Ai Marcelo

(Por Penélope, in Blog Aspirina B, 30/10/2017)

ENTREVISTA1

“Entrevista a Costa vista em Belém como mais uma oportunidade perdida”

(Por muito que negue, Marcelo continua a atacar o Governo. Agora “soprou” para o Público (ver aqui ), o seu desagrado com a entrevista de António Costa à TVI. Quer dizer, como o Presidente-Comentador está afastado do seu púlpito dominical,  manda dizer para os comentadores dos jornais, que o Presidente-Presidente, não gostou do que viu. Eis Marcelo investido num clandestino papel de chefe da oposição. Não é bonito, e os portugueses não gostam. O país merecia melhor oposição e a oposição merecia ter uma liderança às claras e sem ser clandestina. Por muitos beijos que dê e abraços que distribua, aposto que a popularidade de Marcelo vai começar a cair. E ainda bem.

Estátua de Sal, 30/10/2017)


Não me espantaria se o jornal Público se dedicasse por estes dias a acirrar os ânimos entre Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa. Havendo um fundamento sério no mal-estar entre os dois, noticiado pelo jornal há uns dias (e as razões estão muito longe de ser todas favoráveis a Marcelo), é também evidente que ao jornal e aos interesses que representa convém explorar este desentendimento – porque aumenta as vendas e “morde” nos socialistas por razões bem conhecidas – e dar com isso uma mãozinha a uma direita que entrou em desespero pela não chegada do diabo nem vislumbre do mesmo. Com a situação económica do país a melhorar a olhos vistos e a Geringonça a não dar sinais de quebrar no essencial, os incêndios e Marcelo oferecem subitamente uma boa tábua de salvação a quem se vê a afundar e sem maneira de chegar ao poder. O David Dinis pode estar numa de ajudar. É que estas notícias, por muito verdadeiras e objectivas que sejam, associadas a uma tragédia nacional, transformam-se, na restante comunicação social, esmagadoramente controlada pela direita, numa guerra do Bem contra o Mal, num contraponto entre “os afectos” de Marcelo e “a frieza” de Costa. Num populismo sem pudor.

É fácil omitir que a função de um não é a função do outro. Que o que se espera de um não é o que se espera do outro. Que as responsabilidades de um não são as do outro. Que Marcelo não foi eleito para governar. Que para isso teria que ter sido eleito para a chefia do PSD, coisa que não foi nem quis. Omitir tudo isto é fácil.

Ora, interesses político-jornaleiros à parte, acontece que Marcelo dá mostras de não se estar a importar nada de participar neste jogo/brincadeira irresponsável e calculista. Mais: não é de excluir que tenha sido o próprio a começá-lo. Num pequeno vídeo passado no sábado no Eixo do Mal (em que se vê Marcelo a discursar na entrega de um prémio a Wim Wenders), Marcelo mostra-se claramente desagradado com a Geringonça pelo facto de a mesma obrigar a negociações constantes com partidos anti-europeus, cujas consequências não são, a seu ver, as melhores para o país. É um escolho, de facto. Mas daí até o Presidente pôr em prática um plano de ataque a Costa e de desestabilização política deveria ir um passo muito grande. E maduramente ponderado.

E no entanto, o que vemos é a presidência da República a alegar e a aproveitar as diferenças na exteriorização da “compaixão” pelas vítimas para reforçar a aura de «comandante do povo» de Marcelo e a ideia de incompetência do Governo. Muito mau. Mau de mesquinho. O que é que fez o Costa? Não chorou? Mas, mas, mas … o que é isto? O socorro está a chegar às populações como previsto! Os habitantes locais não atribuem ao Governo nenhuma das culpas que o Presidente deixa subentendidas. Nenhuma.

Convém, pois, lembrar ao actual Presidente que 1) é preciso muito mais do que beijinhos, abraços e selfies para resolver os problemas das pessoas atingidas por uma catástrofe – tarefa exigente e criteriosa que não incumbe ao Presidente; 2) nem toda a gente tem feitio para “santo” curandeiro, neste caso de “feridas psicológicas”, como Marcelo parece querer ser; 3) Marcelo não tem o direito de expor a sua personalidade (que crê impecável, mas que muitos vêem como calculista) por contraponto à de outros, que não andam aos beijos e eventualmente encaram as suas funções de forma diferente, colocando o objectivo de eficácia a outro nível.

Esta afirmação (referente à entrevista a António Costa, ontem, na TVI), se verdadeira, vinda de Marcelo, é inaceitável : “Primeiro-ministro falhou a reconstrução da sua imagem junto dos portugueses“.  O que queria o Presidente? Que Costa se ajoelhasse, lhe pedisse perdão, pedisse perdão aos portugueses e chorasse?

A que ponto de irracionalidade estamos a chegar?

Um presidente simpático poderia ter mais juízo. A sério que é a visão de Santana Lopes no poder que o move?? Se é, é ridículo.


Fonte aqui

10 pensamentos sobre “Ai Marcelo

  1. Ouvia frequentemente dizer que Marcelo era uma personalidade com um grau de inteligência superior. Mas se assim era, parece-me que a perdeu ou então anda tão empenhado a tentar favorecer o seu partido que se esqueceu da sua posição como Presidente da República e que irá ser julgado pela história pelo seu desempenho. Marcelo que até vinha tendo uma atitude de apoio institucional com o Governo, resolveu, de repente virar a casaca. Se Marcelo continuar neste rumo é natural que a situação se agrave e possa mesmo haver um desenlace com consequências imprevisíveis. Mas não pense o Presidente que irá colher os louros dessa atitude. Querer destruir um governo, querer destruir um 1º. Ministro, que em menos de dois anos pôs o País nas bocas do mundo pelas melhores razões, não é uma atitude inteligente, antes pelo contrário. Querer destruir um 1º Ministro porque não chorou ou se ajoelhou é fraco, muito fraco para uma pessoa inteligente. É que o país não é feito só de velhos e velhas que choram legitimamente a dor dos seus entes queridos e que um beijo e um abraço lhes serve de consolo. O consolo desses afagos é pouco duradouro se depois disso forem abandonados ao Deus dará. E é aqui que entra o Governo, Sr. Presidente. É aqui que entra o 1º. Ministro provendo, com a celeridade possível, os meios para acudir aos necessitados. Não deu beijos, deu casas, não deu abraços nem chorou mas está cuidando dos meios para, na medida do possível, normalizar a situação. Ouvi uma vítima do incendio, creio que em Vouzela, que tinha perdido quase tudo, mas que numa atitude destemida gritava: “vamos arregaçar as mangas e reconstruir o que perdemos. Vamos voltar à nossa alegria a despeito do luto pelos nossos entes queridos”. Como eu gostaria que estas fossem as palavras do Primeiro Magistrado da Nação em contraponto com os beijos e abraços. O Presidente tem dois caminhos: ou percebe inteligentemente que tem um Governo e um 1º. Ministro capaz de operar uma revolução até à pouco inconcebível, colhendo também os louros do bom desempenho do executivo ou ficar para a história como o Presidente que tudo fez para derrubar um governo que vem granjeando o prestígio internacional. Pode ter a certeza que a história não o esquecerá.

  2. Um historiador a fazer história pela negativa…Já esteve no executivo mas,não vingou…Como P.R.,parece estar a querer mostrar os dentes do que está gravado no seu adn…Também não votei nele e,vou lembrar-me desta para a próxima…

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