Não dão uma para a caixa

(Por Estátua de Sal, 06/12/2016)

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Tribunal de Contas enumera situações em que considera que o Ministério das Finanças, que durante a maior parte daquele período foi tutelado por Maria Luís Albuquerque (no anterior governo PSD/CDS-PP), deveria ter exercido um maior controlo sobre o banco público

A direita é um sururu ambulante a esboroar-se sobre si própria. Passos parece o Bill The Kid de Massamá. Dispara para todos os lados mas só dá tiros de pólvora seca. Coitado. Ele aponta a Costa e falha o tiro. Ele aponta à Caixa e ao Domingues e sai-lhe o Macedo. Ele agora aponta ao Marcelo e sai-lhe o Presidente de todos os portugueses que o arruma com três dardos certeiros.

Os jornaleiros que ele colocou em postos chave em toda a comunicação social lá lhe vão fornecendo munições mas as balas saem todas tortas. O raio do diabo, que era uma espécie de míssil balístico para destruir tudo, também tem as ogivas desactivadas. É o azar dos Távoras à volta de Passos.

Agora é o Tribunal de Contas que diz que o governo de Passos deixou a CGD em roda livre como se fosse uma quermesse de feira, sem rei nem roque. Pudera, queriam que fosse o quanto pior melhor, para depois a venderem aos chineses, como venderam tudo o resto.

Em resposta vem Maria Luís Albuquerque chamar mentiroso ao Primeiro-Ministro, ela que tem tanta simpatia pela verdade como eu tenho pelo seu nariz empinado, isto é nenhuma. Já agora, ela que é funcionária da Arrow Global, devia explicar como está sempre na Assembleia da República a marcar o ponto. Que raio de emprego é esse, pago a peso de ouro, que lhe permite ter o dom da ubiquidade? A não ser que seja  o que sempre suspeitámos que fosse, isto é nada mais que inside trading disfarçado de emprego.  Basta mandar por email a informação privilegiada sobre as empresas e a economia portuguesa a que teve acesso, enquanto foi Ministra das Finanças, para que o cheque lhe caia ao fim do mês na conta.

Começa a ficar cada vez mais claro que a direita, durante quatro anos, não governou. Limitou-se a executar as ordens da troika, e mesmo assim nem todas, mas só aquelas que não penalizavam os seus amigos. Por exemplo não acabaram com as rendas excessivas da EDP, para não aborrecer os chineses e o Dr. Catroga.

Entretanto lá continuam com a novela da Caixa. Deve perguntar-se porque fazem tanta trovoada e alarido com a CGD, quase mais ainda do que quando foram apeados da governação. A economia portuguesa é débil como é sabido. O capital nacional é exíguo e grande parte fugiu e está alojado em offshores por esse mundo fora. Os únicos sítios onde ainda há dinheiro – a palha para burros, que a direita adora degustar -, é a CGD e o Fundo de Estabilização da Segurança Social. Não é pois por acaso que sejam estes os dossiers onde a direita mais se empertiga e levanta a voz. Capitalizar a CGD significa torná-la sólida e afastar, pelo menos a médio prazo, as hipóteses de ser privatizada. Ou seja, evitar que seja servida em repasto a interesses externos sendo chorudas benesses do negócio entregues aos mesmos de sempre. Acenar com o fantasma da falência da Segurança Social é outra das narrativas recorrentes de Passos, cujo grande sonho singapuriano sempre passou pela sua privatização e entrega às seguradoras, também elas hoje já dominadas em grande parte pelos chineses.

O mais espantoso é que o espaço informativo continua a ser dominado pelas declarações de tais acéfalas criaturas. Os portugueses são muito resistentes. Um povo antigo que já passou por tanta provação já descobriu como enfrentar mais esta cacofonia ensurdecedora e recorre ao velho ditado: palavras loucas, orelhas moucas. A prova é que quanto mais Passos urra, mais desce nas sondagens, e mais António Costa sorri.  A comunicação social é cada vez menos levada a sério sempre que, acriticamente e sem contraditório, acolhe e dá ênfase às vozes destrambelhadas da direita. Mas haja limites. António Costa chamou a si o dossier de limpeza do sistema financeiro cujos problemas Passos escondeu debaixo do tapete para se poder ufanar da saída limpa, e tudo indica que irá ser bem sucedido.

O meu conselho a António Costa é que, de seguida, chame a si o dossier da comunicação social, em especial da televisão pública, da RTP. É vergonhosa a forma tendenciosa como a televisão pública vai (des)informando, e mantém uma agenda de continuada guerrilha ao governo em funções. É na forma como faz o alinhamento das notícias, no leque dos comentadores escolhidos, na forma como são conduzidas as entrevistas aos membros do Governo, como se viu na entrevista de ontem a António Costa e no painel de comentário que se lhe seguiu. Uma vergonha. Tudo vale para denegrir, segregar venenosas insinuações ou para minar a coesão do bloco politico que suporta parlamentarmente o governo. E não há que temer que a direita venha alegar que é perseguida e que retome o estafado slogan da asfixia democrática. Asfixiados estamos nós agora com tanta maquinação e enviesamento opiniativo, de sentido único e sem contraditório.

Os portugueses precisam de manter a sua sanidade mental, até para que o país regresse, com trabalho e esforço abnegado, a uma senda de crescimento económico. E sendo metralhados com tanta aleivosia dificilmente a irão manter, por muito resistentes que sejam.

A direita, como todas as outras forças políticas, deve ser livre de opinar no espaço publico, mas não deve ter o monopólio da opinião e do comentário como ocorre atualmente nas televisões privadas e infelizmente também na pública, paga pelos impostos de todos os cidadãos, independentemente das suas opções políticas. Urge que este assunto ganhe foros de debate e que tal gere um equilíbrio plural que está muito longe de existir.

Porque começa a cansar tanto unanimismo, cinzentismo e saudosismo vindo sempre das mesmas caras e das mesmas mentes. As que nos servem todos os dias estão mais que estafadas e, em vez de informação, o que debitam não passa de propaganda cada vez mais ineficaz, felizmente.

São necessárias novas vozes e elas existem. As que nos andam a ser servidas já só causam enfado ou, pior ainda, desdém. Em suma, já não dão uma para a caixa.

7 pensamentos sobre “Não dão uma para a caixa

  1. Não poderia estar mais de acordo com este texto. Contudo, permita-me reforçar, quando se refere à Televisão Pública, o quão angustiado me sinto, recordar que por lá passei quarenta anos da minha vida. É doloroso…

  2. Não poderia deixar de estar mais de acordo com o comentário de D. Pimenta. Mas acrescento, não podemos recusar-nos a pagar a taxa da radiodifusão, porque de facto estes crápulas não estão a fazer serviço público.

  3. Bom comentário. Certeiro e jocoso como convém às denúncias. Como pode a ex-ministra da desafinança frequentar a AR e servir simultaneamente a arrow? Servir a dois senhores tem um nome: traição alternada. Portugal é tão rico e diversificado que até produz destas coisas. Gostava de ler um comentário da Estatua de Sal sobre o paradigma que se vai desenhando de os governos democráticos saídos de eleições livres e universais virem a ser substituídos por governos formados nos interesses de grandes corporações industriais, comerciais e militares sob orientação de poderosos parceiros económicos e financeiros. Vide Trump.

  4. Excelente apanhado da situação caótica que se vive na “direita” portuguesa.
    Daqui para a frente creio que é necessário diferenciar entre a direita e a “direita” portuguesa. A direita é um conceito ideológico, naturalmente oposto à esquerda, mas com um objectivo comum que é o sucesso e progresso do país. Uma discussão entre a esquerda e a direita é como discutir entre dois caminhos que vão dar ao mesmo lugar. Existem pessoas e políticos de direita em Portugal, mas são cada vez mais raros.
    Depois à a “direita”, que em Portugal não é mais do que um destilado do pior que o país tem para oferecer. É o resultado de décadas de filosofia facilitista, do compadrio ranhoso, da cunha saloia, do Darwinismo invertido em que só os piores triunfam pois são os que menos trabalho dão aos que ocupam o topo dessa hierarquia de mediocridade e ausência de espinha. Por alguma razão, que até acho que é interessante estudar, esta escumalha alinha-se tendencialmente à direita. Proximidade ideológica aos maluquinhos de extrema-direita? Consequências da filosofia capitalista destrutiva que tanto veneram? Talvez. O que é certo é que, ano após ano, tomaram conta de todos os partidos nacionais de direita. O CDS é um caso perdido. Está demasiado consumido por esta gente para ser levado a sério e uma purga por pessoas sérias e integras deixá-lo ia com o porteiro da sede e pouco mais. O PSD para lá caminha nesse sentido. Outrora um dos grandes partidos motores do país, pouco a pouco foi sendo invadido por esta gente. Há quem diga que Cavaco, o maior erro na vida política de Sá Carneiro, foi quem abriu a porta do cavalo para estes sujeitos e sujeitas de moralidade e capacidade dúbia (ele próprio sendo o mor) que, tal como um cancro, corroeram o partido pelo interior até à organização patética que temos hoje. O que é certo é que o PSD está cada vez mais longe da salvação, cada Passos, Relvas ou Marques como mais um prego num caixão cada vez mais hermético.
    Esta gente não têm qualidade nem inteligência para se debater no campo ideológico, como a verdadeira direita e esquerda deveriam ser debatidas. Em vez disso limitam-se a fazer guerrilha suja. Não têm medo nem vergonha de mergulhar na lama e não hesitam em arrastar quem quer que seja para a pocilga política onde estão mais confortáveis. O controlo dos media é apenas uma das armas mais eficazes que utilizam. O conceito não é novo. Em quê é que a CMTV ou o Observador são diferentes do Daily Mail ou da Fox News? A cantilena é conhecida e sabe-se que é eficaz. Para quê contrapor as ideias da esquerda com argumentos sólidos e consistentes quando é mais fácil e barato lavar os cérebros da pessoas para que, que nem zombies, lhes forneçam os votos necessários? E quando, ainda por cima, os ataques continuados desta “direita” ao sistema público de educação, garante cada vez mais destas alminhas influenciáveis, gente que é capaz de decidir o seu voto na manhã das eleições só porque alguém lhes espetou um autocolante laranja à socapa.
    O que torna esta situação grave é a existência de um grande número de portugueses que consome estas patranhas e as assumem como verdadeiras. Para qualquer cidadão informado, estas tentativas infantis de manipulação bacoca, a treta da “pós-verdade” que agora anda em voga, não passam de boas anedotas e garantem apenas que os jornais acabam a embrulhar peixe e a forrar a caixa de areia do gato. Mas o problema é o resto que acha que, porque o José Gomes Ferreira o disse e ele usa gravata, é verdade.
    Se ao menos a “direita” tivesse testículos para lutar como deve ser…

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