Uma Caixa vazia

(João Quadros, in Jornal de Negócios, 02/12/2016)

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Gostei muito do “Prós e Contras” de segunda-feira. Foi muito elucidativo. O programa era para ser sobre a morte de Fidel de Castro mas, de repente, mudou para o tema: A demissão na Caixa. Percebe-se a troca e a urgência: um já está morto, o outro ainda estrebucha.


Vou tentar situar o leitor nesta novela da Caixa. Recordo que tudo começou com a polémica dos ordenados milionários da nova gestão da Caixa e se agravou com a recusa do Presidente, António Domingues, e da nova equipa de gestão CGD em mostrar a declaração de rendimentos. Que gente tão envergonhada. Nos dias de hoje, todos revelam tudo, há redes sociais para isso. Ao menos uma “selfie” do Domingues com a sua declaração de rendimentos tirada na casa de banho em frente ao espelho. A culpa disto é bem capaz de ser dos salários. É sabido que os milionários são, em grande percentagem, uns excêntricos.

Na passada segunda-feira, a novela teve mais um capítulo dramático, o Governo foi informado pelo Presidente do Conselho Fiscal da Caixa Geral de Depósitos da renúncia apresentada pelo Presidente do Conselho de Administração, António Domingues juntamente com seis gestores. Em termos de currículo, isto é bom para a ex-nova equipa de gestão da CGD, porque agora fica bem dizer que se está fora da caixa. No fundo, é empreendedorismo. Segundo a carta de demissão, António Domingues considera que foi vítima de um “turbilhão mediático”. No fundo, é mais ou menos o que disse o fugitivo de Aguiar da Beira.

Na minha histérica opinião de pessoa desconfiada, isto quer dizer que o António Domingues andou dois meses a coscuvilhar na Caixa e agora volta para o BPI?! Palpita-me que a declaração de rendimentos vai aumentar. Que maravilha – “Vou ali para concorrência dois meses. Faço para lá barafunda, ainda dou mais mau nome àquilo e depois volto e trago clientes e esferográficas.”

O mais curioso é que o Ministério das Finanças confirmou a decisão num comunicado, em que indica que Domingues se manterá no cargo até ao final do ano e será ainda o responsável pela definição dos critérios e da estratégia de provisões do banco público. E pelos lucros do BPI?

Agora, o accionista Estado tem de nomear um novo líder para o banco público. O Governo procura um substituto para Domingues. Só espero que não vão buscar o ex-ministro Paulo Macedo porque, depois do que ele fez na Saúde, (perdoem o trocadilho, se puderem) vamos ter um Caixão Geral de Depósitos.

Em termos de escolhas para a gestão da Caixa, não sei se não era altura de dar uma segunda oportunidade ao Salgado. As pessoas mudam muito depois de estarem presas. Mesmo que tenham sido só presas em casa. Tenho um amigo que passou a ser outra pessoa depois de ter estado fechado oito horas num elevador.


top 5

Caixote geral

1. João Miguel Tavares (sobre morte de Fidel): “Porque não começar também a elogiar Salazar ou Pinochet…” – Começar a elogiar?! Mas o Salazar não ganhou o concurso do melhor português de sempre?!

2. Cristas diz que o Governo é “campeão do calote” e bom na propaganda como “regimes ditatoriais” – preferia aquela Cristas que pregava o amor e era contra o discurso populista.

3. Portugal está “falido”, diz ex-economista-chefe do Deutsche Bank – diz o nu ao roto.

4. Trump diz que houve “milhões de votos ilegais”. Afinal, parece que as eleições nos EUA não valeram. Mais uma directa da minha vida que foi em vão. Um clássico desde os exames da faculdade.

5. Francisco Assis: “Assistimos ao primeiro momento de uma desagregação grave da maioria” – embora marcar um almoço de Natal com leitão. O abutre está a ficar com reumático nas asas.

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