(Entrevista a John Le Carré, in Expresso, 23/10/2016)
No dia 25 de abril de 2013, quando John Le Carré lançou o seu 23.º romance, o Expresso foi entrevistá-lo a Londres. Agora, que acaba de lançar a coleção de memórias “O Túnel de Pombos – Histórias da Minha Vida”, republicamos a entrevista que lhe fizemos, publicada originalmente na revista de 23 de maio de…
Vivemos num mundo de convencionalismos superficiais, pensamos todos da mesma maneira e queremos todos comprar as mesmas coisas…
Se é verdade que o homem nunca foi tão livre, também nunca esteve tão acorrentado. Não sei onde está a esperança. Gostava de saber. Escrevi para a personagem Smiley [“O Peregrino Secreto”, 1990] um discurso em que ele diz aos jovens elementos dos serviços secretos: “Lidámos com o comunismo, agora temos de lidar com o capitalismo e os seus excessos e a seguir saber onde está a esperança.” Não consigo encontrar a esperança neste momento. Continuo à procura dela para perceber onde é que os meus filhos e os meus netos irão viver. A grande desvantagem de ser velho é perceber que pouco ou nada muda. Em 1956, 30 pessoas do meu departamento tinham estudado no Eton College. Não poderia imaginar que 60 anos depois iríamos continuar a ser governados por rapazes brancos e chiques de Eton. Para mim, é um mistério que seja assim, porque tivemos vários governos com um rosto aparentemente socialista e oportunidades de nos libertar de imensas coisas… Não aproveitámos. Podemos mudar de classe social por dinheiro ou casamento, mas continuamos a ter classes muito definidas. O establishment é quase sempre definido pelo acesso aos serviços secretos. A elite define-se a ela própria pelo que sabe, e é isso que a separa dos ignorantes. Mas o que a elite sabe não é necessariamente a verdade, como se viu na guerra do Iraque.
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