Quem não sabe estar – Um canalha não sabe

(Carlos Matos Gomes, 16/06/2019)

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Acabei de ver os primeiros minutos do programa “Quem não sabe estar”, ou coisa do género, uma imitação dos talk shows das televisões dos EUA. Este de hoje, na TVI, convenceu-me: o personagem que apresenta aquilo é um canalha. Chama-se Ricardo Araújo Pereira – com graça ou sem graça, com guinchinhos ou trejeitos a questão moral: ele é um canalha. 

O que distingue um canalha de um tipo decente é a atitude perante os indefesos. O canalha humilha os indefesos. Os pides eram canalhas, não pela ideologia, mas por torturarem, violentarem pessoas indefesas. Eram canalhas porque podiam ofender sem correrem riscos. Foi o que o pretenso cómico Ricardo Araújo Pereira fez com Armando Vara, hoje, há pouco. 

Armando Vara está preso e foi exposto, por gente de baixo carácter, numa comissão da Assembleia da República. Mandava a decência que a dita comissão de deputados não promovesse o espectáculo do aviltamento de um cidadão preso, trazido algemado à Assembleia da República. 

Ao aviltamento promovido pelos deputados, correspondeu o dito cómico com uma canalhice guinchada e histérica. O homem, neste caso, o Vara não se pode defender: vá de o utilizar para ganhar a vida. Presumo que se Vara fosse um criminoso de sangue, um assassino com um gangue atrás, o Ricardo não se atreveria a humilha-lo e a utilizá-lo para pagar o seu cachet. Podia sempre receber de troca um tiro, uma tareia. Mas, perante o Vara, o Ricardo sente-se imune. É um cobarde, além de canalha.

Conheço, de o viver e de ter de decidir a vida e a morte de prisioneiros, a situação de olhar nos olhos aqueles de quem somos os senhores da vida e da morte. Sei a canalhice que é fazer humor com essa situação, mesmo que seja necessário matá-los.

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A rábula de Ricardo Araújo Pereira sobre um preso é reveladora de um carácter, de um canalha que não tem a noção da dignidade. Vara pode ser o que quisermos e o que um tribunal disse que era, mas nenhuma pessoa de caráter tem o direito a humilhar quem foi julgado, quem a sociedade tem à mercê.Ricardo Araújo, na sua rábula sobre Vara, emparelhou-se (de parelha de bestas) com o chamado juiz Moro no processo contra Lula. 

Havia risos e gargalhadas na assistência da rábula do Ricardo Araújo Pereira. Também os há no Brasil de Bolsonaro e Moro, também os havia nos autos de fé da Inquisição. Também os houve nas execuções pela guilhotina na Revolução Francesa. 

Ricardo Araújo Pereira merece-me um vómito com esta rábula. Alguns riram alarvemente. Gente que vive em pocilgas. Ricardo Araújo Pereira revelou que podia ser ele a arrastar prisioneiros presos pela trela, ou por se colocar atrás de um mastim para os humilhar, depois de os prender e os deixar indefesos. 

Os cobardes têm rosto.


Ganda moca, RAP

(Por Valupi, in Aspirina B, 13/04/2019)

No país minúsculo que somos, há famosos mas quase nenhuma estrela. À escala internacional, temos uma celebridade (Guterres) e duas estrelas (Cristiano e Mourinho). Por cá, só existem três estrelas: Marcelo Rebelo de Sousa, Cristina Ferreira e Ricardo Araújo Pereira.

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O Ricardo já foi de esquerda. Actualmente, é um alegado e displicente votante na CDU que dedica o seu talento artístico a atacar o PS. No Governo Sombra e no Gente Que Não Sabe Estar está rodeado de caluniadores profissionais em cuja companhia faz desses programas contínuos tempos de antena de uma campanha negra. Um levantamento quantitativo e qualitativo do que o Sr. Araújo tem dito enquanto profissional do espectáculo desde que lhe foram ao bolso no BES mostraria que Sócrates e o PS se tornaram para ele os temas obsessivos para imparáveis variações da cantilena “os socialistas é só ladroagem”. Ora, um fanático não tem graça nenhuma. O atrofio da inteligência e a pulhice não têm, não podem ter, graça alguma.

Depois de ter achincalhado pessoas que foram condenados a penas de prisão, depois de ter envolvido crianças no simulacro da violação anal de um juiz, depois de andar a parasitar e deturpar gravações de cidadãos que prestaram declarações juramentadas sem poderem defender-se do uso humilhante a que ficaria sujeita a sua imagem e palavras, chegou a vez de Cavaco. Nunca saberemos quão longe se poderia ir na gozação desta sinistra figura pela simples razão de não haver quem goze com ele. O que se viu no passado domingo na TVI confirma e consolida essa blindagem. Em vez de apontar ao responsável político, à intencionalidade da sua intervenção no espaço público, o Pereira das piadolas resolveu satirizar os sinais de senectude. O Cavaco-múmia foi usado para arrancar risos boçais da plateia, com isso conseguindo-se esconder o que pretende, e o tanto e tão grave que fez, o Cavaco-chefe-mor da direita decadente. Mas talvez o mais degradante tenha sido ver a nossa estrela a usar o território da velhice, e seu rol de desgraças corporais e mentais, como alvo de humor persecutório e estigmatizante.

A postura do RAP está fundamentalmente marcada pela pulsão da violência. O humor que actualmente cria não passa de um sistemático exercício de agressão, sem qualquer ligação com o estilo inicial dos “Gato Fedorento” – onde se celebrava um património comunitário e se acarinhavam as caricaturas e sua humanidade. Agora, cada rábula, cada boca, procura ofender, procura ferir. Há um inimigo e tem de ser desumanizado. Ofereceu porrada ao Neto de Moura e, simetricamente, teme reacções violentas ao que vai apresentando. Pelo meio, sabe-se protegido pelo seu estatuto mediático e pelo próprio regime. Sente que vale tudo, que se pode vingar, que a audiência papa a gargalhar qualquer cocó que ele faça em palco. Deixou de ser comediante, transformou-se numa moca de Rio Maior com pernas.


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