(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 18/02/2017)

Daniel Oliveira
Nem sempre, mas o que corre mal na comunicação social costuma ter alguma relação com a realidade. É o caso da novela da administração da Caixa: houve meias-verdades, meias-mentiras e, ao que parece, compromissos informais nunca assumidos. Se Mário Centeno não mentiu, enganou. Cairia se não fosse o resto da realidade: o défice mais baixo desde o 25 de Abril e, no último trimestre do ano passado, o melhor crescimento desde 2013. Isto, além de andar a limpar o lixo bancário que a troika e Albuquerque varreram para debaixo do tapete para garantir a saída limpa. Uma mentira bem mais dispendiosa. Neste contexto, era impensável demitir o ministro das Finanças. Os resultados económicos e financeiros não são mais reais do que os disparates na Caixa. Mas são mais relevantes.
Qual é o segredo de uma boa oposição perante um governo bem sucedido no que mais interessa às pessoas? Que o ambiente mediático não reflita essa parte da realidade, escondendo-a em camadas de ruído e confusão. Quando os números económicos e financeiros foram conhecidos estava no palco, há dois meses e com sucesso de bilheteira, a novela da Caixa. Uma novela que está a fazer Centeno em picadinho. Ao ponto de ter sido obrigado a ir pedir a bênção a Marcelo. Para se safar das suas próprias responsabilidades, o Presidente explicou porque não demitia um ministro que a ele não tem de responder e mandou-o fazer uma conferência de imprensa no pior momento possível. A oposição, contando com um deslize da geringonça, tentou esticar a corda: queria que a comissão de inquérito criada para investigar anos de gestão da CGD, e que não está a correr muito bem ao PSD, tivesse acesso aos SMS do ministro. O comportamento de Centeno é a todos os títulos reprovável, mas não devemos perder o sentido das proporções. Mesmo perante histeria hiperbólica da oposição, que quer prolongar o espetáculo o máximo de tempo possível. Um órgão de soberania aceder aos SMS de um ministro tem implicações tais que só poderia acontecer numa situação extrema e numa comissão de inquérito criada para investigar este caso. Felizmente, BE e PCP travaram um perigoso precedente que corresponderia ao início de mais um plano inclinado na política. Já todos percebemos que não havia acordo assinado, mas havia compromisso informal e que o ministro fica fragilizado por não o ter assumido. Não precisávamos de vasculhar SMS para isso. Agora, o objetivo é apenas prolongar um folhetim.
Não vale a pena os socialistas queixarem-se da estratégia do PSD e do CDS. Se, como eles, se estivessem a afundar nas sondagens fariam o mesmo. Não vale a pena queixarem-se de Marques Mendes. Se uma televisão lhes desse direito a tão solitário e exposto tempo de antena também o aproveitariam. Não vale a pena queixarem-se de Marcelo. Foi Costa que lhe ofereceu o cordeiro. Têm de se queixar de Mário Centeno, por ter negociado o que não devia, ter escondido o que era óbvio e ter andado dois meses a brincar com as palavras.
A política também é a arte de vencer este jogo entre o que é relevante e o que passa na televisão. E um político que oferece de bandeja, aos seus opositores, todo o poder sobre a agenda mediática só se pode queixar de si mesmo. É o mal de escolher técnicos para cargos políticos. Podem saber onde está a baliza mas perdem-se nos dribles.
Ensaio da contradição. Como receiam ser acusados de «aldrabões» – termo usado pelo autor sobre este folhetim – os textos que assinam são uma confusão… dão para tudo… até salário!
Ó DO,
Mas parece que ainda não é desta que o Centeno cai, como você gostaria e o seu patrão F. Balsemão. Por isso, pá, têm que ter paciência e aguardar por melhores dias….