O Portas, toda a santa semana, lança um dos seus “avisos” – cuidado com a China, ponham os olhos na China e noutros que tais, que estão a crescer economicamente, a sair da crise, que a Europa e principalmente Portugal estão a ficar irremediavelmente para trás. Pois bem. Só acho estranho os “migrantes” que enchem as páginas de jornais e o nosso continente ad nauseam, miseráveis, sem nada a perder, arriscando tudo, escolham sempre a Europa e não os paraísos do crescimento e desenvolvimento humano que o abjeto Portas aventa semana sim semana sim. Fica a dúvida no ar.
E não me venham com a conversa do racismo, xenofobia, passado colonial e diáspora portuguesa enquanto argumentos para me calar e admitir uma migração em massa (para a população europeia multiplicar pelo menos por 10) e nivelarmos irremediavelmente tudo por baixo que comigo isso não pega. Talvez pegue com o Portas, pela suposta competitividade que iríamos adquirir por osmose, e porque pegar é mesmo com ele.
Deixa-te de notícias requentadas, RFC. Essa treta já não agita as almas, só a tua de crónico anti Sócrates, Costa e companhia.. Junta-te ao Chega e ao Observador, à Bonifácio e ao Rui Ramos e ao teu amigo JMT. Eles também são sempre contra os mesmos que tu és contra. Tens, por isso, LINDOS, compagnons de route! 😉
_______
Nota, prévia. «A Democracia tornou-se um regime oligárquico que governa para a oligarquia que a capturouEsta é a verdade pura e crua», cito. Toma lá qu’é fresquinho! Apesar de ser uma tremendista e de teu precisar dos astros para a apreciar, tanto a senhora como a prosa, concordo bastante com largos parágrafos do que a Maria de Fátima Bonifácio diz hoje.
Democracia
Se bem me lembro, durante muito
tempo, vigorou a crença de que a
democracia gerava as soluções
para todos os problemas ou
dificuldades que ela própria
criava. Era uma espécie de regime
mágico. Esta crença esfumou-se como se
esfumam nuvens passageiras ao fim da
tarde. Hoje em dia, prevalece o receio e o
cepticismo. A quantidade de escritos —
artigos e livros — a expor as tremendas
mazelas da democracia contemporânea,
publicados em vários países, é
impressionante. Quem os leia, ou quem leia
alguns deles, mergulha na depressão. Hoje
em dia, a democracia parece um carro
encravado, um sistema político que não
resolve os problemas concretos das
sociedades e, pior do que tudo, incapaz de
se reformar a si próprio de modo
satisfatório. Em parte, mas uma parte
menor, a insatisfação contemporânea deriva
de que as exigências são imensas, de toda a
ordem, e impossíveis de satisfazer. Da
igualdade de género à habitação gratuita,
não há nada que não se reivindique. Mas há
pelo menos uma reivindicação plausível,
razoável, legítima, que é a simples
reivindicação de um governo decente, isto é,
que assuma as suas responsabilidades, que
não seja conivente com negócios
obscuríssimos, cujos membros não sejam
recompensados por olearem essas
negociatas infames, que pensem no bem
público antes de pensarem nos interesses
dos partidos. Será pedir demais? Parece que
sim. Portugal é hoje em dia uma “choldra”
ou uma “piolheira”, como consta que se
queixava D. Carlos, conforme os dias, nos
finais da monarquia.
O cidadão vê ou lê as notícias e fica com a
justificada sensação de que estamos num
lamaçal manhosamente resguardado por
uma classe política que dele se aproveita.
Claro que paga o justo pelo pecador, mas
isso é a vida… Esse lamaçal assalta a bolsa
dos contribuintes sem dó nem piedade. Ele
são aos milhões para bancos e empresas
fraudulentamente falidas, cujos gestores
têm o descaramento de atribuírem a si
mesmos prémios de gestão que nós
pagamos! A própria ordem pública, como
escrevia António Barreto neste
fim-de-semana, parece mais dependente da
Igreja Católica e dos sindicatos do que da
autoridade do executivo. Nada disto impede
o primeiro-ministro de proclamar que tem
um ministro da Administração Interna
maravilhoso e que por nada deste mundo o
substituiria: Eduardo Cabrita — Cabrita! —,
imagine-se, é “um pilar fundamental” do
Governo! Está tudo dito.
Olhemos para a Assembleia da República:
um órgão acometido de anemia aguda, um
rebanho de ovelhas amestradas pelo
Governo, que é o dono da maioria. Duzentos
e trinta deputados cuja utilidade não se
vislumbra: são sempre os mesmos a falar.
Porquê? Porque uma grande parte não tem
nada na cabeça que os inspire, outros
porque não são convenientemente
alinhados e são, por isso, silenciados. Esta
censura — que de censura se trata — é
comum a todos os partidos. Este é o ponto
mais grave: os partidos instauraram um
sistema de “disciplina” interna que coarcta
qualquer veleidade de uma opinião própria.
Tornaram-se há muito blocos monolíticos
sujeitos à ditadura do leader, protegido e
acolitado pela sua guarda pretoriana. São
agrupamentos de gente que ou é ou aceita
fingir-se acéfala, para agradar ao chefe e não
ser ostracizada. São também agências de
emprego, antros de nepotismo, algares de
cumplicidades inconfessáveis.
Quem acredita ainda que a democracia é
“o governo do povo pelo povo” (e para o
povo)? Alguns ingénuos, possivelmente. A
Democracia tornou-se um regime oligárquico
que governa para a oligarquia que a capturou.
Esta é a verdade pura e crua. Erra quem
pensa que o mal está nos eleitores, que
fariam escolhas erradas. Os eleitores
escolhem em função da oferta que se lhes
apresenta, e essa oferta é muito pobre e
piora de geração em geração. Os eleitores,
coitados, têm de escolher entre o que os
partidos lhes oferecem. E oferecem-lhes o
mérito, o patriotismo, a honestidade e a
decência? Não. Oferecem-lhes a
mediocridade (técnica e política), a
subserviência, a falta de escrúpulos, o
seguidismo acrítico, e tantas vezes —
demasiadas vezes — a ganância pessoal.
Grande parte deste seguidismo, ou da
facilidade com que os estados-maiores dos
partidos o conquistam, tem razões
sociológicas. Um professor liceal que vive há
anos no absoluto anonimato de uma terra de
província, ainda por cima mal pago, acha-se,
quando se vê sentado em São Bento com um
ordenado duplicado, como César depois de
ter passado o Rubicão. Atingiu a glória, e por
nada deste mundo quer voltar ao apagado e
vil viver de quando ensinava Geografia aos
alunos de Freixo de Espada à Cinta:
aprovará o quer que lhe mandem pensar.
Tanto basta para que se mantenha fiel e
cordato.
Não vejo como se possa sair deste círculo
vicioso: votamos obrigatoriamente nos
nossos algozes. Isto tanto vale para a
esquerda como para a direita: a natureza e o
funcionamento dos partidos são iguais,
mesmo que as ideologias divirjam. É caso
para perguntar: “Que fazer”? Infelizmente,
não me parece que exista solução. A
democracia não é capaz de vencer os seus
próprios demónios. Nos tempos que
correm, corrompe os homens que a dirigem
— ou são os homens que a corrompem a ela?!
— e acabou a fazer da classe dirigente uma
trama inextricável de cumplicidades que
impedem em absoluto a sua regeneração, o
que talvez devesse começar pelo
apuramento da verdade e cobrar
responsabilidades. Terá chegado a altura de
pensar uma alternativa à democracia?
Chegou sem dúvida, mas essa alternativa
não existe sequer teoricamente. Qual seria o
desenho de um regime
que nos desse liberdade, um Estado de
direito e um Estado social? Não faço ideia.
Ilude-se quem pensa que a regeneração da
democracia depende da bondade dos
homens. No estado a que chegámos, é o
sistema que está doente e esgotado. A
lamentável impotência da Justiça talvez seja
a sua nódoa mais negra e o mais alarmante
sintoma da degenerescência.
No século XVIII, o Iluminismo forneceu as
ideias que permitiram opor ao absolutismo
monárquico um regime constitucional,
liberal e democrático. Essas ideias
cristalizaram como um horizonte de
possibilidades alternativas. Nós não temos
nada disso.
– Maria de Fátima Bonifácio, assim!
Não sejas histericamente desmiolado, pá, se conseguires argumenta sobre o artigo da MFB e deixa-te de aventuras, nabices, socratices e outras mariquices derivadas…
Mas que importa criticar a “democracia burguesa” se não se vai ao âmago da questão que é a crítica ao sistema económico? A táctica da MFB e de outros direitolas é criticar a democracia – mantendo sempre o sistema económico – para substituir os actores políticos do momento por outros a seu gosto, se preciso for, resvalando para soluções autoritárias. Que tu não vejas isso é, no mínimo, ingenuidade. A prova do que digo é que no texto dela nem uma vez se encontra a palavra “capitalismo”! Essa tipa, se quer criticar o sistema – e tão devota que suponho que seja -, ao menos que aprenda alguma coisa com o Papa. Lê a Encíclica Fratelli Tutti e talvez aprendas alguma coisa e apercebe-te que ela nunca quis criticar o sistema. Apenas quer subrepticiamente atacar o Governo, para o substituir pelos protagonistas seus “amigos”. Por isso, o texto dela não passa de lixo panfletário. Acorda pá. Espero que não estejas inscrito para ir à Aula Magna ouvir o MEL… 😉
É como diz. A Bonifácio mais não quer que os do ‘poleiro’ passem a ser os seus. E tudo como dantes, quartel-general em Abrantes. Alguma vez ela está preocupada com quem não tem emprego, ou que quem o tem não ganhe o suficiente para viver e não apenas sobreviver? Com quem o tenha precário? Com os reformados que vão morrendo lentamente, todos os dias, sempre a ver se a pensão lhes chega até ao fim do mês? Tocar no sistema económico, modificá-lo, alterá-lo, substituí-lo, aqui del’Rei que cai o Carmo e a Trindade. E o engraçado da fita, que não tem graça nenhuma, é que a Bonifácio e os seus sequazes não têm dificuldades económicas, ocupam lugares, geralmente bem pagos, na administração pública, nas empresas, na comunicação social, no ensino, etc. Para ela, o meu manguito à Bordalo Pinheiro.
Juro que já te li, por todos os santinhos que há na terra, mas queria fazer uma coisa mais organizada. E que diria assim mas em tamanho XXL: eu sei o que é o capitalismo, mas não sei bem o que é o capitalismo na História portuguesa… As fábricas têxteis em Alcântara e em Xabregas na segunda metade do século XIX, a tardia CUF do Alfredo da Silva no Barreiro, as roças de S. Tomé, os açúcares de Angola, os caminhos de ferro em Moçambique, a mão d’obra indígena no Transvaal? É desse capitalismo possível que passa pela cabeça da Maria de Fátima Bonifácio, enquanto tu, pobre gente!, pensa nos Champalimaud, nos Espírito Santo, nos Mellos, o Jorge de Brito, nos banqueiros, nos cimentos, nos valentões das touradas, na fauna residente na linha de Cascais, no casino da Figueira da Foz e nas filhas da burguesia a flirtarem a praia da Foz portuense ou nos latifundiários do Alentejo, eu sei lá que mais… Tens de fazer um movimento de aproximação, portanto, para jogares ao xadrez ou à sueca. Ainda assim, o que de importante ela diz é que a democracia à portuguesa está bloqueada e, acrescento eu, muito por culpa da estratégia política do actual PS. Que os dirigentes do BE e do PCP à a Esquerda, mais estes, não vejam que a tal oligarquia dos interesses foi capturada e que, bastantemente!, se confunde hoje com o aparelho de Estado do PS numa indecorosa troca de favores de que o António Costa, o Siza Vieira e amigo Lacerda são os pivôs, esse é que é o verdadeiro problema! No activo, à Direita, sobra a Iniciativa Liberal que acerta em quase tudo o que diz.
Ó pá muda-te para o IL, sempre é um pouco mais civilizado que o Chega. E quando chegares à porta do hospital e te perguntarem se tens seguro de saúde e, não o tendo, te mandarem morrer no passeio em frente, não chores baba e ranho e não digas que a culpa é do Cotrim que passou a perna… 😉
Adenda. Olha para ti: vais variando entre o demagogo, o desmiolado, os ataques de histerismo ou o histericamente desmiolado, mais umas doses de demagogia outra vez, o Das Kapital em edições maradas, há no enredo que inventas uns culpados que só tu vês, sentes-te estilhaçado (e por isso a tua psi nos revela que vais ao hospital e que, antes de morreres, chorarás que nem uma Madalena arrependida expiando os seus pecados…), depois de muito penares ajoelhas e rezas ao deitar, pelo que me dizem, tu bem te esforças mas não consegues dormir e quanto mais ver a luz do dia… Maio 26, 2021 às 4:43 am, que caraças! Só te falta ser aldrabão, confessa que é por isso que gostas-gostas… o Valulupi completa-te?
🙂 , António Barreto/Maria de Fátima Bonifácio, 2-assim-com-ares-de-goleada- estatuadesal, zero!
Portanto, sê modesto e pede mas é desculpas ao Barata Feyo, ao Manuel Carvalho e ao Luciano Alvarez, ao António Barreto que até te proporcionou uma valsa! e, agora, à Maria de Fátima Bonifácio e ainda aos gajos da Iniciativa Liberal baris por evocares o nome d’Eles em vão.
Como sempre, sobre as mensagens dizes nada. Passas sempre ao ataque ao mensageiro com uma prosápia barata de faquir de feira. Olha, retiro o disse. Não te juntes ao IL. Junta-te antes ao circo Cardinnali. Lá terás todo o sucesso com os teus números de saltimbanco da blogosfera, desde que não te aproximes da jaula dos leões. Eles adoram bifes de bode velho, sobretudo dos que sofrem de socratite aguda e de socialite crónica. Parece que são mais saborosos… 😉
1.º andamento
Ehhhhhhhhhhhhhh… Estás no bom caminho, RFC! É devido a ti e a tipos como tu que o Chega e o Venturini sobem nas sondagens! 😉
2.º andamento, Vivacissimo!*
Por isso, o texto dela não passa de lixo panfletário. Acorda pá. Espero que não estejas inscrito para ir à Aula Magna ouvir o MEL… 😉
3.º acto:
Ó pá muda-te para o IL, sempre é um pouco mais civilizado que o Chega.
Asterisco, infra.
🙂 , tens de ler com umas lunetas mais fortes as cartas da província qu’eu e qu’os meu amigos Almeida Garrett e JMT te escrevemos!
RFC diz:
Maio 25, 2021 às 7:58 pm
Juro que já te li, por todos os santinhos que há na terra, mas queria fazer uma coisa mais organizada. E que diria assim mas em tamanho XXL: eu sei o que é o capitalismo, mas não sei bem o que é o capitalismo na História portuguesa… As fábricas têxteis em Alcântara e em Xabregas na segunda metade do século XIX, a tardia CUF do Alfredo da Silva no Barreiro, as roças de S. Tomé, os açúcares de Angola, os caminhos de ferro em Moçambique, a mão d’obra indígena no Transvaal? É desse capitalismo possível que passa pela cabeça da Maria de Fátima Bonifácio, enquanto tu, pobre gente!, pensa nos Champalimaud, nos Espírito Santo, nos Mellos, o Jorge de Brito, nos banqueiros, nos cimentos, nos valentões das touradas, na fauna residente na linha de Cascais, no casino da Figueira da Foz e nas filhas da burguesia a flirtarem a praia da Foz portuense ou nos latifundiários do Alentejo, eu sei lá que mais… Tens de fazer um movimento de aproximação, portanto, para jogares ao xadrez ou à sueca. Ainda assim, o que de importante ela diz é que a democracia à portuguesa está bloqueada e, acrescento eu, muito por culpa da estratégia política do actual PS. Que os dirigentes do BE e do PCP à Esquerda, mais estes, não vejam que a tal oligarquia dos interesses foi capturada e que, bastantemente!, se confunde hoje com o aparelho de Estado do PS numa indecorosa troca de favores de que o António Costa, o Siza Vieira e amigo Lacerda são os pivôs, esse é que é o verdadeiro problema! No activo, à Direita, sobra a Iniciativa Liberal que acerta em quase tudo o que diz.
Boa decisão. Continuemos para bingo, então. Só um sublinhado final: como diz o povo, quem anda à chuva molha-se. Ou ainda, quem não quer ser lobo não lhe veste a pele.
APOIADO !
O Portas, toda a santa semana, lança um dos seus “avisos” – cuidado com a China, ponham os olhos na China e noutros que tais, que estão a crescer economicamente, a sair da crise, que a Europa e principalmente Portugal estão a ficar irremediavelmente para trás. Pois bem. Só acho estranho os “migrantes” que enchem as páginas de jornais e o nosso continente ad nauseam, miseráveis, sem nada a perder, arriscando tudo, escolham sempre a Europa e não os paraísos do crescimento e desenvolvimento humano que o abjeto Portas aventa semana sim semana sim. Fica a dúvida no ar.
E não me venham com a conversa do racismo, xenofobia, passado colonial e diáspora portuguesa enquanto argumentos para me calar e admitir uma migração em massa (para a população europeia multiplicar pelo menos por 10) e nivelarmos irremediavelmente tudo por baixo que comigo isso não pega. Talvez pegue com o Portas, pela suposta competitividade que iríamos adquirir por osmose, e porque pegar é mesmo com ele.
Desonesta forma de meter tudo no mesmo saco, ou de como se esqueceu do Louçã. Por mim pode ir escrever para onde quiser.
Off, tanta parvoíce as usual!
estatuadesal diz:
Maio 17, 2021 às 4:54 pm
Deixa-te de notícias requentadas, RFC. Essa treta já não agita as almas, só a tua de crónico anti Sócrates, Costa e companhia.. Junta-te ao Chega e ao Observador, à Bonifácio e ao Rui Ramos e ao teu amigo JMT. Eles também são sempre contra os mesmos que tu és contra. Tens, por isso, LINDOS, compagnons de route! 😉
_______
Nota, prévia. «A Democracia tornou-se um regime oligárquico que governa para a oligarquia que a capturouEsta é a verdade pura e crua», cito. Toma lá qu’é fresquinho! Apesar de ser uma tremendista e de teu precisar dos astros para a apreciar, tanto a senhora como a prosa, concordo bastante com largos parágrafos do que a Maria de Fátima Bonifácio diz hoje.
Democracia
Se bem me lembro, durante muito
tempo, vigorou a crença de que a
democracia gerava as soluções
para todos os problemas ou
dificuldades que ela própria
criava. Era uma espécie de regime
mágico. Esta crença esfumou-se como se
esfumam nuvens passageiras ao fim da
tarde. Hoje em dia, prevalece o receio e o
cepticismo. A quantidade de escritos —
artigos e livros — a expor as tremendas
mazelas da democracia contemporânea,
publicados em vários países, é
impressionante. Quem os leia, ou quem leia
alguns deles, mergulha na depressão. Hoje
em dia, a democracia parece um carro
encravado, um sistema político que não
resolve os problemas concretos das
sociedades e, pior do que tudo, incapaz de
se reformar a si próprio de modo
satisfatório. Em parte, mas uma parte
menor, a insatisfação contemporânea deriva
de que as exigências são imensas, de toda a
ordem, e impossíveis de satisfazer. Da
igualdade de género à habitação gratuita,
não há nada que não se reivindique. Mas há
pelo menos uma reivindicação plausível,
razoável, legítima, que é a simples
reivindicação de um governo decente, isto é,
que assuma as suas responsabilidades, que
não seja conivente com negócios
obscuríssimos, cujos membros não sejam
recompensados por olearem essas
negociatas infames, que pensem no bem
público antes de pensarem nos interesses
dos partidos. Será pedir demais? Parece que
sim. Portugal é hoje em dia uma “choldra”
ou uma “piolheira”, como consta que se
queixava D. Carlos, conforme os dias, nos
finais da monarquia.
O cidadão vê ou lê as notícias e fica com a
justificada sensação de que estamos num
lamaçal manhosamente resguardado por
uma classe política que dele se aproveita.
Claro que paga o justo pelo pecador, mas
isso é a vida… Esse lamaçal assalta a bolsa
dos contribuintes sem dó nem piedade. Ele
são aos milhões para bancos e empresas
fraudulentamente falidas, cujos gestores
têm o descaramento de atribuírem a si
mesmos prémios de gestão que nós
pagamos! A própria ordem pública, como
escrevia António Barreto neste
fim-de-semana, parece mais dependente da
Igreja Católica e dos sindicatos do que da
autoridade do executivo. Nada disto impede
o primeiro-ministro de proclamar que tem
um ministro da Administração Interna
maravilhoso e que por nada deste mundo o
substituiria: Eduardo Cabrita — Cabrita! —,
imagine-se, é “um pilar fundamental” do
Governo! Está tudo dito.
Olhemos para a Assembleia da República:
um órgão acometido de anemia aguda, um
rebanho de ovelhas amestradas pelo
Governo, que é o dono da maioria. Duzentos
e trinta deputados cuja utilidade não se
vislumbra: são sempre os mesmos a falar.
Porquê? Porque uma grande parte não tem
nada na cabeça que os inspire, outros
porque não são convenientemente
alinhados e são, por isso, silenciados. Esta
censura — que de censura se trata — é
comum a todos os partidos. Este é o ponto
mais grave: os partidos instauraram um
sistema de “disciplina” interna que coarcta
qualquer veleidade de uma opinião própria.
Tornaram-se há muito blocos monolíticos
sujeitos à ditadura do leader, protegido e
acolitado pela sua guarda pretoriana. São
agrupamentos de gente que ou é ou aceita
fingir-se acéfala, para agradar ao chefe e não
ser ostracizada. São também agências de
emprego, antros de nepotismo, algares de
cumplicidades inconfessáveis.
Quem acredita ainda que a democracia é
“o governo do povo pelo povo” (e para o
povo)? Alguns ingénuos, possivelmente. A
Democracia tornou-se um regime oligárquico
que governa para a oligarquia que a capturou.
Esta é a verdade pura e crua. Erra quem
pensa que o mal está nos eleitores, que
fariam escolhas erradas. Os eleitores
escolhem em função da oferta que se lhes
apresenta, e essa oferta é muito pobre e
piora de geração em geração. Os eleitores,
coitados, têm de escolher entre o que os
partidos lhes oferecem. E oferecem-lhes o
mérito, o patriotismo, a honestidade e a
decência? Não. Oferecem-lhes a
mediocridade (técnica e política), a
subserviência, a falta de escrúpulos, o
seguidismo acrítico, e tantas vezes —
demasiadas vezes — a ganância pessoal.
Grande parte deste seguidismo, ou da
facilidade com que os estados-maiores dos
partidos o conquistam, tem razões
sociológicas. Um professor liceal que vive há
anos no absoluto anonimato de uma terra de
província, ainda por cima mal pago, acha-se,
quando se vê sentado em São Bento com um
ordenado duplicado, como César depois de
ter passado o Rubicão. Atingiu a glória, e por
nada deste mundo quer voltar ao apagado e
vil viver de quando ensinava Geografia aos
alunos de Freixo de Espada à Cinta:
aprovará o quer que lhe mandem pensar.
Tanto basta para que se mantenha fiel e
cordato.
Não vejo como se possa sair deste círculo
vicioso: votamos obrigatoriamente nos
nossos algozes. Isto tanto vale para a
esquerda como para a direita: a natureza e o
funcionamento dos partidos são iguais,
mesmo que as ideologias divirjam. É caso
para perguntar: “Que fazer”? Infelizmente,
não me parece que exista solução. A
democracia não é capaz de vencer os seus
próprios demónios. Nos tempos que
correm, corrompe os homens que a dirigem
— ou são os homens que a corrompem a ela?!
— e acabou a fazer da classe dirigente uma
trama inextricável de cumplicidades que
impedem em absoluto a sua regeneração, o
que talvez devesse começar pelo
apuramento da verdade e cobrar
responsabilidades. Terá chegado a altura de
pensar uma alternativa à democracia?
Chegou sem dúvida, mas essa alternativa
não existe sequer teoricamente. Qual seria o
desenho de um regime
que nos desse liberdade, um Estado de
direito e um Estado social? Não faço ideia.
Ilude-se quem pensa que a regeneração da
democracia depende da bondade dos
homens. No estado a que chegámos, é o
sistema que está doente e esgotado. A
lamentável impotência da Justiça talvez seja
a sua nódoa mais negra e o mais alarmante
sintoma da degenerescência.
No século XVIII, o Iluminismo forneceu as
ideias que permitiram opor ao absolutismo
monárquico um regime constitucional,
liberal e democrático. Essas ideias
cristalizaram como um horizonte de
possibilidades alternativas. Nós não temos
nada disso.
– Maria de Fátima Bonifácio, assim!
Fonte: P., 24.5.2021. p. 6.
Ehhhhhhhhhhhhhh… Estás no bom caminho, RFC! É devido a ti e a tipos como tu que o Chega e o Venturini sobem nas sondagens! 😉
Não sejas histericamente desmiolado, pá, se conseguires argumenta sobre o artigo da MFB e deixa-te de aventuras, nabices, socratices e outras mariquices derivadas…
🙂
Mas que importa criticar a “democracia burguesa” se não se vai ao âmago da questão que é a crítica ao sistema económico? A táctica da MFB e de outros direitolas é criticar a democracia – mantendo sempre o sistema económico – para substituir os actores políticos do momento por outros a seu gosto, se preciso for, resvalando para soluções autoritárias. Que tu não vejas isso é, no mínimo, ingenuidade. A prova do que digo é que no texto dela nem uma vez se encontra a palavra “capitalismo”! Essa tipa, se quer criticar o sistema – e tão devota que suponho que seja -, ao menos que aprenda alguma coisa com o Papa. Lê a Encíclica Fratelli Tutti e talvez aprendas alguma coisa e apercebe-te que ela nunca quis criticar o sistema. Apenas quer subrepticiamente atacar o Governo, para o substituir pelos protagonistas seus “amigos”. Por isso, o texto dela não passa de lixo panfletário. Acorda pá. Espero que não estejas inscrito para ir à Aula Magna ouvir o MEL… 😉
É como diz. A Bonifácio mais não quer que os do ‘poleiro’ passem a ser os seus. E tudo como dantes, quartel-general em Abrantes. Alguma vez ela está preocupada com quem não tem emprego, ou que quem o tem não ganhe o suficiente para viver e não apenas sobreviver? Com quem o tenha precário? Com os reformados que vão morrendo lentamente, todos os dias, sempre a ver se a pensão lhes chega até ao fim do mês? Tocar no sistema económico, modificá-lo, alterá-lo, substituí-lo, aqui del’Rei que cai o Carmo e a Trindade. E o engraçado da fita, que não tem graça nenhuma, é que a Bonifácio e os seus sequazes não têm dificuldades económicas, ocupam lugares, geralmente bem pagos, na administração pública, nas empresas, na comunicação social, no ensino, etc. Para ela, o meu manguito à Bordalo Pinheiro.
Juro que já te li, por todos os santinhos que há na terra, mas queria fazer uma coisa mais organizada. E que diria assim mas em tamanho XXL: eu sei o que é o capitalismo, mas não sei bem o que é o capitalismo na História portuguesa… As fábricas têxteis em Alcântara e em Xabregas na segunda metade do século XIX, a tardia CUF do Alfredo da Silva no Barreiro, as roças de S. Tomé, os açúcares de Angola, os caminhos de ferro em Moçambique, a mão d’obra indígena no Transvaal? É desse capitalismo possível que passa pela cabeça da Maria de Fátima Bonifácio, enquanto tu, pobre gente!, pensa nos Champalimaud, nos Espírito Santo, nos Mellos, o Jorge de Brito, nos banqueiros, nos cimentos, nos valentões das touradas, na fauna residente na linha de Cascais, no casino da Figueira da Foz e nas filhas da burguesia a flirtarem a praia da Foz portuense ou nos latifundiários do Alentejo, eu sei lá que mais… Tens de fazer um movimento de aproximação, portanto, para jogares ao xadrez ou à sueca. Ainda assim, o que de importante ela diz é que a democracia à portuguesa está bloqueada e, acrescento eu, muito por culpa da estratégia política do actual PS. Que os dirigentes do BE e do PCP à a Esquerda, mais estes, não vejam que a tal oligarquia dos interesses foi capturada e que, bastantemente!, se confunde hoje com o aparelho de Estado do PS numa indecorosa troca de favores de que o António Costa, o Siza Vieira e amigo Lacerda são os pivôs, esse é que é o verdadeiro problema! No activo, à Direita, sobra a Iniciativa Liberal que acerta em quase tudo o que diz.
🙂 , e desculpa lá não comprar a tua ganga!
Nada, portanto aos deitares-te ajoelha e reza fortemente: pede ao Pai do Céu que te auxilie qu’amanhã também é dia…
🙂 , a MFB que tal?
Ó pá muda-te para o IL, sempre é um pouco mais civilizado que o Chega. E quando chegares à porta do hospital e te perguntarem se tens seguro de saúde e, não o tendo, te mandarem morrer no passeio em frente, não chores baba e ranho e não digas que a culpa é do Cotrim que passou a perna… 😉
Adenda. Olha para ti: vais variando entre o demagogo, o desmiolado, os ataques de histerismo ou o histericamente desmiolado, mais umas doses de demagogia outra vez, o Das Kapital em edições maradas, há no enredo que inventas uns culpados que só tu vês, sentes-te estilhaçado (e por isso a tua psi nos revela que vais ao hospital e que, antes de morreres, chorarás que nem uma Madalena arrependida expiando os seus pecados…), depois de muito penares ajoelhas e rezas ao deitar, pelo que me dizem, tu bem te esforças mas não consegues dormir e quanto mais ver a luz do dia… Maio 26, 2021 às 4:43 am, que caraças! Só te falta ser aldrabão, confessa que é por isso que gostas-gostas… o Valulupi completa-te?
🙂 , António Barreto/Maria de Fátima Bonifácio, 2-assim-com-ares-de-goleada- estatuadesal, zero!
Portanto, sê modesto e pede mas é desculpas ao Barata Feyo, ao Manuel Carvalho e ao Luciano Alvarez, ao António Barreto que até te proporcionou uma valsa! e, agora, à Maria de Fátima Bonifácio e ainda aos gajos da Iniciativa Liberal baris por evocares o nome d’Eles em vão.
Como sempre, sobre as mensagens dizes nada. Passas sempre ao ataque ao mensageiro com uma prosápia barata de faquir de feira. Olha, retiro o disse. Não te juntes ao IL. Junta-te antes ao circo Cardinnali. Lá terás todo o sucesso com os teus números de saltimbanco da blogosfera, desde que não te aproximes da jaula dos leões. Eles adoram bifes de bode velho, sobretudo dos que sofrem de socratite aguda e de socialite crónica. Parece que são mais saborosos… 😉
Recapitulemos menino, os dois.
1.º andamento
Ehhhhhhhhhhhhhh… Estás no bom caminho, RFC! É devido a ti e a tipos como tu que o Chega e o Venturini sobem nas sondagens! 😉
2.º andamento, Vivacissimo!*
Por isso, o texto dela não passa de lixo panfletário. Acorda pá. Espero que não estejas inscrito para ir à Aula Magna ouvir o MEL… 😉
3.º acto:
Ó pá muda-te para o IL, sempre é um pouco mais civilizado que o Chega.
Asterisco, infra.
🙂 , tens de ler com umas lunetas mais fortes as cartas da província qu’eu e qu’os meu amigos Almeida Garrett e JMT te escrevemos!
RFC diz:
Maio 25, 2021 às 7:58 pm
Juro que já te li, por todos os santinhos que há na terra, mas queria fazer uma coisa mais organizada. E que diria assim mas em tamanho XXL: eu sei o que é o capitalismo, mas não sei bem o que é o capitalismo na História portuguesa… As fábricas têxteis em Alcântara e em Xabregas na segunda metade do século XIX, a tardia CUF do Alfredo da Silva no Barreiro, as roças de S. Tomé, os açúcares de Angola, os caminhos de ferro em Moçambique, a mão d’obra indígena no Transvaal? É desse capitalismo possível que passa pela cabeça da Maria de Fátima Bonifácio, enquanto tu, pobre gente!, pensa nos Champalimaud, nos Espírito Santo, nos Mellos, o Jorge de Brito, nos banqueiros, nos cimentos, nos valentões das touradas, na fauna residente na linha de Cascais, no casino da Figueira da Foz e nas filhas da burguesia a flirtarem a praia da Foz portuense ou nos latifundiários do Alentejo, eu sei lá que mais… Tens de fazer um movimento de aproximação, portanto, para jogares ao xadrez ou à sueca. Ainda assim, o que de importante ela diz é que a democracia à portuguesa está bloqueada e, acrescento eu, muito por culpa da estratégia política do actual PS. Que os dirigentes do BE e do PCP à Esquerda, mais estes, não vejam que a tal oligarquia dos interesses foi capturada e que, bastantemente!, se confunde hoje com o aparelho de Estado do PS numa indecorosa troca de favores de que o António Costa, o Siza Vieira e amigo Lacerda são os pivôs, esse é que é o verdadeiro problema! No activo, à Direita, sobra a Iniciativa Liberal que acerta em quase tudo o que diz.
🙂 , e desculpa lá não comprar a tua ganga-bis!
Boa decisão. Continuemos para bingo, então. Só um sublinhado final: como diz o povo, quem anda à chuva molha-se. Ou ainda, quem não quer ser lobo não lhe veste a pele.