(João Garcia, in Expresso, 11/04/2015)
Andava a década de 70 pelo princípio quando os médicos Gonçalves Ferreira, Arnaldo Sampaio (pai de Jorge Sampaio) e Baltazar Rebelo de Sousa (pai de Marcelo Rebelo de Sousa) se batiam pelos Cuidados de Saúde Primários, aqueles que nos permitem cuidar da saúde sem recurso aos hospitais. Poucos anos depois, Constantino Sakellarides, salvo erro no Centro de Saúde do Casal Ventoso, levava à prática estratégias de saúde de proximidade. Na época, já havia os chamados enfermeiros de família, posteriormente esquecidos.
Passaram quatro décadas. Esta semana, o INE divulgou dados sobre a Saúde em Portugal. Ficámos a saber que os atendimentos nas urgências estão a aumentar e as consultas nos Centros de Saúde a diminuir. E um comentador — Manuel Delgado, professor da Escola Nacional de saúde Pública — escreveu no “DN” que “estamos perante um flagelo nacional (…). Um sistema bem organizado e com o acesso facilitado aos cuidados não apresenta, no mundo moderno, um número tão elevado de atendimentos urgentes. Não conseguimos, ao longo de décadas, resolver este problema (…). É aliás estranho e até absurdo verificarmos que o número de consultas em centros de saúde diminuiu, em 11 anos, mais de 8%, contra o aumento constante das consultas ditas de especialidade ou hospitalares [passaram de 9,8 mil para 17,5 mil], quando a evolução deveria ser justamente a inversa”.
Estamos de acordo: é absurdo. E incompreensível, quando há tantos especialistas a denunciar a estratégia das Urgências.
Aliás, não conheço quem defenda o contrário — embora não seja difícil identificar quem, nas últimas décadas, levou a esta situação.
Se no início dos anos 70 já havia quem tivesse diagnosticado a doença do sistema, porque não há, quase meio século depois, quem aplique a terapêutica? Quem ganha com as consultas nos hospitais e quem perde com a medicina familiar?
Difícil de compreender
Leu-se esta semana nos jornais que 60 por cento da hotelaria e da restauração está em situação desesperada e pode mesmo ir à falência, afogada em impostos e cercada por dívidas bancárias. Isto apesar de 2014 ter sido o ano em que o porto de cruzeiros de Lisboa registou maior atividade, que a TAP transportou passageiros como nunca e que as receitas do turismo foram 15 por cento superiores às do ano anterior, numa subida que vem batendo recordes sucessivos deste a primavera árabe de 2013.
Há aqui qualquer coisa que não bate certo: como pode estar a hotelaria periclitante e o turismo pujante? A menos que também neste sector da economia e do país continuem os pés de barro e que passados todos estes anos de prometidas reformas os problemas apenas tenham sido empurrados com a barriga, ficando as questões estruturais por resolver. Se assim foi, o mais certo é que no dia em que terminar esta crise (se alguma vez terminar), fiquemos logo à beira de entrar noutra.
Um peixe de águas profundas
A estrela do momento é Sampaio da Nóvoa. Ele distribui sorrisos e recebe ainda mais. Nas hostes socialistas, a cada declaração de distanciamento, logo surge uma de apoio. Cada vez é mais “o candidato oficial que ainda não o é”.
Mas que se cuide. Há uma personagem que sabe movimentar-se como poucos em ambientes adversos, ser discreto, agitar o que quer agitar e ser capaz de fazer estragos quando decide vir à superfície. Por estas e por outras, Mário Soares chamava “peixe de águas profundas” a Jaime Gama. E desta vez já há muitos a lançarem-lhe o isco.
Mas a situação é muito parecida à vivida no NHS do RU , o pai de todos os Serviços Nacionais de Saúde: As idas às urgencias aumentaram por não ser possivel marcar consultas a tempo, este Inverno as ambulancias fizeram filas à porta dos hospitais por não haver camas disponiveis. Tudo igual, incluindo um Governo de direita que vai privatizando o NHS à socapa e cortando nos serviços publicos.
Aí como cá.
manuel.m