Cessar-fogo? Não me parece.

(José Neto, in comentários na Estátua de Sal, 02/11/2023)

(Este texto resulta de um comentários a um artigo que publicámos do General Raul Cunha, ver aqui. Pelo contributo para o debate sobre a evolução futura da guerra na Ucrânia, resolvi publicá-lo como artigo.

Estátua de Sal, 03/11/2023)


Conversações diplomáticas? Cessar-fogo? Não me parece.

Em rigor, a Ucrânia perdeu a guerra em finais de Março de 2022, apenas um mês após o início da intervenção russa, e estava pronta a negociar. Se a lógica imperasse ali a guerra estaria terminada por essa altura. As delegações dos dois países chegaram mesmo a um acordo e ele só não foi implementado porque a administração Biden usou toda a sua influência sobre o governo de Zelensky e conseguiu impedir a conclusão do processo.

Terão sido feitas ameaças de morte (“se você assinar esse acordo receio que não poderemos protegê-lo…”) seguidas de avultados subornos e finalmente promessas de que a NATO iria fornecer todo o dinheiro e armamento necessário para “vencer os russos”.

Então eu não acredito que a seita que supostamente governa a Ucrânia venha nos próximos tempos a tomar a iniciativa de propor negociações de paz, que obviamente, e dado o estado em que se encontra a guerra, seriam sempre uma rendição incondicional. Eles teriam que aceitar integralmente os termos dos russos, e estes não fariam nenhumas concessões relativamente quer aos objetivos iniciais da Operação Especial, quer ao “status” territorial vigente.

Quanto aos russos, eles agora estão muito confortáveis, e não devem ter vontade nenhuma de terminar para já o conflito porque o tempo corre a seu favor em várias frentes. Eles conseguiram inverter os termos da jogada americana. Ultrapassaram a fase em que a sua economia poderia entrar em derrocada, e depois resolveram o seu défice inicial de produção de suprimentos.

É perfeitamente natural que tenham surgido alguns problemas nesse campo, pois os russos não tinham maneira de prever a reação tresloucada dos países ocidentais em bloco, que sacrificaram as suas próprias economias a fim de canalizar para a Ucrânia um esforço militar ao nível do que seria se eles próprios estivessem em guerra. Os russos sabem agora que são os países ocidentais que não conseguem acompanhar o desenrolar dos acontecimentos, tanto no plano económico como na produção de suprimentos militares.

E depois que os Estados Unidos se deixaram arrastar para um novo atoleiro no Médio Oriente, pode dizer-se que eles estão exatamente onde os russos os queriam. Com a sua economia em farrapos e sob ameaça de o dólar deixar de ser moeda de referência, e tendo deixado destapar as suas dificuldades na produção de armamento, nunca conseguirão sustentar duas guerras em simultâneo.

O belo plano, tão laboriosamente arquitetado, de enfraquecer a Rússia para depois fazer guerra à China acaba de ir pelo cano todo inteiro. O objetivo máximo passou a ser não deixar cair Israel. Perder Israel significaria perder o Médio Oriente, perder toda e qualquer influência sobre a principal zona de produção de petróleo e gás natural. E no entanto neste momento são as bases americanas na região que estão a ser atacadas todos os dias, numa base de 10 ataques para uma retaliação apenas.

Recorde-se que, ao chegar ao local Biden, desbocado como sempre, não hesitou em afirmar que os Estados Unidos lutariam ao lado de Israel se preciso fosse, para derrotar a ameaça “terrorista”. Agora teve que dizer que não senhor, nunca tinha dito tal coisa. Provavelmente esta mudança de discurso acontece depois de os responsáveis militares da Rússia e dos Estados Unidos trocarem impressões por telefone.

É que uma intervenção armada americana no atual contexto iria muito provavelmente colocar os EUA em rota de colisão com o Irão. E a Rússia não pode deixar cair o seu aliado iraniano, da mesma forma que os EUA não podem perder Israel. E ali, tudo o que se mexe está ao alcance dos mísseis russos.

Voltando à Ucrânia, para finalizar o meu raciocínio a respeito da (im)possibilidade de negociações.

Se por hipótese Zelensky viesse a encetar qualquer negociação de paz com os russos ele seria imediatamente morto pelas falanges de fanáticos nazis que o rodeiam, para começar. E os “neocons” americanos nunca aceitariam uma vitória russa neste momento porque isso seria o seu fim político. Depois do que Biden andou a dizer sobre Putin e a Rússia, identificando-os como as forças do mal absoluto, e tendo afirmado vezes sem conta que a vitória do Ocidente era certa, ele não tem maneira nenhuma de aceitar uma solução negociada e ainda sobreviver nas próximas eleições.

Uma vez que o governo ucraniano não tem na verdade nenhuma autonomia e não quer saber do sofrimento do seu próprio povo, é mais provável que decidam recuar para posições defensivas E tentarem assim resistir até à próxima Primavera, na esperança de que a torneira ocidental não se feche entretanto.

O Major-General Raúl Cunha está a pensar de acordo com a lógica militar, e nesse sentido está a pensar bem, mas nenhuma lógica é aplicável à situação na Ucrânia. Se os líderes ucranianos se guiassem pela lógica não estariam há quatro meses a tentar viabilizar uma ofensiva que já toda a gente viu que não tem hipótese nenhuma. Isso foi evidente para todos os analistas militares com um QI superior ao de uma galinha quando, ao fim de 15 dias, os resultados foram zero. Se uma ofensiva não obtém resultados ao fim das primeiras duas semanas ela fracassou.

É claro que poderíamos também referir que, sem superioridade aérea, superioridade numérica de homens e materiais de pelo menos 3 para 1 e pelo menos paridade de artilharia, ela nunca teve realmente hipótese nenhuma, mas eu próprio já disse isso mesmo, aqui, demasiadas vezes.

Na verdade eu não sei mesmo se podemos continuar a falar de uma ofensiva ucraniana. Uma ofensiva, por definição, implica um avanço numa qualquer direção. Os ucranianos, sempre criativos, acabam de inventar um novo conceito, eles idealizaram uma ofensiva militar que não sai do mesmo sítio…

Eu tenho acompanhado os últimos desenvolvimentos da guerra e Avdeevka não é o único assentamento ucraniano que está sob ataque. As tropas russas estão a realizar várias ofensivas diversificadas, nomeadamente na região de Karkhov e também na direção de Kupiansk e Izyum. Basicamente trata-se de libertar todo o Donbass e recuperar territórios que já estiveram em poder da Rússia antes da ofensiva – relâmpago ucraniana em Setembro de 2022.

É natural que várias regiões ainda mudem de dono antes da pausa de Inverno.

Se houver pausa, claro, porque quando a neve se tornar em gelo duro e o Denieper congelar, muitas coisas interessantes poderão acontecer.

Mas como eu também já disse, os russos não têm pressa nenhuma.


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8 pensamentos sobre “Cessar-fogo? Não me parece.

  1. O OCIDENTE MAINSTREAM QUER GUERRAS MAS NÃO VAI TER GUERRAS… VAI SER DERROTADO COM PACIÊNCIA DE CHINÊS
    .
    Provocações: Rússia/Donbass, China/Taiwan, Irão/Palestina, etc… quando o planeta deixar de aceitar o dinheiro falso (vulgo dólar) do Ocidente mainstream… o Ocidente mainstream não vai conseguir sustentar as 800 bases militares que possui nos cinco continentes.

  2. Assino em baixo. Pela lógica a Ucrânia e aliados já deviam ter percebido que as falanges nazis nunca entrarão triunfantes em Moscovo, que se a Rússia não se partiu em 20 nos tenebrosos tempos de yeltsin em que pelo menos três milhões de pessoas morreram de fome e de frio e outros tantos passaram de ter profissões qualificadas como médicos e engenheiros para serem trolhas explorados para lá do sol posto, não vai ser agora.
    A verdade é que sempre nos disseram que íamos ganhar aquilo porque a Rússia estava convencida que, aquilo iria ser um passeio mas a heróica resistência ucraniana ia dar lhes uma lição.
    Ora é provável que a Rússia sempre soubesse com o que se tinha a haver mas acreditasse que podia sempre ir controlando os ímpetos de limpeza étnica e genocídio do vizinho que já tinham custado 14 mil vidas em oito anos. E por saber bem com o que se tinha a haver tratou de ir vendo no que isto dava. Mas acabou concluindo que não havia mais remédio que avançar especialmente quando, a partir de 16 de Fevereiro, o que restava do Donbass em poder das forças ditas separatistas começou a ser impiedosamente bombardeado como prenúncio de uma operação terrestre que deveria começar no início de Marco. Por cá íamos dizendo que as explosoes que se ouviam era a malta a festejar com fogo de artifício a, Rússia lhes ter reconhecido a independência. A sério, isso está escrito.
    E, claro, o discurso delirante de Zelensky no domingo anterior, a prometer a reconquista militar da Crimeia custasse o sangue que custasse e a possibilidade de o pais ter capacidade nuclear já no Verão fez finalmente os russos perceber que não dava para esperar mais sob pena de haver cogumelos cor de laranja a explodir no Kremlin.
    Mas era por cá que achávamos que isto ia ser um passeio para nós. Ouvíamos nos cafés, nos locais de trabalho, nos comentários televisivos, em todo o lado. Putin tinha entrado num ponto sem retorno. Era louco. Doente. Putin teria o destino do czar, nem mais nem menos. Isto se o cancro se sangue ou de pâncreas, conforme as fontes, não o matasse antes. As sanções económicas fariam com que os oligarcas lançassem multidões enlouquecidas pela fome e falta de tudo contra o Kremlin. A guerra não duraria mais de dois meses e seria a derrota total da Rússia e a eliminação física de Putin.
    Sempre achei so estúpido isto de pessoalizar esta ou outra guerra. Porque todos os homens são substituíveis, ja não estamos nos tempos em que morto o rei os exércitos debandavam e as nações perdiam a guerra. Se é que alguma vez houve esse tempo. Quando é a sua sobrevivência que está em causa, as nações reinventam se. E outro no lugar de Putin talvez tratasse de resolver a coisa a maneira Israelita, matando indiscriminadamente a torto e a direito porque o que também não falta na Rússia são falcões.
    Mas a verdade é que agora a Rússia não tem pressa e o Putin deve estar a rir que nem um perdido ao ver gente tão preocupada com os civis da Ucrânia, com os cortes de luz e outros, a tentar arranjar agora justificações para o total bloqueio de água, luz, comida e medicamentos a Gaza e os bombardeamentos completamente selvagens e insanos.
    E não cola a história dos ataques do Hamas para justificar toda essa, atrocidade porque também as falanges nazis ucranianas chacinaram civis. E se a história dos bebés decapitados era mentira, a da mulher violada até a morte e com uma suástica cravada na barriga era verdade. Reféns? Em Azovsfal eram só dois mil. Mas não, esses habitantes russofonos do Donbass estavam lá de livre e espontânea vontade para proteger os seus amigos nazis. Verdade, foi um passarinho que me contou.
    Felizmente para eles, a Rússia teve mais respeito pela vida deles que Israel tem pela situação dos seus reféns em Gaza. Porque também sabe que aqui há dois pesos e duas medidas. Se a Rússia bombardease indiscriminadamente, torrando os reféns juntamente com os nazis, seria vilipendiada por se estar nas tintas para quem afirmava querer proteger. Já Israel tudo o que faz é bem feito e não tem alternativa a não ser matar os reféns para destruir o Hamas. Faz sentido.
    E é porque tudo isto faz sentido para certos espíritos que a guerra na Ucrânia está para durar a menos que a Rússia decida fazer em Kiev o que Israel esta a fazer em Gaza. As defesas que demos aos ucras tornariam a coisa mais complicada do que esta a ser a matança em Gaza mas uns quantos Khinzals eram capazes de dar para o gasto. Mas não me parece que a Rússia vá por aí só para o Putin poder dizer que não fizeram pior que o que Israel esta a fazer em Gaza com a nossa bênção.
    Por isso a guerra na Ucrania está para lavar e durar. Ate porque na Ucrânia não há com quem negociar. Zelensky não manda nada, se negociar não tem onde se esconder dos nazis, nem a Mossad lhe vale pois que é melhor a matar que a proteger, a vida do seu povo não vale nada por isso deixa arder que o pai não é bombeiro mas faz de conta. Por isso ainda teremos muito a dizer sobre a guerra da Ucrânia.

  3. Não fora obsceno, seria ridículo o esforço da orfandade soviética e dos amantes das autarcias, em tudo fazerem para justificar o imperialismo russo, regime que é bandeira maior de um caciquismo a que tantos aspiram, no entusiasmo de saberem nele poderem ascender ao poder, sem mais esforço que pela palavra e a sujeição e, aí chegados, estar construído todo um sistema que lho preservará!
    É essa a herança do sovietismo, essa é a orfandade em que vegetam.

  4. Totalmente de acordo José Neto.

    Dito isto,a 3° guerra mundial é inevitável,por isso penso que a Russia e a China já estão a preparar-se para 3° guerra mundial,é uma questão de tempo.
    Mas não é só na Rússia e a China mas em todo o mundo !!!
    com os circuitos de treino !!! antes do grande combate !

    Que o façam aqueles que apelam às pessoas para lutarem e irem para a guerra. É demasiado fácil pedir aos pobres para irem perfurar a pele enquanto os poderosos se mantêm a salvo.

    De facto, algumas pessoas digam para si próprias “não somos os primeiros”, é pior e muito racional, tendo em conta o contexto da guerra assimétrica e a estratégia do “fraco contra o forte”, dizem para si próprias, no fundo, que os danos seriam tais que “se não formos os primeiros, seremos os últimos”.

    O local mais seguro é a Nova Zelândia, que está livre das correntes marítimas e atmosféricas do mundo.
    É por isso que tantos bilionários instalaram recentemente os seus bunkers e outras casas autónomas neste país.

    Não é preciso ser um génio para perceber que o imperialismo está a chegar ao fim. Têm duas opções: a primeira é redistribuir as cartas do mundo, a segunda é iniciar uma terceira guerra.

    Estamos a viver um período histórico da maior importância, que marca o fim da guerra de G. W. Bush, que se quis vingar dos atentados ao World Trade Center e que, ao falar do terrorismo e dos inimigos dos EUA, disse: “Ou estão connosco ou contra nós”… Esta simples frase criou uma divisão difícil de quebrar, especialmente na Europa.
    O que me faz rir é o facto de estarmos a viver em tempos escatológicos, o que me diz que estamos mesmo na merda.

    Penso que estamos no início de uma nova era de renascimento, que é difícil de compreender para todos. Os artistas podem sentir e interpretar estas mudanças, mas os detentores do poder são os últimos a compreendê-las e agarram-se aos seus próprios interesses, travando esta mudança.

    Há de facto uma ausência singular de vozes da razão, de forças morais capazes de afirmar os valores da paz e da democracia, mas isso deve-se sobretudo à falência moral total das potências que se arrogaram desse papel e que perderam toda a credibilidade através da prática permanente e absoluta da duplicidade de critérios que é o seu valor cardinal e que se baseia na sua ideia de que as vidas não valem o mesmo consoante se é rico ou pobre, cristão, muçulmano ou outro, branco ou não, etc.

    Hoje em dia, há o Ocidente e o resto e, no resto, o Ocidente tornou-se inaudível. Como é que podemos acreditar que eles podem compreender os problemas do Sul, quando ninguém no Sul tem a impressão de ser considerado pelo Ocidente como pertencente à Humanidade? Como podemos acreditar que um país ocidental vai ajudar a encontrar uma saída para o conflito do Médio Oriente, quando o seu ponto de partida é que uma das partes tem todo o direito, incluindo o direito ao genocídio? É a falência moral do mundo ocidental que está a forçar a recomposição e o nascimento de um novo mundo, um processo que não será isento de dor, se ainda restarem homens nesta terra para entrar neste novo mundo.

    Os mecanismos de prevenção ou de redução, se não mesmo de resolução, dos conflitos existiam e funcionavam antes de os americanos decidirem substituí-los pelas suas próprias “regras”, no início dos anos 2000. Espalharam a violência com as suas próprias intervenções e guerras por procuração, destruindo os equilíbrios regionais e levando os Estados preocupados a armarem-se excessivamente.

    A razão de tudo isto? A Rússia, desde a chegada de Putin, está, como o atestam todos os indicadores, numa linha ascendente contínua de progresso económico e social, e as sanções não fizeram nada para alterar isso. Há ainda mais tempo, a China tem vindo a progredir de forma constante, registando muito menos flutuações cíclicas do que o resto do mundo e dominando-as na perfeição, e assumindo lenta mas seguramente o seu lugar como líder mundial. Se estes dois países, a Rússia e a China, têm um problema, esse problema são os EUA.

    Mas talvez isso reflicta uma citação de Oscar. Wilde, que dizia que os EUA são o único país que passou da barbárie à decadência sem ter, entretanto, experimentado a civilização.

    É uma especie de batalha pelas coisas materiais. Neste mundo já não queremos cuidar dos nossos entes queridos só porque temos uma vida para viver. Toleramos que o nosso irmão viva na miséria porque não fez o suficiente para melhorar a sua situação. Toleramos ver o nosso vizinho suicidar-se por causa de um problema financeiro, mas vamos de férias. Compramos casas que nem sequer visitamos, apesar de as nossas famílias estarem sem casa. Colocamos os nossos pais em lares de terceira idade com o pretexto de que eles cuidarão melhor deles. Tudo isto por uma suposta vida a viver, para no fim recebermos de volta tudo o que nos recusámos a dar. Consumamos menos, vivamos para a nossa verdadeira missão na terra e viveremos certamente em paz.

    • «A Rússia, desde a chegada de Putin, numa linha ascendente contínua de progresso económico e social.
      a China tem vindo a progredir de forma constante»
      E vai daí… Nunca o disparate teve uma tão generalizada aceitação!
      Algo de semelhante teria ocorrido sem o acesso à tecnologia e ao modo de produção do Ocidente?
      O que é que nesses progressos se acresce de mais substancial senão a mão-de-obra barata, a exploração de recursos, e sistemas políticos em que a liberdade ou está ausente ou é farsa?

      O que sobra para verdadeiro antagonismo é o quanto de liberdade individual é aceite como admissível, o quanto se aceita que domine um caciquismo – de que o nacional/fascismo e o pseudointernacional/comunismo foram exemplo – o qual sempre criou a guerra e que voltará a fazê-lo.

    • André, você tem um visão muito correta das coisas e do estado a que elas chegaram. Os meus parabéns. É sempre um prazer ler os seus textos, mesmo quando decide divagar pelas teorias da conspiração da moda.

      Quanto à questão de estarmos na fronteira da III Guerra Mundial eu tenho uma opinião um pouco diferente. Desde que a Rússia decidiu impor uma derrota estratégica aos EUA na Síria que eu venho a dizer que a III Grande Guerra já começou. Naturalmente, dado que a conjuntura é diferente, os métodos também teriam que ser diferentes, agora com ênfase no recurso regular a interpostas forças menores, ou “proxis”, para se evitar o confronto direto entre potências nucleares.

      Os Estados Unidos são grandes especialistas nesse expediente e são na verdade o maior catalisador do terrorismo no mundo. Isto foi aliás muito bem explicado pelo Presidente sírio Bashar al-Assad em entrevista concedida alguns meses atrás.

      Ou seja, mudou-se a aparência mas a essência permanece, como diriam os filósofos antigos. Podemos dizer que vivemos hoje os preliminares da III Grande Guerra, equivalentes, por exemplo, à anexação da Áustria seguida da conquista da Checoslováquia respetivamente em Março e Setembro de 1938 pela Alemanha de Hitler. Se pusermos os EUA no lugar da Alemanha nazi bate tudo certo.

      E sim, o Armagedão é praticamente inevitável e se os acontecimentos decorrerem de acordo com a lógica da História ele não poderá mesmo ser evitado. Conjunturas geoestratégicas semelhantes conduzem fatalmente a desenlaces semelhantes porque os homens são incapazes de aprender com as experiências passadas. Razão pela qual a História tende a repetir-se indefinidamente.

      Eu acho que já abordei esse assunto aqui, mas foi há algum tempo. Quando tiver oportunidade e alguma paciência voltarei a ele.

      Um abraço, meu amigo!

  5. Se alguma coisa nos puder livrar de ver cogumelos cor de laranja será o facto de os senhores do mundo não quererem acabar os seus dias num bunker e a ter de vir tomar ar enfiados num fato de astronauta. A ser possível colonizar Marte já há muito que a grande conflagracao que tememos teria estalado.
    É claro que depois há o fanatismo messiânico que pode levar alguns a achar que a divina providência de algum modo salvará as suas nações. Porque as outras não interessam nada. Os presidentes americanos terminam sempre os discursos com um God Bless America, entendendo se a América como os Estados Unidos. Os outros que se lixem. Sim, o panorama não é famoso.

  6. “Aritmética para Totós”, edição em papel couché e capa dura, prefácio do insigne matemático Pitágoras, brevemente numa livraria perto de si. Um pequeno excerto:

    “De acordo com os dados mais recentes das Nações Unidas, divulgados ontem, a guerra na Ucrânia matou até agora, em 20 meses, 9900 civis. De notar que este número inclui não apenas os civis mortos por bombardeamentos russos na Ucrânia controlada pelo governo de Volodymyr Zelensky, mas também os civis dos territórios controlados pelas forças russas ou separatistas, obviamente mortos por bombardeamentos das forças governamentais ucranianas. Em contrapartida, na Faixa de Gaza, em menos de um mês, os bombardeamentos israelitas já conseguiram a magnífica proeza de matar mais de 10 mil civis palestinianos.”

    Ora sabendo nós, porque é isso que nos dizem os que sabem, que os pretos das neves da Moscóvia só bombardeiam alvos civis, fica mais uma vez provada a sua estupidez e inferioridade biológica, evidenciada por uma confrangedora falta de pontaria, a anos-luz da prodigiosa precisão e eficácia demonstradas pelo povo eleito. Disse-me um passarinho, ou passarinha, ou passareta, vá-se lá saber, que, impressionadíssimo, o Vladimir Putin já telefonou ao doce escuteiro Naziniahu a pedir-lhe a graça de um curso de tiro intensivo, mas claro que não lhe servirá de nada, porque, como é bem sabido, aqueles vesgos de merda da Moscóvia nada de útil conseguirão alguma vez aprender.

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