Um imenso futebol

(Por Hugo Dionísio, in Facebook, 06/10/2022)

Não obstante o triunfalismo presente na generalidade da comunicação da Aliança do Norte Atlântico, chegando ao ponto das mais ridículas tiradas jornalísticas, como aquele grande jornal chamado “I” (deve ser de “Invenção”) que refere o “facto” de a Rússia ter perdido o controlo de “todas” as regiões anexadas (não dão por menos, é de “todas”), e de ter voltado o “a Ucrânia está a ganhar a guerra”, os indícios de que a realidade não perdoa, demonstrando que tudo se encaminha para um agravamento pronunciado da nossa queda, são por demais evidentes.

Um deles é mesmo extraordinário: O Ze “proíbe o seu governo de dialogar com a Rússia”. Então, não percebo, mas o governo não está com Ze? O povo não está com Ze? O país não está todo alinhado e consistente e correntemente alinhado na sua missão contra o Urso do leste? Mas se está… como referem incansavelmente as fábricas de comunicação do burgo, então, o que é que justifica esta “proibição”? Supostamente, o Ze é que sabe se há negociação, ou não, certo?

Não, não é certo. O facto é que as cúpulas militares dos dois países encontravam-se em negociações mediadas por Alemanha, Arábia Saudita e Turquia, tudo secreto e à margem dos mestres do universo do Atlântico Norte e da CEO do conselho de administração da EU, Ursula Von der “Crazy”. Negociações de paz, em pleno desespero energético, à margem dos Donos Disto Tudo, só poderiam ter dado no que deu: Toneladas de dinamite no fundo do báltico, como que a dizer “não há caminho de volta”.

Tal como os inúmeros agentes do Tio Sam descobriram as negociações “secretas”, o que é sempre difícil em países colonizados, também terão reportado a Ze quem andaria a negociar com o inimigo, cometendo esse imperdoável pecado de querer negociar a paz. E tudo feito nas costas do grande presidente, que teve a honra de entrar nos Pandora Papers como resultado da utilização do seu povo como exército por procuração. O resultado não seria difícil de prever: logo que o acordo estivesse feito, a cúpula militar destronaria o comediante de serviço, acabando com uma guerra fratricida que joga um povo irmão contra o outro, apenas por interesse do que George Lucas tão bem designou em “Star Wars”, o “Império”.

Só esta desconfiança absoluta no seu comando, é que justifica publicar um decreto que dá pena de prisão a quem tiver o desplante de negociar a paz. Veja-se só! Então “pagam-me para fazer a guerra” e “agora estes traidores querem a paz”? Não admira mesmo nada que, à entrada do inverno, num país falido, sem energia e com uma população que, na sua maioria, sempre viveu próxima (nos últimos 30 anos) do país agora designado como inimigo, haja muita gente que comece a pensar que “já chega”, antes que fiquem sem país.

Afinal, o Ze recebeu mais de 70% dos votos para fazer a paz e aplicar os acordos de Minsk. Se os partidos fachos são minoritários, o que não os impede de terem tomado o poder de estado, o facto é que haverá mesmo muita gente que se deixou ir na onda e, agora, confrontados com a difícil realidade e tendo em conta de que vivem numa região em que as pessoas sempre se sentiram parte da nação agora apontada como inimiga, queiram voltar a tempos de paz e esperança. O Ze e os seus mandantes não o podem permitir. Fosse outro a fazer isto e estariam a chamar-lhe tudo, sendo “sanguinário” o que de mais suave lhe chamariam.

E este esforço negocial, que resulta de um lento mas inexorável acordar para a vida, é inclusive verbalizado por Elon Musk, dono do Twitter. Elon Musk vem apresentar um plano de negociações, assente nos seguintes pontos: 1. Fazer eleições monitorizadas pela ONU nas regiões anexadas e, se o povo continuar a escolher, então mudam de nação, caso contrário ficam como estavam; 2. A península da Crimeia fica onde está, porque tirando o tempo entre a oferenda de Khrushchov e 2014, já aí estava desde há 200 anos; 3. O país do Ze permanece neutro.

Ora, isto é mais ou menos Minsk I e II, que Ze não cumpriu. Mas, eis que nem o facto de Musk ser dono do Twitter o perdoou. Os “bots” dos mestres do universo e também seus patrões noutras áreas, atacaram-no de alto a baixo, chamando-lhe tudo, mesmo tudo. Musk fez mesmo uma sondagem, para ver a aceitação da sua proposta: na 1ª hora, 60% aprovavam, 40 estavam contra; entrados os “bots” da NSA e da SBU, o resultado inverteu-se. Afinal, há que dar a impressão de que as pessoas querem que a guerra continue.

Mas não querem, e tanto não querem que a Úrsula teve de vir hoje dizer que “agora é que” vai doer e “estamos a entrar numa fase decisiva”, mas “temos de nos manter unidos”. Em nome dos “valores europeus”, sabe-se lá o que são, mas sabemos bem a quem interessam. Aos povos europeus não será certamente.

Entretanto, depois disto, Ze para não parecer que está contra a paz – talvez aconselhado pelo seu dispendioso assessor da CIA, veio dizer que “negociações sim, mas “só com o próximo presidente Russo”. Isto quer dizer duas coisas: ou, não se negoceia, e ponto final, pois o presidente atual não vai a lado nenhum e aquela história da “maioria silenciosa” a que a Casa Branca se refere, nem é silenciosa, nem é maioria; ou, os DDT vão jogar as cartas todas e tentar o que estão a tentar – e a “desconseguir” (como eu gosto do Mia Couto) – no Irão, ou seja, uma revolução colorida, algo que não conseguirão, mas terá uma utilidade, identificar os traidores da pátria que ainda andam lá pelo burgo.

Seja como for, no final, as coisas continuarão a agravar-se para nós, mas com muito mais velocidade, algo que até o avozinho avisador de pedófilos e presidente da nossa infeliz república não se esqueceu de assinalar. Embora, como se sabe, ele está do lado de tudo menos da paz. Pois a paz que eles defendem consiste na aniquilação de um dos lados e não na negociação e compromisso entre os dois, como deve defender quem é, realmente, pela paz. É que a paz verdadeira é isso mesmo: compromisso entre gente civilizada.

Um dos sinais já foi dado pela Arábia Saudita, que com a Rússia e contra as pretensões dos EUA, já anunciaram o corte da produção de petróleo em um milhão de barris. Ninguém os pode levar a mal por quererem ganhar mais, e ninguém pode levar a mal quererem apertar o garrote ao inimigo. Eis o resultado, para já, das “oil caps” impostas pelos EUA ao G7.

Entretanto a OPEP+ reuniu, e de tal forma aprovou a intenção dos outros dois, que o corte será de 2 milhões. Desgraçados de nós! Somos sempre nós a pagar pela incompetência, a covardia e a falta de verticalidade dos que têm o poder nas mãos e se apresentam como democraticamente eleitos. Até o são, mas se a eleição é democrática, já a sua ação não o é, pois é praticada no sentido de interesses alheios.

Macron, que agora tentou formar uma EU dos pobres, de segunda categoria e dominada pela França, não se pode rir. Tentou montar uma coisa com 27 países não pertencentes à EU, uma espécie de antecâmera. Tudo isto porque não quer a Ucrânia na EU e não tem coragem de o defender. Então, inventa. Mas não conseguiu nem o apoio dos de segunda, nem dos de primeira. Por sua vez, a França perdeu o controlo colonial do Burkina Faso e República Centro Africana. O Mali já tinha ido. Agora, em conjunto com o Níger, que para lá caminha, podem estar em causa as enormes minas de Urânio baratinho com que são alimentadas as centrais nucleares Francesas.

Se o grupo “Sahel” das nações da África Central (Gâmbia, Burkina Fase, Niger, Mali, Senegal, Argélia, Chade, Camarões entre outros) criado pela França (com apoio da EU) para “combater” o “terrorismo” e com tal ameaça justificar a entrada de tropas francesas, está dado como “morto”, a verdade é que não faltou muito para que as populações constatassem quem apoiava o terrorismo de facto (e porquê) e começassem a surgir manifestações e golpes de estado claramente antifranceses. As bandeiras russas nas manifestações de alguns desses países e a sua renúncia à aplicação e sanções, dizem-nos claramente quem beneficia com esta desagregação.

É caricato que as sanções que a ECWAS (União Económica das nações da África Ocidental), por ordem de Washington (não sabem outra) aplicaram ao Mali e ao Gana, tiveram mais uma vez o condão de virar estes países contra o domínio ocidental, conseguido através da corrupção e da compra de ditadores cleptocratas (também só sabem esta).

Quanto mais sabemos da política de sanções unilaterais e autocráticas com que o “democrático” Ocidente gosta de brindar as nações que não se submetem ao seu regime, mais constatamos que, ao contrário do pretendido, as nações visadas vão progressivamente, e com custos humanos brutais, vendo-se livres desse jugo. Afinal, hoje são 57 países que, ao todo, estão sob sanções dos EUA e, consequentemente, das suas colónias europeias.

Com a perda de domínio do mercado petrolífero mundial, cuja influência tem vindo paulatinamente a diminuir, os EUA têm usado como solução para conter o aumento de preços, a libertação constante de milhões de barris da sua reserva estratégica nacional. Segundo alguns órgãos especializados, esta está já nos seus níveis mais baixos dos últimos 40 anos.

Se a isto adicionarmos as dificuldades na compra de gás e petróleo, por parte da EU (a Alemanha consegue petroleiros em troca de armas para a Arábia Saudita, para matar Iemenitas) e a ameaça que existe às fontes africanas de urânio, bem podemos dizer que a base da nossa civilização – a energia barata – está ameaçada de morte.

Por cá segue o circo com a inclusão da Ucrânia na candidatura da Espanha e de Portugal. Eu percebo o oportunismo bacoco e até o seguidismo. Mas, incluir um país que não tem nada a ver connosco, não é sequer nosso parceiro económico, comercial ou militar (apenas militar e inconfessado), não tem especiais laços históricos com estes países, não tem qualquer semelhança de língua, religião, cultura ou regime, apenas coincidindo no dono…. Está à vista o ponto a que chegámos, em que a decência deixou de existir.

Já para não dizer que, em 2030, nem sabemos – e ninguém pode garantir – se existirá sequer uma Ucrânia, a justificação que Fernando Gomes dá para incluir esse país em guerra, é a de que “ninguém se pode esquecer do que se passa na Ucrânia”. Alguém me diga, então, por que razão Portugal e a Espanha não incluíram na candidatura o Iémen, o Iraque, a Síria, a Líbia e muitos que estão em guerra, mas não perpetrada pelos mesmos agressores.

O dizer que a UEFA apoia incondicionalmente esta candidatura, ora que admiração. Mas quem é que manda na UEFA? E existe algo de mais corrupto, vergonhoso, bárbaro e cínico do que o mundo do futebol?

Eis no que se tornou as nossas vidas… Vemos a vida piorar, os salários a cair, a saúde e a educação a colapsar, a energia a encarecer, a soberania do nosso país – e com ela a nossa liberdade como povo – a esfumar-se, mas dizem-nos que “temos de aguentar”, porque é necessário para “derrubar o inimigo”. Tal como aguentamos a mentira, a ladroagem, a hipocrisia e a corrupção nos nossos clubes, porque temos de ganhar aos outros. Só porque sim, só porque o jogo funciona assim. Sem projeto, programa ou objetivo comum que una a humanidade como um todo!

Um imenso futebol.


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3 pensamentos sobre “Um imenso futebol

  1. A FEDERAÇÃO DO PONTAPÉ NA BOLA, TAL COMO OS APELIDADOS DE GOVERNANTES, A “LAMBER AS BOTAS” AOS “ARAUTOS DA PAZ”. PURO CINISMO….

  2. Vários texto seguidos muito bons aqui na Estátua De Sal. Tão bons que nem tenho irritação nenhuma para desabafar. Ficou tudo dito.

    Mas tinha mesmo de citar esta parte, com a qual me escangalhei a rir:
    « o avozinho avisador de pedófilos »

    O Marcelfie já tinha sido chamado de tanta coisa, mas esta é mesmo a mais engraçada de todas. E claro que os superficiais/distraídos/manipulados vão continuar a fazer dele o Presidente mais popular de sempre. Mais vale cair em graça do que ser engraçado. Uns são presos porque passam férias com o amigo, outros são feitos heróis mesmo que avisem pedófilos ou roubem milhões ao fisco. Que sociedadezinha…

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