Sei o que fizeste em Torremolinos

(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 10/04/2017)

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                           Daniel Oliveira

Não há nada mais repetitivo do que o discurso dos velhos sobre os novos. Se formos rever tudo o que cada geração disse e escreveu sobre as gerações que as precederam descobrimos que, ao contrário do que pensamos, a humanidade nunca parou de regredir nos últimos milénios. É uma reação natural: os mais velhos estranham a novidade e tendem a romancear a sua própria juventude. A sua geração é sempre mais culta, educada, respeitadora e civilizada do que a geração dos seus filhos e netos. Muitos dos meus vizinhos pensam isso mesmo sempre que olham para o Jardim do Arco do Cego, transformado, ao fim de tarde, em bar para milhares de universitários que deixam um tapete de copos de plástico sobre a relva. Tento sempre defender o óbvio: não há nada de geracional naquela falta de civismo. Ainda se lembram de Vicente Jorge Silva ter falado da “geração rasca”? Agora é a “geração rasca” que fala da que veio depois. É tão antigo como a humanidade.

Este discurso é tão automático como discurso reativo, que faz a geração mais jovem ouvir qualquer crítica da mais velha como sinal de resistência à mudança e mau envelhecer. A arrogância é semelhante, aliás. Ainda há uns dias fui a Coimbra participar num debate e dediquei grande parte da minha intervenção a zurzir na praxe. Rapidamente surgiu, de um jovem, a defesa da sua geração contra os ataques dos mais velhos (no caso, eu). Tive de explicar que o conflito de gerações não me diz nada. Só me diz alguma coisa quando ele manifesta mudanças sociais e políticas que são corporizadas pelas novas gerações. Que não considero esta geração menos esclarecida do que a minha. Terá os seus próprios problemas, que resultam do que hoje existe e antes não existia: as redes sociais, a ausência de privacidade, a dificuldade de ter um foco quando a informação chega de todo o lado a uma velocidade impressionante, a precariedade como único futuro. Mas é, em geral, uma geração mais bem preparada e informada do que a minha.

Parece que no final dos anos 70 houve uma viagem nacional de finalistas a Torremolinos de tal forma brutal que estas foram proibidas durante uns anos. Foi a desbunda da geração que agora se arrepia com a falta de civismo dos seus filhos e netos

Não sei o que se passou em Torremolinos. Provavelmente será a justiça a avaliar. Os jornalistas começaram a fazer o seu trabalho, ouvindo, como é suposto nestes casos, as várias versões. Nenhum patriotismo me fará defender qualquer tipo de selvajaria. E não me custa acreditar que uma estada de cinco dias de adolescentes com bar aberto tenha este resultado. Qualquer hotel que resolve fazer um acordo destes tem de estar preparado para gerir situações difíceis. Uma coisa é certa: não há paciência para a conversa sobre a geração selvagem, versão renovada da “geração rasca” (era a minha), produto requentado, servido sempre da mesma maneira há milénios. Parece que no final da década de 70 houve uma viagem nacional de finalistas a Torremolinos de tal forma brutal que foram proibidas durante anos. Foi a desbunda da geração que agora se arrepia com a falta de civismo dos seus filhos e netos.

Mas a loucura atingiu níveis delirantes quando Nuno Rogeiro, nos microfones da SIC Notícias, comparou o sucedido a um ataque do Daesh: “Irrita-me essa história das criancinhas portuguesas que chegam e vandalizam os países vizinhos. As famílias têm de estar alerta, as próprias crianças têm de estar alerta, porque não pode ser. É uma vergonha. É possível ser adolescente e não ser igual ao Daesh. Se houvesse uma estância turística espanhola e tivesse sido devastada pelo Daesh não sei se os resultados seriam piores. As pessoas têm de ter um bocadinho de calma.” Isto não foi escrito numa caixa de comentários, foi dito num canal de notícias por um comentador de política internacional que, entre outras coisas, faz análise sobre ataques do Daesh.

Não quero relativizar um ato de vandalismo, se foi disso que se tratou. Não quero dizer que é da idade. Quero apenas dizer que em todas as gerações houve gente civilizada e pouco civilizada. Que, apesar de ser fundamental ensinarmos aos nossos filhos as vantagens da civilidade, não houve um tempo de adolescência ordeira e respeitadora. A adolescência é um tempo de excesso, temos de intervir quando esse excesso se manifesta de forma destrutiva. Agora como há quatro décadas.

O que me parece que está a mudar, mas isto talvez seja eu a idealizar o passado e a assustar-me com o presente, é a dimensão que cada episódio ganha pela repetição permanente nos media e nas redes sociais. Que faz as pessoas perderem noção das proporções. Ao ponto de Nuno Rogeiro comparar um triste e condenável episódio com adolescentes a um atentado do Daesh. Sim, temos de ter um bocadinho de calma.


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O “DESMAME”!

(Joaquim Vassalo Abreu, 10/04/2017)

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A minha Amiga ANA DEUS, não sei se sabem quem é, mas de certeza que sabem e se não sabem mesmo eu explico, é aquela cantora de voz única, que começou nos BAN, depois nas TRÊS TRISTES TIGRES, depois no CRU, no OSSO VAIDOSO e que agora fez ressuscitar as TRÊS TRISTES TIGRES etc, essa mesma, que além de Deus também é uma DEUSA, escreveu um pequeno “post” no Facebook, com muita piada, acerca destas viagens dos jovens “finalistas” a Espanha…

Eu comentei e disse-lhe: Ó Ana, pensei numa “cena”, pá! Vou escrever ao nosso Amigo JOÃO CARVALHO, que sei de certeza que sabem quem é, mas se não estão a ver eu avivo-lhes a memória, é o rosto da equipa que organiza o FESTIVAL de PAREDES DE COURA e, já agora, também o PRIMAVERA SOUND, no Porto, além de coisas mais, para eles tomarem a si a responsabilidade de, nas margens do Coura, ali na verde Praia do Tabuão, passarem a organizar essas festas dos finalistas.

Ela soltou uma gargalhada e, embora eu não tenha achado muita piada à gargalhada pois ela não me disse nem sim nem não, mas a gargalhada dela só pode significar que gostou da ideia, eu fiquei com esta na cabeça e não vou sequer escrever ao João pois, dentro de pouco tempo, ali pelo 25 de Abril vou estar com ele em Coura, por ocasião do 2º REALIZAR POESIA, e vou-lhe falar pessoalmente. Mas até pode ser que, antes disso, ele leia isto ou alguém lho mostre…

Eu até pensei chamar a este texto de “A RITA e a LINA”, em homenagem à “Ritalina”, e mesmo “NO TABUÃO É QUE ERA!”, mas decidi chamar-lhe aquele enigmático nome que em cima está e vou explicar porquê!

Primeiro porque não seria justo falar apenas da Rita e da Lina e esquecer todas as Matildes e Mafaldas, os Afonsos e os Sebastiões, as Constanças e as Marias (simplesmente), as Vanessas e as Jéssicas, os Joões Marias e as Maria Joões e toda essa juventude que, desde pequena, para se habituarem a se portarem bem, levam durante anos com doses de “Ritalina”…

Até que, em acabando o secundário, muitos já com farta barba e elas com cabelos à Ivanka, vão fazer o tal “desmame”. E, naturalmente, soltarem todos os “hormónimos” em si carregados. Há também quem lhe chame de Adrenalina! Só que ir fazer isso a Espanha, àquelas hotéis e praias “chungas”, sujeitos a mancharem o nosso bom nome e reputação e incomodarem aquela gente vizinha que o que quer é paz, é uma ideia que merece revisão urgente, e daí este meu contributo.

Pois então vejam: se em Agosto, naqueles oito dias de Agosto, mais os outros quinze, que são o antes e o depois do Festival dos Festivais, o pessoal jovem consegue ali erguer barracas para 15 ou 20 mil, e os tipos estão ali felizes e contentes e o que anseiam é voltar, porque não para mil ou dois mil?

É que ali há tudo! Quer dizer, não há mar…mas há rio! E há Praia. Não é de areia, mas é de erva! E a “erva” ali não falta, nem se esgota. E se for toda, até ao Verão ela cresce outra vez. E já viram o que é ter ali uma água fresca à mão, para arrefecer os ânimos e se poder dormir tranquilamente naquelas bóias todas, ao sol ou à sombra, que podem ser patinhos, crocodilos, tubarões, Mickeys e sei lá que mais…ali, tranquilamente, com barracas de sandes, de bifanas e atum de todas as marcas, cervejas para todos os gostos…que melhor para fazer o tal “DESMAME”?

E, depois, ainda podem ir Vila acima, ocupar a “Leira” e as esplanadas, fazer “Raves” ao ar livre…que melhor que um ambiente assim, não só para fazer o tal de “desmame” da tal “Ritalina”, mas substituí-la pelo “Peace and Love” ou o “Make Love Not War ou os dois juntos?

No TABUÃO é que é! Quais “Rita ou quais Lina”? Tudo a monte e fé em Deus, que os Courenses não são como os Espanhóis…Eles querem é malta, pá. Malta “fixe”, gente. Gente jovem e alegre e com um “desmame” livre daqueles preconceitos da espanholada, pá!

“Ouvistes” JOÃO? Tu diz ao Filipe, ao Jó e ao José Eduardo, e mesmo ao Vitor Paulo, que a minha sugestão, como sempre, é grátis! É apenas em nome da Amizade e do meu Amor a Coura!

“Bora” lá, então…


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