(Francisco Louçã, in Expresso Diário, 18/08/2020)

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Há um par de dias, Carlos César usou da sua exuberante forma de cordialidade para exigir no Facebook aos partidos de esquerda que “se definam de uma vez por todas e sem mais demoras e calculismos”, mostrando se “são ou não capazes de reunir esses consensos num enunciado programático com o PS, suficiente mas claro, para a legislatura…ou se preferem assobiar para o ar à espera dos percalços”. A meio de agosto e antes de começarem as negociações detalhadas sobre os temas do Orçamento, este “de uma vez por todas e sem mais demoras” soa ao que é. O problema é que para fazer chantagem se exige algum saber e basto sentido de oportunidade. Ambos escasseiam neste “de uma vez por todas”.
Há um ano atrás, em junho e era véspera de eleições, o mesmo César explicava que o PS não devia continuar a geringonça e devia romper com o Bloco porque, se o PS fosse “sempre atrás do BE”, o país voltaria “ao tempo da bancarrota”. Num discurso aos seus deputados, explicou que era preciso evitar as “aventuras orçamentais que levariam ao colapso e à desconfiança internacional” e que, para isso, a única solução era uma maioria absoluta contra os “bloqueios” e “constantes dificuldades” da geringonça. O primeiro-ministro, em entrevista ao Expresso, explicou o mesmo apelo aos eleitores: ou maioria absoluta ou caos. Parece que, um ano depois, é ao contrário, haverá bancarrota se não houver acordo “de uma vez por todas e sem mais demoras e calculismos”.
Há um ano, havia em todo o caso uma alternativa na manga, que era o “acordo de cavalheiros” com o PCP. O PCP tem “uma estabilidade na sua ação política que lhe dá coerência, sustentabilidade, previsibilidade, e, portanto, é muito fácil trabalhar com ele”, dizia Costa. E era uma certeza pessoal, a mais profunda das emoções: “quando ele (Jerónimo) diz que entre gente de bem basta um aperto de mão ou mesmo olharmo-nos olhos nos olhos”, não é preciso um acordo escrito, explicava o primeiro-ministro. Com a sua “experiência de trabalho com Jerónimo de Sousa”, Costa afirmava não ter a “a menor das dúvidas”, assunto arrumado. Olhando-se nos olhos, com um aperto de mão, “é fácil trabalhar” com o PCP, a coisa estava garantida, não havia “a menor das dúvidas”. Parece que, um ano depois, é também ao contrário, já é conveniente o acordo escrito que era então rejeitado.
O certo é que falhou tudo. O PCP foi prejudicado por estas insinuações, o PS não teve maioria absoluta e foi necessário definir as novas condições de governação. Mas, como antecipado por tais declarações belicistas, a partir das eleições o governo recusou qualquer quadro de cooperação para a legislatura.
A geringonça foi enterrada com a convicção de que o PS estava mais forte e ditava a lei, quando, pelo contrário, ao perder a oportunidade da maioria absoluta e ao destruir a geringonça, ficou mais frágil, como hoje se verifica nestas aflições de agosto.
Curiosamente, César agora culpa o PCP, com o qual então não havia “a menor das dúvidas”, pela rejeição da geringonça e pela instabilidade política assim criada: “A recusa do PCP, logo após as últimas eleições, em subscrever um acordo para esta Legislatura, tal como havia sido conseguido na anterior, prejudicou a coerência e a utilidade de um acordo com um único parceiro – o BE -, do qual resultaria, certamente, uma tendência de exclusão do PCP e em pouco reduziria a ameaça da instabilidade”. É uma acusação injusta e até extravagante, dado que essa recusa tinha sido claramente anunciada por Jerónimo de Sousa durante a campanha e foi Costa quem inventou um pretenso idílio em que bastaria “olharem-se nos olhos” e “um aperto de mão” para tudo ficar resolvido. Era falso, como se verificou num ápice.
Assim, a realidade é teimosa: há um ano, o PS recusou começar uma negociação que poderia criar uma maioria parlamentar, pois não aceitava um acordo, afirmando que este levaria à “bancarrota” e, além disso, não admitia que estivessem na mesa de discussão as reformas laborais da troika, apesar de prometer ao país um “olhar nos olhos” com o PCP, numa encenação unilateral. Um ano depois, César exige ao PCP (com quem “é fácil trabalhar” mas não quer) e ao Bloco (que propôs um acordo mas que foi recusado) que “se definam de uma vez por todas e sem mais demoras e calculismos”. A palavra “calculismos” tem aqui um sabor amargo. O problema é que o governo ainda não fez as suas escolhas para apresentar as suas propostas orçamentais; que o plano Costa e Silva ainda não foi concretizado em projetos de médio e longo prazo; e que as discussões detalhadas entre o governo e os partidos de esquerda ainda não avançaram, estando agendadas para as próximas semanas. Como podem então concluir-se antes de começarem? A intimação facebookiana de César só tem por isso uma leitura e não lhe é lisonjeira.
Era preferível mais prudência e menos calculismo. Sair da gritaria no Facebook e sentar-se em reuniões de trabalho. Evitar truques de retórica e estudar propostas. Deixar as rasteiras e discutir questões difíceis. Evitar atalhos. Aliás, poderia ser um sinal interessante que o governo aceitasse agora discutir normas da lei laboral no combate à precariedade e desemprego, se não se tratar de um engodo que vá desaguar no direito de veto das associações patronais na concertação social, mas é preocupante que ao mesmo tempo inicie um recuo sobre o salário mínimo nacional. No meio destes movimentos paradoxais, a ordem dada pelo presidente do PS é o mais desastrado das percalços.
Todas estas tricas são muito cansativas.
Desde que não deixem voltar para lá o PSD e refreiem os impetos neoliberais da ala direita do PS tá-se bem.
Puro oportunismo clubístico, que de político nada tem, de quem, de resto, foi avisado das consequências sócio-económicas de uma crise perante tanta responsabilidade.
Amanhem-se.
A cacafonia da situação que vivemos que exige todos os dias novos olhares de mistura com a cacafonia de esquerda e de direita cansa. Afinal a esquerda pela voz de FL quer demolir o PS e as suas opções políticas impondo a sua visão de como se resolvem os problemas e a direita não vai tão longe centra-se em Reguengos e fica por ali a demolir a administração central na sua representação regional (ARS) e a administração autárquica. O que aconteceu em Reguengos não devia ter acontecido desatar a tentar ganhar dividendos políticos, a falta de melhor, mostra fraqueza.
O que se passou em Reguengos foi num lar privado.
PS e PSD-CDS têm a mesma responsabilidade de atirar para os animais do privado a nossa assistência social.
Impondo? Então o parlamento é para quê? Se é para aprovar austeridade, não faltam deputados para assinar por baixo.
Eu nem consigo sequer imaginar o que teria acontecido se a pandemia tivesse surgido com o Passos no governo… teria sido uma Itália a multiplicar por 10, com o “bónus” de termos o primeiro ministro a apelidar os doentes e mortos de piegas!
[…]
Vítor Escária é citado 83 vezes
na acusação da Operação Marquês.
Foi ele o principal intermediário
no negócio das casas do grupo
Lena na Venezuela. Chegou a estar
sob escuta, houve buscas a sua
casa e foi ouvido como
testemunha no processo. Não foi
acusado de qualquer crime. Mas o
que consta da acusação é
suÆcientemente perturbante para
qualquer primeiro-ministro ter a
obrigação política de se manter à
distância.
Após 2011, Escária formou uma
empresa de consultoria com três
assessores de Sócrates: o ex-espião
José Almeida Ribeiro, Óscar
Gaspar e Luís Bernardo. Em 2013 e
2014, Escária declarou ter
recebido 21.250 euros da Proengel
II, sociedade de Carlos Santos
Silva e do Grupo Lena. Em 2014,
foi sócio de Alexandre Cavalleri
(detido por suspeita de fraude),
dono da empresa Iguarivarius, da
qual Mário Lino foi chairman (ler o
longo artigo do Observador
“Como um ex-ministro e um
ex-assessor de Sócrates ajudaram
o rei do pernil de porco a
conquistar a Venezuela”).
Isto anda tudo
escandalosamente ligado. Vítor
Escária é um lobista, um
facilitador e angariador de
negócios que António Costa acaba
de colocar no coração do seu
gabinete. O facto de o
primeiro,o-ministro assumir de
forma tão aberta essa relação de
confiança pessoal é demonstrativo
de uma continuidade preocupante
com os tenebrosos anos
2005-2011. O facto de esta notícia
passar com um encolher de
ombros é demonstrativo de que
não aprendemos nada com a
Operação Marquês, e que o regime
continua podre, pervertido e
perigoso.
– João Miguel Tavares, hoje.
#carregaPS
#napalm
https://twitter.com/JoaoPBatalha/status/1295502576197279746 , até dói!
POLÍTICA
Covid-19. Trump anuncia compra de 6,9 milhões de doses. Vacinação será “universal e gratuita”
13h36 JOANA ASCENSÃO E HÉLDER GOMES
Em visita ao centro hospitalar de Gaia e Espinho, Donald Trump anunciou a compra de 6,9 milhões de doses de vacinas contra a covid-19, ao mesmo tempo que a Arvela Falante anunciar [SIC] 26 milhões para criar melhores condições nos cuidados intensivos. “O ano letivo não pode decorrer com as escolas encerradas, não podemos voltar a encerrar empresas porque isso significa milhares de postos de trabalho em risco”, disse o primeiro-ministro
[…]
No Expresso, online.
_____
Nota. Epá, ó d’A Estátua, queres comentar? Coisas do Trump, só pode!
lol…
Adenda, nem mais!
O CHEFE DE GABINETE
Grande comoção por Vítor
Escária ter sido nomeado
chefe de gabinete de António
Costa. Escária, depois de estar
envolvido no ‘Galpgate’, pagou
uns milhares de euros (como os
outros arguidos) e viu-se livre
do processo, podendo voltar
à vida pública. Sobre isto há
dois pontos a ter em conta:
o primeiro é que o chamado
‘Galpgate’ (viagens para ver
futebol a convite da Galp) foi,
na verdade, um pecadilho sem a
importância que se lhe quis dar;
o segundo é que o pessoal ligado
a Sócrates parece estar sempre
em cargos importantes quando
há dinheiro à vista. Este é o
ponto que vale a pena escrutinar
profundamente.
– Henrique Monteiro, anteontem.
Fonte: Expresso, 22.8.2020, p. 39.