A ONU assegura que a situação na Venezuela se deve a uma guerra económica

(Telesur/Tvnet in Resistir.info, 26/09/2018)

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(Este texto dá que pensar. É a prova de que vivemos num “matrix” comunicacional. A nossa comunicação social, que todos os dias nos bombardeia com imagens da Venezuela, fazendo-nos crer que Maduro é o pai de todos os males, não teve uma vírgula sequer para dar conta das conclusões deste relatório da insuspeita ONU. Sim, os EUA e companhia estão há anos a sabotar a economia venezuelana, conclui o relatório,  e são os verdadeiros culpados da crise humanitária que as televisões fazem gáudio de nos servir à hora do jantar. E ainda dizem que não há censura…

Deve ser por estas e por outras que Trump, anunciou recentemente que vai reduzir o financiamento americano à ONU. A verdade sempre incomodou os poderosos. 

Comentário da Estátua, 02/10/2018)


Num extenso Relatório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) as sanções e o bloqueio contra a Venezuela são comparados aos cercos contra as cidades na Idade Média.

No seu Relatório sobre a situação na Venezuela, a ACNUDH assegura que os problemas deste país são devidos em grande medida, à guerra económica e ao bloqueio financeiro contra o governo de Nicolás Maduro. 

Além disso, o documento compara as modernas sanções e bloqueios económicos contra a nação, “aos cercos medievais das cidades, realizadas com a intenção de forçá-las a se renderem”,

O texto é categórico ao apontar que na Venezuela não há crise humanitária ou crise alimentar.

O documento, publicado em 30 de agosto, foi preparado pelo perito independente enviado pela ONU, Alfred-Maurice de Zayas, no quadro da “promoção de uma ordem internacional democrática e equitativa”, após uma visita ao país entre 26 de novembro e 9 de dezembro de 2017. [1]

O objetivo da missão era examinar o modelo social e económico da Venezuela e formular propostas para contribuir para melhorar a situação dos direitos humanos, as tensões económicas e políticas geradas pela hiperinflação, escassez de alimentos e remédios e a emigração em massa, diz o Relatório

Zayas, afirma no texto que a sua tarefa era avaliar objetivamente a situação, com vistas a ajudar todos os povos interessados, limitando-se ao seu papel de escuta e reunião com todos os partidos, mencionando – entre outros – políticos da oposição e do governo, representantes da Câmara de Comércio, organizações governamentais e de oposição, ONG, representantes da Igreja, estudantes, académicos, professores, diplomatas. Além disto, parentes de detidos da oposição e familiares vítimas dos violentos protestos da oposição.

Guerra económica e bloqueio 

O perito salienta no seu relatório que “nos últimos sessenta anos, guerras económicas não convencionais foram travadas contra Cuba, Chile, Nicarágua, República Árabe Síria e República Bolivariana da Venezuela para fazer com que suas economias fracassem, para facilitar a mudança de regime e impor uma abordagem socioeconómica neoliberal, a fim de desacreditar os governos selecionados”.

No caso venezuelano, Zayas afirmou que “os efeitos das sanções impostas pelos presidentes Obama e Trump e as medidas unilaterais do Canadá e da União Europeia agravaram direta e indiretamente a escassez de medicamentos”, indicando que “as sanções económicas causaram atrasos na distribuição (de alimentos, medicamentos e necessidades básicas) e contribuíram para muitas mortes “, medidas que ele apontou como crimes contra a humanidade. “As sanções económicas matam”, disse.

Foi ainda lembrado que “as sanções económicas que afetam as populações inocentes infringem o espírito e a letra da Carta das Nações Unidas”, pelo que sugeriu uma investigação adequada sobre a ingerência internacional na Venezuela.

Apesar disto, Zayas mencionou que em 2017, o governo de Nicolás Maduro solicitou assistência médica ao Fundo Global de Combate à SIDA, Tuberculose e Malária, a qual foi rejeitada com o argumento de que a Venezuela “continua a ser um país de altos rendimentos”.

Zayas indicou também que entre os fatores que afetam a Venezuela, devem ser considerados:

  • A dependência da venda de petróleo e o efeito devastador da queda acentuada dos preços do petróleo.
  • O efeito cumulativo de 19 anos de guerra económica contra os governos socialistas de Chávez e Maduro, que ele comparou com as medidas adotadas entre 1970 e 1973 contra Salvador Allende no Chile e na década de 1980 contra Daniel Ortega na Nicarágua .
  • O bloqueio financeiro, comparável ao que afeta Cuba desde 1960.
  • Os efeitos das sanções económicas impostas desde 2015 pelos Estados Unidos e a União Europeia contra a Venezuela, “agravaram muito a escassez de alimentos e medicamentos, causaram sérios atrasos na distribuição e desencadearam o fenómeno da emigração maciça para os países vizinhos “, diz o documento.

    Falsa crise humanitária 

    O enviado foi categórico ao apontar que o que acontece na Venezuela é “uma crise económica que não pode ser comparada às crises humanitárias em Gaza, Iémen, Líbia, República Árabe da Síria, Iraque, Haiti, Mali, República Centro-Africana, Sudão do Sul, Somália ou Myanmar, entre outros.”

    Aliás, ele lembrou que a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) divulgou dois relatórios recentes – em dezembro de 2017 e março de 2018 – indicando que a Venezuela não está entre os 37 países que mundo que estão a passar por crises alimentares.

    Noticias falsas sobre a Venezuela 

    O diplomata comparou as sanções e os bloqueios económicos modernos, “com os cercos medievais das cidades, com a intenção de forçá-las a renderem-se”.

    Para isso, disse, essas sanções são acompanhadas da manipulação da opinião pública através de “falsas notícias”, relações públicas agressivas e retórica pseudo-humanitária.

    Expressou também a preocupação com a desinformação internacional que existe acerca do país, que ele descreve como “uma campanha mediática perturbadora (que) procura forçar os observadores a uma visão preconcebida de que há uma” crise humanitária “na República Bolivariana de Venezuel”.

    “Um especialista independente deve ser cauteloso com o fraseado hiperbólico, tendo em conta que a “crise humanitária” pode ser usada como um pretexto para a intervenção militar”, disse o enviado da ONU.

    Durante meses, mas reforçada nas últimas duas semanas, a Venezuela tem sido vítima de uma poderosa campanha propagandística destinada a impor a narrativa de que existe uma “crise de refugiados.”

    Números do ACNUR (Alto Comissariado da ONU para os Refugiados) e OIM (Organização Internacional para as Migrações) desmontam a crise dos refugiados” [2]

    Conclusões e soluções 

    Zayas diz no documento, citando a Carta das Nações Unidas, que:

  • Os princípios da não intervenção e não ingerência nos assuntos internos dos Estados soberanos pertencem ao direito internacional consuetudinário.
  • Nenhum Estado poderá usar ou encorajar o uso de medidas económicas, políticas ou outras para coagir outro Estado a fim de obter dele a subordinação do exercício de seus direitos soberanos.
  • Nenhum Estado ou grupo de Estados tem o direito de intervir, direta ou indiretamente, por qualquer motivo, nos assuntos internos ou externos de qualquer outro Estado.
  • É proibida a intervenção das Forças Armadas e qualquer outra forma de interferência ou tentativa de ameaça contra a personalidade do Estado ou contra os seus elementos políticos, económicos e culturais.Para o perito, a solução para a situação venezuelana “está nas negociações de boa fé entre o governo e a oposição, o fim da guerra económica e o levantamento das sanções”.

    Para isso, pediu para serem retomados os diálogos entre o governo de Nicolás Maduro e a oposição; reuniões constantemente convocadas pelo executivo, mas que receberam o negativo da contraparte.

    Neste sentido, destacou o trabalho realizado sobre o tema pelo ex-primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, com o apoio do Vaticano, como mediador dos partidos na Venezuela.

    Zayas recomendou ao governo “continuar os esforços para o diálogo com os partidos da oposição, promover o retomar das negociações na República Dominicana (…) e promover a reconciliação nacional, libertar prisioneiros, concedendo comutações de sentença”, bem como, convidando “outro titulares de mandatos de procedimentos especiais para visitar o país, além dos relatores que já foram convidados.”

    Além disso, apelou aos países de todo o mundo para ajudar: “A solidariedade internacional com o povo venezuelano deve facilitar o livre fluxo de alimentos e medicamentos para aliviar a atual escassez. A ajuda deve ser genuinamente humanitária e não perseguir fins políticos ulteriores, acrescentando que “os Estados ricos deveriam facilitar a assistência humanitária em coordenação com as organizações neutras”, porque “a prioridade é como ajudar efetivamente os venezuelanos respeitando a soberania do Estado”.

    Para fazer isso, ele pediu à Cruz Vermelha, Caritas e outras organizações para terem em conta o seu pedido para coordenarem a importação e distribuição de ajuda, acrescentando que “as agências das Nações Unidas devem prestar serviços de consultoria e assistência técnica ao Governo”.

    [1] Perito da ONU visita a Venezuela e o Equador para avaliar o progresso económico e social 
    [2] Misión Verdad. As notícias falsas mais vendidas sobre a Venezuela são desmontadas pelo ACNUR e pela OIM: a “crise dos refugiados venezuelanos” não é nada disso”.. bit.ly/2M1km85 

    Ver também:

  • Venezuela condena o plano intervencionista e responde aos EUA: A Revolução Popular faz-se respeitar
  • Venezuela denuncia cinismo dos que exercem bloqueio e oferecem “ajuda humanitária”
  • Venezuela presta ajuda a mais de 600 migrantes equatorianos na Venezuela
  • Suécia solidária com a Venezuela face à guerra económica
  • Cronologia: O caminho do diálogo na Venezuela

9 pensamentos sobre “A ONU assegura que a situação na Venezuela se deve a uma guerra económica

  1. Então e a corrupção não lhes diz nada? Estes analistas da treta parecem ignorar que o Maduro, tal como o Lula, nem sequer são de esquerda. Eles, tal como o louco Coreano do norte, Putin, Evo Morales . e outros não são de esquerda, são populistas, corruptos. A ideologia deles é roubar. Vai mal a estátua de Sal que parece estar a soldo da corrução. Para que conste, eu não me revejo na direita.

    • Você conhece algum “anjo” à face da terra, de direita ou de esquerda? Meu caro, a corrupção não é nenhuma ideologia política, mas os populistas andam a levar muitos, como você a “engolir” essa patranha. O São Francisco de Assis já morreu há muito tempo e até os “santos” actuais são pedófilos. Caia das nuvens e que não se estatele… 🙂

      • Eu tenho os pés bem assentes na terra. Deu para entender que o sr. responde à minha questão com conversa fiada que inclui santos. è uma piada de mau gosto. Uma coisa eu lhe garanto os Santos a que com ironia se refere, pelo menos os da minha família não há santos pedófilos, gays ou lésbicas. Fez um comentário acintoso para comigo. O sr. pode afirmar o mesmo entre os seus?. Vá para a Venezuela a escrever para o analfabeto do Maduro.

        • É pena não saber ler. Quando escrevi “santos” não era nada consigo, nem sequer tinha prestado atenção ao seu apelido. Apenas quis dizer que, sendo São Francisco de Assis, reconhecidamente um pregador e santo da igreja, os pregadores actuais e padres da igreja, como se sabe, muitos são pedófilos. Logo, se a santidade não existe, nem os anjos, a corrupção e o pecado existem, á direita e á esquerda, veio para ficar e faz parte da “natureza humana”, e não deve ser erigida em “categoria política”, o ser anti corrupção, como você e muitos fazem. Espero que, desta vez, tenha percebido.

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