A sondagem que diz que vai haver nova “geringonça”

(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 22/04/2019)

Daniel Oliveira

As sondagens, como os resultados eleitorais, não se devem resumir ao quem ganha e quem perde. Não por uma questão de justiça ou de injustiça, mas porque essas leituras não nos dão uma grelha que permita analisar a realidade política e prever o futuro. Como tão bem se percebeu nas últimas eleições legislativas.

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Olhando para a última sondagem da Aximage, e pensando apenas na conjuntura política mais recente, há pelo menos uma coisa que parece evidente: o caso das famílias parece ter conseguido absorver os ganhos eleitorais dos passes sociais. A isto devemos juntar o razoável desinteresse pelas eleições europeias que faz com que o voto de protesto se mobilize, levando os governos a ter piores resultados. Isto quer dizer que, com a abstenção, as coisas até podem ser piores para o Governo. Uma das críticas feitas a António José Seguro foi não ter conseguido mobilizar o descontentamento numas eleições propícias a isso.

Segundo a sondagem, o PS conquistará 33,6%, o PSD 31,1%, a CDU 9,4%, o BE 8% e o CDS 6,8%. Registe-se ainda os miseráveis 1,3% da Aliança, que empata com o PAN. Em relação às últimas europeias, MPT e Livre desaparecem. Nas últimas Europeias, o PS teve 31,4%, PSD/CDS 27,7%, a CDU: 12,7%, o MPT 7,1% e o BE 4,6%. Nas últimas legislativas o PSD/CDS teve 38,4% (isto inclui o resultado do PSD-Madeira), o PS teve 32,3%, o BE teve 10,2% e a CDU teve 8,3%.

Olhando para esta sondagem concluiríamos apenas que é provável que se repita a “geringonça”, agora com o PS em primeiro mas muitíssimo longe da maioria absoluta. É o melhor resultado possível para quem defenda a repetição desta solução política

Façamos então a comparação com as últimas eleições para saber do que estamos mesmo a falar. Olhando para esta sondagem, o PS sobe 2% em relação às europeias e 1% em relação às legislativas. O PSD e o CDS, que concorreram juntos nessas duas eleições, sobem 10% em relação às europeias – o MPT teve 7% e isso explica a mudança – e descem 0,5% em relação às legislativas. A CDU desce quase 3% em relação às europeias e sobe 1% em relação às legislativas – é habitual ter mais nas europeias, beneficiando da abstenção. O Bloco de Esquerda sobe quase 4% em relação às europeias, quando viveu um dos piores momentos da sua história, e desce 2% em relação às legislativas – costuma ter mais nas legislativas. PSD e Bloco são os únicos a ganhar deputados.

Sabendo o que aconteceu nas últimas legislativas, talvez o mais importante seja mesmo olhar para os dois grandes blocos políticos. A direita mantém-se nos 38% em relação às legislativas e só sobe 10% em relação às europeias porque parece recuperar os eleitores do MPT. Os partidos da geringonça mantêm-se nos 51% que tiveram nas últimas legislativas e europeias. O que é surpreendente é a estabilidade do sistema e a aparente capacidade da direita absorver o voto de protesto em Marinho Pinto. Não estão aqui os novos partidos e não sabemos quem perderá mais com eles. Mas olhando para esta sondagem concluiríamos apenas que é provável que se repita a “geringonça”, agora com o PS em primeiro mas muitíssimo longe da maioria absoluta. Na realidade, este é o melhor resultado possível para quem defenda a repetição desta solução política.

Mas isto não invalida que a pré-campanha do PS tem sido miserável. António Costa é um desastre nestes momentos. Não sabe fazer campanha, não sabe prever problemas, não sabe empolgar o partido. É melhor na arte da negociação do que na arte da mobilização. Ou acorda agora, durante esta campanha, ou no fim de maio vai ter uma surpresa. Mesmo não mudando o cenário político, esta sondagem dá um elã ao PSD, que tenderá a mobilizar voto útil a esvaziar ainda mais o CDS. Sabendo que não regressam ao poder este ano, o grande objetivo será a vitória moral. Que daria, é bom perceber, uma botija de oxigénio a Rui Rio.

Um pensamento sobre “A sondagem que diz que vai haver nova “geringonça”

  1. Chega a dar pena o exercício feito por encomenda…estatística, com historia, com adivinhação…como comentador político este sujeito é um cozinheiro fraquinho!

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