Porque a CIA tentou um “golpe Maidan” no Brasil

(Pepe Escobar, in Resistir, 10/01/2023)

 O golpe falhado no Brasil é o último feito da CIA, no momento em que o país forja laços mais fortes com o Oriente.


Um antigo responsável de inteligência norte-americano confirmou que a caótica reencenação do Maidan em Brasília a 8 de Janeiro foi uma operação da CIA e ligou-a às recentes tentativas de revolução colorida no Irão.

No domingo, alegados apoiantes do ex-presidente de direita Jair Bolsonaro invadiram o Congresso, o Supremo Tribunal e o palácio presidencial do Brasil, contornando barricadas de segurança frágeis, subindo em telhados, partindo vidraças, destruindo propriedade pública, incluindo pinturas preciosas, ao mesmo tempo que apelavam a um golpe militar como parte de um esquema de mudança de regime visando o Presidente eleito Luís Inácio “Lula” da Silva.

De acordo com a fonte estado-unidense, a razão para encenar agora a operação – a qual apresentou sinais visíveis de planeamento às pressas – é que o Brasil está pronto para se reafirmar na geopolítica global ao lado dos demais estados BRICS, Rússia, Índia e China.

Isto sugere que os planeadores da CIA são ávidos leitores do estratega do Credit Suisse, Zoltan Pozsar, anteriormente do Fed de Nova York. No seu relatório pioneiro de 27 de Dezembro, intitulado War and Commodity Encumbrance, Pozsar afirma que “a ordem mundial multipolar está a ser construída não pelos chefes de Estado do G7, mas pelos ‘G7 do Leste’ (os chefes de Estado dos BRICS), o qual é realmente um G5 mas, devido à “BRICSpansão”, tomei a liberdade de arredondar para cima”.

Ele se refere aqui a relatos de que a Argélia, a Argentina, o Irão já solicitaram a adesão aos BRICS – ou melhor, à sua versão expandida “BRICS+” – além do interesse manifestado pela Arábia Saudita, Turquia, Egito, Afeganistão e Indonésia.

A fonte estado-unidense traçou um paralelo entre a Maidan da CIA no Brasil e uma série de recentes manifestações de rua no Irão instrumentalizadas pela agência como parte de um novo impulso de revolução colorida: “Estas operações da CIA no Brasil e no Irão são paralelas à operação na Venezuela em 2002, que foi muito bem sucedida no início, uma vez que os desordeiros conseguiram apoderar-se de Hugo Chavez”.

Entra o “G7 do Oriente”

Os neocons straussianos colocados no topo da CIA, independentemente da sua filiação política, estão furiosos [com a possibilidade] de que o “G7 do Oriente” – tal como na configuração BRICS+ do futuro próximo – estejam a afastar-se rapidamente da órbita do dólar americano.

O straussiano John Bolton – que acaba de publicitar o seu interesse em concorrer à presidência dos EUA – está agora a exigir a expulsão da Turquia da NATO quando o Sul Global se realinha rapidamente no seio de novas instituições multipolares.

O ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov, e o seu novo homólogo chinês, Qin Gang, acabam de anunciar a fusão do projeto Cinturão e Estrada (Belt and Road Initiative, BRI) conduzido pela China com o da União Económica da Eurásia (EAEU) conduzido pela Rússia. Isto significa que o maior projeto de comércio/conectividade/desenvolvimento do século XXI – as Novas Rotas da Seda chinesas – é agora ainda mais complexo e continua a expandir-se.

Isto prepara o terreno para a introdução, já em fase de concepção a vários níveis, de uma nova divisa de comércio internacional destinada a substituir o dólar americano. Além de um debate interno entre os BRICS, um dos principais vetores é a equipa de discussão criada entre a EAEU e a China. Quando concluídas, estas deliberações serão apresentadas aos países parceiros do BRI-EAEU e, claro, aos BRICS+ ampliados.

Lula ao leme no Brasil, no que é agora o seu terceiro mandato presidencial não sucessivo, dará um tremendo impulso ao BRICS+. Nos anos 2000, lado a lado com o Presidente russo Putin e o antigo Presidente chinês Hu Jintao, Lula foi um conceptualizador chave de um papel mais profundo para os BRICS, incluindo o comércio nas suas próprias divisas.

Os BRICS como “o novo G7 do Oriente”, tal como definido por Pozsar, está para além do anátema – tanto para os neocons straussianos como para os neoliberais.

Os EUA estão a ser lenta mas seguramente expulsos da Eurásia mais vasta por ações concertadas da parceria estratégica Rússia-China.

A Ucrânia é um buraco negro – onde a NATO enfrenta uma humilhação que fará o Afeganistão parecer-se com Alice no País das Maravilhas. Uma UE fraca a ser forçada por Washington a desindustrializar e a comprar gás natural liquefeito (GNL) norte-americano a um custo absurdamente elevado não tem recursos essenciais para o Império pilhar.

Geoeconomicamente isso deixa o “Hemisfério Ocidental” dominado pelos EUA, especialmente a imensa Venezuela rica em energia, como alvo principal. E geopoliticamente o ator regional chave é o Brasil.

O jogo neo-conservador straussiano é fazer tudo para impedir a expansão comercial russo-chinesa e a sua influência política na América Latina, que Washington – independentemente do direito internacional e do conceito de soberania – continua a chamar “o nosso quintal”. Em tempos em que o neoliberalismo é tão “inclusivo” que até os sionistas usam suásticas, a Doutrina Monroe está de volta, com esteroides.

Tudo sobre a “estratégia de tensão”

Pistas para Maidan no Brasil podem ser obtidas, por exemplo, no Comando Cibernético do Exército dos EUA, em Fort Gordon, onde não é segredo que a CIA distribuiu centenas de ativos pelo Brasil antes das recentes eleições presidenciais – fiel ao manual da “estratégia de tensão”.

As conversas da CIA eram interceptadas em Fort Gordon desde meados de 2022. O tema principal era então a imposição da narrativa generalizada de que “Lula só podia vencer fazendo trapaça”.

Um alvo chave da operação da CIA era desacreditar por todos os meios o processo eleitoral brasileiro, abrindo caminho para uma narrativa pré-empacotada que agora está a desdobrar-se:   um Bolsonaro derrotado a fugir do Brasil e a procurar refúgio na mansão Mar-a-Lago do antigo presidente dos EUA, Donald Trump. Bolsonaro, aconselhado por Steve Bannon, fugiu do Brasil, saltando a posse de Lula, mas porque está aterrorizado pode enfrentar a pancada mais cedo do que tarde. E a propósito, ele está em Orlando, não em Mar-a-Lago.

A cereja no topo do bolo do Maidan requentado foi o que aconteceu neste domingo passado:   fabricar um 8 de Janeiro em Brasília a espelhar os acontecimentos de 6 de Janeiro de 2021 em Washington e, claro, gravar a ligação Bolsonaro-Trump na mente das pessoas.

A natureza amadorística do 8 de Janeiro em Brasília sugere que os planeadores da CIA perderam-se na sua própria trama. Toda a farsa teve de ser antecipada devido ao relatório de Pozsar, o qual foi lido por todos os que importam ao longo do eixo New York-Beltway.

O que está claro é que para algumas facções do poderoso establishment norte-americano, livrar-se de Trump a todo o custo é ainda mais crucial do que estropiar o papel do Brasil no BRICS+.

Quando se trata dos factores internos do Maidan no Brasil, tomando emprestado ao romancista Gabriel Garcia Marquez, tudo caminha e soa como a Crónica de um golpe anunciado. É impossível que o aparelho de segurança em torno de Lula não pudesse ter previsto estes acontecimentos, especialmente tendo em conta o tsunami de sinais nas redes sociais.

Assim, deve ter havido um esforço concertado para atuar com suavidade – sem grandes cautelas – enquanto se limitavam a emitir a habitual tagarelice neoliberal.

Afinal de contas, o gabinete de Lula é uma confusão, com ministros constantemente em confronto e alguns membros apoiantes do Bolsonaro mesmo há poucos meses atrás. Lula chama a isso um “governo de unidade nacional”, mas é mais como uma colcha de retalhos de mau gosto.

O analista brasileiro Quantum Bird, um físico académico globalmente respeitado que regressou a casa após uma longa estadia em terras da NATO, observa que há “demasiados atores em jogo e demasiados interesses antagónicos”. Entre os ministros de Lula, encontramos bolsonaristas, neoliberais-rentistas, convertidos ao intervencionismo climático, praticantes de políticas identitárias e uma vasta fauna de neófitos políticos e alpinistas sociais, todos bem alinhados com os interesses imperiais de Washington”.

“Militantes” da CIA a rondar

Um cenário plausível é que sectores poderosos das forças armadas brasileiras – ao serviço dos habituais grupos de pensamento neo-conservadores straussianos, mais o capital financeiro global – não poderiam realmente conseguir um verdadeiro golpe, considerando a rejeição popular maciça, e tiveram de se contentar, na melhor das hipóteses, com uma farsa “suave”. Isto ilustra bem o quanto esta facção militar auto-grandecida e altamente corrupta está isolada da sociedade brasileira.

O que é profundamente preocupante, como observa Quantum Bird, é que a unanimidade na condenação do 8 de Janeiro vinda de todos os quadrantes, embora ninguém tenha assumido a responsabilidade, “mostra como Lula navega virtualmente sozinho num mar raso infestado de corais afiados e tubarões esfomeados”.

A posição de Lula, acrescenta ele, “decretando uma intervenção federal sozinho, sem rostos fortes do seu próprio governo ou autoridades relevantes, mostra uma reação improvisada, desorganizada e amadora”.

E tudo isto, mais uma vez, depois de os “militantes” da CIA terem organizado os “protestos” abertamente nas redes sociais durante dias.

O mesmo velho manual da CIA continua, no entanto, a funcionar. Ainda confunde a mente como é fácil subverter o Brasil, um dos líderes naturais do Sul Global. Tentativas de golpes de Estado da velha escola, com roteiros de mudança de regime/revolução colorida, continuarão a ser ensaiados – lembrem-se do Cazaquistão no início de 2021 e do Irão há apenas uns poucos meses.

Por muito que a facção auto-engrandecida dos militares brasileiros possa acreditar que controla a nação, se as massas significativas de Lula chegarem às ruas com toda a força contra a farsa de 8 de Janeiro, a impotência do exército ficará assinalada de modo evidente. E uma vez que se trata de uma operação da CIA, os manipuladores ordenarão aos seus vassalos militares tropicais que se comportem como avestruzes.

O futuro, infelizmente, é agourento. O establishment dos EUA não permitirá que o Brasil, a economia BRICS com o melhor potencial a seguir à China, esteja de volta aos negócios com toda a força e em sincronia com a parceria estratégica Rússia-China.

Os neocons e neoliberais straussianos, chacais e hienas geopolíticos certificados, ficarão ainda mais ferozes à medida que o “G7 do Oriente”, Brasil incluído, se mover para acabar com a suserania do dólar americano enquanto o controle imperial do mundo desaparece.

Fonte aqui


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10 pensamentos sobre “Porque a CIA tentou um “golpe Maidan” no Brasil

  1. Ainda não sei se concordo com todos os argumentos. Por exemplo Bolsonaro não deixou de ser aliado dos BRICS, portanto qual era mesmo o objectivo do golpe alegadamente planeado pela CIA? Só sei que isto dá muito que pensar, e que dado o historial (cadastro) da CIA, não é tão descabido assim.

    Neste dias decorre a cimeira EUA-México. O México vai sendo Presidido por uma espécie de Lula lá do sítio. Ele é soberanista e muito favorável ao Sul Global, mas não se pode esquecer da cascavel com quem faz fronteira. Ver A.M.L.Obrador a elogiar os EUA naquela cimeira, com um olhar quase perdido e sem qualquer convicção, é de partir o coração. Mas na “real politique” é assim que tem de ser, em nome do bem do seu povo. Ou seja, o exemplo oposto ao fantoche de Kiev em confrontação com o urso seu vizinho.

    Fala-se muito de BRICS+, mas falta falar também de ASEAN, que estará muito graças a Vietname e Indonésia, Malásia e Filipinas, e às boas relações comerciais com a China e Índia e também Austrália, no centro do Mundo neste século. Se a China fosse uma cascavel como os EUA, em vez de cooperação win-win, estaria já a tentar minar a ASEAN em geral e a Indonésia em particular num jogo de soma zero, para impedir qualquer ameaça da ASEAN à sua hegemonia. Mas não, a China coopera, sem imposição, pelo bem de todos.

    A China (e a SCO, que é a organização mais abrangente que integra os principais países asiáticos dos BRICS, do BRI, e da EAEU) coopera com a ASEAN, com o Médio Oriente (e Liga Árabe), com África (União Africana), e com as Américas Central e do Sul (ex: Mercosul, Celac). Como se vê, são muitas as instituições de cooperação, diálogo, comércio, e multilateralismo, neste Sul Global (que engloba o ex-Terceiro Mundo e a ex-União Soviética).
    A cada dia que passa os diálogos crescem, os interlocutores aumentam, a integração (nunca imposta nem à custa de ninguém como na UE) progride.

    O futuro não está no Ocidente NeoCon (NeoLiberal/Pinochetista na economia, Belicista, Golpista, Traiçoeiro, Intriguista, Arrogante, Umbiguista, e Snob).

    Falta “só” saber quanto tempo demora a transição para o Mundo Multipolar, se a ONU é reformada ou completamente substituída (e obrigatoriamente mudada para fora dos EUA), quando é que a desdolarização chega ao ponto de implosão da FED, e como se vai aguentar a Europa: fragmentada e de costas voltadas (veja-se actual confronto entre Polónia e Alemanha pelos Nordstream e pelas reparações da Segunda Guerra Mundial), colada a cuspo numa total colonização dos EUA, ou reerguida com uma cooperação de nações soberanas (o que implica o fim desta UE e deste €uro, e um regresso a algo como a CEE) independentes dos EUA (o que implica o fim desta NATO, e o renascer do protagonismo de algo como a OSCE).

    Tenho esperança neste futuro, tenho medo do que se vai passar nesta mudança (para já o pior é “só” a guerra proxy na Ucrânia, mas pode vir aí a de Taiwan, ou A Última Guerra Mundial – nuclear), tenho uma satisfação por todos os povos que vão poder erguer-se como nunca os antigos Colonizadores e os actuais NeoCon os deixaram erguer, e tenho pena de poder ser velho demais para ver aproveitar ao máximo os resultados finais desta transformação.
    Agora sim a humanidade caminha para o ponto seguinte da evolução, um Mundo Globalizado a bem, sem o Globalismo do mal (o tal que é imposto pelos Straussianos).
    Até lá, ainda temos muito que sofrer sob o autoritarismo, propaganda, censura, lavagem cerebral, e todas as restantes malfeitorias do regime GENOCIDA ocidental.

    PS: nada disto interessa se os idiotas continuarem a negar as Alterações Climáticas, a gastar paleio e dinheiro para impedir uma real transição para energias limpas e economia sustentável, a desflorestar as florestas que ainda existem, e a promover uma sociedade consumista. Seja o actual Mundo Unipolar, ou o próximo Mundo Multipolar, nenhum dos lados está ainda seriamente a fazer o necessário. Pior, os idiotas dos Europeus andam a andar para trás a alta velocidade: encerrando centrais nucleares (a energia menos emissora de CO2), a parar o uso de gás Russo e a trocá-lo por um muito mais sujo GNL dos EUA, e ainda pior, a Alemanha a usar as forças da repressão para expropriar terrenos e expulsar gente de suas casas, de modo a expandir minas a céu aberto do super poluente CARVÃO (emite 100x mais CO2 que o nuclear). Isto passa-se em 2023! Estamos perdidos!! O que vai ser dos nossos filhos e netos?!?

    • A propósito da questão das energias, é realmente impressionante ver uma Alemanha com as responsabilidades que tem no domínio da poluição ambiental a adotar esse tipo de medidas…

      Mas o mais impressionante talvez seja ver tanta gente dentro dos muros do nosso belo “jardim” tão determinada em remover o presidente russo da sua posição ao mesmo tempo que se assumem como os esquerdistas mais radicais, inclusivamente no que à transição energética concerne, sem se darem de conta de que, quanto mais quiserem prolongar o conflito com base na ideia de que Putin é um ditador diabólico sem respeito por direitos humanos (enquanto ignoram ou querem ignorar tudo o que foi feito desde 2014 na Ucrânia pelo Ocidente) e que deve ser morto ou que os russos devem armar um golpe de estado, mais levam ao agudizar de problemas ambientais que tanto se defende pelo Ocidente inteiro – até naqueles anúncios irritantes da UE que pedem uma “Liberal and Democratic Europeu”.

      Não, obrigado!

      Alguns comentadeiros da TV terão noção de quanto gasta um único tanque em termos de combustível ? Algum desses avençados do Pentágono e da CIA que passam a vida a pedir mais armas, mais mísseis, mais carros de combate, mais tanques, mais aviação e mais tudo tem noção do impacto absolutamente nocivo que a indústria de guerra (e um conflito como aquele que decorre neste momento) tem para o ambiente em geral ?

      Pensarão aqueles que os tanques se movem com criptomoedas e que os helicópteros são movidos a energia renovável por causa das hélices ou do rotor ?

      Então ver uma ministra dos Verdes a assumir das atitudes mais bélicas e com o discurso mais vergado de todos os ministros europeus, sempre a pedir mais armas e a remoção de Putin do poder, assim como a derrota do exército russo na Ucrânia é de deixar uma pessoa estupefacta.

      Como é que é possível alguém de um partido ambientalista e de um país como a Alemanha – tendo tido as responsabilidades que teve na questão dos Acordos de Minsk e na sabotagem deliberada de uma resolução efetiva da guerra civil ucraniana – vir pedir mais armas, mais guerra e, por acréscimo, mais poluição ambiental enquanto dizem querer liderar a transição energética na Europa e no Mundo ?

      O pior é que esta gente podia ter evitado tudo isto (inclusivamente as questões ambientais) se tivessem escolhido negociar honestamente com a Rússia e se tivessem ligado alguma ao genocídio que acontecia no Donbass desde 2014.

      Mas claro, se foram eles que provocaram tudo isto, para que é que lhes interessa interromper ou frustrar os seus objetivos finais ?

      Não me espantava se as cheias que se têm registado em vários pontos do planeta também estivessem de alguma maneira relacionadas com o conflito.

      É esperar que as pessoas comecem a pensar um bocado…

      É que, se estão tão comprometidos com as alterações climáticas, como é que ainda não lhes passou tudo isto pela cabeça e não andam a pedir negociações na rua, ao invés de uma no fly zone da NATO ?

      Assim também não precisavam de andar a fechar escolas… Embora eu não tenha nada contra a atuação activista de jovens!

      Mas, se eles querem causar o maior impacto, talvez o melhor fosse pedir o fim do conflito e, na sua esteira, montar tendas em frente à embaixada americana, exigir o fim da proliferação de todo o tipo de armas e protestar os gastos astronómicos e pornográficos do Complexo Militar-Industrial americano, que impedem fundos essenciais para outras áreas atinentes a questões que dizem respeito ao planeta inteiro…

      De qualquer das formas, obrigado pelo comentário, Carlos Marques. Pertinente como sempre.

      • É de vómitos ver a ministra dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, a muito “verde” e “ambientalista” Annalena Baerbock, felicíssima com a inviabilização dos Nordstream 1 e 2, objectivo há muito proclamado pela sua agremiação a coberto de álibis “ambientais” (o combate aos combustíveis fósseis), e vê-la extasiada de felicidade com a substituição dos fósseis russos pelos fósseis americanos, fingindo ignorar que estes, ao inevitável contributo para o aquecimento global (igual ao dos russos) acrescentam um método de extracção (fracking) muito mais poluente e prejudicial para o ambiente, desvantagem que os russos não têm.

        • A Baerbock e o Habeck dos “Grüne” são cavalos de Tróia dos EUA. Não há outra explicação. Foram formados na “arte” da manipulação total, da falta de valores e ausência de espinha dorsal, da obediência cega ao soltar de Washington (seja o diktat governamental ou do grande capital).
          É revoltante ver esta gente no poder, ver a “imprensa livre” a ajudar na manipulação e lavagem cerebral, e ver a maioria do povinho a comer a palha toda, tão cego que nem consegue ver a própria miséria. Só consegue ver o ódio para que foi treinado num método de condicionamento Pavloviano, e cuja origem foi uma espécie de “Inception” ao longo de décadas, mas sem Leonardo DiCaprio nem CGI, apenas com Sean Penn e imagens da CNN/Fox/BBC e companhia…

          No golpe do Perú, a repressão policial já matou quase 50 pessoas.
          Mas na tal máquina de Inception ocidental, fala-se só dá repressão no Irão, e a reação pavloviana dos superficiais é a que se vê. Nem sabem apontar o Perú no mapa, mas cortam cabelos em nome de estórias falsas sobre o Irão…

          Foi esta mesma máquina de propaganda que convenceu os eleitores de Baerbock de que queimar mais carvão “é verde” e que dar mais armas a Nazis “é democrático e pacifista”, e condicionou-os de tal forma que assim que ouvem o “sino” (neste caso as palavras Putin ou Rússia) começam logo a salivar.

          E se alguém falar de factos e usar a lógica ou se atrever a relembrar o contexto histórico, lá está o agente da CIA disfarçado de “jornalista” a mostrar imagens de Ucranianos a chorar e a perguntar “mas você não tem pena das crianças”? Assim, com a manipulação emocional completa-se a lavagem cerebral e o condicionamento.

          Li ontem no órgão de propaganda da NATO chamado SAPO/Multinews que a Rússia “capturou” uma zona da Arménia… Estavam estes aldrabõea a falar do corredor de Lachin, em território Azeri, entre a Arménia e Artesakh (ex-Nagorno Karabakh), onde as tropas russas têm uma missão neutral, estão lá a convite dos dois países que assinaram um acordo de paz entre si após a guerra de 2020, e a função da Rússia é garantir uma passagem, um corredor humanitário entre os territórios disputados por Arménia e Azerbaijão.
          Repito, os propagandistas do SAPO/Multinews atreveram-se a dizer que este território foi “capturado” pela Rússia.

          Depois lembramo-nos que estes países fazem parte da CSTO e da EAEU, e que a NeoCon Nanci Pelos passou por lá no mesmo Verão em que passou em Taiwan, e percebemos (nós os atentos e não superficiais) o que está realmente em causa, e quem é que escreveu aquela manchete que o SAPO/Multinews se limitou a publicar acriticamente.
          A cartilha de Langley…

          Relembro também o relatório RAND de 2019 (Over extend Russia) que está a ser seguido ponto por ponto, desde o armamento da Ucrânia, à tentativa de regime change na Bielorrússia, passando pelas sanções à Rússia, e um dos pontos diz assim:
          desestabilizar a região do Cáucaso.
          Até é caso para perguntar: será que a iniciativa da guerra de 2020 partiu mesmo dos Azeris, ou foi mais uma consequência de uma psy-op, inception, da CIA?

          Quantas pessoas é que têm de morrer em todo o Mundo em nome dos intere$$e$ da oligarquia NeoCon?
          É por isso que lhes chamo regime GENOCIDA ocidental, e os considero o pior mal à superfície da terra desde 1945.

          • Carlos Marques, subscrevo inteiramente, excepto esta parte:

            “assim que ouvem o “sino” (neste caso as palavras Putin ou Rússia) começam logo a salivar.”

            O que eles começam logo a fazer é ladrar e rosnar, arrepelar os cabelos, dar marradas nas paredes e, se jogam mão a uma arma, dar tiros nos pés.

  2. A democracia capitalista continua a ser o mesmo que o totalitarismo injusto..

    Penso que estes fenómenos irão aumentar. O problema hoje em dia é que os defensores da democracia praticam uma grande manipulação da população e podemos ver que os principais meios de comunicação social já não fazem o seu trabalho de fornecer informação sem preconceitos e parcialidade. Esta suspeita cria desconfiança na população em relação às instituições. Cria-se a impressão de que já nada é verdade e a democracia já não existe. Uma vez que todos já não se podem fazer ouvir. Os meios de comunicação social têm um lado e tentam dobrar as pessoas na sua direcção. É preciso dizer que os jornalistas se consideram os governantes do mundo com 2 ou 3 agências noticiosas que controlam as notícias ocidentais. É triste este estado de coisas.

    A democracia é uma forma de governação que só pode florescer em tempos de abundância. O povo está satisfeito porque os governantes são financeiramente capazes de dar a todos, incluindo as minorias. É fácil ver que a escassez causada, entre outras coisas, pelo abrandamento da produção chinesa devido à gestão da epidemia, reduz significativamente o número de democratas (os verdadeiros, aqueles que são democratas pelas suas acções, e não apenas aqueles que afirmam ser democratas). De um ponto de vista puramente físico, estamos no auge do que o planeta pode dar por tantas pessoas, o que levará ao lento e natural declínio de todas as democracias.

    À primeira vista, os vários protestos nas democracias podem ser explicados por uma desconexão entre os líderes e o povo, um sentimento de abandono, de promessas sempre feitas mas nunca cumpridas, em suma, um sentimento de impotência e frustração com uma classe política que não ouve ou escuta apenas o que lhes interessa. Este é talvez um exemplo que ilustra que a emergência de Trump e Bolsonaro é mais complicada do que parece. Quanto ao resto, a história política de cada Estado deve ser analisada com mais pormenor para compreender as motivações dos eleitores, a sua sociologia, etc.

    A causa mais credível disto é que existem cada vez mais 2 categorias de pessoas: a racional e a irracional; esta última vivendo da desinformação, das redes sociais, da ideia de que cada pensamento teria o mesmo valor (a “democracia” aplicada ao valor do intelecto de todos, onde um pensamento vale qualquer outro, independentemente da qualificação). Onde a crença, a convicção, é mais valiosa do que o raciocínio. Em suma, uma metade da população vive em ideologia, convencida de que representa “o Bem”, rejeitando o outro lado como “o Mal”. Isto impede qualquer troca racional e construtiva.

    Analisa-se estes países como se “o povo” rejeitasse as nossas democracias, enquanto que só os que rejeitam a razão estão envolvidos, e já o estão há muito tempo. Os racionais (democratas) tendem a ter dignidade e integridade, enquanto os irracionais usam truques para serem eleitos, rejeitam qualquer coisa que não sirva o seu interesse imediato, e geralmente agem sem escrúpulos. Isto é lógico quando se considera o que eles encarnam: o individualismo, para não dizer o seu umbigo.

    O Brasil sempre esteve socialmente dividido, principalmente devido à indiferença dos estados do sul em relação aos do nordeste, que consideravam ser um fardo económico. Houve também um racismo mas nunca foi assumido, foi principalmente a diferença social que separou as pessoas, é flagrante nas grandes cidades onde as favelas cresceram nas periferias!

    O problema mais grave é que esta abordagem, certamente a conselho de alguns populistas, se generalizará nas nossas frágeis democracias. Os populistas de todos os países já não aceitarão os resultados das urnas, uma vez que, de acordo com o seu software, um populista deve ter o apoio das pessoas que votam. Caso contrário, há batota!

    A questão que me coloco é por que razão os EUA, que provocam todos os conflitos do mundo, provocaram este golpe de Estado que custa uma fortuna a organizar para um resultado que será medíocre? Os vídeos mostram-nos um tsunami humano bem equipado que representa cerca de uma divisão, ou três regimentos, e que exigiu um considerável desenvolvimento logístico e fundos. Não é a população dos distritos vizinhos que está presente, mas pessoas jovens que estão bem equipadas e visivelmente bem preparadas para transportar tantas pessoas, representa a mobilização de 500 autocarros para os trazer ao local como uma onda de ruptura. Foi necessária uma enorme mobilização e fundos para o fazer. É por isso que penso que é a maneira americana, como a falsa revolução laranja financiada pela embaixada americana na Praça Maidan de Kiev em 2014, que Obama diz ter custado vários biliões de dólares. Os consideráveis meios utilizados deveriam permitir facilmente ao governo brasileiro descobrir de onde vieram os meios de transporte e toda a logística que teve de ser posta em prática para fazer um movimento de massas em tão grande escala. Isto não deve ser comparado com a mobilização de uma população furiosa como os coletes amarelos que representavam o povo de França nas ruas. Nos vídeos publicados, vejo apenas pessoas que se comportam como os fascistas de Mussolini ou os nazis de Hitler. Parecem-se mais com uma milícia petainista do que com uma população de bairro. Vejo que eles se movem sabendo o que têm de fazer e onde têm de ficar. Agem sem hesitação como os fascistas ..

    O resultado é o que aconteceu no Planalto no domingo à noite! Entretanto, os oligarcas de cereais! Criadores de gado! Para aqueles que são mais próximos, tomaram o controlo da política económica do país!

    Quanto ao racismo do Sul, digo que não é assumido! Quanto à política económica, não sei para onde foram as receitas! Para os bolsos dos oligarcas ou do Estado.

  3. Suspeito que o assalto aos “três poderes” não passou de uma cortina de fumo, uma manobra de diversão, e que o verdadeiro alvo foi apenas um: o Supremo Tribunal. É sabido que a quadrilha Bolsonaro (pai e filhos), ainda antes das eleições e da vitória de Lula, vinha a ser denunciada, nos últimos meses, por inúmeros negócios duvidosos, nomeadamente aquisições de imobiliário em dinheiro vivo. Daquilo que li, pelo menos parte dessas denúncias deu origem a investigações e processos judiciais. Se o jagunço tivesse ganhado as eleições, é possível que essas investigações e correspondentes processos dessem em águas de bacalhau ou fossem mesmo anulados, por influência directa ou indirecta da quadrilha, usando os inúmeros e criativos meios de que os mafiosos não hesitam em lançar mão. Tendo, porém, levado um chuto no sim-senhor, assim perdendo influência e acesso a alavancas de poder e instrumentos de pressão, o jagunço-pai (com a respectiva prole) precisava de outras vias para tentar inviabilizar as investigações. Não sei como as coisas funcionam no Brasil, mas, sendo o principal investigado um ex-presidente da república, não me admiraria que eventuais investigações e processos que o tivessem como alvo estivessem a cargo do Supremo. Se era esse o caso, seria interessante saber o que aconteceu a esses processos e respectivas provas documentais, identificação de testemunhas, etc. Estavam, e estão, em lugar seguro ou foram roubados e/ou destruídos a coberto da manobra de diversão dos “três poderes”? Toda a gente, a começar e a acabar no mainstream merdia, se foca nos bandos de vândalos acéfalos e na destruição que provocaram, mas, como parece claro, tudo aquilo implicou uma organização, uma logística, um financiamento. E também me parece claro que o sucesso do objectivo proclamado (a anulação da vitória de Lula e o regresso do jagunço-pai ao poder) nunca teve qualquer hipótese de sucesso. Não acredito que organizadores e financiadores não soubessem disso e tivessem simplesmente decidido deitar dinheiro à rua. Eles apostam no regresso de Bolsonaro, mas apenas nas próximas eleições e não agora. Para isso precisavam de fazer dele um candidato viável, o que seria impossível com o bicho na prisão ou em risco disso. E agora sai para a mesa do canto uma filosofice de aviário:

    Quando uma coisa não faz sentido, e sentido não faz que sentido não faça, a coisa a fazer é tentar perceber que coisa fará com que o que sentido não faz sentido faça.

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