(Carlos Matos Gomes, in Medium.com, 26/12/2022)

Os aviões largam dinheiro?
Dos jornais: «Alexandra Reis ingressou na TAP em setembro de 2017, foi nomeada administradora três anos depois e, com um salário de 17.500 euros por mês, recebeu, em fevereiro passado, ao fim de dois dos quatro anos de mandato, uma indemnização de 500 mil euros, por cessação antecipada do cargo de administradora executiva. (…)” . A senhora foi recrutada para o governo como secretária de Estado e depois administradora de uma empresa pública, a NAV.
Estamos perante uma aviadora de Executiva, de altíssimos voos! A questão é, evidentemente, política. O salário da administração da TAP é escandaloso até politicamente, assim como o dos administradores de empresas públicas e dos bancos que são, antes de mais empresas a quem o Estado concessiona o direito de emitir moeda. O que o Estado, através dos nossos impostos paga a esses funcionários é uma questão política. É uma questão é de filosofia política, de ideologia, que é a mãe de todos os valores e de todos os vícios e não pode ser reduzida à chicana partidária, de acusações mútuas sobre a distribuição de rendas e de comendas entre fiéis partidários e outros cortesãos.
A ideologia em que vive a administração da TAP (selecionada segundo as exigentes normas de contratação da União Europeia, recorde-se), a ideologia do governo em que estas coisas acontecem (e que é a ideologia dominante representada no Parlamento e em toda a Europa, se virmos com atenção), a ideologia em que medrou Alexandra Reis, em que todos estes gerentes e administradores saídos das melhores escolas de economia e de direito nacionais e estrangeiras, com mestrados e doutoramentos nestas artes, conduzem as estas tômbolas de prémios, a estas lotarias de números marcados atribuídos a avis raras, mas de muito alimento. O neoliberalismo é uma casa de prazeres muito cara.
Que uma jovem certamente altamente qualificada em contabilidades e planos de curto e médio prazo, de emagrecimento da massa salarial, a gerir uma empresa em falência técnica e a viver dos impostos dos contribuintes, num país de baixos rendimentos, entenda ser natural e legal receber estas escandalosas prendas a título de indemnização revela a degradação de valores desta sociedade e desta geração. Esta senhora envergonha-nos. Envergonha a sociedade democrática, os princípios que fundaram o regime em Abril de 1974.
Estes seres, gestores de alto potencial — garantem-nos, que funcionam como os furões, dir-nos-ão em resposta às nossas criticas, e defendendo a sua sua cupidez como no título da ópera de Mozart — Cosi fan Tutte — assim fazem todas, ou todos. Eles e elas fazem como todos! É capaz de ser verdade, mas o facto de tantos e tantas o fazerem não faz deles e delas pessoas de boa conduta e merecedoras de consideração. O caso desta senhora deve ter consequências! Quase a fazer 50 anos o 25 de Abril não pode ser assim enxovalhado, ou indemnizado (!).
Enquanto houver escravos haverá senhores …
Há dinheiro para as “altas competências” da treta. Só não existe para os que os que trabalham no duro e produzem.
Repara que os que trabalham no duro e produzem, são os mesmos que votam nos que fazem tal sistema, e corrompem o sistema. Se o PS e o PSD vivessem com medo de serem substituídos pelos eleitores, achas que isto se passava da mesma maneira? Mas não. PS e PSD sabem que façam o que fizerem, contam com o voto do teimoso. Em Portugal quase não há eleitores, há uma esmagadora maioria de teimosos. Esmagadora em todos os sentidos: na quantidade e na forma como esmaga qualquer possibilidade da Democracia representativa realmente funcionar.
Quanto ao Carlos Matos Gomes, talvez por ter aprendido noutros tempos, ou não ter ainda reparado o suficiente no que é efetivamente a DITADURA do €uro, errou novamente neste texto:
«dos bancos que são, antes de mais empresas a quem o Estado concessiona o direito de emitir moeda.»
Não meu caro, os bancos em Portugal não emitem moeda, nem o Estado português tem qualquer Direito a concessionar. Quem emite moeda nesta ditadura é um grupo de CEO (todos ex-banqueiros ou ex-CEO de outra coisa qualquer) sediados em Frankfurt. O Estado Português presta vassalagem a este diktat, assim como os bancos portugueses.
Foi por isso que houve “bancarrota” (como os demagogos de Direita e ignorantes em geral gostam de lhe chamar) em 2011: o emissor de moeda em Frankfurt decidiu, porque lhe apeteceu e sem mais nenhuma razão, deixar um país inteiro sem liquidez, sem assegurar a dívida. Só tarde de mais veio o Quantitative Easing (a máquina de imprimir dinheiro). Mas veio tarde, em excesso e, se o €uro fosse coisa boa, nunca devia ter sido sequer necessário.
No dia em que Portugal voltar a recuperar soberania, ou seja, quando for um pouco menos uma colónia de Frankfurt, no que ao sistema monetário diz respeito, aí sim o Estado (todos nós) através de eleições pode voltar a decidir quem o representa e com que política monetária. Até lá, Portugal é uma mera parvónia que um orgulho ainda mais parvo de que é bem obediente…
Mais uma das muitas razões pelas quais emigrei daí para fora. Estou num país, até mais pequeno e com menos pessoas, que tem moeda própria. É essa a situação normal de qualquer país. A situação de Portugal, em que os €urofanáticos e €urocorruptos o colocaram é que é ANORMAL. E depois lá vão os propagandistas para a “imprensa livre” dizer que o €uro “é muito bom”, que é para que pessoas simples nem pensem sequer no assunto, e continuem a acreditar que a austeridade ou é culpa do Sócrates, ou do Passos, ou de ambos. É ao contrário! Quem nos dera que o 1º Ministro de Portugal ainda tivesse tal poder. Já não tem, desde que Cavaco assinou um certo documento em Maastricht em 1992. E a morte lenta do país está a acontecer desde que tal tratado entrou em vigor na prática, em 1999.
Se amanhã for a Portugal, se for preciso vou ao banco trocar coroas por €uros. São 10 minutos. Isso não me impede de ir a Portugal. Mas andam por aí uns atrasados mentais que acham que sim, que só com o €uro é que há turismo. É a este ponto que chega a propaganda €urofanática, e é a este ponto que os ignorantes caem que nem patinhos.
No país em que estou, é o povo que decide que impostos paga. Vota, elege governo, tem soberania.
Em Portugal é preciso o Ministro das Finanças enviar um pedido a Bruxelas e outro a Frankfurt para saber se pode mexer na taxa do IVA para que as famílias pobres (e são tantas) possam ter IVA reduzido. É ridículo, é humilhante, é anti-democrático.
No país em que estou, a taxa de juro é decidida internamente, de acordo com as necessidades da economia.
Em Portugal não interessa se é preciso mais poupança, mais consumo interno, mais exportações, ou menos inflação. A taxa de juro é a que o clube da senhora Lagarde quiser. Ela está em Frankfurt, não eleita, a receber um salário que é uma pornografia mensal. Vocês estão a Portugal a pagar mais juros pela habitação, e reais medidas anti-inflação nem vê-las.
No país em que estou, não houve troika. Os especuladores nem olharam para cá, porque não estamos dentro da aberração do €uro. E num país aqui ao lado, a banca teve um problema, mas este resolveu-se com nacionalizações e controlo de capitais. O BCE avisou esse país que ia correr mal, mas correu muito melhor do que em qualquer outro país do €uro afectado pela crise bancária. Se esse país estivesse no €uro, em vez das boas soluções decididas democraticamente, com soberania e patriotismo, esse país teria sido obrigado a obedecer ao BCE, sob ameaça (tal como aconteceu à Irlanda, Grécia, Portugal, e Chipre) que ou obedecia ou fechava-se a torneira.
E há ainda a questão específica do Modelo Nórdico, que é o sistema de Ghent (para além dos Nórdicos, existe também na Bélgica que é, aliás, onde está a cidade que deu o nome ao sistema).
Nestes países continuam a reforçar-se os salários e os Direitos, a combater as desigualdades. E funciona tão bem que nem os patrões se mostram anti-sindicalistas (ai deles!), nem os contribuintes se mostram chateados por pagar mais impostos. Sentem-se felizes por todos contribuírem para o bem-estar Social de todos. Qualquer decisão que afecte salários e distribuição de riqueza, tem de ser aprovada democraticamente pelos trabalhadores sindicalizados, que são a esmagadora maioria.
Já nos PIGS (Portugal, Italy, Greece, Spain), excepto Irlanda, o BCE entregou cartas (publicadas no excelente blog de economia LadrõesDeBicicletas, onde me “formei” em EUroceticismo e fiz “mestrado” em anti-€uro), cartas essas onde exigia que se “liberalizasse” a lei laboral: foi cortar salários e direitos a torto e a direito, de forma estrutural. E os sindicatos? Há a CGTP para fazer greve à sexta-feira, e a UGT (união geral de traidores) para assinar de cruz tudo o que a facharia quiser. No total são pouco mais de 10% dos trabalhadores. É como se não existissem.
A troika (UE, BCE, FMI) mandou, e o Zé Povinho, sem sindicato, tem de obedecer, para ser “bom aluno” e a torneira não fechar. A facharia fica toda contente, e os governos lá vão de maioria em maioria, sempre da mesma cor: riscas orizontais alternando entre o rosa e o laranja, e um quadrante superior esquerdo azul com um círculo (ou será circo?) de estrelas amarelas. Eu continuo a preferir as cores da bandeira de jure, mas estas é que são as cores da bandeira de facto da COLÓNIA chamada Portugal.
Pois então, senhor Carlos Matos Gomes, a que torneia acha que se referiam? Essa mesma! A da emissão de moeda (e assegurar da dívida) pelo banco central… em Frankfurt, Alemanha.
O regime genocida ocidental é todo ele uma bosta, mas dentro da bosta, há umas colónias/caganitas mais e outras menos mal-cheirosas. Eu prefiro estar onde não cheira tão mal. Vive-se melhor. Se quiser que Portugal vá nesse caminho, já só tenho um ou dois partidos nos quais votar em Portugal, e esses partidos são atacados por todos os lados, a começar pelos avençados do regime na “imprensa livre”. Resultado: estão a cair de eleição para eleição. Segundo resultado: emigrei. É mais fácil assim. Tudo o que queria no meu país, tenho aqui, sem me estar a chatear em convencer os burros tugas a sair da burrice. Façam bom proveito da palha.
Enquanto houver um escol de gente ancorada em partidos e, sem qualquer escrutínio das suas atividades, estas coisas acontecerão com maior ou menor dose de escândalo. Enquanto sobreviver o atual regime que designo de pos-fascista pois o que tem de democrático é parco e aldrabado, estas situações de bastas mordomias aos membros dos gangs partidários estarão sempre a acontecer
Um novo modelo de representação – e democrático – precisa-se!
Vítor Lima
Textos sobre o tema… entre outros;
https://grazia-tanta.blogspot.com/2019/04/45-anos-apos-o-25-de-abril-que-futuro.html
https://grazia-tanta.blogspot.com/2018/11/zaragata-na-casa-da-democracia-e-o.html
https://grazia-tanta.blogspot.pt/2017/09/democracia-eleicoes-democraticas-onde.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2015/08/sobre-constituicao-crp-uma-assembleia.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2015/05/um-modelo-democratico-para-os-municipios.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2015/03/para-uma-constituicao-democratica-com_22.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2015/03/para-uma-constituicao-democratica-com.html
http://grazia-tanta.blogspot.pt/2015/02/para-uma-constituicao-democratica-com.html
É angustiante ver políticos , homens e mulheres que são colocados no saco “todos podres”.
As desregulamentações foram impostas apenas em benefício dos burgueses, não do povo!
Tira-se aos pobres para dar aos políticos, porque é fácil fazê-lo, porque é bom nesta sociedade de política social e familiar. Porque subir na hierarquia política é bom.
Não é só a economia, há também a necessidade de justiça.
Hoje vimos mais uma vez que Portugal é o cemitério da democracia.
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Sabemos que a raiz de toda esta guerra reside na injustiça. Deste ponto de vista, a republica está apenas à espera de uma faísca.
Por outro lado, o capitalismo não é apenas, como se afirma, “respeito pela propriedade privada”, é também e sobretudo um sistema económico cuja lei fundamental é a busca sistemática do máximo lucro em detrimento daqueles que realmente produzem a riqueza.
A “política” é apenas a ala armada do capitalismo, e o capitalismo é apenas o neoliberalismo diluído.
Este totalitarismo de mercado que tomou conta de Portugal é a causa fundamental do empobrecimento dos nosso povo.
Muitos políticos compreenderam rapidamente que é mais fácil produzir pessoas pobres do que pessoas ricas e, como a pobreza tendia a declinar como o seu eleitorado, decidiu, já com a chegada dos enganadores adoptar uma política migratória, de modo a ter a pobreza e o eleitorado de substituição..
A pobreza é a consequência desta tão desejada républica. Esta pobreza foi comprada pelo recuo dos nossos valores e liberdades fundamentais.. Desde então, temos estado numa inclinação ascendente em termos de pobreza (5-6 milhões), que vai de par com a curva do desemprego. A percentagem de desemprego, está errada. O número de trabalhadores inclui a função pública, cujos empregados estão empregados para toda a vida. Este número de desempregados deveria ser muito mais elevado.
Considerando que os nobres modernos, os burgueses de cima, não hesitam em contornar as regras que impõem ao povo comum!
O problema é a forma como alguns deles ganharam o seu dinheiro e
Como vivemos em Portugal num sistema de capitalismo de compadrio, cheio de conflitos de interesses, corrupção, … Lamento, mas tenho uma tendência pessoal para ver a acumulação de riqueza (inclusive por políticos) mais como o resultado de um rapina do que o de um “empresário” que criou algum tipo de riqueza..
Tudo isto para dizer que nós, cidadãos do povo, já não sabemos onde estamos, entre o que é dito e o que é realmente feito..
Eles fartam-se de ganhar dinheiro. Mas para que é que o utilizam? Para o bem da sociedade através do investimento, dizem-nos os economistas. Pobre Portugal, amanhã já não será capaz de alimentar o seu povo. Depois de terem inventado receitas para cozinhar será que vão cozinhar o seu dinheiro quando não tiverem mais nada para comer? Claro que durarão alguns dias mais do que os outros, comprando algumas migalhas que são sempre mais caras, mas terão de se defender por si próprios. Não conhecendo a solidariedade, e mesmo combatendo-a, os pobres, habituados a sobreviver, vão vê-los morrer diante dos seus olhos, com a cabeça apoiada nas suas pilhas de ouro.
Nós (a sociedade petrolífera) já não somos capazes de nos reformarmos, todos os interesses são demasiado complexos e interligados: é o caso de (corra pela sua vida) …. é verdade que foram estes pseudo-politicos (dos quais eu era um pouco quando era jovem) que desviaram tudo neste país..
Acordei muito cedo esta manhã e escrevi este texto a ouvir o que está vivo em mim neste momento. Não há verdade no que eu digo. Estou apenas a partilhar convosco os meus pensamentos íntimos com toda a simplicidade, desejando que possa ressoar dentro de vós e animar a nossa bela comunidade de Consciência.
2023 é um ano iniciático e espelho. A grande maioria dos seres deste Portugal tem sido tocada de uma forma ou de outra. Somos individualmente confrontados com as nossas sombras. Encontrarão neste ano muitas razões para o ter mais, o mesmo para a raiva, a tristeza, a impotência…
Porque é que vivemos esta situação?
Para uma parte de Portugal, ainda estamos num sistema patriarcal, é o pai (governo, media, líderes, empresas, etc.), ou seja, aqueles que simbolicamente parecem ser mais “grandes, poderosos, fortes” que nos dizem o que pensar, o que sentir, o que fazer. Que nos infantilizam.
Por outro lado, há uma humanidade que se está a libertar destes sistemas antigos, que está em vias de fazer o seu caminho e que diz a si própria que há algo de errado com o que o “sistema pai” nos propõe. Os seres dentro desta humanidade começam a questionar tudo: o próprio sistema, o nosso condicionamento, o nosso modo de vida até agora; cada um à sua maneira e ao seu ritmo está a recuperar o seu poder. Estamos no processo de retomar a nossa responsabilidade, de criar os nossos pais interiores e de remover gradualmente os nossos marcadores exteriores. E isto é muito importante porque o velho sistema está a viver o seu canto do cisne, está em agonia e, ao mesmo tempo, está a endurecer e a tornar-se mais autoritário e mais absurdo. Isto exige que cresçamos muito rapidamente e que nos liguemos ao nosso discernimento, porque neste momento há uma falta de sentido, uma falta de congruência; parece que o mundo enlouqueceu.
Estão a fazer guerra contra o povo, contra a nossa cultura, contra as nossas tradições, contra a nossa economia, contra a nossa Nação, .
E a questão que me vem imediatamente à cabeça é: porque é que chegámos a este ponto?
E do meu país profundo só consigo ver uma resposta: O fim da nossa civilização ocidental baseada no petróleo, o jogo final. E todos estão a senti-lo. Os tempos vão ficar cada vez mais difíceis, e isso faz com que algumas pessoas fiquem ansiosas e outras preocupadas. Os que permanecem serenos são optimistas cegos ou indestrutíveis.
Portugal é a barriga mole do Ocidente e Portugal o país doente da Europa. É normal que sejamos nós os que mais golpes sofremos. Como na savana, é o animal doente da manada que é atacado pelos leões! Curar-nos-emos a tempo?
Também tenho a impressão de que existe pequenos trapaceiros (direitos, privilégios, exceções oportunas…), e uma minoria muito pequena de super trapaceiros que vivem dos precedentes e, arrogando-se a si próprios todos os poderes. É aqui que nos encontramos.