Não, o terror nunca é banal

(Por DE, 12/07/2022)


(Este texto resulta da resposta a um comentário a um artigo que publicámos de Carla Dórea Bartz, ver aqui. Perante a qualidade do texto resolvi dar-lhe o destaque que, penso, merece.

Estátua de Sal, 12/07/2022)


Ver comentário de ZINK ao Artigo aqui.

Texto de Resposta:

“Nazis” a dar com um pau. “Já não surte efeito”, “banalizaram”, “não significa nada”, “ninguém se emociona”.


Como eu o sinto! Olho em volta e falta-me o Adolf, o penteado, o bigodinho. Ou, ao menos, o gesto teatral, a voz histérica. Ou, ao menos, uma pequenina cruz suástica espetada no reverso da lapela para mostrar discretamente aos iniciados, escandalizados com o atrevimento dos russos em se defenderem dos avanços da Aliança Militarista; em vez de lhe agradecer a democracia e os direitos humanos. Quão ingratas essas “hordas das estepes”! (J. Goebbels).

Como eu me aborreço com essa repetição monótona de uma palavra vazia e murcha! Olho para o que resta da antiga virilidade ariana e vejo um velhinho senil americano, óculos de sol, confuso das ideias, um inglês louro esgedelhado de riso alarve na festa, ou um germano desorientado no Reichstag a adivinhar putinistas nas frinchas das portas. Só um, um único, um norueguês, erecto, nórdico, 300 mil homens num estalar de dedos. Contra as “hordas das estepes”! (J. Gebbels)

Faltam-me as imagens, é o que é! Sem os nazis dos filmes de Hollywood, na sua farda impecável e botas de cano alto, a empurrar judeus para vagões e a chacinar soviéticos, não há nazismo que resista. Digam-me o que disserem, o nazismo não existe. A não ser que me queiram convencer que um presidente senil, um presidente palhaço, um prime minister esguedelhado, um Kanzler assustado com a sua própria sombra, são agora os novos nazis. Ah…ah…ah… ah!

Os nazis de Hollywood, criados para que ficássemos com uma certa ideia arreigada do nazismo, são apenas a imagem pobre, acabada, decantada, cristalizada, do que foi. Como um esqueleto sugere a imagem da morte, sem ser a morte.

O nazismo é o terror vivido dia a dia e o medo de quem o sente. A qualidade e intensidade do terror define a qualidade e a intensidade do medo. O nazismo é o terror por excelência para impôr o medo máximo.

O terror em Cannes esteve presente na apresentação plasmada do presidente clown ucraniano e no medo da plateia de não aplaudir de pé as suas baboseiras. O terror continuou na apresentação de um filme americano financiado pelo Pentágono a sugerir confiança…. porque o medo é já omnipresente. O terror é o medo do vizinho do lado…. pode ser um denunciante!

As palavras são sempre pobres e escassas para traduzir o que sentimos. Palavras são estereotipos criados a partir de vivências velhas, colhidas na História. Para as vivências novas ainda não temos palavras novas. Tudo o que temos são farrapos de imagens, estereotipos, ideias memorizadas e para isso palavras velhas a que nos agarrámos para os poder nomear.

O nazismo é work in progress. A força do seu terror está no nosso medo. O seu ruído é o nosso silêncio. A sua expansão vive da nossa recusa. O seu efeito vive do nosso apagamento, a sua importância da nossa banalização, o seu significado do nosso encolher de ombros.

O velho terror nacionalista, militarista, racista, está de volta. Neste novo tempo, como ainda não tem formas acabadas, é difícil defini-lo, dar-lhe um nome. Damos-lhe um nome velho, nazismo. Tão errados não estaremos.


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6 pensamentos sobre “Não, o terror nunca é banal

  1. Pq nunca o ES publica os meus Comentários? Democracia ,censura…….?! fico por aqui pq perder tempo é coisa que me é ais cara e essencial……

  2. O contexto histórico cria o quadro para a humanidade expressar o seu ódio e impor as suas piores visões de progresso. Não tenhamos ilusões, o nazismo vive nas nossas sociedades num estado larval. Pode renascer numa questão de segundos. O essencial é questionar o significado do que nos é apresentado como o coração da modernidade. O essencial é resistir a todo o custo às manipulações que levam os mais submissos de nós a ver um inimigo onde só há um homem!

    De resto muito bom.

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