O 25 de abril e a raíz do mal

(Hugo Dionísio, in Facebook, 05/05/2023)

Abril é passado, tem de ser presente e futuro! As imagens falam mais do que 1000 palavras! Assistir à performance do partido do ódio e da raiva no parlamento, no dia de Abril, para quem quiser vê-lo, constituiu um momento de rara revelação da verdade. Mas não foi o único momento do dia em que tal sucedeu. Um outro houve, já na manifestação na Avenida, que igualmente fala por si e tão bem se liga com o que se revelou na AR.

O facto é que ninguém – ou quase – prestou atenção a um detalhe importantíssimo, que revela tudo em si mesmo, sobre o mundo em que vivemos e quem o promove. Não foram a arruaça, descortesia, raiva revanchista ou o ódio arcaico, a irracional e falaciosa verborreia. Disso, e só disso mesmo, os directores de informação deram ordem para falar. Lula e também outros, os de sempre, tiveram a elevação de não o valorizar, quando instados, na manifestação, a comentá-lo.

Os dois ou três dias anteriores, deram-nos um espectáculo de assédio que visou tentar forçar alguém, como o Presidente do Brasil, a verbalizar uma opinião em que não acredita, demonstrando que não é por decreto nem anúncio, que chegam a intolerância, a perseguição e a intenção de forçar os outros a aceitarem as “verdades” tidas como “únicas”. Neste caso, o “dossier Ucrânia” tem sido um regabofe de fascismo declarado, quer pelo unanimismo que se promove, pela perseguição, assédio e cancelamento dos que pensam diferente, pela dissimulação de muitos que optam por se acobardar, ou ainda, pela própria natureza política desse “dossier”, tão bem denunciada no dia 25 de Abril.

Tal como um bando de hienas famintas, coordenadas por uma qualquer inteligência artificial, tratou-se de um espectáculo deplorável, assistir, no nosso país, ao desfilar de sessões televisivas, parlamentares e radiofónicas de bullying– na senda do que se faz nos EUA – contra Lula da Silva, sempre, mas sempre, com os insuspeitos do costume à cabeça. O que se fez aqui com Lula da Silva, com partidos como o que mais lutou e conhece a fera fascista, com os generais, jornalistas e figuras públicas que, contra uma corrente fortíssima e esmagadora, têm a coragem de dizer o que pensam, é uma amostra bem real de que o mundo em que vivemos mudou, e mudou para bem pior.

Mashá quem, mesmo assim, não se vergue. Nem todos os Milhazes do mundo o conseguem, está-lhes no sangue lutar contra a injustiça. Se, no Brasil, não subsistem dúvidas sobre quem ameaça o futuro do país e quem se coloca, na linha da frente, na defesa da narrativa “oficializada” à força do bullying, da corrupção e da cobardia … Por cá, em Portugal, nos dias antecedentes e no próprio dia 25 de Abril, todos pudemos constatar o óbvio. As forças que ameaçam o futuro de um e outro país, são as mesmas que, mais orgulhosa, expansiva e radicalmente, defendem a narrativa do “dossier Ucrânia”. E a prova esteve na AR, de manhã, e na manifestação, à tarde.

Quando Lula da Silva resistiu ao bullying, mantendo-se em cima do muro, como é sua praxe, ficaram doidos, como só pode ficar um bully raivoso quando não consegue os seus intentos. Para mais, neste caso, depois de tudo o que disseram sobre a “restauração da normalidade democrática no Brasil”, ficaram desarmados do regular esgrimir do título de “ditador, tirano e autocrata”, que em Lula, por todas as razões e mais algumas, não cola.

De maneira que, de manhã foram as bandeirinhas do ditador e genocida Bandera (de ucranianos, húngaros, polacos, russos e judeus), brandidas na Assembleia da República, pelo partido da raiva e do ódio, o que nos colocou perante uma inequívoca evidência, cuja conclusão só poderia radicar numa reviravolta, a 180 graus, na atitude de um sistema que se diz democrático. Tratou-se da confirmação total de quem é a tropa de choque pró-regime de Bandera. O partido da raiva e do ódio assumiu-se como um bastião nacional da defesa do regime de Bandera e da narrativa do “dossier Ucraniano”. O que é muito diferente de se defender, como outros o fazem, o povo ucraniano.

Tem piada o radical apoio, por parte do partido raivoso, a um regime cujo representante maior consta dos Pandora Papers (Zelensky tem mais de 1000 milhões em luvas, 20 mansões e foi chamado à atenção pelo diretor da CIA de que tem de refrear o ímpeto “valeazevediano” de meter a mão sempre que há dinheiro), quando a principal palavra de ordem é “chega de corrupção”. A oligarquia fascista de Zelensky também chegou lá através de um golpe de estado (2014 – Euromaidan) contra a corrupção. Lá como por cá, os corruptos são quem mais dela fala.

Mais à tarde, teríamos outra confirmação. Foi no próprio desfile. E que regozijo confirmativo tive eu quando constatei que as únicas bandeiras de Bandera que vinham em todo um desfile de centenas de milhares pela Liberdade, se situavam na ala da IL. Nem JS, nem JSD…. Apenas IL. Uma vez mais, demonstrando que, seja a extrema-direita trauliteira, raivosa e brejeira, seja a extrema-direita ultraliberal, polida e dissimulada, é nestas facções que se situam os bastiões da defesa do regime de Bandera.

Afinal, tratam-se de movimentos com a mesma origem de classe, respondendo e financiados pelos mesmos directórios de poder. Neste caso, a classe oligárquica americana, a que alguém chamou de “compradora”, e seus afiliados ocidentais ou ucranianos, os quais, como Kolomoisky, financiaram e construíram mediaticamente toda esta fantochada, que promete arrastar-nos, outra vez, para a morte.

E as opções de classe são as que mais pesam, não me confortando nada saber que o SPD alemão, perante a escolha da revolução social ou a entrega da chancelaria a Hitler, optou por isso mesmo, tal como havia optado no início do século XX, pela burguesia em detrimento dos trabalhadores. No momento fatal, respondem perante a mesma classe, a classe oligárquica, hoje novamente constituída em aristocracia.

E é em gente desta, mais ou menos polida, mas igualmente extremista e fundamentalista, em que radica a raiz, natureza e o caracter da narrativa a que muitos se colam, uma parte importante deles, sem nela acreditar, apenas por efeito de arrastamento e medo do ostracismo a que seriam votados (já encontrei, a nível privado, uns quantos assim e todos da mesma ala política). Como sempre, também não será agora que, na história humana, a extrema-direita, o fascismo e o nazismo estarão do lado justo, do povo, da paz, da esperança, do desenvolvimento.

E quando alguns autodesignados “democratas” coincidem com a extrema-direita, também nisto, não o fazem em questões pontuais e superficiais, como a eutanásia, como acusam a outros. A coincidência dessas forças “moderadas” do “centro”, com a extrema-direita e o fascismo, faz-se em questões fundamentais, das quais o “dossier ucraniano” é exemplo. Representa toda uma mundivisão, etnocêntrica e excepcionalista, da realidade histórica. O que se aponta a uns tão veemente e imperdoavelmente, esconde-se, branqueia-se e dissimula-se, relativamente aos que mais agressivamente praticam os mesmos actos.

Mas com sorte estaríamos se a coincidência entre supostos “moderados” e “centristas” se resumisse à mundivisão geopolítica e à preferência pela unipolaridade etnocêntrica em detrimento do multipolaridade. Afinal, tal como a IL e o partido da raiva e do ódio, são a favor das privatizações e da retirada do estado da economia, deixando-a aos interesses oligárquicos; tal como estes dois, são a favor da destruição do SNS reduzindo o serviço público a uma espécie de serviço mínimo; tal como os dois da extrema-direita, são a favor dos fundos privados de pensões e da privatização do sector contributivo da Segurança Social, deixando o futuro dos trabalhadores aos fundos abutres de Wall Street; tal como os dois da extrema-direita são a favor do neo-federalismo europeu e ao seu governo por uma aristocracia burocrática, cujas decisões suprimem a soberania dos estados-membros… E por aí fora. Até dá medo ver, em que medida, se alinham todas estas forças, no que é essencial.

Uns e outros, até proclamam nos seus programas algo diferente. Contudo, como também alguém disse: “o papel aceita tudo”. A prática diz-nos que vivemos numa sociedade ocidental cada vez mais ameaçada pela concentração da riqueza por parte das oligarquias. O resultado vê-se na degradação de todas as dimensões que dizem respeito à liberdade, democracia, serviços públicos e condições de vida. Com a soberania cerceada por interesses transnacionais, não é permitido – sob pena de sanções – aos países da NATO escolher outro caminho que não este.

A Alemanha estava sob sanções dos EUA por causa do Nord Stream; Austria, Hungria e Chipre, têm sanções previstas pela EU por não enviarem armas à Ucrânia. A cadeia é simples: aos pequenos, a EU faz de capataz; aos grandes, são os próprios EUA, para provar quem realmente manda nisto tudo.

Podem dar as voltas que quiserem, mas não existe um anti-imperialista, um socialista ou apenas progressista, um defensor da emancipação popular e multipolar, que defenda o mesmo que a extrema direita defende relativamente ao conflito entre eslavos no leste europeu, e muito menos relativamente às questões fundamentais que enformam a nossa vida social. Lula é apenas o caso mais visível, um que deixa a elite neoliberal e neoconservadora em apuros, uma vez que não o podem usar no seu disfarce pseudo democrático.

Numa era em que retornou a censura, a vigilância pessoal, a perseguição mediática e policial, a miséria e a fome, em que se promete a guerra mundial, só e apenas para defender a hegemonia dos EUA; defender o regime de Bandera significa aderir à pressão da extrema- direita imperialista, causadora de duas guerras mundiais e de tantas outras pelo mundo. Uma vez mais, na história humana, os “moderados” encontram-se novamente no momento fatal: têm de decidir se, novamente, oferecem o fascismo ao povo e aos trabalhadores, enquanto falam à boca cheia de democracia e liberdade.

Daí que, hoje, entre a propaganda do medo, do terror e do ódio racial, a forma acrítica e seguidista como se adere, ou não, às narrativas que vão surgindo (China, Rússia, Covid-19…), cabe também ao povo decidir se aceita, ou não, o caminho para a guerra que já está traçado por quem o quer, porque disso vive. 800 bases pelo mundo, 3000 aviões, dezenas de submarinos e 11 porta aviões, obrigam a muita guerra e conflito, sob pena de não existirem.

Ser instrumento, ou oposição, a esse processo destruidor é a grande escolha do momento… E quem se diz de esquerda, democrata e progressista não pode deixar arrastar-se, pelo preconceito, superficialidade e medo, para o caminho da guerra…

Foi sempre, sempre, a extrema-direita e os seus interesses de classe quem traçou o caminho da guerra…. É fundamental que a experiência histórica nos ensine a reconhecê-la quando está na frente dos nossos olhos! Seja qual a forma, costumes e discurso que assume em cada uma das suas reaparições.

O fascismo não surge de repente, nem por decreto, eles está sempre cá e vai-se instalando. Quando o fizer, veremos quem ficará para contra ele lutar, desta feita… Para já, são os mesmos de sempre! Depois venham cá dar lições de democracia! O 25 de Abril é a lição que basta e revelou-nos, uma vez mais, o seu sentido!

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14 pensamentos sobre “O 25 de abril e a raíz do mal

  1. Se fizermos uma análise retrospetiva, constatamos que as chamadas democracias liberais surgiram lá pelos séculos XVIII e XIX para defenderem os interesses da burguesia em ascensão e para servir o sistema capitalista em que esta se apoiava. Depois, através de vicissitudes várias, foram fazendo algumas concessões, reconhecendo alguns direitos ao povo, mas mesmo assim nunca abandonaram o seu caráter classista.
    Com a queda do seu principal ‘inimigo’, a União Soviética, já nos fins do século XX, as democracias liberais perderam o freio dos dentes e começaram a mostrar a sua verdadeira face; claro que ao fazê-lo, desacreditaram-se e geraram enorme descontentamento popular que o fascismo, sempre à espreita, tem vindo a aproveitar para culpar o sistema político – a democracia – e simultaneamente isentar o sistema económico – o capitalismo – pelo mal-estar das populações. Uma jogada de mestre que a direita liberal, fechando as narinas para não inalar o mau cheiro, se vê ‘obrigada’ em última instância a apoiar para sobreviver pois o fascismo aparece como uma estratégia para domesticar o povo que de outra maneira seria difícil de controlar.
    Os liberais de meados do século XX também não gostavam dos fascistas e dos nazis, mas não os hostilizaram e na ‘hora do vamos ver’ deram-lhes mesmo apoio explícito. É que às vezes é preciso sacrificar os anéis para salvar os dedos.
    Por isto é previsível que, mutatis mutandi, algo semelhante ocorra nos nossos dias e que os extremistas de direita, os liberais mais bonitinhos, os moderados dos sociais democratas e quejandos, incluindo muitos ditos socialistas, afinal todos, grosso modo, filhos da burguesia cerrem fileiras para defender a ordem económica e social vigente, receosos de um futuro que possa pôr em causa os seus privilégios de classe.
    Depois há o povo; este não está representado nos ditos governos democráticos, mas julga que tem algum poder porque lhe permitem que vote; todavia, não percebe que só pode votar entre a e b e que a e b são farinha do mesmo saco, curiosidade esta bem camuflada pela comunicação social cujos donos são exatamente os donos da farinha do dito saco.
    Por tudo isto é que o futuro se apresenta pouco risonho, pois mais uma vez o povo embarca em guerras que só interessam às elites que as promovem; essas guerras são uma forma de acumularem mais riqueza às custas do povo sem que este perceba o embuste, entretido que está em odiar os maus para defender os bons, prisioneiro da visão maniqueísta e simplista em que o senso comum é useiro e vezeiro.

  2. Uma observação: se a “bandeira de Bandera” a que Hugo Dionísio se refere é a azul e amarela das imagens, está errado. Esta é a bandeira nacional ucraniana, a do Bandera é encarnada (em cima) e preta (em baixo). Não sei se no grupelho da IL ia alguma destas, mas houve já, em Portugal, manifestações de ucranianos ou de solidariedade com a Ucrânia em que a bandeira de Bandera foi exibida, nomeadamente no Terreiro do Paço, em que a encarnada e preta foi pendurada na Estátua de D. José.

    • A bandeira de Bandera, hoje, é amarela e azul e tem o tríptico de… Bandera. E essa que essa gente defende, mesmo que sem saber, use a original. De resto, essa superficialidade nada importa para o fundamental. O apoio a um regime neonazi.

      • https://www.dicionariodesimbolos.com.br/tryzub-significado-do-tridente-ucraniano/

        * Bandeira do Exército Ucraniano Insurgente

        O símbolo foi utilizado pelo Exército Ucraniano Insurgente (UPA), na composição de uma bandeira de cores preta e vermelha. Essa formação militar lutava contra o regime nazista e a União Soviética na época da Segunda Guerra Mundial.

        Eles eram contra a repressão e a exploração alemã e soviética em relação à população ucraniana.

        O preto simboliza a terra fértil e a prosperidade e o vermelho representa o sangue dos heróis *
        #o_tryzub

    • ‘encarnado’ ❓ (já retornamos ao tempo do lápis azul ?)
      ‘vermelho’ meu caro ‘vermelho’ ❗
      😊😊😊

      • Acaso tens um dicionário em casa, chico-esperto? Se não tens, podes ir a uma livraria e consultar um, fingindo que o queres comprar. Aprendes qualquer coisa e é menos uma parvoíce que dizes amanhã.

          • O insulto nunca é argumento. Poderia ter moderado a sua resposta e atingir os mesmos objetivos. A Estátua de Sal não merece ser conspurcada com linguagem de sarjeta.

            • pois é … tem razão … devo um pedido de desculpas à ESTATUA e ao FORUM … então … ahí les va! … minhas desculpas pelo meu surto psicótico … eu, claro, q sei q é da praxe (ordem baseada em regras) dizer-se q, embora com toda a razão do mundo, insultando se perde essa razão, embora, tb, saiba q há cada vez + fdp’s do q as ditas cujas q os pariram … os meus agradecimentos a si, senhor fernando gouveia, por me chamar à razão …

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