A direita no seu labirinto

(Carlos Esperança, 14/01/2019)

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O PSD está em polvorosa, como é da tradição, quando está fora do poder e minguam os lugares para quem se julga ungido para os ocupar. Luís Montenegro cometeu um erro que dificilmente lhe será perdoado, desafiando o líder num dos piores momentos que o partido atravessa e quando o seu desespero pode acelerar a implosão, com benefício dos partidos à sua direita (do PSD, não de Montenegro, Passos Coelho ou Maria Luís).

Não é fácil ser homem de mão de Passos Coelho e tentar um golpe para fazer regressar à AR a tralha que vendeu as principais empresas do Estado ao preço da uva mijona.

A Dr.ª Cristas é a mais perseverante adversária do PSD, embora sem tropas e qualidades de comando, mas Santana Lopes, cujo passado autárquico, governamental e de gestor da Misericórdia de Lisboa devia ter vacinado os eleitores, pode ser o grande beneficiário da derrocada eleitoral do PSD, que Montenegro acelerou de forma canhestra.

Há na esquerda quem se sinta feliz com esta dissolução da direita, sem pensar que a pior direita ainda não apareceu. O Menino Guerreiro, num país de memória curta, pode vir a ser o fiel da balança, a roçar os extremismos que grassam na Europa. E até já se permite ser arauto da luta contra a corrupção. Quem diria!

O PR, com a enorme popularidade de que ainda dispõe, tem força e vontade suficientes para impedir a esquerda de crescer de forma consistente, mas mingua-lhe a capacidade para travar uma onda populista de extrema-direita.

A direita representa um terço das intenções de voto, mas tem enorme poder nos sectores económicos e financeiros, na comunicação social e aparelho de Estado, nos bombeiros e IPSSs, nas fundações e Ordens profissionais e, pasme-se, nos sindicatos selvagens que emergem através das Ordens.

A direita dissolve-se, sem ideologia nem projetos, e unir-se-á em torno dos interesses, enquanto a esquerda se digladia, com forte ideologia e projetos que tendem a dividem.

A agitação social, onde coexistem reivindicações justas, difíceis de atender, e exigências obscenas, indignas de acolhimento, têm constituído o caldo de cultura de que a direita precisa para eleger a ordem e a segurança como trunfos para eliminar direitos e incitar a rivalidade entre trabalhadores do sector público e do privado.

Em França já é claro que a grande beneficiada das manifestações dos coletes amarelos é a extrema-direita de Marine Le Pen. Espero que o exemplo seja vacina em Portugal.

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