(Carlos Esperança, 21/10/2021)

Impedindo os acólitos de Belém de ficarem sós na luta que Marcelo principiou, as aves cavaquistas, que acolitaram o Governo do ora catedrático Passos Coelho e do homem de negócios Paulo Portas, saíram à rua para apoiarem Paulo Rangel.
Os indefetíveis do empedernido salazarista e do seu cúmplice saído da administração da Tecnoforma para a chefia do Governo perceberam que Belém queria substituir Rui Rio por um almocreve ajaezado à sua vontade, e já com a bênção de Miguel Relvas, Marco António e Luís Filipe Meneses, ficando com Moedas de reserva.
Concluída a aliança entre salazaristas e democratas no albergue espanhol onde Cavaco, Marcelo, Passos Coelho, Alberto João Jardim e outras aves de pequeno e mau porte se juntaram numa espécie de união nacional de democratas mais ou menos praticantes, partiram para a Cruzada contra António Costa e quem o apoiar.
O ex-tocador de campainhas de portas que previra incinerar o Governo durante mais um ou dois anos, com ataques cirúrgicos e à espera de eventuais incêndios de Verão, acabou surpreendido por terem surtido efeito as intrigas previstas até ao fim da legislatura, e um bando de cucos que exibe como currículo o cadastro de cúmplices do Governo de Paulo Portas e Passos Coelho logo esvoaçou em apoio ao delfim de Belém.
Apanhado com a mão na campainha da porta e a colher na Vichyssoise, Marcelo viu-se obrigado a desculpar-se, “fiz em público e privado o que podia para prevenir junto dos partidos uma crise política e espero diálogo sobre o Orçamento”, como se não fosse da sua autoria o seu esforço permanente para o envenenar.
Enquanto os bandos de pássaros e passarões da Direita alinham os voos pelos ventos de Belém, os passarinhos da Esquerda digladiam-se sem rumo por um punhado de votos e fazem haraquíri.
Há seis anos, com a colossal chantagem da comunicação social, de todos os avençados e de todas as armas ao serviço da direita e dos seus interesses, Passos Coelho atreveu-se a convidar António Costa para o seu Governo. Era o pequeno abutre a querer acolher uma águia sob as suas asas. Ficou sem governo e sem bando.
Na ornitologia política terei de passar da observação dos cucos para as aves de rapina.
Para quem pense que de Belém sairão acólitos com um módico de sensibilidade social não me esquecerei de publicar alguns dados biográficos do atual PR que provam a sua permanente colagem à ala mais à direita do PSD de que é agora o líder imbatível.
Do voto contra o SNS ao atraso que obteve na despenalização da IVG, Marcelo foi o artífice das piores e mais retrógradas opções da direita democratizada.
Recordo que o líder da distrital de Lisboa do PSD disse de Moedas, logo após a eleição para a CML, que era o candidato do centro-direita, e que nada tinha a ver com Rui Rio, do centro-esquerda. O candidato de Marcelo está à direita de Rui Rio.
Basta ver a foto da primeira fila da tomada de posse de Moedas – é a foto acima -, para que um arrepio percorra a Esquerda.
Das poucas vozes lúcidas que se ouvem na praça pública!