(Carlos Matos Gomes, in Medium.com, 27/12/2022)

Estamos no final de um ano e quase no princípio de outro. Talvez faça sentido falar de princípios. Durante o ano que finda ouvi com muita frequência a afirmação de que na Ucrânia “se estão a defender os “nossos” princípios!”
Parto do princípio de que os proclamadores da frase, que vão de Joe Biden da América, a Ursula Von Der Leyen da União Europeia e a Jens Stoltenberg da NATO –personagens simbólicas e institucionais do “nosso” mundo, o “Novo Ocidente”, ou o “Ocidente Alargado”, como a propaganda agora designa o Ocidente cristão sem a Rússia, mas com a Austrália e a Nova Zelândia — se referem a princípios éticos, aqueles que servem como guia para definir uma conduta válida e boa e não a princípios pragmáticos do género, para já vendo estes, mas posso mandar vir outros.
Tomando a frase como bem-intencionada, ela tanto pode querer significar que o regime de Zelenski defende os “nossos” princípios, como que os “nossos” princípios estão ser defendidos por Zelensiki e os seus apoiantes.
Considero a Ucrânia um assunto esclarecido em termos de interesses em jogo, resta-me esclarecer quais os princípios que em nome do grande e antigo espaço de valores culturais e de interesses a que pertenço e que voltou a recorrer ao conceito antigo de Ocidente, estão a ser defendidos na Ucrânia.
Esse esclarecimento exige que conheça quais os princípios emitidos para o mundo a partir de Washington, a capital que substituiu Roma e mais tarde Londres como sede do Ocidente. Quem são os “patrícios romanos” que enviam as legiões de misseis Patriots para os confins do império a fim de imporem os princípios que justificam os seus interesses?
As estatísticas informam que 80% dos senadores e representantes instalados no Capitólio são multimilionários. Mesmo sem adotar a frase atribuída a Balzac de que atrás de toda a grande fortuna existe um crime, o facto da cúria que estabelece os princípios ser de multimilionários é significativo. A grande maioria dos cidadãos do Ocidente não é milionária. E a restante humanidade ainda menos que os ocidentais. No entanto, os pregoeiros do Ocidente, aqueles com acesso aos púlpitos das grandes redes de comunicação dominadas pelos tycoon da produção de ideologia e dos seus princípios, têm promovido a defensores dos princípios dois dos seus novos heróis: Elon Musk, o dono do Twiter e dos foguetões da Space X que asseguram as comunicações que permitem fazer a guerra na Ucrânia (aquela em que os ucranianos comuns morrem para o seu chefe defender os “nossos princípios”), e Sam Bankman-Fired, o especulador da FTX, a bolsa das criptomoedas que aos trinta e dois anos conseguiu a dupla proeza de “valer” vinte mil milhões de dólares e falir de um dia para o outro! Trump, o terceiro mosqueteiro, caiu entretanto em desgraça.
Estes trio, agora eduzido a duo (mas não será difícil substituir o has been loiro), configura o modelo de herói da sociedade cujos princípios estão na verdade a ser defendidos na Ucrânia. Os princípios do Ocidente, transformados em religião oficial, foram estabelecidos nos anos 80 por Reagan e Tatcher, o divino par, que entregou a Pinochet , em Santiago do Chile, em 1973, as tábuas da nova lei fabricada pelos boys da Universidade de Chicago, chefiados por Milton Friedman.
Os princípios que estão a ser defendidos na Ucrânia são os de Elon Musk e de Sam Bankerman-Fried, figuras a quem Robert Reich, articulista do «The Guardian», classificou como “Os Monstros do Capitalismo Moderno”, num artigo de 24 de Dezembro. Haverá outros, mas estes são exemplares de referência, por reflexo dos oligarcas russos e ucranianos.
A propósito dos “princípios” destes filantropos ocidentais, Paul Krugman, prémio Nobel da Economia, num artigo de 23 de Dezembro no El País reconhecia que os admiradores de Musk não o vêm como um predador sem escrúpulos, mas como alguém que sabe como dirigir o mundo (a mesma resposta que dão os fiéis dos partidos de extrema direita, como o Chega, ao Chefe (o Ventura no caso nacional): diz umas verdades.)
Os princípios que estão a ser defendidos na Ucrânia são os dos plutocratas egoístas que exibem a sua riqueza na praça pública das redes de comunicação, que dominam, que compram e destroem a seu bel-prazer. Estes são os princípios de liberalismo e saque que estão a ser defendidos na Ucrânia em nome do Ocidente e agora com uma arma com o nome comercial de Patriot!
São também os princípios dos demagogos e populistas que estão a corroer a estrutura das democracias liberais do Ocidente. Eles, aliás, bem se esforçam por garantir que na Ucrânia se defendem os nossos (deles) princípios, o que é verdade! Será mesmo a única verdade sobre o conflito.
Os meus princípios são um assunto pessoal, mas os interesses defendidos pelos mísseis Patriot e restante parafernália, proclamados como os “nossos” pelos multimilionários que surgem do nada (de cadastro limpo) são um assunto que, queira eu ou não queira, interferem na minha vida, vão provocar alterações radicais nos direitos da sociedade a que pertenço, na limitação da minha liberdade, na perda de bens sociais, na insegurança, empobrecimento, violência no futuro dos meus sucessores.
Os “monstros do capitalismo” têm toda a razão quando mandam os seus apóstolos da comunicação social afirmarem que na Ucrânia se defendem os “nossos” interesses e podiam acrescentar que também em Israel e no Kosovo. Mas os “nossos” são os “deles”. É uma grande diferença para quem não aluga misseis nem satélites nem negocia em moedas virtuais.
Pois é tem toda a razão…mas as sociedades que a Rússia e a China defendem e praticam são exemplos “extraordinários” com multimilionários exemplares…que defendem as verdadeiras democracias…Porque é que não se debruça sobre aquelas ” democracias” comparativamente com as chamadas democracias ocidentais??!!A URSS,a Rússia e China foram e são uns “filantropos ” dos países africanos e sul- americanos…tal como o foram e são os EUA,Inglaterra, França, Holanda,etc
Que texto maravilhoso. Assino por baixo.
Já cá faltava o “whataboutism” de quem recusa olhar ao espelho, e prefere imediatamente desviar atenções do assunto em debate.
Quanto a África e América Latina, o que sei é que esses países ou são não-alinhados ou casa vez mais VOLUNTARIAMENTE se viram para Rússia e China.
No Mali expulsam os Franceses e dão boas-vindas aos Russos em geral e aos Wagner em particular.
E noutros países a arquitectura vale mais que mil palavras. São tantos os sítios onde se vê de um lado ruínas do colonialismo ocidental, e do outro lado as novas infraestruturas construídas pela China. De um lado a pobreza causada pela “rules based order” e do outro o progresso e desenvolvimento catalizados pelo financiamento do banco dos BRICS e pelos perdões de dívida feitos pela China.
O texto do Carlos Maria Gomes é bom demais para ser confrontado com um whataboutismo desses.
Quem critica o Nazismo, não tem de criticar o Estalinismo na frase seguinte. Quem critica o Estalinismo, não tem de criticar o Nazismo na frase seguinte. Cada macaco no seu galho. Hoje a discussão era sobre a estupidez do regime genocida ocidental, oligárquico, belicista, mentiroso, e NÃO representativo do seu povo.
Não é preciso acrescentar um “mas e este ou aquele regime”. E quem o faz, sabe bem que só está a tentar desconversar.
Carlos Matos Gomes falou do ditador fascista e assassino em massa chamado Pinochet, colocado no poder após golpe apoiado pelo Capitalismo Neoliberal Ocidental. E isto num país que era livre e democrático antes de tal golpe! Whataboutism num assunto destes?! Caramba!
Nunca é de mais relembrar: os “nossos” (vade retro!) princípios que os azoves e afins estão a defender na Ucrânia, com a bênção do palhaço medricas Zelensky von Pandora Papers, do corrupto senil Joseph Robinette Biden, seu patrão, e da criada deste, Ursula von der Latas, são estes:
https://youtu.be/03AqKuCg96I
Quem quiser continuar a dormir, faça favor!
Bom dia!
O sistema de combate Patriot é composto por vários elementos todos montados em camiões e reboques: (1) o centro de comando de incêndio, (2) o sistema de radar, (3) o grupo de mastro da antena (comunicação e anti-enferrujamento), (4) o grupo gerador (2 geradores diesel), (4) 8 sistemas de lançamento de mísseis PAC-2 ou PAC-3.
Actualmente, os mísseis são de 2 gerações diferentes com usos diferentes: PAC-2 e PAC-3.
Um sistema lançador PAC-2 tem 4 mísseis, um sistema PAC-3 tem 16 mísseis. Só o lançador custa pelo menos 10 milhões de dólares. E cada míssil custa entre $1 e $3 milhões de dólares.
Um sistema de combate PAC-2 completo custa mil milhões de dólares. O sistema PAC-3 mais sofisticado deve ser ainda mais caro.
A cereja no topo bolo é que são precisos 90 homens para um sistema completo de combate Patriota. (fonte: ( Echos, 6 de Maio de 2022)
Esta guerra é uma tragédia, e o mais terrível é o que está a acontecer à população civil, . Esperava que os líderes ucranianos estejam-se bem conscientes do que significa um apoio inabalável a um governo dos EUA, basta olhar para os últimos 50 anos. Especialmente porque os objectivos económicos já são alcançados através do mercado dos hidrocarbonetos pelos Estados Unidos…
Esta guerra também não está a ser travada no campo militar, mas também no campo económico e diplomático: des-dolarização da economia mundial, reforço dos BRICS, etc. Os estrategas europeus não compreenderam nada, pois a nível économico os países do G7 já perderam.
Acima de tudo queria realçar como observador da historia a que muitos críticos dizem,sejam eles pro Putin ou contra..
1)Se se questionarem os pretextos da agressão russa, dado que estas razões, verdadeiras, poderiam ser resolvidas sem violência militar, por conseguinte, apenas serviu de pretexto para modificar as fronteiras internacionais, também e sobretudo ridiculariza a denominação de “operação militar especial” em território estrangeiro contrária à vontade do Estado Soberano sujeito a esta operação:
Chama-se guerra. Ponto.
Guerra ilegítima: Existem guerras legítimas?
Guerras “existentes”, sim: poder-se-ia aliar à Polónia sob a agressão alemã e, assim, haveria uma guerra legítima. Mas houve uma guerra. Poderíamos, deveríamos, ter entrado na guerra do lado da China, atacados pelos Froebooters Coroados do Ocidente, que tinham vindo impor o seu “direito” ao tráfico de ópio…, etc… Havia uma guerra… mas não era para ser iniciada.
Numa guerra, por vezes, um dos lados é legitimado. Aqui, este não é realmente o caso: houve de facto um conflito, em que o Ocidente e as autoridades soberanas da Ucrânia não tentaram extinguir o fogo que tinham incendiado, mas não foi nem deve tornar-se um conflito militar – refiro-me, entre outras coisas, à interferência ocidental “golpe de Estado do tipo Pinochete” em 2014, ao bloqueio das entregas de fertilizantes para especular sobre os preços dos alimentos a partir de Abril de 2021, etc. …- daí a atitude dos países neutros…
2) Guerra legítima ou não, existem alvos legítimos e ilegítimos.
A NATO cometeu muitos crimes de guerra, para além da destruição de alvos ilegítimos, nas suas múltiplas “operações defensivas no território de um país membro”, como a Sérvia, o Iraque, – quem sabe, amanhã a lua? -…… …
A Ucrânia armou civis sem quaisquer sinais distintivos excepto, se vistos a tempo. Os militares, equipados, sem feridos, foram tomar posição no hospital de Kharkov; a electricidade serve os meios de comunicação do exército: são alvos legítimos, tendo em conta a utilização, incluindo assim, infelizmente, as zonas urbanas, incluindo, este hospital.
Não que a Ucrânia não conheça a guerra de posição ou movimento em “país aberto”. Basta ir ao google-maps… Não que a Ucrânia não tenha bombardeado sistematicamente instalações civis perto das áreas que controlava, as imagens de google-maps são de muito antes de 2022, vão ver, por exemplo, os arredores da Popasna: sem telhados, era uma zona secessionista.
Bem, nós sabemos, eles tinham privado os cidadãos ucranianos na Crimeia ocupada – culpa deles? – de água potável. Não é exactamente um alvo de guerra. O governo ucraniano é responsável pela escolha de zonas civis como zonas de guerra, a Rússia é responsável pela guerra.
A Rússia também não hesita em visar alvos não militares, infelizmente.
Ambos os lados são os culpados, assim que o conflito começou a desenvolver-se, sob a acção da NATO, há quase vinte anos…
Os países neutros têm razão, mas devem ser activos na procura de uma solução, mesmo que isso signifique aceitar modificar as fronteiras, mas depois com base numa decisão soberana da população directamente afectada e sem qualquer ameaça possível: nenhum dos exércitos beligerantes – incluindo a Bielorrússia, o Irão, a NATO… – pode desempenhar o papel de uma força de interposição, controlando tais referendos.
Este continua a ser um “caminho errado”…
Mas não vejo alternativa, e continuam a limitar a “autoridade moral e estatal da via militar para infringir as fronteiras” Se não fosse a violência das milícias marginais neonazis apoiadas pelo Ocidente, não seriam capazes de aceitar tal resultado.
Porque estariam a abrir a caixa de Pandora. E existe o risco de inverter os papéis numa tentativa de impor uma tal solução noutros locais – China, Espanha, Grã-Bretanha, França, Argélia, Mali, etc… -.
3) Tudo o que foi dito, um sistema “patriota” não é utilizado para arrancar dentes doentes, nem para escrever um jornal. Não é utilizado para transportes públicos ou purificação de água.
O sistema patriota é intrinsecamente militar.
Por conseguinte, um alvo legítimo.
Mas se os EUA ordenarem aos militares, sob ordens oficiais, que entrem na Ucrânia, eles serão declarados co-beligerantes. A única estranheza é que a Rússia não o é. Declarado. Belligerante, sim, de facto.
Em suma, isto obrigaria os russos a chamar as coisas pelos seus nomes.
No caso da Ucrânia, a grande culpa é a impunidade dos crimes de genocídio (por motivos étnicos) cometidos por milicianos neonazis dos colonos rutenianos . Esta impunidade foi visivelmente exigida pela Nato e concedida pelo novo poder putschista, que não tem força organizada para defender a sua soberania nacional contra a interferência da Nato.
Como resultado, eles estão a piorar devido aos Dostoievskians delirantes em Moscovo. Existem paralelos suficientes na Jugoslávia, pelo que teria sido melhor ter também ali uma força de manutenção da paz, para que as pessoas em causa pudessem falar abertamente. É muito provável que nesse caso a desagregação não tivesse ido tão longe, nem na Jugoslávia nem na Ucrânia.
Mas, se deixarmos que sejam as pessoas em questão a decidir agora, é improvável que estes Estados acabem por ficar com a mesma geografia de antes do conflito.
Em ambos os casos, a Nato foi o detonador. Em ambos os casos, loucos e bandidos tiraram partido disso… e tornaram-no demasiado podre para fingir que nada aconteceu.
A pior solução para a Ucrânia seria reintegrar estas minorias contra a sua vontade, e a pior solução para o mundo seria destacá-las, dando território ao agressor russo.
Deixá-los falar é simultaneamente o mais democrático e o menos “explosivo” como precedente…