A “ominosa” Praça do Império

(Amadeu Homem, in Facebook, 26/02/2023)

Vão por aí raios, coriscos e trovões a propósito da Praça do Império e dos seus brasões “colonialistas”. O pensamento vanguardista exige que a praça mude de nome e que se retirem os brasões, sejam eles feitos de buxo ou reproduzidos por pedrinhas da calçada à portuguesa.

Pelo que me respeita, o que eu tenho a dizer é que sempre tentei respeitar o pensamento dos meus semelhantes, por muito que ele possa diferir do meu. Por isso, compreendo muito bem que os anticolonialistas queiram modificar a praça e suprimir os brasões.

Dito isto, o que eu mais gostava era que este pensamento pudesse ser levado ao seu grau máximo de coerência. Analisados os pressupostos desta lógica, chegaremos à conclusão que o presente e todas as suas realidades se deva substituir ao passado e a todas as suas infâmias.

Não se vê motivo para travar o pensamento iluminado, a meio do seu caminho intelectivo. O mosteiro dos Jerónimos, bem vistas as coisas, também está a mais e é um ultraje. Recorda os tempos ominosos em que Portugal foi clerical e monárquico. Ora, isto não pode ser! O presente, todo ele validamente laico, exige que esta lepra da ilusão religiosa e do poder concentrado sejam raspados com a telha do bom senso.

Portugal falhou deploravelmente o seu Destino e a sua História. Olhe-se bem para esse Portugal português do nosso tempo. Que vergonha! Um país do século XXI coalhado de ermidas, igrejas, conventos, mosteiros! Pode lá ser! Apliquemos a todo o Portugal o sabão da fúria com que se pretende retirar da Praça, vergonhosamente chamada do Império, os brasões “colonialistas”! Abaixo as igrejas! Destruam-se os mosteiros e as ermidas! Pode lá tolerar-se que num Portugal lavadinho e modernaço sobrevivam estes lixos de épocas obscurantistas. Pode lá conceber-se que exista em Portugal uma Torre dos Clérigos, um mosteiro do Lorvão e da Batalha, uma Torre de Belém, evocando os inícios desse deplorável colonialismo. Os Poderes Públicos deverão agir prontamente, decretando para muito breve a lei do camartelo para aquilo tudo.

Mas há mais: a própria Cultura Portuguesa necessita imperativamente de correções “joacínicas”, de surtidas antirracistas, carecendo e suplicando um banho lustral de desalienação. Pode lá admitir-se que se possam ensinar nas escolas poesias e prosas tão reacionárias como “Os Lusíadas”, de um tal obscuro Camões, como a “Peregrinação, desse mentiroso compulsivo, que dava pelo nome de Fernão Mendes Pinto, como a Carta de Pero Vaz de Caminha, como a “Mensagem” desse badameco imbecil chamado Fernando Pessoa! Pode lá tolerar-se que se diga, em fraseologia sem suporte dialético e sem largueza de apreciação, que um jesuíta palavroso como o Padre António Vieira seja apresentado como o “imperador da língua portuguesa”! Cá está a palavrinha “imperador” a denunciar tudo o que é retrógrado, regressivo, aprisionado ao ontem!

O que Portugal está carecido, como pão para a boca, é de uma “revolução cultural” idêntica à que foi feita por um génio chinês da política, chamado Mao Zedong, infelizmente já falecido. Esse prodígio mental lançou uma campanha, no seu tempo, contra os pardais que comiam muito grão nas searas. Toda a China andou atrás dos famigerados pardais. Nos anos seguintes as colheitas caíram a pique na sua produtividade, porque o portento intelectual não se lembrou que os pardais também comiam as lagartas. Morreram milhões de pessoas, mas salvou-se um dos nomes axiais do comunismo. Ou seja: nem tudo se perdeu!

Também entre nós, iremos salvar o Bairro da Pampulha, mas não a Praça do Império; o Borda d’Água, mas nunca os “Lusíadas”; o estádio do Benfica, mas jamais a Torre dos Clérigos; os discursos das Manas Mortágua, mas com exclusão autoritária do aranzel de Pero Vaz de Caminha…e assim por diante.

Quando nos falarem de Afonso Henriques, haveremos de dizer, sensatamente: “esse bruto até na mãe batia” ; se ouvirmos o nome de D. Dinis, iremos obtemperar: “era tão atrasado que nunca soube organizar eleições”; no caso de falarem na “Ínclita Geração dos Altos Infantes”, obtemperaremos: “nunca ganharam o torneio de futebol dos Campeões Europeus”; e se nos vierem com a crueldade de D, João II, responderemos: “teria de estagiar com Estaline ou Putin, para ser coisa que se visse”.

A Praça do Império, onde hoje se deslocam estrangeiros, por ser um local próximo da fábrica dos Pastéis de Belém, necessita ser suprimida com a máxima urgência. A bem da nossa Cidadania e a bem do Progresso. Ponham lá um monumento ao futuro. Sugiro que tenha a forma de um manguito. E depois coloquem lá o Beijocas a vender “selfies”.

Com esta gente, acho que não iremos merecer mais!


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23 pensamentos sobre “A “ominosa” Praça do Império

  1. Foi o autor do oportuno artigo buscar um tema que espero estar presente apenas no círculo cultural onde se movimenta para em tom de ironia criticar o óbvio que nem ponta tem por onde se pegue.
    História todos os paises a tem que naturalmente terá motivos de orgulho e outros tantos de vergonha.
    Mas é a nossa história. E, como tal deve ser preservada, para o bem e para o mal.
    Mais do que um casamento, pois esta pertence ao imutável passado.
    Contudo a razão do autor perde-a claramente nas comparações que leva a cabo.
    Pelos vistos incomodam-no mais as gémeas Mortágua que o André Ventura, e a comenda atribuída ao comediante.
    Há gente que mesmo quando tem razão faz tudo por perdê-la.

    • Jpp

      Tive o cuidado de visitar o Facebook de AMADEU HOMEM !

      É um respeitado Professor universitário aposentado, e tem na sua lista de amigos, alguns também são meus, e que me merecem o maior respeito e confiança…

      Portanto, PENSO (e “livre pensar, é só pensar” como diria Millôr Fernandes ) que este artigo, é contra o apagamento da nossa História de quase 900 anos ! Não a favor…

      É contra os iconoclastas desta vida, e não ele próprio O ICONOCLASTA !

      Mas já há “inteligências” a querer delapidar …O HOMEM (na verdadeira acepção do nome) Entendam-NO como quiserem ! Interpretem-NO como lhes aprouver…

      “Vão por aí raios, coriscos e trovões a propósito da Praça do Império e dos seus brasões “colonialistas”. O pensamento vanguardista exige que a praça mude de nome e que se retirem os brasões, sejam eles feitos de buxo ou reproduzidos por pedrinhas da calçada à portuguesa.

      Pelo que me respeita, o que eu tenho a dizer é que sempre tentei respeitar o pensamento dos meus semelhantes, por muito que ele possa diferir do meu. Por isso, compreendo muito bem que os anticolonialistas queiram modificar a praça e suprimir os brasões.

      Dito isto, o que eu mais gostava era que este pensamento pudesse ser levado ao seu grau máximo de coerência. Analisados os pressupostos desta lógica, chegaremos à conclusão que o presente e todas as suas realidades se deva substituir ao passado e a todas as suas infâmias”.

    • O que se percebe é que há anti-colonialistas e colonialistas (sem aspas). E que, de entre os primeiros, ninguém se oporá à eliminação dos buxos é alteração do nome da praça.
      Pena é, que quem lamenta o fim do império, não lamente a situação colonial a que este país está, desde há décadas, submetido…

  2. Perdão, mas essa de Mao é ridícula.

    Nem que seja pela mais evidente das lógicas.

    Sim, é verdade que houve um programa e que, à época, não apenas pardais, mas mosquitos, ratazanas e moscas eram pestes que afetavam a produção agrícola chinesa.

    Mas, por favor, vamos pensar um bocado.

    Alguém já viu o tamanho da China ?

    Eu digo: 9.600.000 km2.

    Alguém já tentou matar um número suficiente de pardais para evitar que eles comam grãos ?

    Alguém já tentou matar pardais até à extinção em Portugal ?

    Ou se não até a extinção, pelo menos até se diminuir a sua capacidade de rapina e de ingestão de grãos ?

    Digo uma coisa, vão ficar entretidos durante uns tempos.

    À falta de melhor, estupidez canina…

    Por falar nisso, alguém sabe quantas fomes havia na China pré-comunismo (feudalista, colónia dos britânicos e subjugada pelo império fascista japonês durante a Segunda Guerra Mundial) ?

    Inúmeras.

    Alguém por acaso saberá que a subida da esperança média de vida na China subiu a um ritmo alarmante e é considerada a subida mais rápida da esperança média de vida na História da Humanidade ?

    Em 1960, era de 33 anos e em 1962 era de 50 anos, segundo o Banco Mundial.

    Isto durante o tempo de Mao. Alguém sabia disso ?

    Pois, pelos vistos não.

    Alguém sabe que a China foi um país que só se livrou definitivamente da ameaça do fascismo em 1949, depois de expulsarem Chiang-Kai Shek para Taiwan – a dita República da China ?

    Alguém tem noção da destruição e do estado de devastação em que ficou aquele país depois dos conflitos com o Japão e de uma guerra civil tremenda ?

    Alguém tem noção do nível de sub-desenvolvimento em todas as áreas em que aquele país se encontrava ?

    Muito à custa do colonialismo britânico, colonialismo esse que nunca, nunca esteve assente numa tentativa de desenvolver os territórios colonizados, mas sempre assente na máxima da exploração dos recursos naturais e do trabalho desses territórios.

    Alguém sabe que havia 20 milhões de pessoas viciadas em ópio na China, representando 4.4% da população total ?

    Alguém sabe que, em 1989, a adição de ópio tinha sido eliminada na China Continental, mas que era um problema em Hong Kong, COLÓNIA dos britânicos ainda nessa altura… Pois é.

    Um farol da democracia teve um colónia até aos anos 90…

    Alguém tem noção do que se fez a nível de reformas agrárias, de programas de literacia, de desenvolvimento industrial e de acesso a cuidados de saúde ?

    E em 9 anos (desde 1949 – expulsão dos fascistas chineses para Taiwan – até 1958) de “comunismo” (socialismo, na verdade) queriam que a China (país sub-desenvolvido por decadas de colonialismo e por uma guerra contra os japoneses e outra civil) tivesse a perfeição de uma sociedade como os EUA, que tinha acesso à indústria mais avançada da época, a cuidados de saúde e a uma base agrícola desenvolvida e autosuficiente, algo que nunca foi alcançado nos 100 anos precedentes de colonialismo ?

    9 anos ?

    Estamos loucos ?

    Um país daquele tamanho, em 9 anos, alguma vez conseguiria, na alucinação mais quimérica à base de LSD, desenvolver-se até ao nível de um país como os EUA à época ?

    Isto enquanto +- 10 anos antes da fome chinesa havia uma fome terrível causada pelo colonialismo britânico em Bengala, Índia…

    Há 40 anos que nós, portugueses nos livrámos da ditadura, temos concidadãos a viver nas ruas e não conseguimos tirar pessoas da pobreza extrema – parece até que o número de pessoas na pobreza extrema aumenta a cada ano que passa.

    Sabem o que é que a China andou a fazer nos últimos 40 anos ?

    A tirar 800 milhões de pessoas dos seus cidadãos da pobreza extrema – dados do Banco Mundial.

    Talvez esteja na hora de aprender uma ou outra coisa.

    Alguém quer mais uns números ?

    Anualmente produzimos 4 mil milhões de toneladas métricas de comida no mundo inteiro.

    São necessários 3700 milhões de toneladas para alimentar toda a gente no planeta e ainda sobraria qualquer coisa.

    Sabem quanta comida é desperdiçada anualmente ?

    1300 milhões de toneladas.

    https://www.bloomberg.com/news/features/2020-12-15/no-more-hunger-how-to-feed-everyone-on-earth-with-just-the-land-we-have

    Agora eu pergunto: porque é que há milhões a morrer de fome todos os anos ?

    Alguém sabe que morrem por fome 3.1 milhões de crianças anualmente ?

    Alguém sabe que já morreram, apenas este ano, 1.475.000 pessoas de fome ? E ainda vamos em Março…

    https://www.theworldcounts.com/challenges/people-and-poverty/hunger-and-obesity/how-many-people-die-from-hunger-each-year

    Não digo mais nada. Estão os dados todos presentes.

    Só para terminar: alguém que me explique como é que um país sub-desenvolvido, embargado e sancionado até às orelhas nos últimos 60 anos tem uma esperança média de vida superior ao país mais rico do planeta inteiro.

    (Para quem tenha dúvidas: Cuba e EUA.)

      • Estátua de Sal

        Sim ! Desapaixonadamente eu penso nos paraísos de Liberdade e direitos humanos !

        Desapaixonadamente, estou a pensar…em Deng Xiao Ping e na “sua” Praça de Tien A men (ou da “Paz Celestial”…) ou de Pol Pot e os Khmers vermelhos no Camboja, para não pensar em outros símbolos de “Liberdade” como o Muro de Berlim, essa maravilha da Arqutectura “monumental”…

      • Mateus Ferreira,excelente!

        Tentarei fazer um exame honesto do passado da China, não raro nos ajuda a compreender melhor o presente. Isto certamente se dá com muitos dos eventos mundiais da atualidade.Há amplas tendências em nossos tempos que são resultado direto da história antiga. Entre os muitos exemplos de tal história que se poderiam observar acha-se a “Guerra do Ópio”, travada na China há mais de um século.
        Como é que eventos assim estão ligados aos nossos tempos? Para entender isto, examinemos inicialmente qual é a direção dos eventos mundiais hoje em dia.

        Os eventos mundiais causam grande preocupação às nações principais do que se chama de “cristandade”. Naturalmente, durante décadas, várias nações comunistas, foram lideradas pela União Soviética, representam crescente desafio ao Ocidente. Mas, outra tendência também ocorre.
        Em várias partes da Ásia, África e até mesmo da América Latina, agora, muitos líderes e seus povos demonstram avolumante oposição às práticas econômicas, políticas e religiosas das nações ocidentais. Invariavelmente, as ações destes países menos desenvolvidos têm tido o apoio da China comunista.
        Por exemplo, muitos deles, dotados de valiosos recursos naturais, agora exigem preços mais avultados para suas matérias-primas — usualmente com apoio chinês. Isto é desvantajoso para as terras industriais do Ocidente.

        Também, grande parte da “cultura” do Ocidente está sendo rejeitada em outros países. Isto se dá, em especial, quanto às religiões representadas pela cristandade, suas igrejas. Missionários de tais igrejas são amiúde expulsos dos países em desenvolvimento, ou, pelo menos, restritos em suas atividades.

        Na China, isto se deu quase na totalidade.
        A tendência contra os interesses das nações ocidentais também pode ser observada nas Nações Unidas. Cada vez mais de seus membros falam, e votam, contra o domínio dantes exercido pelos países ocidentais. Nisto, também, a China comunista apóia esta crescente maioria de países em oposição.
        Tal tendência causa profunda preocupação nos Estados Unidos e em vários países europeus.

        Por Que Acontece?

        Por que este câ̭mbio de eventos, até mesmo nas fileiras das Nações Unidas? Por que as grandes potências da cristandade perdem tanta influência?
        Basicamente: “Colhe-se o que se semeia” como diz a bíblia… É conseqüência de se alienar, não só pessoas e líderes..
        Nem é a tendência dos assuntos mundiais, algo que aconteceu de súbito. Por diversas centenas de anos antes da Segunda Guerra Mundial, as nações da cristandade foram tomando a maior parte da Ásia, da África e da América Latina. Embora tais lugares já tivessem grandes populações nativas, com suas próprias culturas, foram submetidas à força à regência e à cultura de seus conquistadores.

        Na verdade, as nações européias fizeram algum bem a tais terras. Mas, também fizeram muito mal, amiúde explorando o povo nativo e seus recursos. Assim, a maioria desse povo, com o tempo, veio a considerar os europeus como indesejáveis estranhos.
        Desde a Segunda Guerra Mundial, em especial, muitas dessas terras alcançaram a independência. E lembram-se das humilhações do passado. A maioria decidiu ser senhora de seus próprios destinos, ao invés de colônias das potências européias.
        Por isso, a maioria delas é ardentemente independente e exige o controle de seus próprios recursos, de sua cultura e política.

        A China é um exemplo de como a dominação estrangeira deixou várias nações amarguradas contra a cristandade. Por milhares de anos, a China possuía sua própria cultura. Desenvolveu seus próprios sistemas econômicos e políticos. Houve tempos em que a China atingiu um grau de civilização não superado por qualquer outra nação durante o mesmo período.
        A regência das dinastias imperiais da China durou séculos. Houve épocas em que sua regência se tornou tirânica e corrupta, causando grande sofrimento. De qualquer modo, os chineses se mantinham principalmente voltados para si mesmos. Assim, até os últimos dois séculos, a China teve muito pouco contato com o mundo exterior, e quase nenhum com as nações ocidentais.
        Mas, daí, há cerca de duzentos anos, as potências ocidentais começaram a penetrar na China. Os países da Europa, exerceram crescente pressão para tentar obter um ponto de apoio na China durante os anos 1700. Obtiveram tal ponto de apoio, de modo que, pelos anos 1800, sua influência constituía grave problema para o chineses.
        “Sob regimes que amiúde resultaram ineficientes e corruptos, a China permaneceu impotente, à medida que as potências estrangeiras mordiscavam seu território e seus recursos, e seu povo humilhado lutava pela mera subsistência.
        “Embora fosse chamado de ‘país independente’, sua posição e condição se assemelhavam às de uma colônia estrangeira.”
        De início, a penetração ocidental equivalia a apenas um entreposto comercial estabelecido pela Grã-Bretanha em Cantão, em 1715. Mais tarde, à Grã-Bretanha se juntaram os comerciantes franceses, holandeses e estadunidenses.

        Mercadores ocidentais desejavam as riquezas da China. Queriam também vender produtos europeus aos chineses. Desta forma, os negociantes disporiam do dinheiro para comprar os produtos chineses. Mas, em geral, a China mostrava pouco interesse nos produtos ocidentais. Numa carta ao Rei George III da Grã-Bretanha, o imperador manchu da China, nos fins do século 18, observou, segundo se diz:
        “Como seu Embaixador pode ver por si mesmo temos todas as coisas. Não dou valor aos objetos estranhos ou engenhosos, e não vejo utilidade nas manufaturas de seu país.”
        Mas, daí, os comerciantes ocidentais acharam algo que podiam vender aos chineses: ópio, um narcótico. Logo veio a ser um dos principais artigos enviados para a China.
        Vendo o mau efeito que o ópio tinha sobre sen povo, o governo da China baniu sua importação. Ao passo que isso tornou ilegal o tóxico, não parou seu tráfico. Muitos comerciantes começaram a contrabandear ópio para a China, visto que verificaram ser muito lucrativo.
        Em 1839, o volume de ópio contrabandeado para a China aumentara amplamente. O que antes era um volume de apenas algumas toneladas de ópio por ano tornou-se então um dilúvio de vários milhares de toneladas anuais. Quem fazia toda essa importação ilegal?

        O valor do ópio importado excedia o de todos os outros itens exportados. A maior parte do ópio vinha da Índia, parte da Pérsia, e, perto do fim, parte do ópio da Turquia era importado pelos estadunidenses..

        Não é difícil de ver por que os chineses consideravam os ocidentais como bárbaros. Ao passo que os europeus afirmavam introduzir uma cultura superior na China, junto com os missionários de suas igrejas, os chineses os consideravam conquistadores estrangeiros.
        Todos os eventos já ocorridos bastavam para amargurar sua mente oriental contra as nações da igreja católica e seus sistemas culturais, econômicos, políticos e religiosos. Todavia, muito, muito mais estava para acontecer.

        O governo chinês deu então passos para tentar impedir este tráfico ilegal de ópio. Mandou tropas para atacar os mercadores estrangeiros. Apoderaram-se de ópio no valor de milhões de dólares, dos mercadores ingleses e outros, e várias medidas restritivas foram impostas aos estrangeiros.
        Estes passos deixaram irados os comerciantes, em especial os ingleses. Podiam ver o fim de seu comércio muito lucrativo com ópio, e outros. Por isso, em 1839, iniciou-se uma das mais estranhas guerras da história. A Grã-Bretanha declarou guerra à China, exigindo o direito de vender ópio aos chineses. Outros privilégios foram também exigidos.
        A guerra foi muito má para a China. Ela não estava equipada para defender-se contra as armas dos ingleses. Por isso, a Grã-Bretanha ganhou facilmente a “Guerra do Ópio”. Terminou em 1842, com a assinatura do Tratado de Nanquim.
        O tratado foi o primeiro a ser imposto pela força à China. Mas, não foi o último. Iniciou uma cadeia do que os chineses chamam de “tratados desiguais”.

        O Tratado de Nanquim deu à Grã-Bretanha direitos de comercialização em vários portos chineses. Forneceu à Grã-Bretanha o território de Hong Kong, que tornou-se colônia britânica. A China foi também forçada a pagar à Grã-Bretanha as despesas da guerra. Teve até mesmo de pagar o valor do ópio que havia sido tomado dos ingleses.

        Outras nações européias, e os Estados Unidos, logo exigiram concessões. Os chineses eram impotentes para resistir. Mais guerras contra a China, por parte de nações de fora levaram a novos tratados. Mais portos e mais privilégios foram cedidos: a Grã-Bretanha anexou Kowloon a Hong Kong; a Rússia obteve território ao norte; outras nações amealharam suas próprias áreas de privilégios.

        Assim, a soberania chinesa sobre sua própria terra, suas cidades e povos foi diminuída. Um tratado estabelecia que os impostos que a China pudesse recolher dos estrangeiros pelo seu comércio seriam muito poucos e não podiam ser aumentados, exceto com o consentimento da potência estrangeira envolvida, que não era muito provável de ser dado. Também houve a perda da autoridade judicial. Por exemplo, se um cidadão estadunidense cometesse um crime contra um chinês, só poderia ser punido pelas autoridades estadunidenses.

        O que aconteceu à China em resultado da “Guerra do Ópio” e eventos relacionados moldou a direção que a China tomou nos tempos modernos. A hostilidade chinesa contra o Ocidente, hoje, está diretamente relacionada com o modo em que a Igreja católica e anglicana se comportou para com ela nos tempos passados.

        Em 1890, muitos chineses antipatizavam violentamente de todas as pessoas e nações não-chinesas, culpando-as dos tratados desiguais. Os rebeldes chineses formaram sociedades secretas e juraram acabar com a influência ocidental na China. Tais sociedades obtiveram muito apoio entre o povo chinês.”
        Em 1899, tais sociedades começaram violenta campanha contra os ocidentais. Esta campanha também era dirigida contra os chineses que haviam sido convertidos às igrejas da cristandade. Foi conhecida como a “Revolta dos Boxers”, visto que, diz-se, uma das principais sociedades secretas, os Boxers, praticava exercícios cerimoniais que se assemelhavam ao treino de boxe com sua sombra.

  3. Não tenho opinião sobre o valor cultural, mas algo construído à menos de 100 anos para temporariamente enaltecer a ascensão do grande botas não é propriamente um marco da história. Junte-se ao caldo misturar a crítica ao revisionismo, e está perdida a razão de quem até pode estar do lado correcto, mas por puro acaso dos fascistas às vezes também acertarem em qualquer coisa.

  4. Sem pré-juízos, apenas para reflexão:
    Quantos dos leitores mais velhos, em particular, do «Estátua de Sal», não levaram, na infância, um par de «tabefes/estalos» dos respetivos progenitores, a propósito de terem faltado a uma escola para ir aos pássaros ou a pretexto de outra coisa qualquer?
    Eram tais progenitores criminosos (à luz da legislação atual, que pune, e bem, enquanto sinónimo de evolução civilizacional, qualquer violência doméstica) ou, refletiam, apenas, toda uma cultura na altura dominante, que via em tais «tabefes/estalos» uma natural forma de corrigir condutas no seio da família?
    Se a lei atual sobre violência doméstica pudesse ter efeitos retroativos, ir-se-ia, por isso, julgá-los e condená-los, mesmo pós-morte até?
    Em suma: poderá haver, dentro de toda uma evolução civilizacional, recusa de comportamentos passados, sem, contudo, esses passados comportamentos serem «condenados»?

  5. A ralé tem por principal característica, mais do que a ausência de memória, o horror da memória.
    Se hoje roubam, amanhã dizem-se sinceramente honestos!
    Não é estranho que assim seja se o pensamento dominante for a sobrevivência, em que cada dia é uma nova vida.
    A memória de um povo não tem que subordinar-se ao padrão de memória da sua ralé.
    O estranho do progressismo abrilesco é que o dar o poder ao povo se transformou em figurar o dar o poder à ralé, e não falta quem infeste o discurso público com o que sempre seriam os seus inevitáveis vómitos.

  6. O “grau máximo de coerência” do Homem está ao nível do absurdo: comparar a topiária de uma praça à monumentalidade dos Jerónimos, dos Clérigos ou, até, à de uma ermida; só na cabeça de um demagogo. Uns tem valor arquitectónico e artístico intrínseco e insubstituível, a outra nem por isso! E isto, sem falar da obra imaterial convocada para justificar o preconceito! Poder-se-ia comparar os brasões a uns grafitos bens desenhados numa qualquer parede da cidade mas, aposto, o Homem detesta grafitos…
    Quanto ao nome da praça, já imagino o Homem a liderar subscrições para repristinar a designação da ponte 25 de Abril.

    • Além de não perceber o artigo, pauta-se por uma selectividade classicista incrível (que é a crítica em causa). Portanto, assentou-lhe bem pela sobranceira que aqui despertou.

  7. O que se percebe é que há anti-colonialistas e colonialistas (sem aspas).
    E que não haverá, de entre os primeiros, quem se oponha à eliminação dos buxos e à alteração do nome da praça.
    Pena é que muitos dos que lamentam a perda do império não lamentem a condição colonial a que este país está, desde há umas décadas, submetido!

  8. E de que lado o Anónimo está ? Do lado de quem advoga o apagamento de quase 900 anos da nossa História ?

    É certo que a História de Portugal, nunca foi aquela que nos impingiam na “Instrução” primária.

    Os portugueses que, de par com os espanhóis, “deram mundos ao Mundo, com a espada numa mão e o crucifixo na outra”, utilizaram muito mais a espada, roubaram “o ouro”, dos povos que invadiram, transmitiram-lhes doenças que eles não conheciam, violaram as suas mulheres, assassinaram os seus homens, destruiram as suas tradições ancestrais, as suas práticas cerimoniais e religiosas, os seus deuses…!

    È essa História, que não deve ser destruida, mas contada em toda a sua grandeza, como também em todos os seus pôdres, porventura em maior “quantidade” do que “a sua grandeza” !

    Será essa a História que o Anónimo quer “apagar” ?

    E qual é a “condição colonial a que o país está submetido há décadas” ! Será que os Portugueses em Democracia, não são donos do seu próprio destino e futuro ? Porquê ? Por estarem inseridos na Comunidade Económica Europeia ? E seria melhor se estivéssemos “orgulhosamente sós” no concerto das Nações ?

    Ou o “antigamente” é que era bom ? Repare que não estou a insinuar que pensa assim. Limito-me tão só a perguntar.

  9. Os Pigmeus são os primitivos habitantes africanos. Depois disso, os Bantu colonizaram toda a África e escorraçaram os Pigmeus. Em homenagem a essa colonização Bantu, das maiores à escala planetária, joaquina e mamadomente, proponho que a Praça do Império se passe a designar Praça da Colonização Bantu. É que depois da colonização europeia os Bantu continuam lá – e cá também – mas os Pigmeus quase desapareceram.
    u.

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