O relaxamento de Centeno

(Joaquim Vassalo Abreu, 14/05/2020)

Erros todos cometemos e muito mais num preciso momento em que o PM tem tantas coisas e preocupações na sua cabeça, tantas coisas a prever e tantas respostas a dar. E a grande verdade é que Costa, sempre omnipresente, o tem feito com todo o denodo e competência. É verdade mas…um lapso destes não podia acontecer, dê por onde der.

Podemos dizer que neste princípio de “distanciamento social”, o que preocupa Costa não é o Orçamento aprovado e que vinha sendo aplicado, e no qual já estava prevista a verba a injectar no Novo Banco, verba decorrente do acordo de venda à Lone Star e responsabilidade do Fundo de Resolução, mas sim o próximo Orçamento Suplementar, esse sim de muito difícil feitura e projecção.

Eduardo Galeano disse um dia que “A Memória é aquilo que torna o passado em presente”. E por isso, para não cometermos erros inúteis, temos que permanentemente a ela recorrer. E a memória mais recente, no que ao último Orçamento de Estado diz respeito e onde, como disse a referida verba vinha contemplada, é que tanto o BE como o PCP o aprovaram.

Eles leram, eles estudaram o seu conteúdo e debateram o mesmo tanto na generalidade como na especialidade. A minha memória não tem presente qualquer objecção a esse prudente “item”, pelo que me soa agora a aproveitamento político, que não ouso chamar de ilegítimo, o verberar do facto.

Mas recorrendo à minha memória: Em 15 de Novembro de 2019, há poucos meses portanto, revelava o Expresso que os acionistas do Novo Banco, Lone Star e Fundo de Resolução, já estavam a estudar a hipótese da antecipação da injecção do capital do Estado. Leia-se Fundo de Resolução, dos Bancos do Sistema, a quem o Estado antecipa fundos remíveis em trinta anos.

E no mesmo Expresso, em 29 de Fevereiro deste ano, estava a Pandemia a ser decretada, numa entrevista ao Presidente do Novo Banco, este informa que ia pedir mais 1.037 milhões de Euros ao Fundo de Resolução para colmatar falhas de capital decorrentes de prejuízos na actividade provocados por imparidades que o Banco não consegue suprir, sob pena de ver os seus rácios deteriorados e, por via disso, não poder continuar a sua actividade por falta de financiamento para a mesma.

De modo que eu pergunto: o BE, o PCP e os restantes Partidos que acerca desta importante questão nunca se pronunciaram, andavam distraídos? Já era coisa assumida e portanto agora não relevante? Sim, não fosse a Pandemia. E claro, quando todo esse dinheiro era mais preciso para tudo menos para injectar num Banco, novo mas sem futuro à vista…

Se eu estou contra este acordo de repartição e venda do Novo Banco? Estou e completamente! Se me sinto perplexo com as Auditorias até agora feitas de análise aos seus Activos e Créditos sobre Clientes? Aqui ainda muito mais, nomeadamente desde o início em que na separação entre Banco Bom e Mau, o Bom ficou com imenso Crédito duvidoso que deveria pertencer ao Mau. Mas, não sofrendo eu de injenuidade precoce,  já há muito era  para mim muito claro que isso obedeceu a uma estratégia de “chico espertice”: A de que, para vender, isto é largarmo-nos de problemas, era deixar para quem viesse a solução. O costume…

Se eu estou contra tudo isto? Estou completamente e de princípio,  Mas…É que o problema advém de um pecando original deste “Sistema”: O de criar Bancos inimputaveis, Gestores inimputaveis, Administradores que internamente decidem sobre seus salários e prémios mas nunca são responsáveis pelos erros cometidos. Gente a quem nós confiamos, ou melhor somos obrigados a confiar as nossas poupanças, das quais fazem o que bem entendem e lhes convém, mas num desprezo total pelas suas consequências, que eles sabem nunca os irão atingir…

Mas este “Sistema” instituído por este Capitalismo sorvedor e egoísta, deve-nos levar a pensar, pois a ele estamos de pés e mãos presos: Quando um Banco está na eminência de entrar em falência (não possuir mais recursos nem suas fontes para fazer frente às obrigações), três coisas podem acontecer:

  1. Conseguir uma injecção de liquidez que permita a manutenção dos rácios de Capital e Solvabilidade necessários ao seu financiamento. Mas quem injecta dinheiro num Banco falido? Só um Estado possui essa possibilidade. Mas em nome e a troco de quê?
  2. O Banco ( mais o seu nome e marca) é vendido por  “tuta e meia” e quem o compra ficando apenas com a “operação” ( negócio), remete para o resto do “Sistema” ( que tem receio do risco sistemico), todos os riscos da sua “limpeza”. E tudo, mais uma vez, vai inevitavelmente recair sobre o Estado…
  3. A “ Nacionalização”! Mas aqui o BCE, a CE e tudo quanto seja Tribunal ou Regulação não a permitem nem apoiam, não só pelo precedente mas principalmente pela carga ideológica que encerra. Eles, no fundo, pretendem que isso seja feito mas sob outra capa. Como agora nas Companhias de Aviação, entendem?

A ausência de tudo isto seria a falência pura e dura. Mas quem seriam principais prejudicados numa falência assim: os depositantes! Os mais desprotegidos num caso destes pois apenas podem recorrer ao Fundo de Garantia de Depósitos ( até € 100 mil) mas, falando de recursos (depósitos) de 70 ou 80 mil milhões de euros nele existentes, para parca miséria serviria a sua  capitalização!

Finalmente: Era inevitável a injecção deste capital no Novo Banco e na precisa data em que foi feita. E não me venham com alegorias nem menções a Auditorias: tinha que ser feita e se Costa afirmou que não sabia ou esperava o final da Auditoria para antes dessa data, não deveria nunca ter dito o que disse no Parlamento.

Mas, tratando-se infelizmente de uma inevitabibidade, eu não deixo de realçar o facto político mas, quanto ao que todos os “Midia” falam, da crescente incompatibilidade entre Costa e Centeno, eu estou convicto que elas não têm por fundo a política ou economia nacionais, mas sim profundas divergências a propósito da Europa e do seu futuro.

Centeno, que fez tão grande trabalho e tão grande que todos devemos louvar, há muito que encena um “tabu”, um ‘tabu” feito de meias palavras, de incógnitas e indecisões, mantendo sempre um pé fora e um pé dentro, nunca evidenciando estar no seu cargo em pleno. Por isso e  porque um Ministro das Finanças nunca pode estar na sua imprescindível função sem ser em pleno, Centeno tem que optar: ou está ou não está!

E o seu “relaxamento”, por mais que eu o aprecie enquanto brilhante Ministro das Finanças, não colhe…E, por tudo isso, estou com COSTA!


12 pensamentos sobre “O relaxamento de Centeno

  1. “Se me sinto perplexo com as Auditorias até agora feitas de análise aos seus Activos e Créditos sobre Clientes?”

    Só pode estar perplexo quem não conhece o historial destas empresas, principalmente em áreas financeiras. Estranho é quando está tudo bem. Mas também só podem fiscalizar o que está na lei com as regras que lá estão, e na finança é o queijo suíço que se sabe.

    “Eles, no fundo, pretendem que isso seja feito mas sob outra capa.”

    Sobre outra capa, não, sob outro país. Têm azar, ainda calha à China outra vez.

    Mas sim, era inevitável, da mesma forma que são inevitáveis muitas outras coisas que não vão a eleições, pelo menos até a Desunião não se juntar às suas vítimas.

  2. Eu estou com os dois e não estou com nenhum deles. Se quiserem, cada um faz o seu papel com a indumentária que se lhe adequa.
    António Costa é um político. E não é um político qualquer. Falamos de alguém com traquejo nestas matérias. Como se diz na gíria do Churrasco, “são muitos anos a virar frangos ” !
    Mário Centeno não é político. Demonstrou toda a sua ingenuidade aquando da nomeação da anterior Administração da CGD. Mas é uma pessoa séria no plano intelectual. O actual Ministro das Finanças é um técnico. E um bom técnico, digam lá o que disserem. Muito acima de alguns pseudo iluminados na áreas da Gestão de dinheiros públicos, que a direita apresenta. Até porque, ser ministro das finanças à direita, significa cortar em tudo aquilo que não lhes interessa, alimento o que lhes convém, “sempre a bem da Nação”, mesmo que com isso atirem centenas de milhares de pessoas para a pobreza.
    António Costa, tal como todos os políticos, é um gestor de expectativas. Umas vezes mais convincente, outras tantas a roçar a ficção. Vive do copo meio cheio ou meio vazio. Da verdade que muitas vezes se fica pela metade, ou da omissão que por vezes nos faz pensar querer-nos ocultar algo que possa criar problemas ao governo. Tudo isto é transversal a qualquer governo, seja ele qual for, em democracia.
    Toda a gente sabe que os Ministros das Finanças se desgastam muito. Aquilo é um exercício de “contorcionismo e equilibrismo”, para que o país não se estatele no chão como um andaime de bambus. Ficar quase cinco anos ininterruptos no lugar das Finanças faz mossa. Muitas noites sem dormir, muitas contas e números na cabeça, Eurogrupo para aqui e para ali, ainda por cima num país que não navega num mar de notas de euro.
    Apesar de toda a gente estar com Costa, muitos por conveniência da sua agenda política, o que não é o caso do autor do texto, ele perceberá do que falo, já a seguir, eu não estou assim tanto com ele. Estou mais solidário com Centeno, até porque o Novo Banco é uma realidade complexa, fruto de uma desastrosa resolução, tal como o Banif, da gestão Passos Coelho / Maria Luís Albuquerque, com o beneplácito do governador do BdP, Carlos Costa. O governo que se lhe seguiu, foi colocado perante um conjunto de inevitabilidades. Ou seja, praticamente sem opções que não a que veio a ser tomada. Por muitas propostas que o BE leve ao parlamento, agora pouca há a fazer.
    Aqui o problema é outro. Mário Centeno é a pedra basilar deste governo. Ele representa de facto aquela pedra do “Arco Romano” que o fecha, no topo, mantendo toda a estrutura em equilíbrio estável, sem que o centro de gravidade se desloque para fora do arco. E aí a Oposição, com especial incidência a direita, vai ter de esperar mais uns meses pela sua saída. Esse é o seu sonho. Mas têm de ter paciência, senhores. Vivem na expectativa de entrar alguém que tenha um pulso mais mole.
    Se calhar e mais uma vez, são capaz de ter azar.

  3. “Relachar”? O que é isso? Uma palavra que não existe na língua portuguesa!! Tristeza, tal a ignorância, Que tal voltar aos bancos da escola primária?????

  4. Nota. Senhor Vassalo, camarada Joaquim, ainda não li mas hoje as bacoradas começam no título: relaxamento escreve-se com xis, de relaxe (rachado é com CH, mas isso antigamente era porno da pesada que dava fogueira).

    #escolinha

      • Pois, seleccionado entre os erros maiores que há vários:

        injenuidade, será de inGénuo…?!

        ______

        Nota. Aliás, li e o que diz o Vassalo não presta para nada. Para além de ser um típico socialista, a precisar urgentemente de ir a um ervanário comprar uma caixa com pílulas para a memória, de não se perceber exactamente onde quer chegar (opõe-se à venda do Novo Banco, certo, mas, a seguir, faz dos outros otários para quem estejam prontos a comprarem toda a ganga de merda que tem aí na garagem…), ao estilo do Jumento despacho que deveria deixar as teclas do computador sossegadas durante a pandemia do Covid-19 e sentar-se na sala da sua maison, de lápis e borracha em punho, pronto a sorver as aulas de Português no #EstudoEmCasa.

        «Eduardo Galeano disse um dia que “A Memória é aquilo que torna o passado em presente”. E por isso, para não cometermos erros inúteis, temos que permanentemente a ela recorrer. E a memória mais recente, no que ao último Orçamento de Estado diz respeito e onde, como disse a referida verba vinha contemplada, é que tanto o BE como o PCP o aprovaram.

        Eles leram, eles estudaram o seu conteúdo e debateram o mesmo tanto na generalidade como na especialidade. A minha memória não tem presente qualquer objecção a esse prudente “item”, pelo que me soa agora a aproveitamento político, que não ouso chamar de ilegítimo, o verberar do facto.
        «A minha memória não tem presente qualquer objecção a esse prudente “item”, pelo que me soa agora a aproveitamento político, que não ouso chamar de ilegítimo, o verberar do facto.», hum?!

  5. Como diz RFC, este texto começa mal logo no início, quando alguém que escreve para o público em geral (dentro de um blogue que até pede donativos para se manter) mostra que não sabe nem procura saber como se escreve relaxar e partilham isto no facebook para “ajudar na cultura do povo portuguès”, certamente… Quanto ao tema político e económico em causa, o contributo do sr, Vassalo é muito limitado. E a resolução do Banco em 2014 em que isto estava tudo previsto (recurso ao fundo de resolução até 3,9 mil milhões de Euros)?? E o orçamento de Estado de 2020 em que a verba a transferir já está inscrita e prevista? No fundo, para mim, isto trata-se de apenas uma “peça de teatro” montada para português ver, entre Centeno e Costa, cada um com os seus objectivos que em breve certamente ficaremos a conhecer. José Lopes (Chamo a atenção deste artigo de Fevereiro do corrente ano: https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/injecoes-de-capital-no-novo-banco-de-298-mil-milhoes-desde-2017-estao-abaixo-do-previsto-no-acordo-de-venda-552945 )

  6. O autor do post, como A Estátua de Sal já referiu, não foi o autor do erro ! Mas é muito comum em algumas “franjas” dos portugueses, o chamado “síndroma de rebanho”…

    É aquela velha “história” de, quando mija um português, mijam logo dois ou três !

    • Toma lá, pázinho que eu já te aturo. Cagufa, …?

      Nota.

      Hoje dá-se um pontapé numa pedra e surge mais um elo da corrente subterrânea de tipo mafioso existente no PS, não por acaso na bela cidade de Aveiro: sabe-se entretanto que a senhora Cláudia Santos, não admirando portanto que a sua defesa tenha sido assegurada pela Isabel Moreira e pelo Pedro Delgado Alves, casado com a filha do Sarranceno, perdão, do Serrasqueiro, dizia, foi a n.º 2 da lista do PS na terra dos ovos moles e onde medram a Virgínia da Silva Veiga e o soturno Carlos Costa Pina, um peixe-graúdo socratista que foi o seu ex-secretário de Estado do Tesouro e Finanças e que, hoje por hoje, [se] administra na GALP.

      Ora bem, que rico cadastro!

      O currículo

      Cláudia Santos vai
      mandar na disciplina da
      Federação de Futebol.
      Deputada do PS desde
      2019, a professora de
      Coimbra é a autora de
      pareceres jurídicos com
      que José Sócrates
      tentou destruir em 2017
      a Operação Marquês.

      Fonte: Sábado, 14.5.2020, p. 43.

      #carregaPS
      #carregaAnaGomes

    • Adenda.

      Ó d’A Estátua, olha aqui: acreditas em mim se te dicher que estive durante toda a madrugada a penchar profundamente nas implicachões dessa chena da camarada Cláudia Santos à frente da merchearia, ou atrás do balcão?, da Federação Portuguesa do Futebol?

      Pois é, acreditas que nem preguei olho?, ora bem, faltavam para aí chinco minutos para as chinco da matina, como te acontecheu a ti, abri os olhos, ouvi um estrondo e vi finalmente a luz…

      Tu não estás a ver bem, pá, foi durante eche caleidoscópio madrugador que churgiu o Grande Injenheiro José Sócrates, o antigo coveiro Rui Pedro Choares da Portugal Telecom, o actual coveiro Rui Pedro Choares da Belenenses SAD, os camaradas Abreu, o Vachalo e o Joaquim, a dona Veiga, a Chilva e a Virgínia, a perchonagem Valupiana, o seu pagem Jochécé Neves, a dondoca d’Um Jeito Mancho, e os mochos de fretes o Pau Preto e o medricas… José do Remanscho Pernalta.

      E a convercha foi achim, chegue-me o rachiochínio:

      – Rui, olha o que eu te digo, tu toma noção, pá, agora com a camarada Cláudia na Federação juro-te, prometo-te, garanto-te, que o teu Belenenches SAD vai ser campeão!

      – ?!

      – Sim, porra, é isso mesmo: prepara-te que não falta muito, amigo, querido camarada, ó Rui Pedro… Nem o Benfica, nem o Porto, nem o Braga! Be-le-nen-ches, o teu, o nosso, o de Lisboa… E prepara-te que tudo isso vai acontecer rapidamente!

      – ?

      – Sim, pá! Eu juro-te, prometo-te, garanto-te, que o teu Belenenses SAD ainda vai orgulhar o Matateu, os tempos do Thomaz e que será merecidamente campeão…

      – …

      – Sim, pá!, digo-te que vai ser campeão, ou eu não me chame José. Pensavam que eu estava morto, não era?, pois eles não sabem que eu me chamo José Sócrates…

      – …

      – Sim pá!, tem de ser… Um Belenenches campeão, rapidamente, antes de eu ir preso outra vez… Pprometo-te!

      Neste momento abracharam-se os dois, orgulhosos, o Vachalo e o Neves juntaram-se à família comovidos, entre as outras fãs mais senchíveis, a Virgínia, o/a Valupi e a dondoca d’Um Jeito Mancho choravam copiochamente e enquanto isso, aparvalhados, o Pernalta e o Pau Preto davam vivas ao Guimarães.

      Porreiro, pá!

      🙂

        • Epá, é verdade, fica já aqui publicamente expresso que não sou sonâmbulo, sublinhado!, não vá eu aparecer um dia destes numa valeta… Senhores do MP, ouvem o que eu digo? Entretanto, olha isto: o gajo de vez em qiuando mete-se com o-o…

          ______

          Eremita, Eremita, Eremita.

          Statement, dá-te por satisfeito de te darem umas conversas assim jeitosas (das que arranham).

          “O seu pagem José Neves está para o Valupi, no Aspirina B, como o seu escudeiro Caramelo antigamente estava para o Eremita, no Ouriq.”

          Nem mais.

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