O nosso almirante fez mais contra o negacionismo…

(Pacheco Pereira, in Sábado, 19/08/2021)

Pacheco Pereira

Não tenho reservas nenhumas quanto às qualidades que fazem com que um homem não se fique e vá defrontar as feras. Como Soares fazia. Aqui foi o nosso almirante dos submarinos que usou um torpedo bem dirigido para atingir os negacionistas, a sua coragem.


… que muitos dos que são complacentes com aquilo que é uma adjacência perigosa do populismo que também alimenta o Chega. Eu tenho reservas quanto à exibição da farda e o sentimento babado diante da tropa que, por estranho que pareça, é próximo do populismo actual. Mas já não tenho reservas nenhumas quanto às qualidades que fazem com que um homem não se fique e vá defrontar as feras. Como Soares fazia. Isso é o tipo de gestos exemplares que faz estragos ao negacionismo que grita que as “vacinas matam” e ajudam a adoecer e a matar os outros. Aqui foi o nosso almirante dos submarinos que usou um torpedo bem dirigido para atingir os negacionistas, a sua coragem. 


A propósito
Nos tempos nefastos em que vivemos no clima político actual, há uma atitude de todo condenável: complacência. O mal tem sempre vantagem, o bem precisa de praticantes e defensores. Sem tréguas. 



O desastre afegão
Há pouco a acrescentar a tudo o que está ser dito nestes dias sobre o desastre afegão. É tudo mau, para as mulheres, para as crianças, para os afegãos, para todos aqueles que foram “talibãs” noutro tipo de escolas, escolas a sério. Há qualquer coisa de profundamente errado na política externa americana e dos seus aliados europeus, como há qualquer coisa de extremamente errado nas opiniões públicas das democracias. Nos EUA e na Europa, há uma grande indiferença com a sorte dos que acreditaram que podia haver um Afeganistão diferente, mesmo com a fragilidade da intervenção externa.

O Afeganistão não foi o Vietname, porque nunca teve a solidariedade que os nacionalistas vietnamitas tiveram na sua longa resistência, numa guerra que encaixava nas divisões políticas e ideológicas da época. A ironia trágica da história é que, com excepção do Irão, ninguém se lhes vai opor e não é por boa causa. Deveríamos, pelo menos, solidarizar-nos com os que estão a fugir da matança religiosa. 


Os pontos

No meio do caos actual da distribuição dos livros, muitos livros nunca se encontram nas livrarias tomadas pelo papel de parede das capas de mau gosto. Por isso, foi com alguma surpresa que encontrei este livro Os Pontos no Teatro Nacional D. Maria II coordenado por Alexandre Pieroni Calado, editado pelo próprio teatro.

Duvido de que muita gente das gerações mais novas e das que estão a deixar de ser novas saiba o que é um ponto. Mas os que fazem o teatro e os que vêem o teatro sabem como o sucesso do espectáculo dependia dos ignorados pontos, que, escondidos do público num buraco, tinham a tarefa de lembrar o texto ao actor. Mas, sei agora por este livro que faziam muito mais do que isso, marcavam tempos, definiam ritmos, muitas vezes com a má vontade dos actores. E havia actores duros de ouvido a quem o ponto tinha de abandonar o seu treino de ciciar, para falar alto. Muitas destas histórias estão neste livro. E também um velho poema elogiando o trabalho humilde do ponto:

Como nunca uma palma me é dada,
E eu entendo que as devo merecer,
Compreendo tamanha estopada…
Venham palmas agora a valer. 

A marciana perseverança e o seu braço voador
Pensava-se que em Marte havia muita coisa a estudar e a conhecer, mas que haveria poucas surpresas. O planeta era o mais escrutinado do sistema solar, várias sondas tinham descido para o solo e algumas tinham tido uma vida útil muito superior ao previsto enviando uma enorme massa de informações. A partir da órbita do planeta, uma cartografia detalhada estava a ser feita. Havia “mistérios” por explicar, mas todos estavam dentro do quadro comparativo com a geologia terrestre, com o que se sabe da atmosfera de Marte e da história do clima do planeta, e dos ensinamentos que traria a uma Terra que todos os dias estragamos afincadamente. Marte, como praticamente tudo fora da Terra (e quase tudo na Terra) era excitante para cientistas e para o público que a NASA tem sabido cativar com a distribuição de fotos e de filmes que mostram a beleza de uma paisagem que não é assim tão diferente na superfície à de um deserto.

Mas a Perseverança e o seu pequeno helicóptero trouxeram genuínas surpresas que não são inexplicáveis, mas que não se sabe ainda o suficiente para as explicar. Para quem é curioso, é um deslumbramento por dia. 

Texto escrito segundo o anterior acordo ortográfico


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