(Francisco Louçã, in Expresso, 13/08/2019)
(Vá lá, fanáticos cor de rosa, batam na Estátua à vontade, que publica o Dr. Louçã e que concorda com ele e acrescenta mais umas achas para a fogueira:
- Ninguém me convence que o Governo não poderia ter evitado esta greve. Bastava ter ameaçado a Antram com inspectores do fisco e da Autoridade para as condições do trabalho todos os dias nas empresas, para fiscalizar os subsídios pagos “por baixo da mesa” e os horários ilegais a que sujeitam os motoristas. Aposto que, se o tivesse feito, as negociações nunca teriam sido interrompidas e não haveria qualquer greve.
- Mas não. Esta greve está a ser usada pelo Governo, para mostrar ao povo da direita que pode contar com o “músculo” do PS para ser usado contra quem trabalha e contra quem protesta: votem PS, senhores empresários, o Dr. Rio é um falhado, a Dra. Cristas uma anedota.
- Mas não há bela sem senão. O país já não se assusta facilmente, como se tem provado nos últimos dias. É caricato e bizarro que o diabo que Passos invocou debalde, tenha sido agora convidado a entrar em cena, com passadeira vermelha e tudo, pelo Governo que supostamente iria ajudar a derrubar.
Comentário da Estátua, 13/08/2019)
Até esta segunda-feira, a cenografia em torno da greve dos motoristas tinha sido perfeita, um relógio suíço. Alto lá, dirá a leitora ou o leitor atento: mas há mesmo uma greve, provoca alarme social, incomoda quem está em férias, assusta quem anda com a casa às costas, isso não é só encenação. Certo, é muito mais do que encenação. O que há é uma greve que podia e devia ter sido evitada se tivessem ficado fixados calendários de negociação, se o pré-acordo de maio tivesse sido generoso, se o patronato não tivesse sentido desde logo que tinha uma parceria com o Governo e se tivesse sido concluído entretanto um arrastadíssimo processo negocial com o maior sindicato do sector. A pergunta que, por isso, fica no ar nos primeiros dias da greve é esta: e por que é que não a quiseram evitar e, pelo contrário, quiseram empurrar esta greve veraneante?
Pode-se dizer que aquele sindicato ajudou à festa. Não há dúvida. Os trabalhadores estão fartos de uma situação de vulnerabilidade com um salário-base baixíssimo e depois com subsídios e pagamentos dependentes da discricionaridade patronal. Quem trabalha no privado sabe bem como funciona este truque do salário de referência ser insignificante e ter depois complementos e subsídios vários. Os motoristas querem, portanto, uma resposta ao impasse salarial de tantos anos. Bem merecem essa justiça. Mas, como um dos sindicatos é representado por um presidente quase evanescente e por um vice-presidente que não é sindicalista, antes se anuncia com alguma pompa excessiva como o dono de um dos maiores escritórios de advogados do país, além de se ter logo alcandorado a candidato a deputado, foi fácil ao patronato e ao Governo acusarem os trabalhadores dos crimes mais nefandos. Na disputa da opinião pública, os motoristas entraram a perder.
Ainda por mais, e antecipando a greve, o Governo preparou a sua campanha meticulosamente. Tudo estava no seu lugar. Houve recibos de salários, bem selecionados, para serem exibidos nos telejornais: os motoristas ganham muito mesmo que ganhem pouco. Houve o anúncio da escassez, para lançar as pessoas para as filas desde uns dias antes da greve. Houve a contagem decrescente, como se se tratasse de uma tempestade devastadora e com hora marcada.
Houve a escalada de ministros em declarações sucessivas, poupando os que são os principais candidatos em outubro, Centeno nem vê-lo, vai ser precisa uma campanha em tom diferente e é bom que não se note a consequência da sequência, temos então Vieira da Silva em doses reforçadas, Eduardo Cabrita porque assim encerra o arreliador caso das golas, o primeiro-ministro nos momentos cruciais. E todos delicados, nada de empolgamentos, estão tão pesarosos como o professor primário do antigamente que aplicava reguadas às crianças, as marcações no palco foram minuciosas, todos recitaram o seu papel. O país, diga-se, não se assustou por demasia e, no fim de semana e no primeiro dia de greve, uma grande parte das bombas de combustível funcionava tranquilamente.
Só que o plano tinha de ser cumprido. Talvez então o relógio tenha sido forçado em demasia: não foi jogada inteligente fazer a requisição civil logo no primeiro dia. E muito menos pôr tropas a conduzir camiões logo passadas poucas horas. As fardas eram para ser notícia grandiosa, eram para assustar, só entrariam quando Portugal inteiro suspirasse pela autoridade de galões. Era para ser quando o país se declarasse nas últimas (curiosamente, é isso que conclui a assustada imprensa internacional, enquanto aqui nos entretemos com problemas mais comezinhos e nos perguntamos se chegou finalmente o mês de agosto). Mas o Governo quis comprometer o Presidente da República com a operação e, por isso, não esperou e requisitou a tropa. Sempre dá umas boas imagens de televisão.
Percebe-se a razão da aceleração do plano, os patrões gritavam por requisição e perceberam que a eles não lhes é pedido que cumpram a lei dos serviços mínimos, ao passo que o Governo aspirava a chegar a este momento culminante, foi para ele que trabalhou, e nestas coisas os conselheiros de imagem e os spin-doctors têm sempre pressa, não se pode deixar perder o pássaro que temos na mão. E assim se antecipou o momento dramático para o fim do dia de segunda-feira, a novidade durará ainda por hoje. Temos as fardas na rua. Só que a partir daqui é só repetição.
E, ressalvada alguma provocação de qualquer tipo, se o que fica é repetição, então é demasiado pouco. O Governo só consegue usar isto para cavalgar na sua ânsia de maioria absoluta, que é ao que tudo se resume, se houver emoção suficiente mas não excessiva, não pode parecer falso ou cínico, ou instrumental. Não se brinca com o país, isso devia estar escrito na parede do Conselho de Ministros. Se o Governo se deixa embriagar pelo sucesso das suas primeiras duas semanas de campanha eleitoral com este abençoado pretexto dos motoristas, em que conseguiu tudo, o risco agiganta-se. Até agora, calou a direita, fala sozinho nos telejornais de fio a pavio, neutralizou os outros sindicatos, raras vozes criticam a restrição ao direito de greve. Mas gastou demasiados cartuchos de emoção. E agora como vai manter o crescendo? Deixa banalizar a coisa, o tempo corre e não acontece nada, ninguém é preso, o pelourinho fica vazio, não há medo?
Para ser forte como racha-sindicalistas e para ser enérgico como a voz da autoridade, o Governo precisa de emoção doseada mas crescente. Se gastou todas as surpresas, se só sobrar a rotina das reuniões de emergência sem qualquer urgência, um dia destes acorda e ninguém ligará ao caso. E o dia 6 de outubro ainda vem longe.
Os treinadores de bancada falam todos da mesma maneira. É que pimenta no cu do parceiro é frescura pra eles…
«Não se brinca com o país, isso devia estar escrito na parede do Conselho de Ministros.» – Francisco Louçã.
Nota. Contesta exactamente que parte do artigo do Francisco Louçã, Manuel, ou quem empunha carinhosamente o pimenteiro desta vez é o tipo d’A Estátua de Sal? Factualmente o artigo é irrepreensível, é ler, a não ser que se ande a dormir no pedaço.
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«É caricato e bizarro que o diabo que Passos invocou debalde», hum, anda de balde ou é o diabo do António Costa que apareceu depois das férias no Allgarve com o seu jerrican cor de rosa na mão ó da Estátua?! 🙂
https://weglow.pt/3405-large_default/jerrican-tinta-fluorescente-paint-party.jpg
[…]
Quanto a consequências, posso adiantar-te já uma: o cabrão do Joaquim Camacho, que estava lançado para votar PS nas próximas legislativas, mudou de agulha e vai votar no Bloco ou na CDU, mais provavelmente no primeiro. Agradece a António Costa
https://aspirinab.com/valupi/vamos-la-a-saber-135/#comment-901854
Adenda. Até a troupe alcoolizada do Aspirina B dá alguns sinais de lucidez, pás.
https://twitter.com/FCPorto/status/1161380222140375041
Piores que tu, ó Joaquim Camacho!
Ajudava se o Costa não fizesse tantas vezes de amador, e nem sempre de propósito.
Boa análise do Louçã, como sempre, com um bom comentário da Estátua.
Também tu Louçã……….
Passo por esta página de vez em quando com o dedo a escorregar no écran e a olhar de soslaio! Tantos comentários do RFC! Tanto trabalho deste fátuo para nada! Ninguém o lê. O mesmo acontece com a estátua! Desde que se assumiu ela própria, na sua página, como anti PS e anti António Costa, perdeu a maior fatia dos visitantes/leitores/comentadores. Hoje é uma pagina assumidamente residual! Publica textos de todos os que são anti PS. É o Nogueira Pinto, da extrema direita, é o Daniel Oliveira da extrema esquerda, é a Ferreira Alves, é o Marques Lopes do Centro, etc, etc. São esses seus amigos todos que por aqui passam e passeiam tristes. E se aparece por aqui alguém bem intencionado a defender o PS, com qualidade, de tal forma que a estátua se vê obrigada a publicar, aplica o seu truque para tentar anular a mensagem: solta logo o mastim RFC o pseudónimo que utiliza para os ataques mais baixos ao PS, que ela ainda não quer assumir.
Vi levar nas nalgas, pá!
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Olha só, likas?
«Camacho: em homenagem ao direito à bebedêra colectiva, que é apanágio do Aspirina B, ainda não elegeram como patrono do blogue o Matos Fernandes? Olha que com aquele ar de bêbado, e a sua voz empastelada de bagaceira barata, o gajo é do melhor que há no PS… sempre que fala só sai merda, um fascista encapotado, com o António Costa agora vai tudo preso (e o Pardal Henriques deu-lhe o troco, de mansinho!).»
08h39
“Hoje ninguém vai cumprir nem serviços mínimos nem a requisição civil”
No Expresso, online.
Gosto da sua análise
Lúcia: o RFC gosta também de gostar e agradece-lhe (e enviou-lhe um xi, o maganão).
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Por tudo o que é dito acerca da greve dos trabalhadores de matérias perigosas sobressai a importância decisiva para o bem estar dos portugueses e da economia nacional do trabalho que estes homens (e mulheres?) executam.
Sem eles, sem o trabalho deles, pára não só um sector, mas muitos dos sectores da vida; sem eles “serão afectados pobres e ricos, gente da cidade e da aldeia, empresas de todas as dimensões, doentes e saudáveis, velhos e crianças. Sem combustível, serão afectados os transportes todos (públicos e privados), e com eles os serviços de emergência (bombeiros, socorristas e assistência médica), a agricultura e a pesca, as indústrias, escolas e hospitais, o abastecimento alimentar ao País, todo o sector do turismo (incluindo restauração), e até será afectada a operacionalidade das forças de segurança. Sem combustíveis por um período prolongado (e nem é preciso ser muito), não só se liquida o PIB como se coloca em grave risco o ganha-pão de centenas de milhares sob a ameaça de desemprego”
Sendo isto verdade, e nada me permite duvidar, NÃO COMPREENDO, ENTÃO, PORQUE É QUE A SOCIEDADE QUE RECONHECE A IMPORTÂNCIA DESTE TRABALHO QUE CONSIDERA VITAL PARA O PAÍS NÃO PAGA A ESTES HOMENS, POR 8 HORAS DE TRABALHO, UMA REMUNERAÇÃO BASE COMPATÍVEL. É que não basta dizer que a remuneração por 8 horas de trabalho é injusta e que têm razão. Estes homens e as respectivas famílias não vivem da razão que lhes queiram dar.
É preciso ser consequente com o que se afirma.
Moralistas que na primeira oportunidade nos atiram (atiraram) para os bracos dum senhorito dos passos
O que quer dizer RFC ?
Roto , Fanado e Corno ?
?
Nota. Pensas que estás a falar com o senhor teu pai, pázinho?
Dr Francisco Louçã !!que arrepios dá o seu comentário ‘OSenhor é mesmo um bardamerda
Fomos dados a assistir a um verdadeiro portento:
A extrema direita e a extrema esquerda de braço dado a defender o Direito absoluto à greve !
Lembra o antigo aforismo “Fiat Justitia ruat caelum” : Faça-se Justiça nem que caia o Céu. Agora é: Faça-se greve nem que o país rebente.
O tempora, o mores !
Ui?
… «a extrema direita e a extrema esquerda de braço dado», hum?!
Nota. Deves andar a bater mal da corneta (os seja, ainda pior), calambeque.
Numa linha oportunista, os oportunistas acomodam-se à burguesia, em virtude da sua natureza acomodatícia pequeno-burguesa,
e os «ortodoxos», por seu turno, acomodam-se aos oportunistas, no interesse
da «manutenção da unidade» com os oportunistas, no interesse da «paz no seio do
partido». O resultado era o domínio do oportunismo, já que o circuito entre a política
da burguesia e a política dos «ortodoxos» está fechado.
É assim no período de desenvolvimento relativamente pacífico do capitalismo, (Com os cumprimentos de José Staline para o F.Louçã, expressamente)
Enfim.