A era da estupidez

(Miguel Sousa Tavares, in Expresso, 26/08/2022)

Miguel Sousa Tavare

A guerra na Ucrânia fez seis meses e nenhuma das partes envolvidas — Rússia, Ucrânia e NATO — dá sinal de pretender sequer ponderar abrir negociações para lhe pôr termo. Não sei o que se passa na Rússia, com a sua opinião pública e os seus comentadores (se é que ainda os há, que possam escrever em liberdade). Mas aqui, no lado ocidental da opinião, a simples menção à necessidade de encontrar uma saída para a guerra faz desabar imediatamente em cima de quem se atreve a sugeri-lo a acusação de fazer o jogo de Putin e o epíteto, hoje insultuoso, de ‘pacifista’. E, enquanto se cobre a NATO de elogios e se louva a unidade inabalável dos europeus no apoio à Ucrânia e na defesa dos princípios democráticos, vemos a Suécia e a Finlândia entregarem refugiados políticos curdos a Erdogan como preço a pagar por entrarem na NATO, vemos Joe Biden a atravessar um oceano e um continente para se ir curvar aos pés do príncipe saudita que cortou um jornalista às postas e que espalha o terror islâmico em casa e financia-o fora de portas. E escutamos o apelo dos países bálticos para que todos os cidadãos russos sejam proibidos de entrar na Europa.

Mas a verdade é que se começa a temer o aparecimento de brechas nesta tão elogiada unidade europeia, à medida que o Inverno se aproxima e que mesmo a total subversão de todas as metas acordadas em Paris para conter o aquecimento global não dissipam o medo que o corte de fornecimento de gás russo à Europa faça as pessoas exigir o fim da guerra. Porque se as drásticas e “nunca antes vistas” sanções à Rússia para castigar a sua agressão atingiram praticamente todas as exportações, elas deixaram prudentemente de fora o petróleo e o gás, de que grande parte da Europa depende para se aquecer e fazer funcionar a sua economia.

E, depois de tantas sanções à Rússia, o cúmulo da ironia é ouvir falar da “chantagem russa” quando a Gazprom anuncia três dias de suspensão do fornecimento de gás através do Nordstream I. Mas apesar de tudo, e apesar das previsões sombrias da OCDE para a economia europeia no próximo ano, parece que a guerra está para continuar indefinidamente, e que vale a pena.

Pelo menos é o que tenho lido na pena de alguns sábios economistas, que nos garantem que, se nós estamos mal, na Europa, a Rússia está pior, com as sanções. Eis o que não pode deixar de servir de conforto suficiente, sobretudo num Verão em que vemos todos os rios da Europa secos como nunca, as florestas em chamas e o planeta a caminhar inexoravelmente para um desastre cujo combate deveria ser a prioridade absoluta de quem nos governa.

<span class="creditofoto">ILUSTRAÇÃO HUGO PINTO</span>
ILUSTRAÇÃO HUGO PINTO

2 Estava o mundo neste pé, quando Nancy Pelosi resolveu melhorar ainda mais as coisas indo a Taiwan provocar a China. Explicou-se dizendo que a China é uma ditadura que não respeita os direitos humanos, que cometeu o massacre de Tiananmen sobre os seus dissidentes, que ocupa ilegalmente o Tibete, que mantém os uigures em campos de concentração, que violou os acordos feitos com a Inglaterra sobre Hong-Kong, que não desiste da unificação com Taiwan e que é uma ameaça regional e planetária. Tudo verdades incontestáveis e sabidas há anos. E então? Quantas mais ditaduras há por esse mundo, e algumas amigas e aliadas dos Estados Unidos e do Ocidente, que a senhora Pelosi queira ajudar a derrubar? De que serviu a viagem senão para reforçar internamente o poder e a vontade expansionista do ditador chinês, para aumentar a um ponto extremo a instabilidade na região e para sabotar anos de esforços diplomáticos de aproximação entre dois mundos completamente diferentes, com resultados palpáveis e agora destruídos, como a cooperação no domínio das alterações climáticas?

3 No momento em que escrevo desconheço ainda o resultado das eleições angolanas, mas prevejo mais uma inevitável vitória do MPLA — com batota ou sem ela. Será uma desgraça e uma imensa oportunidade perdida para Angola. 48 anos de poder e 46% de pessoas a viverem abaixo do limiar da pobreza num país tão rico como Angola dizem tudo sobre a obra do MPLA.

4 As duas primeiras vezes que me deparei de caras com a agora chamada “linguagem inclusiva” aconteceram no Brasil e apenas me fizeram sorrir, longe de imaginar que mais tarde se tornaria moda e que de moda passaria a certidão de bom comportamento cívico e daí a quase imperativo — tão inútil, tão absurdo e tão idiota quanto o ridículo Acordo Ortográfico da língua portuguesa: o mais patético e humilhante documento jurídico alguma vez assinado por um Governo português.

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A primeira vez, aconteceu estava eu a fazer um filme de 60 minutos para a RTP sobre a história da colonização portuguesa da Amazónia — (um projecto editorial que hoje, apenas pelo seu objecto, obviamente não seria autorizado). E estava então em trânsito numa daquelas cidadezinhas amazónicas com nomes do Ribatejo — Santarém ou Almeirim, já não recordo —, quando uma noite me deparo com um comício eleitoral para a prefeitura local, a decorrer numa praça ao ar livre. Sobe ao palanque um candidato com pinta de jagunço dos livros do Jorge Amado, bate três vezes no microfone para se certificar que funcionava, e começa: “Meus povos…” Porém, detém-se, olha a plateia, faz uma pausa e recomeça. “E minhas povas.” Estávamos em 1987.

A segunda vez aconteceu vários anos depois, em Brasília, quando fui entrevistar Dilma Rousseff, acabada de ser eleita Presidente do Brasil. Antes de entrar para a entrevista, uma sua assessora perguntou-me se eu estava ciente de que a Presidente Dilma gostava de ser tratada por “presidenta”. Na verdade eu já tinha ouvido uns zunzuns sobre isso, mas fiz-me de parvo: “Sabe, eu falo português de Portugal. E lá, o substantivo presidente não tem género, tanto se aplica a um presidente homem como mulher. Se eu tratasse a presidente Dilma por ‘presidenta’, teria de tratar um Presidente homem por ‘presidento’. E, mais ainda: a senhora, por exemplo, teria de tratar o polícia federal que está ali fora por ‘senhor polício’.”

Apesar de tudo, e apesar das previsões sombrias da OCDE para a economia europeia no próximo ano, parece que a guerra está para continuar indefinidamente, e que vale a pena

Porém, o que então me parecia anedótico agora é real. Mas não porque os princípios tenham mudado ou porque a necessidade de lutar por eles tenha cessado. A luta contra a discriminação de género mantém-se actual e imperiosa em muitos lugares e muitas situações; o mesmo contra a discriminação sexual e mais ainda contra o racismo. O que mudou foi o discurso e, sobretudo, os intérpretes do discurso: esta auto-instituída vanguarda de aiatolas do pensamento autorizado e do protagonismo consentido que decretou quem é que pode falar em nome dos discriminados e defender os seus direitos, quem é que está autorizado a homenagear a sua cultura e respeitar os seus modos de vida, ficando todos os outros reduzidos ao silêncio, sentenciados como hipócritas e expiando as culpas seculares dos seus antanhos. A única coisa que os distingue dessa nobre Comissão para a Promoção da Virtude e Repressão do Vício que zela pela pureza islâmica na Arábia Saudita é que a estes ainda não lhes é possível cortar as mãos aos infiéis, mas apenas cortar-lhes as boas intenções, nessas madraças do terrorismo de massas que são as redes sociais (e é bem feito para as suas vítimas; ando há anos a pregar-lhes a solução: se se atreverem a viver sem as redes sociais, o que não custa nada, o veneno das víboras não os atinge, transforma-se em baba dentro da boca destas). Dá assim dó ver esses incautos que saem à contenda, carregados de boa consciência e boas intenções, contra os novos aiatolas e os seus mandamentos sobre a “linguagem inclusiva”, a “apropriação cultural” e o “movimento woke”, convencidos, ingenuamente, de que vão ao encontro de uma discussão séria. Não vão: estes fanáticos não querem nem discutir nem convencer. Querem proibir, atemorizar, afugentar da luta contra o racismo e a discriminação quem não pertence à tribo: “Se és branco, és necessariamente racista; se és heterossexual, és homofóbico; e se és homem, és obviamente machista.” A extrema-direita agradece e, graças a eles, cresce.

Mas isso pouco lhes importa. Aliás, nada mais lhe importa; e basta lê-los na imprensa de referência que lhes dá acolhimento: nem a guerra que devasta a Europa, nem os miseráveis que morrem afogados a atravessar de África para um paraíso sonhado, nem o planeta que se extingue à nossa vista. São capazes de fazer abaixo-assinados a apelar aos jornais para censurarem quem não escreve segundo a novilíngua, mas dormem tranquilos enquanto os talibãs proíbem as mulheres afegãs de irem à escola ou de trabalharem; são capazes de se indignarem porque a Rita Pereira põe tranças afro, o que acham uma usurpação cultural, mas estão-se nas tintas para os desgraçados escravos asiáticos da agricultura alentejana — porque são apenas amarelos e não pretos. Na verdade, não enxergam nada de mais importante além do próprio umbigo. Como se a auto-invocada superioridade moral da sua litigância e do seu protagonismo os dispensasse de olhar para o mundo. No fundo, não passam de uma gente sem causas que importem.

Miguel Sousa Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia


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11 pensamentos sobre “A era da estupidez

  1. Na “Era da estupidez”, era inevitável que Miguel Sousa Tavares fosse ocasionalmente contaminado, como acontece na arrogância ignorante que exibe nesta talhada:

    #A segunda vez aconteceu vários anos depois, em Brasília, quando fui entrevistar Dilma Rousseff, acabada de ser eleita Presidente do Brasil. Antes de entrar para a entrevista, uma sua assessora perguntou-me se eu estava ciente de que a Presidente Dilma gostava de ser tratada por “presidenta”. Na verdade eu já tinha ouvido uns zunzuns sobre isso, mas fiz-me de parvo: “Sabe, eu falo português de Portugal. E lá, o substantivo presidente não tem género, tanto se aplica a um presidente homem como mulher. Se eu tratasse a presidente Dilma por ‘presidenta’, teria de tratar um Presidente homem por ‘presidento’. E, mais ainda: a senhora, por exemplo, teria de tratar o polícia federal que está ali fora por ‘senhor polício’.”#

    Eu sei que a bojarda de que “presidenta” não existe em português “de Portugal” se tornou (talvez por decreto taxisto-nacionalista) verdade bíblica para quem nunca se preocupou minimamente em verificar se assim era. Mas é mentira. O “Vocabulário da Língua Portuguesa” de Rebelo Gonçalves, uma das maiores autoridades em tudo o que à língua portuguesa diz respeito e insuspeito de qualquer concessão, por mínima que seja, a estrangeirismos e afins, regista na página 823 a seguinte entrada: “presidenta, var. fem. de presidente” (Coimbra Editora, edição de 1966). O referido calhamaço também manda às urtigas a lógica taxisto-nacionalista do cronista, já que, não manifestando qualquer repugnância por “presidenta”, não regista, no entanto, qualquer entrada para “presidento” ou “polício”. Miguel Sousa Tavares acerta muitas vezes, nomeadamente quando, em política internacional, mija salutarmente fora do penico, mas aqui asneirou. Donde se conclui que também erra quando diz “fiz-me de parvo”. No caso em apreço, o que fez foi armar-se em parvo, com sucesso absoluto.

  2. Já agora, Miguel Sousa Tavares também erra quando diz que, em Portugal, “o substantivo presidente não tem género”. A mesma página 823 do “Vocabulário” de Rebelo Gonçalves regista, logo a seguir a “presidenta”, a entrada “presidente, s. 2 gén. (…)”, ou seja “substantivo de dois géneros”, o que é um bocadinho diferente de não ter género nenhum. Digamos que é um substantivo bissexual, bem mais interessante do que substantivo impotente ou capado.

  3. É sempre bonito que alguém que nunca deixou de despejar veneno contra tudo e contra todos com toda a liberdade que nunca ninguém lhe negou nem negará não goste que outros tenham direito a exprimir opiniões diferentes. Esperava uma lágrima pelos pais de Famalicão, ao menos sempre sofreram mais que a Rita Pereira – e bem, o problema não é pessoal.
    É quase tão ternurento como achar maus a NATO e UE, mas só para dentro, que há que comer e calar para tãos bonzinhos donos.
    Se não fosse tão reaccionário por birra, podia ser que alguém ainda lhe ligasse. Mas já nem os partidários ligam pevide a meios termos, que o consenso “social-democrata” neoliberal já cheira a podre e poucos não repararam.

  4. Primeira frase, primeira mentira.

    «nenhuma das partes envolvidas — Rússia, Ucrânia e NATO — dá sinal de pretender sequer ponderar abrir negociações para lhe pôr termo»

    Os acordos de paz de Minsk existem por pressão da Rússia (até contra a vontade de independência logo em 2014 dos Ucranianos pró-Democracia, aka anti-Maidan, do Donbass e arredores, de Kharkov a Odessa).
    A Rússia fez a intervenção a 24-Fevereiro porque a ditadura Ucraniana a mando da NATO/EUA violou esses acordos desde 16-Fevereiro.
    Desde o 1º dia dessa intervenção que a Rússia está disposta a negociar novos acordos de paz, e agora com cláusulas que impeçam a ditadura Ucraniana (e a NATO/EUA) de alguma vez os voltarem a violar.
    E tudo leva a crer que no momento em que haja regime change num dos regimes chave desta equação, no lado Ucraniano ou na capital do Império, a Rússia lá estará à espera de ter alguém não senil nem lunático com quem possa negociar.

    Pelo título, ia ler. Mas se o Miguel começa logo assim com esta desonestidade intelectual, nem vale a pena. Ia passar o texto todo nisto. O Miguel a falar só do Mundo imaginário em que vive, e eu a escrever um testamento com todas as correções. Não, obrigado.

    É como aqueles que, com tudo o que se sabe, ou deviam saber, continuam ainda hoje a usar as expressões “injustificada” ou “não-provocada”… Já não há paciência.

  5. O Sousa Tavares já não passa do mesmo. Encarna perfeitamente a reverente “irreverência” que dá o ar democrático ao império merdiático do tio Balsemão.
    Foi assim que vendeu a sua imagem, para se destacar, mas o resultado quase sempre foi ambíguo.
    Ele publicava artigos descrevendo pretensiosas alarvidades gastronómicas de menino previlegiado na sua casa do Meco e arrematava com um idiota “Viva Portugal”, como se não se comesse pargo ou ameijoas, regados com vinho branco em mais lugar nenhum no mundo.
    Talvez não se lembrem mas, numa emissão de televisão sobre sinistralidade rodoviária, tentou lançar a ideia que devia haver uma carta de condução especial sem limite de velocidade para os condutores dotados (como ele, e o José Megre, claro) e outra com limite mais baixo para os comuns mortais. Vi com estes que a terra há-de comer.
    E a “Grande reportagem” que ele deve ter vendido à RTP sobre a sua aventura (procissão?) em “jeep” no deserto em Marrocos?
    Parecia as expedições de todo-o-terreno à “savana” alentejana ou à floresta “virgem” da Serra de Sintra, normalmente participadas por totós equipados com roupa “coronel tapioca” (os mais cagões levam “Timberland”). Deu direito a formatura militar com discurso motivacional do líder e nem faltaram os lencinhos ao pescoço, lóle!
    Em suma: O homem que nos disse, de caras, que o Passos tinha ganho o debate contra o Sócras, não tem credibilidade há muito tempo.
    Apenas vai dizendo umas verdades por vaidade ou soberba. Para se destacar no meio do concenso fabricado. Isso, até o Trump e o Bolsonaro fazem, às vezes, e não deixam de ser filhos da puta acólitos do sistema que nos governa há séculos.

    Saudações ao blogue e restantes participantes que gostam de pensar.

    Obrigado

  6. Nesta era da estupidez e para além da falta de energia neste Inverno, a mudança do gás russo para o GNL é um desastre para países como a Alemanha, Itália e Áustria, que, ao contrário da Grã-Bretanha e França, têm mantido uma base industrial graças à energia barata. Na indústria química alemã, a percentagem de energia no custo do produto é de 16%. O GNL é duas vezes e meia mais caro que o gás russo, para não mencionar a tensão de abastecimento, a tensão de transporte e os custos de investimento para regaseificação e alterações de gasodutos (assumindo que o preço oito vezes superior é transitório). No mundo industrial, alguns poucos por cento fazem a diferença. Expliquem-me como é que a empresa BASF pode vender os seus produtos 30-40% mais caros que os seus concorrentes?
    Outra coisa… Desde o mais pequeno jornalista até ao líder mais influente, a Europa está nas mãos de tolos. O líder alemão ousa dizer que “a Rússia mostrou que não é um fornecedor fiável” “ah… 20% de gás… pagamento em rublos… isto é uma quebra de contrato. um escândalo!MEU DEUS… No seu lugar, qualquer administração em qualquer país teria cancelado directamente os contratos de fornecimento. Logicamente, a “força maior” já se encontra em curso há vários meses. A responsabilidade contratual é contratada com o congelamento de bens russos que são apenas bens derivados do fornecimento de gás e petróleo. A responsabilidade civil é incorrida através do envio de armas para o país em guerra com o país fornecedor”.
    A Rússia já cortou o gás. 20% que enviam é apenas um gesto de seguro para os seus futuros clientes, enquanto a Índia ou a China podem ver muito bem que a EUROPA É UMA LEIRA.

    Os nossos decisores trabalham bem. Eles escravizam-nos bem aos interesses estrangeiros.
    Muitos já não compreendem a política e não se interessam por ela. Que sucesso retumbante, deixando os nossos renegados com mão livre.
    Mas eu sou um mau falador, digo “traidor” e “renegado” quando eles sempre foram fiéis aos seus ideais, é que mentir ao povo faz parte disso e que o povo, mau perdedor e eternamente ingénuo, se agarra às mentiras tranquilizadoras em vez de enfrentar a realidade. Realidade… Warren Buffett pode dizer-lhe: “Há uma guerra de classes em curso e é a minha classe, a classe rica, que a está a ganhar.

    Segundo sei, a produção de gás de xisto dos EUA atingirá o seu nível máximo em 2024, e as reservas globais de gás e petróleo são limitadas.
    Neste contexto geo-energético, a Rússia permanece numa posição forte devido às suas reservas de gás, que são as maiores do mundo juntamente com as do Qatar, e à sua adesão à organização OPEP+, OPEP + Rússia.

    A Europa está a cometer um erro, e este erro remonta à guerra entre o Império Russo e o Império Otomano, quando este último recebeu o apoio da Inglaterra e da França.
    A Rússia não procura enfraquecer a Europa, mas pelo contrário, para construir relações comerciais estáveis, nunca foi contra a integração do bloco de Leste na União Europeia, mas sim contra a integração na Nato. A Europa continua a enfraquecer, dividindo-se em vários países, recentemente com a Jugoslávia, este conflito que está a surgir na Sérvia-Kosovo, os movimentos independentistas estão a emergir, o Médio Oriente está em chamas e sangue, o que isola a Ásia e a separa da Europa. Uma geopolítica dominada pelos Estados Unidos, mas que é agora dominada pelos acontecimentos. Não se esqueçam que eles nos espiam, quer seja o governo com as suas embaixadas frontais, ou os habitantes com recolha e processamento de dados (o Google vende os seus grandes dados ao serviço de informações dos EUA), e aqui estamos a apoiar um país que está simplesmente a abusar dos seus poderes. A Europa tornou-se patética.

    Nesta era da estupidez os endividados serão forçados a pagar mais e, portanto, a consumir ou a investir menos. Para alguns dos endividados, o pagamento será impossível e as falências irão explodir. Os credores não serão totalmente reembolsados e os bancos serão obrigados a activar a famosa directiva europeia que protege os bancos, e os aforradores serão forçados a contribuir e perderão parte do seu dinheiro. O cenário já está preparado em todos os bancos europeus. Os pobres morrerão, a classe média tornar-se-á pobre e os ricos ficarão mais ricos através das suas estratégias.

    Antes desta crise, o nosso petróleo era pago em euros e a Rússia comprou obrigações europeias. Assim, o nosso petróleo não nos custou nada, ao contrário de hoje, quando é pago em dólares. A longo prazo, é um problema de reservas de moeda estrangeira que surgirá e, sobretudo, o euro cairá.

    Do meu ponto de vista, os mercados previam, na pior das hipóteses, uma recessão da administração pública e, na melhor das hipóteses, a possibilidade de escapar a uma recessão, daí a ideia de redefinir os termos da recessão para tentar cumprir uma profecia auto-cumprida. Quando os mercados compreenderem o seu optimismo exagerado este Inverno, irão aguçar o mercado até terem a certeza de que os bancos centrais estão a recuar na luta contra a inflação para reanimar o sistema económico da globalização, através da QE.
    Os chineses compreenderam muito bem o dilema económico dos ocidentais, que só podem pagar uma economia de guerra imprimindo dinheiro muito para além do período da “covidez”, o que os conduzirá definitivamente ao caos civil e energético e ao colapso monetário e económico. Em suma, os ocidentais vão imprimir como porcos, sob o pretexto de uma nova crise, ontem uma epidemia, hoje o feio Putin, e amanhã a horrível ditadura de Pequim… crise após crise, pretexto após pretexto…
    No final, antes de relançar o QE, o Fed é obrigado a combater a inflação e a inflação monetária para responder à desclassificação dos BRICS, e salvar o dólar.
    Paciência nos mercados, o actual relançamento técnico é tão artificial como a boa saúde da economia ocidental!

    Nesta era da estupidez Não tenho nada contra os ucranianos, e o mesmo se aplica aos russos. Além disso, não creio que do Putin represente qualquer ameaça às minhas liberdades, mas não diria o mesmo da Sra. Ursula von der Leyen que não representa nada, uma vez que não foi eleita, e de muitos politicos, que só tem uma maioria relativa. Não temos de pagar por esta guerra que não diz respeito à maioria dos Portugueses mas apenas aos neoliberais e à sua ideologia. Especialmente o fim do período de inteligência
    Idiocidade e mediocridade estão a ganhar terreno no mundo politico.

    Mas a vida ensina-nos que os factos são teimosos.
    Sou apenas uma pessoa normal, mas só de ler alguns artigos de “notícias internacionais” por semana, e um punhado de blogues pude ver que os russos estavam a trabalhar na resiliência da sua nação (diversificando os seus clientes, reduzindo os empréstimos dos EUA e de dólares, aumentando as reservas de ouro). Havia um padrão claro de que isto não era feito por acidente.
    Estou certo de que em todos os nossos governos existem pessoas especializadas e extremamente competentes .
    Tenho a certeza de que estas pessoas tinham construído uma imagem precisa da situação.
    Tenho também a certeza de que há pessoas que sabem que quando se é cliente de produtos industriais estratégicos com poucos fornecedores, sabe-se que a pessoa numa posição de controlo é o fornecedor.

    Portanto, sim, o problema é ouvir.
    Os nossos políticos são maus gestores de negócios. Eles cavalgam os casacos um do outro. Eles pavoneiam-se. Andam às voltas para conseguirem o seu trabalho ou o próximo. Consomem o seu tempo nisto.
    Mas eles não ouvem aqueles que sabem, e de qualquer forma, assim que as explicações ultrapassam dois minutos, é demais para eles! Especialmente quando as explicações não seguem o seu caminho.

    Por isso, aqui estamos nós.
    A guerra económica: perdida
    A guerra no terreno: não ganha
    A economia europeia: colapsou (ainda falta algum tempo)
    Preços da energia para todos: a caminho da estratosfera
    Algumas faltas nas lojas, a inflação a descolar , mas sem aumento salarial (basicamente um empobrecimento mínimo de 20% ao ano para todos).
    Haverá provavelmente problemas sociais graves nos nossos países europeus.
    Os russos devem estar a rir-se.
    Os chineses não se importam, mas – dada a sua história – devem estar a saborear o caldo tomado pelos europeus.
    Os americanos estão a esfregar as mãos neste novo negócio de gás e estão infinitamente felizes por terem a UE e o Reino Unido em desacordo uns com os outros.
    Espero que Angela esteja a fazer yoga na sua reforma, pois estava a trabalhar na construção de ligações pan-europeias com a Rússia.

    Muitas vezes penso porque a maioria das pessoas ainda pensam que é bom ser governado por este bando de perdedores..

    Isto só pode ser uma era de estupidez,não tem outro nome!
    E é triste para o nosso país.

  7. Abençoado Miguel Sousa Tavares!
    Dá gosto deparar com quem pensa claro e fala direito, em sintonia com a verdadeira ortografia portuguesa, antes de ser aviltada, com o beneplácito de uma múmia boliqueimence e com a posterior colaboração de quem, à altura, vociferava contra tudo o que a dita múmia fazia, mas que quando passou a ter poder para alterar “a coisa” passou a fazer-se de morto, o que não deixa de ser condição necessária a que possa vir a alcançar o estatuto de múmia de substituição.

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