O clube dos seis

(Nicolau Santos, in Expresso, 25/07/2015)

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A proposta do Presidente francês, François Hollande, de criação de uma vanguarda da zona euro, é a prova que o núcleo duro da União Europeia percebeu que o euro, nas bases em que está a funcionar, vai acabar por implodir. A moeda única traz vantagens indiscutíveis para alguns, caso da Alemanha e países do centro, que passaram a viver com uma moeda mais fraca do que as anteriores moedas nacionais. Mas para os países da periferia, verificou-se exatamente o contrário. Por isso, nestes países o atual modelo conduz inevitavelmente à forte compressão do Estado social, ao desemprego, à emigração e à necessidade de esmagar os custos de trabalho para manter as indústrias nacionais minimamente competitivas e muito apertada a procura interna, em particular o consumo privado. A recusa deste caminho leva ao disparo da dívida pública e a prazo mais ou menos curto à necessidade da sua reestruturação ou à saída inevitável da moeda única.

O Presidente francês, ao propor o regresso a 1957, está a mostrar a porta de saída a 13 países que atualmente estão na moeda única, entre os quais Portugal.

E é por isso que Hollande, seguramente com a cumplicidade da Alemanha, vem agora falar na criação de um Governo da zona euro, com um orçamento comum e um Parlamento específico. É o regresso à ideia de uma Europa a duas velocidades, assente no núcleo fundador da Comunidade Económica Europeia e à grande proximidade do nível económico dos países que estariam envolvidos, que segundo o seu primeiro-ministro, Manuel Valls, serão a França, Alemanha, Itália, Bélgica, Luxemburgo e Holanda. Quanto ao novo Parlamento, uma espécie de segunda câmara em relação ao Parlamento Europeu, servirá para exercer o “controlo democrático” do novo executivo transnacional e seria composto por parlamentares dos países envolvidos, vindos desta assembleia europeia de Estrasburgo ou das assembleias nacionais.

Por outras palavras, o presidente francês, ao propor o regresso a 1957, está a mostrar a porta de saída a 13 países que atualmente estão na moeda única, entre os quais Portugal. Não lhe passou pela cabeça que há outras maneiras de garantir a coesão da eurolândia: através de um orçamento europeu reforçado (e não reduzido, como aconteceu) e a garantia de transferências orçamentais intracomunitárias para fazer face a choques assimétricos. Mas isso Berlim e os seus apoiantes nunca aceitarão, porque consideram que seria premiar os prevaricadores. Hollande quer assim resolver o impasse europeu. Na prática, está a fazer de porta-voz da ala alemã mais dura — e a preparar o fim da União Europeia, tal como a conhecemos.


A revolução no vinho português

Entre 100 empresas, a Sogrape Vinhos foi considerada a melhor produtora vitivinícola do mundo em 2015 pela World Association of Writers and Journalists of Wines and Spirits. Fernando Guedes e os filhos têm razão em estar orgulhosos. Mas felizmente para o país, a Sogrape não é um caso isolado. Não há semana em que um ou mais vinhos portugueses não sejam premiados em concursos internacionais ou destacados pelas revistas especializadas no estrangeiro. E isto resulta de vários fatores: lideranças fortes, propriedades maiores, plantio de novas castas, acompanhamento científico das vinhas, investigação em conjunto com universidades, contratação de enólogos nacionais e estrangeiros, fortes ações de promoção no exterior, juntando vários produtores, formação dos trabalhadores, excelente passagem de testemunho entre gerações, construção de novas e modernas adegas e a aposta em trazer a Portugal jornalistas estrangeiros especializados no sector. O sucesso dos vinhos nacionais é um exemplo para muitas outras áreas de atividade.

354 milhões

O Governo insiste que a economia está a dar sinais de crescimento — e está. O Governo diz que o desemprego está a diminuir — e está. O Governo diz que foram criados 175 mil postos de trabalho entre janeiro de 2013 e abril de 2015 — e foram. O Governo diz que 2014 foi o melhor ano do turismo e este ainda vai ser melhor — e é verdade. O Governo diz que 2014 foi o melhor ano para o investimento desde 2008 — e foi. No meio de tantas boas notícias, há duas que não ajudam. A primeira é a nossa dívida pública que continua a ser considerada “lixo” pelas quatro principais agências internacionais, apesar de tantas melhorias e avanços. E a segunda tem a ver com o valor do crédito malparado e o rácio de crédito em incumprimento que continuam a deteriorar-se. O rácio de crédito em incumprimento chegou a 8,8% em abril contra 8,3% em janeiro e 7,6% há um ano. Por seu turno, o crédito vencido cresceu em média €354 milhões por mês desde janeiro, mais 34% que nos primeiros cinco meses de 2014. Mas isto agora não interessa nada, como diria aquela senhora da televisão.


O estado da banca

Depois do caso de polícia que foi o BPN, do estouro do BPP, das convulsões acionistas que quase arrasaram o BCP, dos aumentos de capital na CGD e da implosão do BES, depois de vários testes de stresse europeus e de várias declarações do Banco de Portugal, qualquer cidadão português pensaria que o sistema financeiro nacional está finalmente forte, seguro e estável. Pois bem, esqueça. O Banif precisa rapidamente de um novo dono. O Montepio vive uma réplica, em menor escala, do caso GES/BES. A Caixa tem provavelmente de reforçar capitais. O Novo Banco vai ser comprado por chineses. E o BCP e o BPI estão dependentes do que decida fazer a empresária angolana Isabel dos Santos, que propôs uma fusão das duas instituições. Com um mercado interno de onde não virão fortes crescimentos, com riscos acrescidos em relação a regras europeias sobre a classificação de créditos e com o espectro de fortes quebras dos resultados em Angola, de onde vêm parte importante dos seus resultados, BPI e BCP estão pressionados para tomarem decisões radicais. Preocupada, a banca portuguesa está à espera dos seus Godots.

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