Em vez de sabonetes, Ventura vende polícias

(Bárbara Reis, in Público, 21/11/2019)

Quantos polícias estão na rua e, desses, quantos estão expostos a situações de risco que justifiquem o uso de colete antibala? Parece um segredo de Estado. O que se sabe é que a criminalidade violenta diminuiu 40% nos últimos dez anos e que, em 2018, dos 45 mil homens e mulheres que trabalham nas forças de segurança só houve seis feridos.


Não é por acaso que o deputado do Chega se agarra aos polícias com unhas e dentes. André Ventura fez Direito na Universidade Nova de Lisboa com 19 valores e doutorou-se no University College Cork, na Irlanda, que está 300 lugares acima da Nova nos rankings internacionais.

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É por ser inteligente que Ventura sabe que usar os polícias é uma boa estratégia para ganhar poder. Alguns polícias terão votado no Chega — quando chumbou o registo inicial do partido, o Tribunal Constitucional disse que havia centenas de assinaturas de polícias. Mas isso é quase irrelevante. Há 45 mil pessoas nas forças de segurança e o Chega teve 67 mil votos. Mesmo que todas “as polícias” tivessem votado nele — hipótese absurda —, faltariam 22 mil eleitores.

Relevante é a forma como Ventura usa o marketing e manipula a realidade. E como, para esse objectivo, os polícias são presa fácil. Ventura quer chamar a atenção. Para ser notado, a cada frase que diz no Parlamento grita “é uma vergonha!” Na semana passada, disse que é “uma vergonha” haver polícias que compram “do seu próprio bolso” algemas, coletes de protecção balística e gás pimenta. O primeiro-ministro, António Costa, respondeu-lhe que devia “mudar de informador”, porque o informador que usava era “mau”. Esta semana, Ventura regressou ao tema e levou “as provas” para o Parlamento: facturas. “O primeiro-ministro mentiu aos portugueses: disse que os polícias não têm de comprar equipamentos para si. Aqui estão as facturas, de dezenas de polícias, da compra de material pago do seu bolso. Vergonha, sr. primeiro-ministro! Vergonha, sr. ministro da Administração Interna!”

São frases sexy para as redes sociais, mas é demagogia venenosa. Qualquer criança percebe que as facturas provam que os coletes foram comprados, mas não provam que os coletes sejam necessários. Alguém perguntou a Ventura se era mesmo preciso comprar aqueles coletes?

Em Portugal há 20 mil “efectivos” da PSP, 22.829 da GNR, 1224 da Polícia Judiciária, 859 do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e 525 da Polícia Marítima: 45 mil “polícias”.

As facturas provam que há falta de coletes no país ou apenas que “dezenas de polícias” — num universo de 45 mil — compraram um colete diferente do que lhes é dado pelo Estado?

Os coletes de protecção balística são motivo de frustração entre alguns polícias — nisso Ventura está certo. Recolhi vários protestos nos últimos dias: os coletes são partilhados e atribuídos por carro de patrulha e por isso os “patrulheiros” recebem-nos sujos dos colegas do turno anterior. Apesar de serem usados em cima da farda, há queixas de que os coletes ficam suados e cheiram mal. Há coletes fora de prazo. Há coletes sem bolsos e isso é um problema no caso das fardas que não têm bolsos. Na GNR, há coletes para mulher, mas na PSP não. Isso é tudo verdade e merece respostas do Governo.

Coisa diferente é falar dos coletes à prova de bala como se fôssemos a Síria. Não estamos em guerra, não somos o Brasil, nem os Estados Unidos, onde há mais armas do que cidadãos e dezenas de polícias mortos por civis e centenas de civis mortos por polícias todos os anos.

Em Portugal, no ano passado, houve 13.981 participações de criminalidade violenta, uma descida de 8,6% em relação a 2017 e de 42,5% em relação a 2008. Os crimes violentos são 4,2% de todos os crimes. É o que diz o último Relatório Anual de Segurança Interna, feito pelas “polícias”. Foi também nesse documento que aprendi que, em 2018, “em resultado da actividade operacional, registaram-se, nas Forças de Segurança Pública, seis feridos com necessidade de internamento e 1159 feridos ligeiros”. Seis feridos em 45 mil “efectivos”.

Ventura sabe tudo isto, mas estes números não lhe interessam. Fala dos coletes antibala para dar nas vistas. Como David Bowie quis dar nas vistas no início da carreira e anunciou que era gay ou a psicóloga que esta semana publicou um livro cujo título é Como sobreviver a um chefe idiota. Nos truques da popularidade, é tudo simples.

Mais interessante seria saber quantos elementos da PSP estão em posições de risco no seu dia-a-dia, um risco que justifique o uso de um colete antibalístico. Todos os 20 mil polícias? Claro que não. Os polícias da Equipa de Prevenção e Reacção Imediata (EPRI), os motards da PSP, precisam de coletes. Os polícias da Unidade Especial de Polícia (UEP) também. Os GOI a mesma coisa. Como também para os “patrulheiros” de certos lugares, em certos dias, a certas horas. Mas não para todos. A polícia conhece os padrões de violência e é com base nessa análise que uns polícias recebem subsídio de risco e outros não. As necessidades de equipamento antibalístico são calculadas com base na mesma informação. Pode haver um tiroteio na Avenida de Roma a um domingo à tarde. Mas a probabilidade é de 0% ou de 50%?

O dinheiro público tem de ser distribuído com sabedoria. Em vez de discutir coletes antibala num país onde há poucas balas, Ventura podia propor soluções para tirar os 500 PSP e GNR que trabalham nas 128 cantinas policiais e podiam ser mais úteis na rua, um esforço que repetidos governos são incapazes de concretizar. Ou uma reforma que reduzisse a burocracia de uma profissão cuja essência é ser operacional.

Para falar de coletes, é preciso saber quantos polícias são “administrativos”, quantos estão na rua e, desses, quantos estão expostos a um risco razoável. Chateei meio Portugal à procura da resposta e do rácio ideal colete/operacionais definido pelo Estado. Não consegui. O MAI diz que há 18 mil operacionais da PSP, mas que “operacional não significa estar na rua”. São quantos? O Governo não responde. Há falta de coletes? O Governo não responde. Os que compraram coletes fizeram-no por capricho, ou conforto ou fetiche, mas não por necessidade? Quantos coletes estão fora de prazo? E gás de pimenta? O Governo responde que nos últimos meses comprou quatro mil coletes balísticos e “29 mil fatos e equipamento de protecção, como luvas, capacetes, bastões”, no valor de 15 milhões de euros. Mas não responde à pergunta simples: há falta de coletes? Se é mentira, deve ser desfeita. Se é verdade, deve ser assumido.

O vazio só ajuda ao populismo de Ventura. Fico com a sensação de que as polícias não querem dizer quantos dos 20 mil estão “na rua”, porque isso evidenciaria o seu sedentarismo e necessidade de reorganização radical. E que o Governo não quer dizer isso, porque exporia a incapacidade para impor a reforma. Uns a seguir aos outros, diferentes ministros de Administração Interna dizem que vão tirar os polícias da secretária e pô-los na rua. Mas não conseguem. Porquê?

Em vez de gritar que “é uma vergonha”, Ventura podia estudar qual o rácio ideal dos coletes, como fizeram os defensores do reforço do Orçamento do Estado na Saúde, quando pediram ao Governo para cumprir o rácio europeu de seis aceleradores lineares por milhão de habitantes (temos 3,98), essenciais para os doentes com cancro. Mas isso é pouco sexy e difícil de postar no Facebook. É mais eficaz criar alarme e confusão. Em vez de sabonetes, Ventura vende medo e polícias. É o que lhe dá lucro.


29 pensamentos sobre “Em vez de sabonetes, Ventura vende polícias

  1. É certo que Portugal não é a Síria nem os liberais EUA, mas será que a esquerda pensa que é o paraíso?

    E o texto começa por dizer que em 2018 só houve 6 feridos mas depois afinal, além desses há mais 1159!!!!!!!!!!!!

    Mas para a Bárbara, mulher macho men ao nível de um Rambo, só contam os que ficaram hospitalizados.

    Mas só os feridos graves que ficam hospitalizados contam?

    Ficar sem uns dentes ou com um olho negro não é um ferimento ?

    Imaginemos por exemplo um golpe de faca que “só” precise de 20 pontos na barriga. O policia não fica hospitalizado por causa disso. Mas um ferimento desses não tem importância por o policia não ficar hospitalizado ?

    A menina Bárbara que experimente em casa, com uma faca de cozinha. Nada de grave, que precise de internamento, apenas uns pontos. Só para ver se no seu PRÓPRIO CORPINHO já dá valor ao sofrimento.

    Posto isto, fica o problema de fundo.

    A obsessão da esquerda contra a policia e a segurança em geral, então se meter minorias entra na verdadeira histeria, desatando a chamar fascista e racista a toda a gente, é o principal combustível da extrema direita.

    Estamos a levar com trumps, bolsonaros, venturas e le pens, por causa de artigos idiotas como este, em que mil cento e tal feridos passam a seis, prender quem deite bebés ao lixo é “machismo”, achar escandaloso que tomar de assalto um quartel de bombeiros e espancar os bombeiros de serviço é “racismo” porque o gang que fez esta agressão coletiva é de etnia cigana e como tal não pode ser criticado etc etc etc.

    São pessoas como esta Bárbara, a Joacine, o Daniel Oliveira mais um exército de idiotas que estão a alimentar o aparecimento dos venturas.

    Será que é por estupidez concentrada ou é de propósito?

    Um extremo precisa de um ambiente de confrontação social, precisa do outro extremo para se justificar, alimentar, crescer.

    A esquerda está propositadamente a alimentar a extrema direita?

    Isto não é a Síria mas a esquerda gostava que fosse?

    PS

    Classificável para as Olimpíadas da idiotice, aquela frase de que há policias a gastar dinheiro dos seus enormes ordenados para comprar coletes, por “fetiche”.

    Só esta frase já deve ter ganho dez votos ao Ventura.

    Será só por estupidez?

    • “Será que é por estupidez concentrada ou é de propósito” que compara situações incomparáveis e associa pontos de vista a pessoas que nunca os tiveram? Responder a moinhos de vento, não, obrigado.

      Pagar melhor à polícia, comprar-lhes a merda da farda e oferecer treino contínuo é incontornável (como ao resto da FP), senão o serviço também não melhora.

      • Não?

        Qual é o efeito que pensa ter na maioria da população, o bloco, o Livre, o Daniel Oliveira, a Joacine e milhares de outros terem-se posto automaticamente do lado de um marginal cadastrado que apedrejou um polícia, só porque o tal marginal é imigrante ou descendente de imigrantes?

        Qual é o efeito na população de menosprezar a policia, chamando-lhe “fetichista” por querer coletes, ou os bombeiros, fingindo que não tem importância nenhuma espancar toda a guarnição de um quartel e bombeiros, só porque os agressores são de uma raça “bem” para a esquerda?

        Se vocês fossem pagos pelo Ventura não faziam melhor.

        Foram VOCÊS que o fizeram eleger.

          • Conversa fiada.

            No caso do policia apedrejado queriam era prender o policia e fizeram do agressor um herói nacional, com direito a selfie presidencial e tudo.

            E tanta indignação contra o policia mas tudo muito caladinho com a tomada de assalto e espancamento de um quartel de bombeiros inteiro, seguida de agressões contra tripulantes de uma ambulância na mesma semana.

            Se vocês não estão a fazer de propósito e é mesmo por inconsciência da figura triste que andam a fazer, informo-o que essa figura abjeta está a alimentar o Ventura, que se farta de rir cada vez que vocês se colocam do lado de criminosos só porque são imigrantes ou até um pouco mais morenos.

            • Srº Pedro para com esse conversa demagoga e falsa! Ninguém defende que um infractor deve ser absolvido só porque é de uma minoria! Isso é conversa de xaxa espalhada pelos Venturas deste mundo e por pessoas desinformadas que neles acreditam. Informe-se pelas verdadeiras razões e do que realmente acontece em vez de ir na conversa só porque viu o titulo de uma publicação sem sequer ler o resto do texto. Já chega de parvoíce de pessoas como você! Irra!!!

              • Não é espalhada pelo Ventura.

                Não precisa de o fazer.

                Tem o Daniel Oliveira, a Joacine, etc a meterem-se a favor de criminosos só porque porque pertencem a etnias diferentes.

                E parvo é você que nem vê que está a trabalhar para o Ventura.

                Ao pé de vocês ele é um génio.

                E olhe que o gajo nem sequer é inteligente.

  2. “Qualquer criança percebe que as facturas provam que os coletes foram comprados, mas não provam que os coletes sejam necessários.” – sim, porque os policias, que já ganham tão mal, gostam de comprar artigos caros de que não precisam! Que excelente análise, não haja dúvida… Infelizmente, sr Editor, o que me parece é que qualquer pessoa que venha à Estátua e leia artigos como este fica a simpatizar um pouco mais com André Ventura!

    • Infelizmente é verdade.

      Ainda não percebi se esta gente é mesmo burra ou se faz de propósito.

      Se calhar querem mesmo o ressurgimento do fascismo para depois se apresentarem como os “salvadores”.

      Uma sociedade pacífica não convém aos extremistas.

  3. E chamam inteligente ao Ventura? Certamente aqueles que lhe batem palmas e lhe gritam o nome.
    O grotesco da criatura é visível pelos comentários da bola. Em política é uma Cristas de calças,veremos onde vai parar .
    E se os portugueses se deixam empolgar por tal carácter será saudável que passem por um purgatório que lhes melhore a visão e o entendimento.
    Este bicho careta tem muito que andar para emparelhar com o Botas ou com o Marcelo padrinho…e este último foi de avião até à Madeira e o Brasil…O Ventura embarca no Montijo,voa através da passarada e quem sabe onde irá fazer ninho!

  4. O artigo de Bárbara Reis (que não conheço), desmascara o bonifrate fascistóide, arruaceiro e provocador, é bem documentado e pormenorizado quanto ao que se passa VERDADEIRAMENTE nas polícias, e também não poupa o governo, as suas deficiências e “hesitações” ! É, como compete a um(a) jornalista, uma análise isenta e descomprometida !

    • Hum?

      Nota. Ó Pernalta, olá!, #pardalito mas servo de #pardalões…

      14.11.19 e depois.

      a.

      Nota. Hoje o Daniel Oliveira apaparica a Fernanda Câncio. É o dois em três: elogia uma das principais responsáveis pela destruição do DN, dá graxa à Global Media/TSF e despachou mais um chouriço, no Expresso, assim amealhando uns trocos de quem não tem nada a ver com isso.

      b.

      «André Ventura é uma consequência dos escândalos em que José Sócrates e a sua pandilha estão enredados e, ainda, da desesperança dos eleitores portugueses perante o desinteresse manifestado pelo António Costa face à cultura de corrupção do aparelho partidário do PS», tese.

      c.

      Adenda. Agora pega nessa tese, Daniel Oliveira, deixa-te de floreados e usa a cabeça para veres o artigo-revelação (editorialmente) de merda assinado pela Fernanda Câncio como o exemplo-maior desse desconforto disfarçado de horror.

      Adios.

      • Adenda.

        Escândalo do Lítio em #Montalegre – III Parte

        Notas. Isto é um caso de polícia, mas também de política; e, hoje, o João Galamba ficou mais perto da porta de saída. Inacreditável!

        https://www.rtp.pt/play/p5338/e440506/sexta-as-9

        As ligações locais [tradução: a autarcas e dirigentes locais do PS, principalmente], os favores e a “fachada” ambientalista do contabilista Ricardo Pinheiro que ganhou a polémica concessão da mina da Cepeda.

          • Hum?

            Nota. Pedrinho: como ambicionas ser guarda fiscal, pergunto-te se tens algum fétiche ou se gostas apenas de fardas? Ou gostarias de ser porteiro de algum jornal, como o antigo contínuo que deveria ir à redacção d’A Lucta, do Brito Camacho, e que marchou direitinho a caminho do Coliseu?

            … eis uma coisa nova, escreve.

    • Granda elogio ao artigo.

      Qual é a parte que achou mais inteligente?

      Chamar “fetichistas” aos policias obrigados a comprar coletes do seu bolso ou que mil cento e tal policias feridos num ano é muito pouco porque só contam os 6 que ficaram hospitalizados?

      Oiça lá, vocês trabalham todos para o Ventura?

  5. O facto do Ventura ter acabado o curso com 19 num Universidade portuguesa é tão indicativo da sua inteligência como da sua capacidade de cabular e copiar. Das muitas coisas valiosas que aprendi na universidade foi que grandes notas têm vários sinónimos. Num curso de Direito ainda por cima? Esperteza não lhe falta, isso cedo mas a inteligência é bem mais subjectiva nesse sentido…
    A direita andou décadas a semear para o Ventura aparecer agora do nada a colher a ignorância galopante na sociedade portuguesa. Não nego que estas situações não mereçam discussão, muito pelo contrário até, mas honestamente, não é para isso que o parlamento serve? Obviamente que a questão da segurança das forças de segurança é crítica, mesmo no 3º país mais seguro do mundo, ou seja lá qual for o último ranking que ande por aí. Mas ter um palhaço populista como o Ventura aos berros na berma apenas retira legitimidade à questão. Se realmente se preocupa com o assunto, porque não produzir legislação? Já que conseguiu o poleiro no Parlamento, que tal usar o poder e a influência que dele advém para fazer algo que tenha impacto. Gozem o que quiserem com o PAN mas eles pouco tempo perdem com gritarias e destruição de vestes na praça pública. O PAN achou que não era bom ter as ruas cheias de beatas e mexeu-se como era suposto nesse sentido: em vez de passar 3 semanas na CMTV a chorar antes da análise do último jogo do Benfica, a malta do PAN arregaçou as mangas e hoje atirar beatas para a rua dá direito a multa. Ponto. Os que discordaram lá fizeram o choradinho do costume mas o que é certo é que já passaram uns quantos meses e as ruas andam cada vez mais limpas.
    Que o objectivo do Ventura nesta questão é outro, pois, isso é bastante claro. Porque se fizesse como o PAN e conseguisse aprovar legislação nesse sentido, poucos se dariam ao trabalho de o reconhecer e ele arriscava a passar por apenas mais um político, o que seria equivalente à sua morte. É óbvio que se cria muito mais impacto no meio de uma multidão aos berros sobre um problema que, aparentemente, até não é assim tão grave quanto as lágrimas de crocodilo e os restos das vestes rasgadas na calçada parecem indicar.
    Mas esta questão envolve polícias e qualquer aspirante a ditador sabe perfeitamente que sem a polícia e/ou exercito do seu lado tão depressa não dita nada. Alguém acham mesmo que o Ventura foi para o parlamento para influenciar legislação? Fortalecer a oposição? Dar voz aos racistas, grunhos e extremistas da nossa sociedade que seja? Claro que não. O Ventura leu o Mein Kampf no ano de caloiro e sabe bem que o parlamento é o primeiro passo para a ditadura. Ele sabe que, tal como Hitler e muitos outros antes, ainda vai ter uns quantos anos de humilhação pela frente como o representante oficial de todos os idiotas portugueses na Assembleia. Faz parte do processo. Mas mais tarde ou mais cedo (que olhando para a conjuntura económica mundial neste final de 2019, parece ser mais cedo que tarde) lá virá a tal crise económica, que nada terá a ver com ciganos ou negros, tal como o crash de Wall Street de 1929 nada teve que ver com os judeus alemães, mas que colocará à mercê da sua retórica racista as massas de portugueses facilmente influenciáveis, pouco educados, avessos a qualquer esforço intelectual mas desesperados por uma explicação do porquê da sua mais recente miséria. Foi assim que Hitler passou de um político irrelevante, o palhaço de serviço do Bundestag para o adorado Führer de uma nação industrializada de milhões em meia dúzia de meses. É perigoso ignorar que todas as sociedades estão constantemente sob este risco. Se o Ventura pode ter sucesso neste sentido no futuro, só o tempo o dirá. Mas entretanto, este tipo de eventos populistas é como ter o idiota da aldeia a dormir no celeiro rodeado de velas acesas. Não agouro nada de bom…

    • Essa menção à nota fez-me lembrar a estória dos meus tempos de faculdade, provavelmente com alguma verdade *, que empresas como a Sonae não contratavam pessoas com média acima de X, porque isso era sinal que eram pessoas que só eram boas a decorar.

      * Ser teoria de preguiçosos não faz muito sentido, em 2004(?) ainda havia menos falta de oportunidades para informáticos da FEUP.

      • Adenda. Acrescento que a calinice ou que a nabice são afinal elogiosos, ó Infante. Apontando directamente para o artigo de merda da Fernanda Câncio saído no merdoso DN, quem mais?, o Valulupi, quem mais-bis poderia ser?, acaba de partilhar no Aspirina B a última das suas quotidianas vigarices intelectuais. Não há cu que aguente, pois..,

        […]

        Agora, com os estreantes rivais em chungaria, alto e pára o baile. Saltam exercícios de aplaudida salubridade e apelo à razão e à decência. A pulhice entranhada no PSD e no CDS é para uso exclusivo, eis a lição do jornalismo político português. Afasto deste argumento sobre textos de opinião e reflexão o trabalho jornalístico sobre a tese de doutoramento do Ventura, o qual é uma típica investigação de jornalismo genérico e fundamental.

        Como se vê na notícia acima, apenas um exemplo e muito longe de ser o mais grave, o populista André Ventura é uma criação do populista Passos Coelho. O mesmo Passos que em 2010 promovia aeia de se julgarem e condenarem políticos por razões exclusivamente políticas. O mesmo Passos Coelho, de braço dado com Cavaco Silva, que em 2018 fez campanha para a recondução de Joana Marques Vidal sugerindo que tanto Costa como Marcelo pretendiam ser cúmplices de criminosos.

      • Então a direita não andou décadas a semear que tudo o que é gasto público é mau e tudo o que é funcionário público é preguiçoso comunista, atrelado à teoria de que tudo o que é privado, a começar na ICAR, é que é bom?
        Isto é a continuação do mesmo ódio, e o capital dá-se bem com isso.

        • Enquanto, claro, tudo o que é serviço público piora porque todos eles concordam em Bruxelas que o dinheiro deve ir para outro lado. Daí a alguém atirar dardos às minorias à maneira do Adolfo é um processo várias vezes repetido.

        • Nota. Ó Paulinho, meu menino: deves viver noutro mundo, andou mas é esse o principal argumento para que uma personagem como o André Ventura tenha brotado em Portugal? A primeira vez que abordei o assunto elenquei várias razões (o tempo dos populismos, o dos extremismos replicados no pós-Trumpismo), e, mesmo agora, poderia referir-te um slide em negativo que apresentasse os governantes e autarcas do PS que têm a fama, e o proveito!, de gastar e gastar mal (uma das frases é derramar dinheiro sobre os problemas, etc.), ou, ainda, o facto de a/s esquerda/s, o BE e do PCP, não conseguirem apresentar um discurso claro sobre a corrupção junto dos eleitores pois estavam condicionados pela Geringonça parlamentar, mas-mas-mas, mas é o cadastro de José Sócrates, Armando Vara e restante pandilha e o desinteresse de António Costa face ao problema daquilo a que eu tenho chamado a cultura de corrupção do aparelho do PS que é, para mim, o mais importante e o mais… palpitante.

          Agora dá-me descanso, e vê o Flamengo contra o River Plate na Sport TV.

          • Epá, o Ai Jesus que vá para a terra dele.
            Qual é a diferença entre o cadastro desses e de Isaltino, Portas, Marilú, Barroso, Dias Loureiro, Cavaco e por aí? Porra nenhuma, excepto a lavagem criteriosa da comunicação social, que é propriedade de quem tem interesses que nada mude. Enquanto eram alimentados por Sócrates e Salgado, tavam caladinhos, quando fizeram por eleger a Troika (Judite dixit) lá descobriram os podres. Mas nem violando o estado de direito vezes sem conta encontraram o como, tendo os Jacinto Capelo Regos já legalizado as portas do cavalo.
            Poupa-me, pá. A esquerda já apresentou, mais do que uma vez, medidas de controlo e transparência de capitais e fechar de portas rotativas, mas é sempre horrível porque ainda deixam de haver RERTs desaparecidos.

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