Passos à defesa

(Por Estátua de Sal, 06/04/2017)

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Estive a ver a entrevista a Pedro Passos Coelho.

Passos está acossado. Passou a entrevista toda à defesa. Os entrevistadores, o Gomes Ferreira e o Bernardo Ferrão, não lhe deram muitas abébias e colocaram-lhe perguntas difíceis. O que é estranho, a não ser que, para Balsemão, Passos já seja um estorvo a abater e não um trunfo a jogar com sucesso. Suponho ser essa a leitura a ter da entrevista.

Foi penoso ver Passos Coelho ser confrontado com algumas das suas grandes contradições: Que votaria à esquerda se o programa económico do governo tivesse sucesso, por exemplo. Passos trocou os pés pelas mãos quando confrontado. Que o governo é que teria mudado de programa económico e não ele. Sem comentários.

Foi penoso ver Passos confrontado com o facto de o diabo não ter vindo – isto é um novo resgate ao país -,  e com o facto de ainda poder vir ou não. Passos diz que não quer que venha – apesar de o ter invocado -, mas recusou-se a dizer se ainda acredita que possa vir ou não.

Sobre o sucesso económico deste governo Passos continua a não querer ver o óbvio, ou seja, que os factos desmentem tudo aquilo que ele antecipava como desgraça, dizendo que o crescimento de 2016 foi inferior ao de 2015.

Também não se esqueceu de mandar a farpa a Marcelo, um dos seus inimigos de estimação, o catavento, como dizia Passos. Que Marcelo devia ter vindo à liça defender Teodora Cardoso e a possibilidade de o Conselho de Finanças Públicas criticar o governo e as suas políticas. Coitado. Passos, ainda não percebeu como é que a Geringonça se aguenta. Ele deixou tudo minado com os seus homens de mão. A Teodora, o Carlos Costa, e todo o aparelho de estado, Directores Gerais, quadros intermédios, e por aí fora. Que Costa tenha, até ao momento, conseguido driblar toda essa tropa de choque é obra.

Criticou a solução encontrada para o Novo Banco, esquecendo que quem determinou o cenário de resolução do Novo Banco foi ele próprio e o seu governo, e quem aceitou, junto das instituições europeias, o prazo para venda do Novo Banco foi também ele próprio e o seu governo.

O que não lhe foi perguntado é qual a razão por que discorda das políticas do atual governo, e o que faria de diferente. Não concorda com a reposição de salários? Não concorda com a anulação da sobretaxa do IRS? Não concorda com a reposição de pensões? Na verdade, Passos não concorda. Queria continuar com a austeridade. Mas se o dissesse, seria a consumação do desastre eleitoral do PSD para todo o sempre. Nesse aspeto, os entrevistadores pouparam-no.

E sobre a Europa e o Euro. Nada lhe foi perguntado. Acha mal Passos cumprir as metas do déficit impostas por Bruxelas? Pelos vistos não. Mas que discorda da forma como o governo as alcançou. Tudo bem. Deviam os entrevistadores ter-lhe perguntado como é que Passos as iria alcançar. Claro que nós sabemos como o faria: manteria os cortes em salários e pensões. Mas teria sido importante forçá-lo a dizer isso mesmo. Nesse aspeto teve o beneplácito e a cobertura dos entrevistadores.

Em suma. A realidade tem muita força. Até o radical Passos Coelho teve que aceitar que a gestão de António Costa – situando-se dentro da mesma matriz de aceitação das regras europeias que o PSD subscreve -, conseguiu melhores resultados que as políticas económicas de austeridade que Passos serviu ao país durante quatro anos, mormente na redução do déficit para um patamar muito inferior aos famigerados 3%.

No fundo, cumprindo as regras europeias e a permanência neste Euro, estamos condenados a viver em austeridade. A grande questão é saber quem são os grupos sociais que a vão pagar em maior medida. A oposição de Passos Coelho a este governo é que ele tenha aliviado a fatura dessa austeridade que é endossada aos trabalhadores e aos pensionistas. Sim, porque Passos sempre governou contra eles, não tendo a coragem de o dizer abertamente e escondendo-se atrás do manto protector da troika.

4 pensamentos sobre “Passos à defesa

  1. Um arrivista no estilo de Seguro,em águas novas,a rapidez da comunicação de dados ganha ao narcisismo exacerbado de alguém que também já não serve os interesses de quem mexe os cordelinhos.Temos pena ! Ou talvez não !…Carne para canhão ,estás gasto,és dispensável….Adeus….

  2. O Dr. Pinto Balsemão, com esta entrevista, deu-lhe um sinal. Saberá Passos interpretá-lo?! Eis a questão.

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