Rússia vs Ucrânia – Não há alternativas às imediatas negociações de paz

(Zé-António Pimenta de França, in Facebook, 03/03/2022)

O primeiro dever de um governante é procurar a felicidade e o bem-estar do seu povo. A sua primeira preocupação deverá ser afastar o seu país dos horrores da guerra.

Independentemente da perversidade de Putin (cuja invasão à Ucrânia é absolutamente condenável), Zelensky está a conduzir o seu povo para um massacre. O seu primeiro dever teria que ser assegurar as melhores relações de vizinhança com a Rússia, manter a liberdade e garantir o progresso do seu povo.

No final dos anos 30, depois de meses de guerra entre a Finlândia e a URSS (o Império Soviético de Stalin) estes dois países encontraram, através de negociações, um ‘modus vivendi’, um estatuto de neutralidade que a poupou aos horrores da II Guerra Mundial e permitiu à Finlândia progresso e bem estar durante toda a Guerra Fria, que se prolonga até hoje.

Em Outubro de 1962, estivemos à beira da III Guerra Mundial porque a URSS decidiu instalar mísseis com ogivas nucleares em Cuba, o que levou os EUA a reagir energicamente para afastar esse perigo das suas cidades.

Negociações diplomáticas secretas pouparam-nos a esse holocausto. A razão prevaleceu e um ‘modus vivendi’ foi encontrado. Em troca, mediante acordo secreto, os EUA retiraram os mísseis que anteriormente tinham instalado na Turquia, apontados à URSS.

Isso não está a acontecer no caso presente. Os tambores da guerra continuam a rufar estrondosamente, ante a pasmaceira geral e a guerra de propaganda.

Na Ucrânia tínhamos um governo eleito chefiado por Yanukovich que, por mais corrupto que fosse, mantinha boas relações com a Rússia. Foi derrubado por uma insurgência de extrema-direita, apoiada pela União Europeia e os EUA. Sim, extrema-direita apoiada pela UE e os EUA, sublinho!

Depois de um período conturbado de total incapacidade governativa e lutas entre facções tresloucadas nazi-fascistas no poder, os ucranianos livraram-se desses radicais ultramontanos e Zelensky foi eleito num acto eleitoral em que milhões de ucranianos russófonos foram impedidos de votar.

Esta eleição também teve o declarado apoio e reconhecimento da UE e dos EUA.

Desde então, Zelensky tudo tem feito para irritar o seu poderoso vizinho do norte, flirtando abertamente com a NATO e a UE (e vivamente encorajado por estas, num comportamento totalmente irresponsável), quando sempre esteve claro que essas eram as linhas vermelhas que não podia ultrapassar. Porfiou e ultrapassou-as.

Porque não preferiu transigir e entrar num acordo de neutralidade com a Rússia, mantendo boas relações com a Europa e os EUA? Porque sentiu as costas quentes por parte da Europa e dos EUA, Não só as costas quentes, sentiu as incitações claras…

Putin terá as mãos sujas de sangue, sem dúvida. Invadiu um país soberano. Mas os dirigentes da Europa e dos EUA também têm as mãos sujas de sangue. São também responsáveis pelo desastre a que estamos a assistir porque em vez de tudo fazerem para sentar os contendores à mesa, não param de deitar gasolina na fogueira, encorajando Zelensky e o seu governo a resistir, empurrando a Ucrânia para o massacre.

Tudo isto me enraivece e deprime, tanto mais que vejo a comunicação social internacional a entrar acefalamente na manipulação geral das consciências, papagueando criminosa e irresponsavelmente a narrativa que só pode conduzir ao martírio da Ucrânia, em vez de cumprir a sua missão de alertar os cidadãos do mundo para o que realmente se está a passar à nossa frente

A comunicação social prefere aproveitar oportunisticamente a emoção fácil em vez da razão.

Há que obrigar os contendores desta guerra a sentar-se e a encontrar um acordo que salve a face a ambos os lados. Mas não, a UE, para minha vergonha, chefiada por políticos fracos e aflitos, unicamente preocupados em manter-se no poder, quer mandar armas para a Ucrânia, o que só vai é prolongar e aprofundar o massacre…

Boris Johnson, Macron, o patético Scholz, etc, estão todos a jogar a carta populista mais fácil, chorar pela Ucrânia e colocar bandeirinhas ucranianas nas redes sociais, como se isso adiante alguma coisa além de aquietar ilusoriamente as más consciências…

É criminoso o que a UE está a fazer com este conflito, ao optar por acicatar uma das partes para a guerra, em vez de estar a pressionar as duas para se sentarem à mesa das conversações de paz.

É isto o que penso daquilo a que estamos a assistir neste ano de 2022.

As alternativas às negociações e à paz são duas: 1 – o esmagamento da Ucrânia ante o gigante russo; 2 – a intervenção da NATO no terreno. E isso significa a guerra nuclear e a aniquilação da civilização por muitas gerações.

É isso que quereis?

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PS: Não vou debater este tema com ninguém, peço desculpa. Limito-me a expor a minha opinião. Quem estiver de acordo, muito bem, quem não gostar, paciência, tudo bem na mesma…


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2 pensamentos sobre “Rússia vs Ucrânia – Não há alternativas às imediatas negociações de paz

  1. Excelente texto e visão perfeita da realidade! Parabéns José António, precisamos urgentemente de jornalistas como você que merece efectivamente o titulo de jornalista! Um abraço

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