-primas e produtos intermédios mais caros, resultam em produtos finais mais dispendiosos e/ou com menor valor acrescentado; o que equivale a perda de competitividade, perda de valor, destruição de emprego, menor receita fiscal; numa espiralada pescadinha de rabo na boca, que nunca acaba.

Não passando da teoria à prática, lá ouvimos o cavalo de Troia Analena Berbock ou o Ministro da Economia Francês a reclamarem com os EUA, ou porque não têm gás suficiente, ou porque, com a sua energia barata e os seus subsídios à economia, os EUA atingem as economias europeias, adquirindo uma vantagem artificial, distorcendo o mercado livre” (é nisto que dá acreditar no Pai Natal e votar em quem acredita nele).

Já no final da semana passada, sabendo que “Toy” Biden vai atribuir 350 mil milhões à indústria automóvel, para produção de carros elétricos e baterias, apenas beneficiando as empresas situadas no seu território, não tardou a que Sholz visse nisso o que é: um ataque direto à indústria automóvel alemã e criticasse a medida como “protecionista” (não me digam!). Pois… e… porquê alemã?

Primeiro, porque a francesa não vende para os EUA. A italiana, também pouco. Mas a alemã… vende mesmo muito. Ora, como as fábricas alemãs vendem para lá, mas não beneficiam do apoio e, ainda por cima, compram gás – americano – e metais mais caros (ou por causa das sanções ao principal fornecedor, ou, por terem de comprar… aos próprios EUA), estas perdem competitividade. Assim: o apoio concedido por “Toy” Biden é um convite direto à deslocalização das empresas alemãs para território americano, ou, à assinatura de um tratado de livre comércio que acabará, definitivamente, com qualquer soberania produtiva que ainda reste (caso do México e Canadá).

Perante a fila crescente de empresas alemãs (holandesas, belgas, suecas…) que se deslocalizam para os EUA, ou para a China, assistir ao autêntico ato de guerra em que consistiu o rebentamento do Nord Stream, e sem exprimir a mais ínfima reação…

Depois disto tudo e perante a confirmação de todas as previsões – e avisos – de que toda esta experiência se destinava a arrasar com a economia europeia (em especial com a alemã), a separá-la do seu fornecedor de matérias-primas baratas e do seu comprador preferido que é a China (ainda falta essa parte…), eis que a CEO desta grande empresa americana que é a UE, decide enterrar-nos a todos, sem exceção.

Antes, os sinais: aos dias de hoje já sabemos que será uma empresa americana a dirigir o consórcio que se encarregará do grande negócio que será a reconstrução do país de Zelensky; que será o Departamento de Transportes da Casa Branca a monitorizar, fiscalizar e acompanhar a reconstrução das infraestruturas de transportes e energia e que já estão a ser constituídos fundos de investimento por multimilionários anglo-saxónicos para captar “investimento”. Ou seja, a guerra é na Europa, a propaganda diz que “a guerra é para defender a Europa”, mas no final, quem reconstrói são os… americanos.

E perante um sinal destes, que até um cego seria capaz de ver e um surdo de ouvir, a CEO Van Der Lata, pega em mais um rolo de dinamite e toca de mandar aplicar a “oil cap” (tecto de preço) ao petróleo do país de Putin., fixando-o em 62$ (não, não é em €). Como todas as medidas que aplicou até aqui, cada uma representou a explosão de mais um dos pilares da construção desarmoniosa que é a UE. Os EUA, cheios de petróleo, lá continuarão a abrir exceções (como nas sanções todas); a UE, sem petróleo algum, terá de ir comprar mais longe, o que antes comprava perto, com o consequente aumento de preço que decorrerá, da retirada do mercado internacional de petróleo, da parte que a UE deveria comprar ao país de Putin, e que este já avisou que não lhe vendia. Com o aumento de preço, lá estarão todos os produtores a ganhar, incluindo o Tio Sam, ao passo que as colónias todas, com pequenas exceções, terão que pagar mais pelo mesmo produto. É de mestre!

Claro que, a solidariedade europeia nestes dias é tão sólida, que cada rato, cada traidor, se comporta como se não houvesse amanhã (e se calhar não se enganam), e, cada um, procura ganhar o mais que pode à custa dos mais bem-comportados (em que se inclui esta nossa província). Por exemplo, de acordo com a própria Bloomberg, a França compra petróleo ao país da tundra, mais barato e com contrato a longo prazo (contrariando as sanções que ela própria votou para aplicar), e revende-o ao preço corrente aos outros países “irmãos”, dos quais se destaca a… isso! A Alemanha!

E se, este “oil-cap”, já constitui um erro cósmico, capaz de gerar um buraco negro que nos sugará a todos, eis que, Sua Excelência, a CEO Úrsula Va Der Lata, vem com mais uma carta na manga, diretamente retirada do seu cérebro de galinha poedeira. Confiscar, definitivamente, as verbas que estão congeladas do país dos ursos. Ou seja, já não é apenas um gestor, um manager, Úrsula passa diretamente ao gangsterismo. Só que, para se ser gangster é preciso poder sê-lo. OS EUA podem, os outros não. Como se provará, para o nosso necessário mal.

A música é simples, tem sempre a mesma melodia, a Casa Branca quer reconstruir o país de Zelensky (vamos lá a ver se ainda vai existir no fim disto tudo), mas para lançar o vultuoso negócio, precisa de capital, capital que não tem. Logo, os 300 mil milhões vêm mesmo a calhar. Mas os 300 mil milhões são fundos soberanos, logo, vedados pela lei internacional a qualquer tipo de confisco unilateral. É aqui que entra a CEO. Consultados os advogados ao seu dispor, todos disseram – incluindo Portugal, veja-se só – que não podia ser. E ela questionou: então e se o país em causa for criminalmente condenado? Ao que eles questionam: “Um país inteiro”? “Assim em abstrato”? “Todo o povo”? “Todos os ministérios”? “O banco central”?

“Bem, comecemos por uma resolução que condene o país em causa como estado terrorista”, que “tenha no artigo 12.º a possibilidade de este pagar a reparação”, “e depois vamos andando”. Poderíamos questionar como fazer isto sem fazer o mesmo aos EUA e ao seu braço militar na Europa. Contudo, ao dia de hoje, já 80% dos países do mundo viram costas ao Ocidente por este tipo de dualidades.

Mas trata-se de negócio, puro negócio! É tudo negócio, condimentado por centenas de milhares de mortos escusados. Ato contínuo, eis a França de Macron Mackinsey a iniciar a constituição de um tribunal para julgamento dos “crimes de guerra”. Como o TPI não poderia ordenar o confisco, o que faz a UE? Faz o mesmo que critica Putin. de ter feito: cria um tribunal, à medida da sua pretensão.

A questão é esta: o que acham que sucederá se este brilhante projeto for para a frente? O que acham que farão aqueles países que têm reservas na UE e não se consideram parte, província ou empresa dos EUA S.A.? Pois… será uma tal fuga de capitais da EU que os bancos europeus ficarão de rastos, totalmente descapitalizados… E quem terá de os capitalizar? Têm um espelho? Ainda bem. E quais serão os benévolos “amigos”, os que compartilham “os valores”, que emprestarão dinheiro a rodos, saído ainda quentinho da máquina rotativa de verdinhas e a juro mais elevado do que o normal? Pois… São os J.P. Morgan, os Golden Sachs e toda a reserva federal americana, que rebentará tanto de rir (da estupidez do povo e da cobardia endémica dos governadores) como da pança cheia.

Em suma, os mestres, os acionistas da grande corporação que é a UE, fazem tudo bem. Num período em que sabem tudo estar em causa e em que o centro do poder mundial se desloca perigosamente para oriente, aproveitam para capitalizar e reforçar a sua dimensão económica. Somos nós que fazemos tudo mal. E o grave é que a maioria nem vê isto chegar!

Se existir um manual para o suicídio económico, político e social, a burocracia eleita e não eleita da UE e das províncias que a compõem, estudaram-no com um afinco tal que cegaram completamente. A única satisfação é que, lá mais para a frente, será inevitável o julgamento destas gentes como traidores que são…

E nesse dia, contem comigo para os condenar! Sem dó, nem piedade!


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3 pensamentos sobre “Sem dó, nem piedade!

  1. Excelente texto..

    Para compreender os interesses desta guerra, não devemos procurar declarações oficiais, nem a interpretação dos meios de comunicação social. A origem desta guerra encontra-se claramente nos motivos ocultos dos nossos incompetentes

    Porque os problemas modernos estão agora ligados à energia e ao clima, e as soluções para os resolver, serão muito impopulares.. (as energias alternativas, as energias renováveis, exigem sobriedade)
    É evidente, por exemplo, que o facto de o Donbass ser uma zona de carbono, e que a guerra na Ucrânia ia cortar as condutas de energia da Rússia, desempenhou necessariamente um papel, e fez pender o equilíbrio
    Pelo contrário, Donbass teria sido de alta tecnologia, a Rússia teria fornecido elek descarbonizado, em vez disso a Ucrânia teria sido sancionada desde 2014, afinal de contas foi infiltrada por ultranacionalistas (despertada pela exploração dos baixos salários dos agricultores ucranianos) desde o seu golpe de Estado em 2014, a corrupção piorou aí, e os criminosos bilionários procurados encontraram refúgio lá, e tem “batido” na população de Donbass desde 2014… Especialmente se o Donbass tivesse sido mais high-tech do que o carvão!

    Deve-se notar de passagem que o Donbass é ideal como parque infantil para os mais excitados (como os excitados que apanharam as armas de Saddam e foram empurrados para o deserto de Daesh onde se divertiram com ele. A ideia é que tirar os excitados das cidades é uma vantagem)

    Agora queremos quebrar os contratos que nos ligam aos combustíveis fósseis, mas a vontade política não é suficiente (COPs, COP21…), é legalmente bloqueada por leis escritas por/para nós, os viciados em combustíveis fósseis/perfusores/corruptos, por isso, a priori, estamos à procura de pretextos para nos desmamarmos, e os pretextos que existem, todos sabem que sempre fizemos concessões em matéria de direitos humanos e ambientais para obter estas energias..

    Face à ficção política dos meios de entretenimento do Ocidente em declínio, um pequeno desvio para a realidade geopolítica .

    O mapa actual (final de 2022) da ocupação russa da Ucrânia (Donbass, Sudeste da Ucrânia, Crimeia e acesso ao Mar Negro) bloqueia momentaneamente qualquer projecto geoestratégico eurasiático de grande escala baseado na rota central “UE-Ucrânia-Cazaquistão-China”.
    Pequim propôs publicamente (a 6 de Julho de 2021) a Zelensky o aumento da ajuda à Ucrânia, no âmbito da BRI (Belt and Road Initiative), a fim de abrir esta rota central, que é um concorrente directo da rota inicial do Norte (China-Kazakhstan-Moscovo-Bielorrússia-UE), desenvolvida desde 2013.
    Moscovo e os apoiantes ideológicos de A. Dugin opõem-se firmemente a este projecto euro-asiático “UE-Ucrânia-Cazaquistão-China”, contra o qual defendem ardentemente outro projecto euro-asiático menos inclusivo, excluindo a UE e orientando unilateralmente a Rússia para a Ásia.

    Mas há também duas outras potências que se opõem estritamente a qualquer projecto UE-Pequim euro-asiático: Washington e Londres.
    Qualquer projecto ambicioso da Eurásia marcaria o (anunciado) fim do pólo atlântico, que está lentamente a desaparecer numa metamorfose geopolítica que se está gradualmente a reorientar para o Pacífico, onde os EUA estão a sofrer a ascensão da China.
    Esta é a principal razão para a actual vassalização crescente da UE por Washington, que precisa desta muleta europeia para tentar prolongar o (vacilante) domínio mundial do dólar.

    A política de Washington e Londres na Ucrânia é assim de sustentar temporariamente esta guerra por procuração e assim armar Kiev, o suficiente para enfraquecer Moscovo, ao longo da linha tradicional da NATO.
    Contudo, o seu objectivo fundamental continua a ser o bloqueio de qualquer projecto eurasiático, que competiria perigosamente com o velho pólo atlântico, por um lado, mas sobretudo favoreceria a ascensão da China, que continua a ser o notório adversário global prioritário de Washington.

    Numa reunião recente entre Putin e Tokayev (o recentemente reeleito Presidente do Cazaquistão), Astana reafirmou a sua futura colaboração com Moscovo, após uma fase temporária de distanciamento desde a invasão da Ucrânia. Este evento diplomático indica a tendência actual do projecto euro-asiático (do qual o Cazaquistão rico é uma etapa essencial) para avançar em direcção à rota norte (via Moscovo) em detrimento da rota central (via Ucrânia).

    Uma próxima pacificação do Sudeste da Ucrânia (após uma hipotética “vitória total” de Kiev no terreno), definitivamente livre, por outro lado, de qualquer vontade belicosa revanchista de Moscovo (após uma remodelação interna radical da paisagem política russa, também hipotética), é a curto e médio prazo uma questão de ficção política.
    Tal situação surrealista estaria em radical contradição com os interesses geoestratégicos de Washington, Londres, o movimento ainda no poder em Moscovo e os projectos actuais do regime, pilar de qualquer projecto euro-asiático.
    São muitos os fervorosos opositores das utopias de guerra ucranianas partilhadas pelos ultranacionalistas (movimento Azov e outros) e o seu actor Zelensky.

    Em 2021 assistiu-se a alguns eventos globais notáveis, ligados à actual fase do BIS, um projecto iniciado em 2013 e que atingiu em 2021 (através dos vários acordos de Pequim em todo o mundo, incluindo com vários membros da UE), um orçamento global estimado em 3 triliões de euros.
    12 de Junho de 2021: o G7 declara a sua intenção de contrariar Pequim com o projecto Build Back Better World ou B3W.
    6 de Julho (após a ajuda sanitária chinesa à Ucrânia durante a pandemia): Xi Jinping propõe publicamente a Zelensky um futuro, uma colaboração mais ampla no quadro de uma extensão do BIS.
    12 de Julho: Os ministros dos negócios estrangeiros da UE reúnem-se em Bruxelas para combater o BIS e decidem lançar o projecto “A Globally Connected Europe” em 2022.
    1 de Dezembro: a UE lança o seu projecto (por 300 mil milhões de euros, incluindo 150 mil milhões para África) para rivalizar com o BIS, o Portal Global.

    Desde Fevereiro de 2022, Pequim suspendeu temporariamente os seus investimentos em solo russo neste quadro do BRICS (rota do Norte) e aguarda um esclarecimento da situação. No entanto, o projecto BRICS (idealmente para Pequim na sua versão mais inclusiva) ainda faz parte do objectivo mais amplo do domínio global chinês para 2049, o centenário da Revolução.

    A invasão russa do Donbass em 2022 não pode portanto ser concebida independentemente deste cenário geoestratégico do BRICS.
    Isto é tanto mais verdade quanto Washington reafirma regularmente que o seu inimigo global prioritário continua a ser Pequim.

    Esta obsessão míope dos meios de comunicação social ocidentais e do discurso oficial, durante os últimos nove meses (… e alguns anos) para considerar a Ucrânia como uma ilha perdida no Pacífico Sul (para além da sua fronteira com alguns oblastos russos) e para ocultar a sua posição geoestratégica, intimamente ligada a qualquer projecto eurasiático para o século, só pode despertar espanto.
    Mas o mais espantoso este ano é o zapping radical dos grandes projectos do Ocidente desenvolvidos em 2021 e que mobilizou (e ainda mobiliza) centenas de milhares de milhões de euros!

  2. A imaginação dos heróis do IV Reich é igual à dos do III, de mil anos, do Adolfo escuteiro. O alvo de eleição volta a ser o Bundestag e também não falta o dedinho gordo apontado aos agentes da Moscóvia! Cruzes, canhoto! Vade retro!

    • Esperem o que vos está a falhar ???
      Será que ainda não perceberam, pelos menos de parte das autoridades portuguesas que a atual política da U.E, sendo que a nossa intervenção é diminuta para não dizer que vamos na estria do conceito de manada que vai arruinar por completo os Países Europeus ?
      Isto tem um grande beneficiário USA

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