(Carlos Matos Gomes, in Medium.com, 19/08/2023)

Quando sou fraco exijo-vos a liberdade em nome dos vossos princípios; quando sou forte, nego-os em nome dos meus! A frase é de Charles Montalembert, um polemista francês do século XIX, liberal, colaborador do jornal L’ Avenir, e resume o relativismo moral, o princípio orientador de todas as religiões, o pilar de todos os poderes.
No dia 18 de Agosto de 2023, o jornalista David Pontes, diretor do jornal Público, escrevia em editorial “Para um jornal a verdade é a essência da sua missão e por isso não podemos deixar de repudiar a utilização do nosso grafismo para a difusão de mentiras” — um editorial a propósito da imoralidade de um partido político e do seu chefe que utilizam a mentira como instrumento comum e se mascararam (se travestem) com roupagens de entidades credíveis para fazer passar as suas mentiras, mas o Chega e o seu chefe visível são apenas fenómenos excrementários da filosofia do relativismo moral que se impôs como padrão do comportamento humano.
A relativização moral elimina as contradições de julgamento. Limpa a imagem de tiranias teocráticas do Médio Oriente feita com as compras milionárias de armamentos e agora de jogadores de futebol. Um assassinato com esquartejamento de um opositor, a mando de um príncipe das arábias, é relativizado, enquanto a prisão de um opositor a Putin é superlativado. A perseguição aos uigures na China é motivo de sanções, mas a perseguição dos curdos pela Turquia é negociável. Um migrante milionário que compra um visto gold é bem-vindo, enquanto um migrante magrebino é deixado a afogar no Mediterrâneo. A queima de um Corão na Suécia justifica mortos no Iraque e no Paquistão!
Somos condicionados desde o início da vida pela ideia de que a moral é um conceito natural. Que a obediência e a desigualdade estão inscritas na ordem do mundo, que a miséria, a pobreza, a fome e a doença são castigos divinos aos fracos e o enriquecimento obtido através da exploração sem limites dos recursos naturais e na lei do mais forte (atrás de uma grande fortuna está sempre um grande crime — Balzac) constituem um prémio aos fortes e aos eleitos dos deuses.
Sendo uma ideologia perversa, o relativismo moral é quase sempre caucionado por uma religião, o que lhe garante a eficácia provocada pelo medo de uma condenação eterna. Ora a noção de Bem e de Mal não é inata, não resulta da necessidade de sobrevivência da espécie humana, mas do interesse de grupos ou de indivíduos em impor o seu poder, aumentá-lo e justificá-lo. O valor em conformidade com a natureza dos seres vivos é a ética, o que deve ser feito, o que cada espécie deve fazer para sobreviver.
O sucesso universal e pandémico do capitalismo deve-se à capacidade de ao longo dos séculos os seus promotores terem transformado a moral, o Bem e o Mal, em mercadorias, em modas, e de terem alienado a ética como uma velharia. Na sua essência, o discurso moralista é subjetivo, egoísta, falacioso e totalitário, porque impõe como salvação geral a aceitação de uma verdade particular, mas o relativismo moral é perverso porque corrompe a essência dos valores.
O problema de defender valores morais é que estes resultam de conflitos de poder e a resposta às questões morais é sempre um juízo determinado pela relação de forças em presença. Isso significa que o juízo moral só é válido para o mais forte, o que não só é imoral, como é irracional, pois coloca em causa a sobrevivência de todos: fracos, fortes e os seus habitats.
Os nossos princípios e normas morais estão baseados, em última instância, em desejos e preferências estritamente subjetivos (David Hume).
É a subjetividade da moral que permite aos populistas, aos praticantes e propagandistas do relativismo dominante defender que deveríamos achar que ‘certo’ e ‘errado’ são propriedades inerentes às coisas e aos factos. Qualquer noticiário de TV constitui um bom exemplo desta ‘ordem’ que tanto julga a guerra na Ucrânia como as taxas de juro, as férias de milionários como a fome no Sudão.
O conflito entre a Moral e a Ética é uma das constantes da história da humanidade, e é da mesma natureza do conflito entre a Fé e a Razão, a quadratura do círculo que São Tomás de Aquino procurou explicar. Racionalmente, a relativização da moral, tal como a supremacia da fé sobre a realidade, são embustes, mas a moral e a fé existem, os homens criaram esses instrumentos, que embora perversos, lhe são indispensáveis quer enquanto indivíduos quer enquanto membros de uma sociedade.
A única novidade da atual fase do conflito entre o relativismo moral, da moral conveniente aos interesses, e a ética é a existência de armas com capacidade para o resolver definitivamente, o que coloca a humanidade no velho problema da fábula do escorpião que mata a rã que o transporta para ele não morrer afogado, porque é da sua natureza proceder assim.
Não é animador reconhecer o que escreveu Hans Kelsen, um jurista e filósofo austríaco, autor da Teoria Pura do Direito: Se existe algo que a história do conhecimento humano nos pode ensinar é como têm sido vãos os esforços para encontrar, por meios racionais, uma norma absolutamente válida de comportamento justo, ou seja, uma norma que exclua a possibilidade de também considerar um comportamento contrário como justo.
O simplismo do texto deixa -me algo apreensivo, quanto à critica ao relativismo moral como se fosse um mal em si. E sem apresentar tese diferente, que o meu propósito não é dizer que a minha é melhor que a outra, interrogo-me como se pode atribuir a causa a causa/responsabilidade de discursos actualmente ditos populistas a algo que, mesmo que se legislasse a sua proibição, será sempre um facto ( e não vale a pena proibir aquilo que não é possível fazer), a não ser que nos coloquemos numa perspectiva minimalista, assente em três princípios: não prejudicar o outro, igual valor a todas as partes, e irrelevância moral das condutas que se referem a si mesmo.
“Para um jornal a verdade é a essência da sua missão e por isso não podemos deixar de repudiar a utilização do nosso grafismo para a difusão de mentiras”
Isto está para lá do relativismo moral. Para alguém de um órgão da máquina de propaganda do império genocida ocidental, que passa a vida a mentir e a manipular, ora em nome do capital-fascismo económico (NeoLiberalismo), irá em nome do belicismo racista (NeoCon), se atrever a escrever um editorial destes, é preciso não ter uma gota de vergonha, e é preciso ser alguém quase sociopata de tão naturalmente que lhe saem as mentiras sem lhe causarem um pingo de remorsos.
“Para um jornal a verdade é a essência da sua missão e por isso não podemos deixar de repudiar a utilização do nosso grafismo para a difusão de mentiras”
Imagine-se ter a lata de escrever este editorial, após passar duas décadas sem uma única condenação oficial das agressões híbridas (guerra proxy, golpes, sanções ilegais, emeaçad, ataques especulativos nos mercados, etc) feitas pelo império genocida ocidental, e depois de passar um ano e meio a repetir, como um disco riscado, aquela frase da cartilha do Pentágono: “guerra de agressão não provocada e injustificada”, ou “a defesa da liberdade e da democracia na Ucrânia perante a invasão do autocrata Putin que ameaça toda a Europa”.
Ou na economia, chamar “centro moderado” a quem f*de o povo trabalhador, e depois chamar “extrema” ou “populista” a quem defende quem trabalha.
Isto está para lá do relativismo moral. Isto é a total ausência de moral.
E foi assim que a Democracia morreu, algures entre 1992 e 2022. Ou terá sido uma morte lenta que só se tornou óbvia recentemente para uns, e continua a ser negada por outros que diariamente ainda vão usando a expressão “democracia liberal”, que faz tanto sentido ser usada pelos ocidentais neste momento, como faria sentido ser usada por Hitler entre 1933 e 1945: absolutamente nenhum sentido
“Para um jornal a verdade é a essência da sua missão e por isso não podemos deixar de repudiar a utilização do nosso grafismo para a difusão de mentiras”
Imagine-se ter a lata, o topete, de escrever isto depois de difundir tantas fake news, tanta inverdade e falta de rigor, tanta propagada de guerra, tanto branqueamento do nazismo Ucraniano.
Imagine-se dizer isto ao mesmo tempo que se apoia o regime ocidental que, tal como o Estado Islâmico, deita abaixo monumentos para esconder a história, e faz legislação para a reescrever (o “dia da Europa” que se confunde propositadamente com a UE, e tem como objectivo substituir e agora até ilegalizar o Dia da Vitória (que é Soviética pois foram eles que derrotaram a maioria das tropas nazi germânica e chegaram a Berlim antes dos outros).
Imagine-se dizer que se defende a verdade, e ser a plataforma que todos os anos tenta manipular a percepção dos portugueses com os rankings das escolas, que nada mais fazem do que identificar que escolas estão nos bairros ricos e mais seleção fazem dos alunos logo à partida, naquilo que par mim é um óbvio caso de fascismo a destruir uma das conquistas do 25-Abril.
Imagine-se ser um “jornal” que dá sistematicamente prejuízo e depende do patrocínio de uma família da oligarquia portuguesa, e dizer-se imprensa “independente”, ou imprensa “livre”.
Disse e repito: isto (aquele editorial e o comportamento diário daquela redação) não é relativismo moral. É a total ausência de moral.
E o Chega e André Ventura não os incomodam. Servem exatamente o objectivo para que foram criados: criar uma falsa percepção de que os MainStreamMerdia (e respectivos partidos políticos) que mais ladram a essa estrumeira da Extrema-Direita, são muito “honestos”, “livres”, “democráticos”, e “bem intencionados”, quando na realidade são apenas uma estrumeira de cor diferente.
E quem escreveu esse editorial do Público, sabe exatamente isto, foi treinado para isto, e estava a pensar nisto enquanto escreveu cada uma das palavras de tal editorial.
Num país estagnado desde que perdeu a soberania/independência monetária, com um número de pobres que foi de 3.7 para 4.5 milhões nos +20 anos da €Uroditadura, em que 70% têm rendimentos tão baixos que nem dá para pagar IRS, o que os “defensores da verdade” como o Público publicam nesta semana é a proposta demagógica e elitista/fascista do PSD de baixar o IRS, com um desenho que pode fazer duas coisas gravíssimas: deixar os cofres do Estado ainda piores (e depois isso será notado ainda mais no SNS e companhia), e ter os grandes beneficiados da medida nas classes sociais média-alta e alta. Ou seja, aquele que não precisam de ajuda nenhuma.
A “verdade” do Público e de todos os MainStreamMerdia portugueses esta semana é fazer o povo pobre crer que tem Estado a mais, e que precisa de menos impostos.
Também aqui a moral não é relativa. É ausente. Que publica essa propaganda sabe bem quem está a beneficiar, e porque o está a fazer propositadamente, lixe-se quem se lixar. Afinal de contas os melhores porropagandistas fazem parte dessa classe média-alta, e os seus donos fazem parte da classe alta. Quem está abaixo que se f*da…
Se o Carlos Matos Gomes acha que isto é somente relatividade moral, então apesar de estar no caminho certo, ainda não chegou à conclusão a que eu cheguei e ainda não percebeu a gravidade do estado a que isto chegou (isto é o império genocida ocidental chamado pelos propagandistas de “ocidente colectivo” ou uma mentira ainda pior: “comunidade internacional”).
Se fosse só relativismo moral, era possível discutir, mudar, melhorar.
Mas não. É a total ausência de moral.
Eles não relativizam a violência na Palestina. Eles promovem a violência do Apartheid invasor, e chamam “terrorista” aos civis bombardeados. E fazem-no de plena consciência, sabendo bem o objectivos da sua manipulação, e obedecendo bem às ordens de quem os contratou e promoveu, que por sua vez é financiado e ajudado pela oligarquia, que por sua vez é vassala ou corrupta do império genocida. E na capital do império, o objectivo é claro: limpeza étnica na Palestina, Israel a colonizar Gaza e Cisjordânia inteiras. Porquê? Porque sim, por ódio, fanatismo, e corrupção moral e financeira.
Isto é a total ausência de moral.
Por isso este regime tem de ser totalmente derrotado e mudado de cima a baixo. E isso não se faz com votos e fado, até porque o regime não é representativo e a maioria de quem vota não tem acesso à realidade, só tem acesso à máquina de lavagem cerebral. A mudança faz-se portanto com tanques e Grândola Vila Morena.
Excelente comentário. 🙂
Mas quando o Marques diz “ausência de moral” isso não corresponde já a um juízo moral ? Ou seja, não está a dizer que os seus valores morais não se revêm no contexto social vigente ?
Sugestão de leitura sobre a matéria do cinismo filosófico: Comte-Sponville , “Valor e Verdade”.
A verdade define-se em relação ao seu objecto: facto ou conceito.
Quando se visa a descrição de situações complexas, em que coexistem factos e conceitos contraditórios, aí dificilmente se pode falar em verdade, pois haveria de tudo referir; antes importa considerar tratar-se de opinião, que pode ou não relevar factos verdadeiros, mas que nunca abarca toda a verdade.
A moral relaciona a verdade do conceito com valores que podem garantir ou negar a sua validade.
A ética pode definir-se como um código moral estabelecido num âmbito bem definido, que pode abranger uma profissão, actividade ou acção específica, pelo que aos princípios morais ocorre associar-se uma evolutiva concepção ética derivada em particular de desenvolvimentos tecnológicos.
O relativismo moral é tão só a norma: pessoal. geográfica, política.
A questão é saber se os valores se aplicam a factos e a conceitos verdadeiros e não distorcidos.
O poder pode definir impor valores, e desde logo é o que fazem as leis.
Se desses valores se chega à verdade… talvez à da maioria democrática, caso exista.
É duvidosa a relação entre a frase e o relativismo moral:
«Quando sou fraco exijo-vos a liberdade em nome dos vossos princípios; quando sou forte, nego-os em nome dos meus!»
O ‘sujeito’ é a liberdade – que aparenta ser aceite por todos, sem pendência de quem está no poder – pelo pode ser reclamada com exclusão dos demais princípios.
Se em vez de ‘nego-os’ se disser ‘nego-a’ aí temos o relativismo moral!
Excelente comentário, efectivamente, a que se segue mais uma salada russa de quem o relativismo moral, ou melhor, a amoralidade de quem nos leva pela trela sabe o Diabo para onde não interessa nada.
Ora nós começamos bem cedo nesse exercício de amoralidade, provavelmente quando achávamos estar a fazer um favor aos escravos do Leste traficados por turcos e genoveses porque eles eram uma cambada de pagãos e nós estávamos a civilizado Los e cristianiza los. E afinal de contas a vida miserável que tinham nas suas terras brutas e frias fazia com que fosse bem melhor o carinho do chicote, da violação de mulheres, em terras quentes. Ninguém perguntou foi nunca a opinião a nenhum desses desgraçados arrancados das suas terras como animais.
A destruição das sociedade pré colombianas foi justificada pelos sacrifícios humanos que aquela malta fazia, os soldados ficavam muito chocados com aquilo. A sério, um professor da Faculdade de Direito de Lisboa bolsou uma coisa dessas numa aula corriam os anos 90.Coitadinhos dos soldados a quem a queima de pessoas nas praças públicas por judaísmo, bruxaria e outros supostos delitos não fazia mossa nenhuma.
Toda a atrocidade por nós cometida pode ser assim relativiza da. A escravatura nas sociedades africanas era bárbara, a nossa era redentora e civilizadora porque nos até os fazíamos logo cristãos antes de os meter em barcos infernais a caminho de para lá do sol posto. Onde só metade chegavam vivos mas as suas almas, se é que os negros as tinham, já estavam salvas. E li também uma vez um artista que dizia que o tráfico negreiro teve algo de bom pois que os seus descendentes nos Estados Unidos e Brasil viveriam melhor que se os antepassados tivessem ficado em África. Ora uns viverão, outros não e não se contarão entre esses quem foi linchado, morto em ataques bombistas a igrejas negras, assassinato por racistas ou a polícia. Mas pronto, assim relativizamos e justificamos tudo. O Público não inventou nada.
Hoje o relativismo temos todos os dias. Se a Rússia mata civis, é crime de guerra garantido, o Putin devia ser enforcado. Se nas nossas guerras libertadoras matamos civis é dano colateral.
Quando Israel, corria o ano de 2006,bombardeou o Líbano de cima abaixo, incluindo zonas onde o Hezzbollah nunca tinha estado, a culpa foi dos guerrilheiros, que se metiam em zonas civis em vez de se porem no meio do deserto com um alvo no cu, de preferencia. Quando a Rússia bombardeia áreas civis porque os ucranianos fazem outro tanto e crime de guerra.
Resumindo, se os outros fazem é crime, se nos fazemos há uma boa justificação para isso.
Mais valia a honestidade pura e simples disto. A Europa não tem recursos, nunca teve, e por isso tem de viver de rapinar os outros povos. O mesmo vale para os Estados Unidos que num consumismo desenfreado já delapidou muito do que tinha.
A verdade é esta, somos uma cambada de ladrões que com a desculpa de cristianizar e civilizar levamos tudo pela frente. Genocidas, sim, o extermínio de todas as bestas foi equacionado em séculos anteriores e visto como uma forma de misericórdia e o preço do progresso. Os belgas fizeram no no Congo numa escala tremenda, os alemães na Namíbia e outros em mais pequena escaala. O que salvou os, africanos do extermínio total foi precisarmos de os manter vivos para trabalhar. Porque as justificações para o extermínio estavam lá. Porque a dar, se o caso de, afinal de contas, os negros terem alma, sempre teriam um lugarzinho no céu.
A fome imposta aos indianos para garantir o sustento da soldadesca inglesa foi justificada pelo endeusado Churchill com “os indianos são uma gente horrível, com uma religião horrível, que se reproduzem como coelhos”. Calcula se que o domínio britânico tenha custado uns 100 milhões de mortos pela fome mas se os indianos agora se armassem em nazis invocando esse Holodomor isso seria, considerado a barbaridade que efectivamente seria. já os nazis ucranianos, coitadinhos, teem toda a razão do mundo.
Muito havia a dizer sobre a nossa amoralidade, que começou antes do Público, que é efectivamente um vómito mas há outros.
Já agora, censura na China e ma, aqui é proteção da malévola influência russa. A sério, a corrupta neta de nazis van der leyen teve a coragem e a pouca vergonha de dizer isso. Estamos conversados mas quem acha isto normal poderia muito bem ir ver se o mar dá choco.
Não voltes a atrasar a medicação!
A organização não-governamental (ONG) Human Rights Watch (HRW) afirmou esta segunda-feira que os guardas fronteiriços da Arábia Saudita mataram, em pouco mais de um ano, centenas de migrantes da Etiópia na fronteira com o Iémen.
A ONG defendeu ainda que “os abusos sistemáticos sobre os etíopes [na Arábia Saudita] podem constituir crimes contra a humanidade”.
“Os guardas fronteiriços sauditas mataram pelo menos centenas requerentes de asilo e migrantes etíopes que tentaram atravessar a fronteira entre o Iémen e a Arábia Saudita entre março de 2022 e junho de 2023”, apontou a HRW em comunicado.
A ONG apelou às Nações Unidas que iniciem uma investigação e exigiu à Arábia Saudita que revogue “imediata e urgentemente qualquer política de uso de força letal contra migrantes e requerentes de asilo”.
No relatório conclui-se que “os guardas fronteiriços sauditas utilizaram armas explosivas para matar muitos migrantes e dispararam sobre outros à queima-roupa, incluindo muitas mulheres e crianças, num padrão de ataques generalizado e sistemático”.
No mesmo documento afirma-se que, “em alguns casos, os guardas fronteiriços sauditas perguntaram aos migrantes em que membro deviam disparar e depois dispararam sobre estes à queima-roupa”.
A investigadora da HRW sobre direitos dos refugiados e migrantes, Nadia Hardman, citada no relatório, disse que “gastar milhares de milhões na compra de campos de golfe profissionais, clubes de futebol e grandes eventos de entretenimento para melhorar a imagem da Arábia Saudita não deve desviar a atenção destes crimes horrendos”.
Cerca de 750 mil etíopes vivem e trabalham na Arábia Saudita e, “embora muitos migrem por razões económicas, outros fugiram devido a graves violações dos direitos humanos na Etiópia, nomeadamente durante o recente e brutal conflito armado no norte do país”, salientou a ONG.
Os homicídios “parecem resultar de uma escalada deliberada, tanto no número como na forma de assassínios seletivos”, acusou.
Algumas das pessoas que viajaram em grupos mais pequenos ou sozinhas disseram que, assim que atravessaram a fronteira entre o Iémen e a Arábia Saudita, os guardas fronteiriços sauditas, munidos de espingardas, dispararam contra elas. Outras afirmaram que foram espancadas por guardas com pedras e barras de metal. Mais de uma dezena de entrevistados testemunharam ou foram alvo de disparos à queima-roupa. Seis foram atingidos tanto por armas explosivas como por disparos.
Algumas das testemunhas citadas no relatório disseram que os guardas fronteiriços sauditas espancaram os sobreviventes.
“Um rapaz de 17 anos afirmou que os guardas fronteiriços o obrigaram, juntamente com outros sobreviventes, a violar duas raparigas, também elas sobreviventes, depois de os guardas terem executado outro migrante que se recusou fazê-lo”, referiu o documento.
A arma dos que não tẽm argumentos é passar atestados de psiquiatria aos outros. Eu tenho duas limitações morais: Não passo atestados em psiquiatra a ninguém, nem mando ninguém para a terra dos outros. Limito-me a mandálos ir ver se o mar dá choco.
Há uma força motriz que permite à europa avançar: tudo o que favorece a discórdia e a discussão. De facto, leva as pessoas a encontrar soluções e/ou a exigir remédios, devido a um impulso por vezes igualitário e por vezes clientelista.
No fundo, é uma espécie de movimento browniano (vai em todas as direcções e inúmeras vezes), mas evolui por seleção (certas posições de chegada tornam-se novos pontos de partida), porque o ser humano tem memória. Isto é o contrário de planear, ou seja, de funcionar de uma forma previamente determinada, regulada, etc.
Mas para obter este fluxo permanente de discórdia, são necessários meios de comunicação que joguem o jogo da informação, que já não temos, a informação é parcial, parcial, diluída e unilateral.
E porque não temos isso, e temos pseudo-elites que se arrogaram posições por herança (estas pessoas actuam como rolhas), a máquina europeia está partida de cima a baixo, e nenhuma estrutura pode compensar a outra como resultado.
Vivemos num maniqueísmo estagnado que nos permite ser autistas e estamos numa dissonância cognitiva perpétua em relação ao que é real e ao que é desejável. Não queremos ver o que nos incomoda, o que nos desafia. O nosso problema (europeu) é que já não temos a capacidade, nem sequer a vontade, de dizer a nós próprios: Esta é a Europa, o istmo da Eurásia. O que estamos a fazer, o que queremos ser, qual é o nosso futuro? Queremos separar-nos da Eurásia? Qual é o nosso papel? Preferimos a servidão, o alinhamento e a obediência, a menos que o líder faça alguma estupidez. Não é a América que vai pagar por tudo isto, ou quem vai pagar económica e socialmente.
Estamos a assistir a uma grande convulsão geopolítica global. A hegemonia ocidental, seja ela política, económica, financeira ou de qualquer outro tipo, já não é desejável ou suportável para o resto do mundo, que emergiu nos últimos vinte anos ou mais. Os outros já não a querem. Lições, mudanças de regime, ingerência interna permanente sob o pretexto de promover a democracia. Já vimos a que é que isso conduziu, a nada mais do que ao desastre.
É claro que Portugal precisa de estar na NATO hoje em dia…Porque é que é tão óbvio? Não, a Portugal, não tem qualquer interesse especial em fazer parte de uma aliança militar que continua a obedecer a uma lógica de bloco que remonta à Guerra Fria. Esta lógica de bloco, que também se encontra na UE, só serve para nos isolar do resto do mundo e impede-nos de nos afirmarmos como economia equilibrada. Portugal, digam o que disserem, já não é uma economia equilibradora e, em nome das modas ideológicas euro-atlânticas das suas elites dirigentes, tornou-se o maior corno de uma casa multipartidária onde a verdadeira força motriz é o eixo germano-americano, ou mesmo o eixo polaco-americano, mas certamente não qualquer eixo com Portugal. À força de compromissos políticos ao longo dos últimos 40 anos para fazer avançar a integração europeia, estamos a perder todos os atributos e, para além disso, a vontade política.
Se fôssemos independentes, não faríamos o jogo de nenhum deles. Para além disso, o dinheiro destinado a equipamento militar ficaria na Europa em vez de enriquecer os nossos congéneres americanos, como a escolha da Alemanha de comprar fora da União Europeia, empobrecendo assim o Euro €, uma vez que o dinheiro sai do nosso continente (compra feita em $.)
O destino da Ucrânia?
Kissinger falou disso recentemente em Davos: a divisão…
Vários países, como a Polónia e a Hungria, querem recuperar territórios que já lhes pertenceram…
Se foi o próprio Kissinger a anunciar isto, trata-se provavelmente de uma informação credível…
Esta informação (a divisão da Ucrânia com a Polónia, a Hungria e a Roménia a oeste e a Rússia a leste) está a ser cada vez mais falada…
A divisão na atual linha da frente é o melhor cenário para os EUA. Se o conseguirem, ganham de facto. Não creio que os russos deixem Odessa tornar-se uma base militar da NATO. Mesmo que os europeus ou os americanos prometam deixar o resto da Ucrânia neutra e desmilitarizada, todos sabemos o que fazer com a assinatura dos ocidentais: A NATO devia parar na fronteira com a Alemanha; a Ucrânia devia respeitar os acordos de Minsk; todas estas promessas nunca foram cumpridas. Na realidade, os russos não têm escolha. Têm de conseguir que a Ucrânia se renda incondicionalmente e, no mínimo, garantir o controlo absoluto de toda a costa do Mar Negro.
A guerra mundial de que se fala é também uma guerra monetária e financeira. Desafiar o domínio do dólar no contexto desta guerra Rússia/NATO é uma questão fundamental para a nova ordem mundial multipolar que está a ser estabelecida sob o impulso decisivo da China e da Rússia.
PS:De férias sempre acompanhei o Estátua de Sal,e por isso quero dar os os parabéns por os temas escolhidos…Também obtive muita informação.
Obrigado André. Bom comentário.
Sempre me comove a compreensão pelos problemas da Rússia!
Pois não se está a ver que se não controlarem a Bielorrússia, a Ucrânia e tantos outros territórios e povos, arriscam-se a não manter um Império?
Pois não se vê que teriam que ser um país como qualquer outro, a terem de ser produtivos, inventivos e capazes de subsistir sem extrair tantas matérias primas e combustíveis fósseis?
E os coitados dos falantes russos poderiam ter que aprender outras línguas nos países saídos do Império, como já aconteceu no passado?
Tudo muito horroroso, em particular agora que o Império já está em África, extraindo mais matérias primas, a sua Igreja Ortodoxa já aí começa a converter incréus, onde tão bem se vendem as sua armas!
Tudo indica estarmos numa nova acção civilizadora, que é conduzida sob o gentil olhar do Grande Irmão Putin com a sua irredutível violência…
Se te pusessem agora, a aprender espanhol queria ver se achavas engraçado. A Rússia tem as invenções de que precisa e não precisa da gente para nada. Por isso tem resistido as sanções enquanto muitos de nós estamos a tenir. A Rússia extrai muitas matérias primas porque as têm, nos não extraímos porque a não ser o sal a sul pouco mais temos. Um petróleo na Noruega é na Escócia que não dá para o gasto.
A Rússia tentou vender o que tinha com lisura, com honestidade e caiu no erro de esperar que gente que trocava ouro por contas de vidro fosee ter boa fé. Queríamos as nossas multinacionais a controlar esses recursos porque sempre fomos ladrões.
Compreensão pela Rússia? A mesma que tenho pelo agricultor que tenta defender as duas ovelhas de ataques de lobo é manter as rápidas longe do galinheiro. Vai ver, as o mar dá, choco.
Defender as suas ovelhas de ataques de lobo e manter as raposas longe do galinheiro. Vai ver se o mar dá choco. Quem manda não é o corretor.