Todo mundo quer pegar carona no Expresso BRICS

(Pepe Escobar, in Brasil247.com, 06/11/2022)

Comecemos com o que é de fato um conto sobre o comércio do Sul Global entre dois membros da Organização de Cooperação de Xangai (OCX). Em seu cerne está o já notório drone Shahed-136 – ou Geranium-2, em sua denominação russa: o AK-47 da guerra aérea pós-moderna. 

Os Estados Unidos, em mais um característico ataque histérico transbordando de ironia, acusou Teerã de armar as Forças Armadas Russas. Tanto para Teerã quanto para Moscou, o drone superstar, de ótimo custo-benefício e terrivelmente eficiente, usado no campo de batalha ucraniano, é um segredo de estado: seu uso desencadeou uma  tempestade de negativas de ambos os lados. Se esses drones são made in Iran, ou se o projeto foi comprado e a fabricação tem lugar na Rússia (a opção mais realista) não faz a menor importância.

Os registros mostram que os Estados Unidos armam até o pescoço a Ucrânia contra a Rússia. O Império, na verdade, é um combatente na guerra, por intermédio de um bando de “consultores”, conselheiros, treinadores, mercenários, armamento pesado, munições, inteligência via satélite e guerra eletrônica.  E, no entanto, os funcionários imperiais juram que não participam da guerra. Eles, mais uma vez, mentem.

Bem-vindos a mais um exemplo explícito da “ordem mundial baseada em regras” em operação. É sempre o Hegêmona quem decide quais regras aplicar, e quando. Qualquer um que se contraponha a ele é um inimigo da “liberdade” e da “democracia”, ou qualquer outro chavão, deverá ser – o que mais seria? – punido com sanções arbitrárias. 

No caso do Irã, há décadas sancionado até a exaustão, o resultado foi, como seria de se esperar, uma outra rodada de sanções. O que é irrelevante. O que importa é que, segundo o Corpo de Guarda Revolucionário Islâmico do Irã, nada menos que 22 países – lista que vem crescendo – estão  fazendo fila para pegar o bonde do Shahed.

Até mesmo o líder da Revolução Islâmica, o Aiatolá  Ali Khamenei, alegremente entrou na onda, comentando que o Shahed-136 não precisa photoshop.

A corrida rumo ao BRICS+

O que o novo pacote de sanções contra o Irã realmente “conseguiu” foi desfechar mais um golpe na cada vez mais problemática assinatura do ressuscitado acordo nuclear em Viena. Mais petróleo iraniano no mercado, na verdade, seria um alívio para as dificuldades de Washington após a recente e épica esnobada da OPEC+.

No entanto, um imperativo categórico continua existindo. A iranofobia – da mesma forma que a russofobia – sempre fala mais alto para os defensores da guerra straussianos-neocons que comandam a política externa americana e para seus vassalos europeus.

Então, aqui temos mais uma escalada hostil nas relações do Irã tanto com os Estados Unidos quanto com a União Europeia, uma vez que a junta não-eleita de Bruxelas também sancionou três generais iranianos. 

Compare-se isso com o destino do drone turco  Bayraktar TB2 – que, diferentemente das “flores no céu” (os gerânios russos) mostrou um péssimo desempenho em campo de batalha.

Kiev tentou convencer os turcos a usarem uma fábrica de armamentos da  Motor Sich na Ucrânia ou abrirem uma nova empresa na Transcarpátia/Lviv para construir  Bayraktars. O oligarca presidente da Motor Sich, Vyacheslav Boguslayev, de 84 anos de idade, foi acusado de traição por suas ligações com a Rússia, e talvez seja trocado por prisioneiros de guerra ucranianos.

Ao final, a negociação fracassou em razão do excepcional entusiasmo mostrado por Ancara em trabalhar para a construção de um novo centro de produção de gás na Turquia – uma sugestão pessoal do Presidente russo Vladimir Putin a seu colega turco Recep Tayyip Erdogan.

O que nos leva à interconexão cada vez maior entre os BRICS e os nove membros da OCX – à qual essa instância russa-iraniana de comércio militar está inextricavelmente ligada.

A OCX, liderada pela China e pela Rússia, é uma instituição paneurasiana cujo foco original era o combate ao terrorismo, mas que agora se volta cada vez mais para a cooperação geoeconômica – e geopolítica.  Os BRICS, liderados pela tríade Rússia, Índia, e China, superpõem-se à agenda da OCX em termos geoeconômicos e geopolíticos, expandindo essa agenda para a  África, América Latina e mais além: esse é o conceito do BRICS+, analisado em detalhe em um recente relatório do Clube Valdai , e plenamente abraçado pela parceria estratégica Rússia-China.

O relatório pesa os prós e contras de três cenários relacionados a possíveis candidatos ao BRICS+ no futuro próximo:

Primeiro, os países que foram convidados por Pequim para fazer parte da cúpula do BRICS de 2017 (Egito, Quênia, México, Tailândia, Tajiquistão).

Segundo, os países que fizeram parte do encontro de chanceleres do  BRICS, em maio do corrente ano (Argentina, Egito, Indonésia, Cazaquistão, Nigéria, UEA, Arábia Saudita, Senegal, Tailândia).

Terceiro, as principais economias do G20 (Argentina, Indonésia, México, Arábia Saudita, Turquia).

E há também o Irã, que já demonstrou interesse em se juntar aos BRICS.

O Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, confirmou recentemente que “diversos países”  estão morrendo de vontade de ingressar nos BRICS. Entre eles, um importantíssimo ator do Oeste Asiático: a Arábia Saudita.

O que é ainda mais surpreendente é que, há apenas três anos, no governo do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, o Príncipe Muhammad bin Salman (MbS) – o verdadeiro governante do país – estava resolvido a se juntar a uma espécie de  OTAN árabe, na condição de aliado privilegiado do Império.

Fontes diplomáticas confirmam que no dia seguinte à retirada das tropas americanas do Afeganistão, os enviados de  MbS começaram a negociar seriamente com Moscou e Pequim. 

Supondo-se que o BRICS alcancem o consenso necessário para a aprovação da candidatura de Riad em 2023, mal se pode imaginar as  consequências avassaladoras dessa decisão para o petrodólar. Ao mesmo tempo, é importante não subestimar a capacidade dos controladores de criarem o caos.   

A única razão pela qual Washington tolera  o regime de Riad é o petrodólar. Não se pode permitir que os sauditas persigam uma política externa independente e verdadeiramente soberana. Se isso acontecer, o realinhamento geopolítico não irá afetar apenas a Arábia Saudita, mas também todo o Golfo Pérsico.

Mas é cada vez mais provável que isso aconteça, depois de a OPEC+ ter de fato escolhido o caminho BRICS/OCX liderado pela Rússia e pela China – no que pode ser interpretado como um preâmbulo brando para o fim do petrodólar. 

A tríade Riad-Teerã-Ancara 

O Irã comunicou seu interesse em ingressar nos BRICS antes mesmo da Arábia Saudita. Segundo fontes diplomáticas do Golfo Pérsico, eles já estão engajados em um canal algo confidencial com a mediação do Iraque, na tentativa de se organizarem para tal. A Turquia virá em seguida – no BRICS, certamente, e possivelmente na OCX, onde Ancara hoje tem o status de observador extremamente interessado.

Agora, imaginem essa tríade – Riad, Teerã, Ancara – estreitamente ligadas a Rússia, Índia e China (o verdadeiro cerne dos BRICS), e futuramente na OCX, onde o Irã é, até agora, o único país do Oeste Asiático aceito como membro pleno.  

O golpe estratégico desferido contra o Império quebrou todos os récordes. As discussões que levam ao  BRICS+ focam o desafiador caminho rumo a uma moeda global lastreada em commodities capaz de superar a primazia do dólar.

Diversos passos interligados apontam para uma simbiose cada vez maior entre os BRICS+ e a SCO. Os estados-membros desta última já chegaram a um acordo quanto a um roteiro para o aumento gradual do comércio em moedas nacionais com base em acordos mútuos. 

O Banco Estatal da Índia – o maior emprestador do país – vem abrindo contas especiais em rúpias para o comércio relacionado com a Rússia. 

O gás natural russo enviado à Turquia será pago 25% em liras turcas, com um desconto de 25% que Erdogan pediu pessoalmente a Putin.

O banco russo VTB lançou transferências para a China em yuans, contornando o SWIFT, enquanto o  Sberbank começou a emprestar dinheiro na moeda chinesa. A gigante de energia russa Gazprom combinou com a China que os pagamentos por fornecimento de gás devem mudar para rublos e yuans, meio a meio. 

O Irã e a Rússia estão unificando seus sistemas bancários para conduzir comércio em rublos/rials.

O Banco Central do Egito está tomando providências para estabelecer um índice para  a libra egípcia – usando um grupo de moedas e o ouro – com o objetivo de afastar a moeda nacional do dólar.

E, também, há a saga do TurkStream. .

O presente do centro de gás 

Ancara, há anos, vem tentando se posicionar como um centro privilegiado de gás Oriente-Ocidente.  Após a sabotagem dos Nord Streams, Putin entregou de bandeja à Turquia a possibilidade de aumentar o fornecimento de gás para a União Europeia usando esse centro. O Ministério da Energia turco afirmou que Ancara e Moscou, em princípio, já chegaram a um acordo.

Na prática, isso significa que a Turquia irá controlar o fluxo de gás não apenas da Rússia, mas também do Azerbaijão e de grande parte do Oeste Asiático, talvez incluindo até mesmo o Irã e a Líbia, no nordeste da África.  Terminais de GNL no Egito, na Grécia e na própria Turquia irão completar a rede.

O gás russo se desloca através dos gasodutos TurkStream e Blue Stream. A capacidade total dos gasodutos russos é de 39 bilhões de metros cúbicos ao ano.

O TurkStream foi inicialmente projetado como um gasoduto de quatro linhas, com uma capacidade nominal de 63 bilhões de metros cúbicos ao ano. Nas atuais circunstâncias, apenas duas linhas – com capacidade total de 31,5 bilhões de metros cúbicos – foram construídas.

Portanto, uma extensão, em tese, é mais praticável – com a totalidade dos equipamentos de fabricação russa. O problema, mais uma vez, é a instalação dos dutos. Os navios a serem usados pertencem ao Allseas Group – e a Suíça faz parte da demência das sanções. No Mar Báltico, embarcações russas foram usadas para concluir a construção do Nord Stream 2. Mas, para uma extensão do TurkStream, seria necessária operar em profundidade oceânica muito maior. 

O TurkStream não seria capaz de substituir completamente o Nord Stream, pois ele comporta volumes muito menores.  A boa notícia para a Rússia é não ser alijada do mercado europeu. É evidente que a Gazprom só assumiria o significativo investimento necessário para a construção de uma extensão se houver garantias férreas quanto a sua segurança. A desvantagem é que a extensão também transportaria gás dos concorrentes da Rússia.  

Aconteça o que acontecer, resta o fato de que o combo Estados Unidos-Reino Unido ainda exerce uma forte influência sobre a Turquia – e a BP, a Exxon Mobil e a Shell, por exemplo, participam de praticamente todos os projetos de extração de petróleo em todo o Oeste Asiático. Eles, portanto, certamente iriam interferir na operação dos centros de gás turcos, como também na determinação do preço do gás. Moscou tem que pesar todas essas variáveis antes de se comprometer com o projeto. 

A OTAN,  é claro, ficará lívida de ódio. Mas nunca subestimem o Sultão Erdogan, especialista em minimizar riscos. Sua história de amor tanto com os BRICS quanto com a OCX está apenas começando. 


Fonte aqui.


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2 pensamentos sobre “Todo mundo quer pegar carona no Expresso BRICS

  1. Já tinha lido aquando da publicação, e voltei a ler (só me apercebi quase no fim). Será que li noutro lado, ou foi a EstatuaDeSal que republicou?
    É um bom texto, é pena tanta expressão brasileira que nada tem a ver com a portuguesa. “Esnobar”?!
    E o “OCX” em vez de SCO. É como o OTAN em vez de NATO.
    Enfim, o que interessa é o conteúdo.

    Na análise da Big Picture e no médio/longo prazo, faltou um “pormenor”: a Turquia está 100% fora da UE, e tem um pé fora da NATO (tendo em conta as divergências estratégicas e a forma como recusa comprar ao Complexo Militar Industrial dos EUA), enquanto bate à porta da SCO, e do lado de dentro desta organização a Rússia já respondeu: “para ser membro pleno, não pode em simultâneo ser membro da NATO”.

    Vai ser giro o futuro da Europa ajoelhada perante Washington, de costas voltadas para o seu futuro na Eurásia, e cada vez mais isolada quer do Médio Oriente, quer de África e das Américas do Sul e Central…
    Com o afastar da Turquia, quem “defenderá” o flanco sudeste? A Grécia e a Bulgária?
    Entretanto a região Sérvia do Kosovo pede para aderir à moribunda UE… depois dizem que é preciso enviar armas para matar civis do Donbass e Crimeia, porque esses “não podem” aderir onde querem.
    A “rules based world order” da “democracia liberal” é uma anedota.

    E quem se lixa é quem está no meio:os Curdos. A Turquia vai invadir o que quiser, vai matar quem quiser, e nem Rússia (alinhada com Assad) nem NATO (por agora ajoelhada perante Erdogan) vão mexer um dedo seja para salvar Cursos ou até Cipriotas.
    E eu, que tenho o defeito de me informar e me preocupar, choro impotente pelas bravas guerreiras do YPG (as YPJ) em Rojava, a única Democracia do Médio Oriente.

    Perante isto, quando um superficial ou um propagandista avençado do regime genocida ocidental, me diz que é uma luta entre “o bem e o mal”, eu fico ainda mais danado. Não é, nunca foi, e provavelmente nunca será.
    É apenas, como o Pepe Escobar escreve sem se dar conta (ou dando mas não admitindo), mais do mesmo: a grande geopolítica a realinhar-se ora para aqui pra para ali, as elites/oligarcas de cada regime numa competição só deles a ver quem lucra/rouba mais e, como em toda a história do Homo Sapiens, o pequeno peão a ser descartado e espezinhado.

    Um Curdo que morre com míssil Turco, um Palestiniano que morre com míssil Israelita, um Arménio que morre com míssil Azeri (ou vice-versa), um Iemenita que morre com míssil Saudita, um Líbio que morre com míssil NATO, um Ucraniano pró-Russo que morre com míssil Nazi, um Afegão que morre com míssil Britânico, um Sírio que morre com míssil Europeu, um Berber do Sahara Ocidental que morre com um míssil Marroquino, ou uns Sérvios e Kosovares (Albaneses da Sérvia) que se matam entre si quase sem ajuda de outros. Quase. E sem falar de todos os que sofrem ou morrem com o “míssil” das sanções ILEGAIS ocidentais, cuja fragmentação tem o objetivo de matar massivamente de pobreza e à fome.

    Aprecio os textos como o do Pepe Escobar, que do ponto de vista do Sul Global falam da Big Picture, das grandes organizações internacionais, dos grandes acordos de comércio e gasodutos, etc, mas falta também dar voz a quem não a tem.
    A EstátuaDeSal, que faz tão bem o serviço público de procurar boas leituras em todo o lado, conhece algo que mostre o ponto de vista de um cidadão militante do PKK na Turquia, ou de um Sérvio a residir na região do Kosovo, ou de um Curdo na Síria, por exemplo?

    Não conhece nem vai conhecer, porque mesmo nos meios alternativos, pouco se quer saber disso. E nos meios Mainstream Merdia, sempre que se fala deste ou daquele em particular, ou é palha sobre gente “VIP”, ou é um popular que foi vítima de uma desgraça num determinada dia, ou é uma pessoa de um regime fora do Ocidente, a quem a “imprensa livre” (em todos os canais dos países ocidentais em simultâneo, que coincidência…) decidiu dar destaque só porque assim vinha nas instruções da cartilha da CIA/Pentágono. Ou melhor, nos destaques previamente filtrados do monopólio (no sentido em que é todo Ocidental) das agências de notícias que servem de fonte aos Mainstream Merdia.

    E aqui relembro as exceções, como o trabalho do Bruno Amaral de Carvalho, ou a reportagem da France 2 a entrevistar cidadãos de Lisichansk (República de Lugansk), todos contentes com a chegada dos seus amigos Russos e a derrota directa dos Nazis e indirecta dos Ocidentais.
    Foram 2 exceções em 10 meses…

    Sim, é interessante debater a expansão da NATO/OTAN, da SCO/OCX, a competição entre sistemas monetários, etc. Mas já alguém se deu ao trabalho de dar voz a um cidadão Alemão, que sabe (ou já devia saber) que foi o Reino Unido quem fez aquele ataque terrorista ao NordStream2, o que é que ele acha disto tudo, agora que passa frio ou se endivida para aquecer a casa?

    Mesmo tendo deixado de os ver, sei que nada disto passa sequer nas ideias do “jornalistas” dos Mainstream Merdia Portugueses. E sei que os programas de comentários continuam a ser os mesmos, com as mesmas pessoas (algumas há décadas), e os mesmos erros, falsidades, desonestidades, e alarvidades.
    Afinal de contas, para a propaganda do regime ser eficaz, não basta a Inception, é preciso repetir a mentira até ela se tornar na percepção generalizada do povinho.
    A minha paciência para tal circo dos horrores esgotou.

    Eu já fui assim, parte da manada. Até me lembro de aos 18 anos ser €uropeísta e nada ter contra a NATO. Mas entretanto informei-me, li, pensei, analisei. Agora sou um perigo para “os valores ocidentais”, ora sou “putinista”, ora “populista”, ora “extremista”, ora o *iara seguinte na lista de quem quer rotular e calar para evitar debater.
    Mas não me limito a mudar de canal, da propaganda Ocidental para a propaganda Oriental, do Norte para o Sul. Mantenho a atitude crítica, quero sempre mais. É por isso que chamo propagandista ao Meyssan e superficial ao Escobar. Simplesmente, por ser superficial do lado de lá, pode dar a sensação de que é diferente. Não é.

    E como homem inteligente é o que muda de posição perante novos factos, aqui vai mais uma: sem deixar de apoiar a intervenção militar da Rússia para salvar o povo do Donbass e Crimeia (após a guerra iniciada pelos UkraNaziNato em violação dos acordos de Paz de Minsk, e sua recusa empatar a guerra), não posso deixar de condenar os ataques à rede elétrica, que em pouco ou NADA prejudicam os combatentes UkraNaziNATO na linha da frente, mas tornam em pesadelo a vida dos civis a milhares de Km da zona do conflito, principalmente no gelado Inverno Ucrâniano.

    E aqui pergunto ao Pepe Escobar qual é o motivo de celebração do possível alargamento da SCO e dos BRICS, por comparação com o alargamento das organizações ocidentais, se os povos sem voz e minorias forem igualmente esmagados?
    Qual é mesmo a diferença entre o Curdo assassinado pelo Turco, o Checheno assassinado pelo Russo, o Afegão assassinado pelos EUA, e o Ucraniano pró-Russo assassinado pelo Nazi?
    O UkraNaziNato que corta a água à Crimeia é mau, mas o Russo que corta a luz a Kiev é “bom”?
    Os EUA com boots on the ground na Síria são imperialismo, mas a Turquia na mesma zona já é “bom” só porque é Ankara em vez de Washington, e uma dá-se melhor com Moscovo do que a outra?

    Cheira-me, pelo menos até haver algo mais sólido que substitua a ONU e tenha de facto votações com efeito em vez de simbólicas, e regras de cumprimento obrigatório, a começar pelos Direitos Humanos, que o tal de “Mundo Multipolar”, e pelo menos nesta fase de transição, nada mais será do que a substituição da “rules based world order” imposta por um hegemon, por uma espécie de “not even rules based world disorder” imposta pelo mais forte de cada região. Ou seja, o que a humanidade sempre foi, e que só poderá evoluir quando deixar de ser.

    Ao cidadão eleitor do PKK que está preso por delito de opinião na ditadura xenófoba da imperialista Turquia, não faz diferença nenhuma se o Erdogan assina mais papéis com o carimbo da NATO ou o com o carimbo da SCO.
    A parte triste é que há quem nos queira convencer do contrário. Para os propagandistas ocidentais, se é que falam do assunto, enquanto estiver na NATO a Turquia faz “operações especiais” na Síria em nome da “democracia”, da “liberdade”, e dos “valores europeus”. Para os mesmos crimes, se a Turquia se aproximar da Rússia e da SCO e BRICS, o propagandista não-ocidental, se é que fala do assunto, dirá que é uma “operação especial” em nome do “anti-imperialismo”. E ambos os lados dizem sempre que é para combater este ou aquele “terrorista”.
    Mas convenhamos, a bullshit é a mesma, só muda o tamanho.

  2. O resultado final nós sabemos!!! Miséria e fome!!! Davos disse-o!!!! O efeito bumerangue!!

    Temos à nossa frente, a todos os níveis gerenciais, administrativos, mediáticos e de tomada de decisões, bobos inteligentes com um portátil debaixo do braço, que com um clique são capazes de organizar a eutanásia dos que querem morrer, dos não ecologistas, dos “conspiradores”, bem como a obrigação de partilhar as dores da Ucrânia. Mas há um mas: Sem energia, como se pode fazer funcionar aa económica e ajudar a Ucrânia, sem gás, como se pode fazer funcionar as empresas a gás e depois dar dinheiro para os refugiados da guerra e para a Ucrânia? Assim, no final, uma vez que todos estão em silêncio, o fim da energia fácil terá pelo menos o mérito de dificultar ou pelo menos abrandar este caminho actual que consiste simplesmente em destruir a nossa liberdade..

    Não sei como podemos ainda dar milhares de milhões à Ucrânia para uma reconstrução efémera, uma vez que a guerra não acabou, enquanto os nossos cofres estão vazios!

    A Europa deve ajudar-nos, diz Zelensky, as torneiras de energia estão fechadas, mas o bar está aberto .

    E a festa continua, o carrossel na sua corrida louca vai descarrilar e arrastar-nos a todos para baixo sem que consigamos impedi-lo.

    A actual estratégia de Davos foi perfeitamente definida desde 2020-2030: uma estratégia de choque brutal para “descarbonizar” a economia.
    Tudo o que está a acontecer agora é a aplicação exacta do que foi defendido nessa altura.
    O que parece ser uma estratégia suicida incompreensível..

    A escassez será superada pelos preços, estamos numa economia de guerra, o nosso futuro não é a Grécia, mas a Ucrânia,com um pequeno detalhe que no final de Junho de 2023 chega o fim da tarifa regulada para o gás para indivíduos e empresas.

    Sim,Junho 2023 e o fim das tarifas reguladas que atingirão o povo em geral.. Parece que estão 2 anos à frente da sua agenda e que são obrigados a tentar tudo ao mesmo tempo.. (talvez contra a sua vontade)

    Atribuíram o Prémio Nobel da Paz a Obama, que se divertiu com zangões assassinos de civis no Afeganistão. Este ano, o prémio vai para um trio anti-Putin que nada fez pela paz a não ser insistir numa guerra contínua e endurecida contra a Rússia, mesmo que não haja casas de pé e não haja ucranianos a viver na Ucrânia. Nem sequer Putin é o responsável pela escassez, são os oligarcas de Bruxelas que inventam a tarifa única de energia desde 2006 e depois quebram o contrato de gás barato e de longo prazo com a Rússia. Encontramo-nos no meio de uma ditadura de estilo soviético. É tudo mentira e treta..

    Proponho que instalemos bicicletas montadas em geradores nas caves dos Ministérios e outras “Grandes Administrações do Estado”, para que os nossos Ministros, Subsecretários de Estado e Companhia, bem como os nossos “brilhantes” Altos Funcionários Públicos que se sentam nos gabinetes “abafados” da República, passem “o dia inteiro a pedalar” na cave,
    a fim de compensar o défice crítico de MegaWatts que vai faltar ao nosso País,

    1°) Porque todos eles são colectivamente responsáveis, e 2°) Porque os fará perder peso, pois os Restaurantes Gastronómicos que servem na cantina diária, acabam por entupir as suas artérias e assim impedir que o seu cérebro seja suficientemente oxigenado para poder sequer pensar um pouco para finalmente servir o interesse dos Portugueses e da nossa Nação…

    Assim, a longo prazo, estas pessoas podem finalmente acabar por nos iluminar (no singular…),
    e mais, será energia “renovável”, por isso será amiga do ambiente e “no Moove” com “The Course” definido pelo nossos politicos ….

    1) O Inverno está apenas a começar,acabamos de ter uma semana muito complicada…..Veremos no início de Março se o Inverno tem sido ameno ou não.

    2) Se a China comprar gás e petróleo à Rússia, este será pago numa moeda diferente do dólar. Os americanos vão perder o petrodólar..

    3) Se os EUA (ou as suas filiais) destruíram o Nord Stream 1 e 2, não há provas de que os navios (não sejam numerosos para nos fornecerem) que trarão o GNL para a Europa não acabarão no fundo do Atlântico…
    Para este Inverno de 2022/23, ainda estará bem. Entretanto, as nossas empresas serão torpedeadas antes do início do Verão. Para o Inverno de 2023/24, vejo as coisas muito mal.
    Quando as pessoas têm fome e frio, o cheiro é muito mau.

    Especialmente porque o conflito na Ucrânia não será resolvido e não vejo realmente a Rússia a dizer: “vamos vender gás barato outra vez”.

    Claro que não há apenas gás russo, mas sem ele a tensão sobre outros produtores será enorme e apenas os países ricos poderão comprá-lo.

    Vejo duas consequências importantes para isto, um aumento da inflação (embora eles dizem que vai parar em março) e as consequências disto, que corre o risco de criar tensões nos países ricos e um empobrecimento dos países do Terceiro Mundo, causando desordem nestes países e ondas de migração cada vez maiores.

    O ocidente keynesiano, é apenas dívida baseada em compromissos de reembolso, o ouro físico do mundo “livre” é totalmente alienado pelo seu estatuto de garantia e, portanto, imóvel e sem valor..

    Trocámos a nossa dependência do gás, da energia abundante, barata e segura, por uma guerra que nos dará um fornecimento muito inadequado, muito caro, hipotético e não seguro, entregue por chefes de claque refrigerados e prostituídos. Em termos de dependência total do cretinismo, isto é o melhor que se pode obter. O que é muito mais preocupante é este PLANO MUNDIAL imposto, especialmente pela WEF, para querer mudar subitamente para a ENR em todo o lado, e isto começa antes de mais com uma Europa sacrificada, seja qual for o custo, até ao esgotamento do petróleo e do gás de xisto na América e ao pico da produção mundial de gás por volta de 2030.

    Se não houvesse realmente mais nada a fazer e se os especialistas em “aquecimento global” acreditassem realmente nas suas previsões, uma vez que tudo já foi decidido, para os próximos 20 anos em termos de aumento das temperaturas, já não teríamos de temer o pico de consumo no Inverno devido ao aquecimento, mas sim as estações secas e quentes, na Primavera e no Verão, quando a construção de reservatórios de água agrícola e potável a baixas e médias altitudes se tornaria a prioridade para Portugal, uma vez que as nossas barragens seriam limitadas e o tempo para actualizar as nossas barragens e construir outras terminaria…

    Mas a catástrofe que vai acontecer e que já está em curso é uma catástrofe financeira: reduzimos todas as despesas, negligenciámos a saúde e a agricultura e “esquecemo-nos” de assegurar e perpetuar as nossas barragens, ao mesmo tempo que as tornamos vítimas dos serviços entrados e saídos para que os intermediários se possam deslumbrar, cuja identidade será PRIORIDADE encontrar, e que ainda ganham o seu dinheiro, por exemplo, na revenda de electricidade que nunca produziram. Porque em caso de tempestade e naufrágio financeiro, toda a Europa, e Portugal em particular, terá de desistir não só das suas fantasias de energias verdes não poluentes e não emissoras de CO2, mas também da manutenção maciça e do funcionamento normal das suas centrais de energia verde ou do que resta das suas indústrias…

    Como lembrete, o ocidente representa 800 milhões de pessoas e drena 50% dos recursos do mundo. Os BRICS representam 3,4 mil milhões de pessoas e 25% dos recursos.

    Os Brics também pediram à Argélia para se juntar ao grupo, e quanto à União Europeia, pretende investir maciçamente na Argélia para explorar as reservas de hidrocarbonetos não explorados que excedem um trilião de metros cúbicos em gás..

    Este novo episódio de geopolítica esconde a superioridade do bloco ocidental sobre o Brics. No entanto, o Brics representa quase metade do PIB mundial. Assim, os Brics já são o centro da geopolítica.

    Para os Sauditas:
    1. O petróleo russo não pode ser dispensado na produção global porque é um dos maiores e insubstituíveis exportadores de petróleo

    2. A cooperação da Rússia com os países da OPEP é indispensável para unificar as políticas de produção de petróleo no interesse dos exportadores e consumidores, por exemplo, ver como os preços do gás e do carvão duplicaram, etc., em comparação com os preços do petróleo, porque os países da OPEP são um factor importante na estabilidade dos preços, não só no interesse dos exportadores mas até a favor dos consumidores

    3. Impedir a exportação de petróleo russo é uma mentira política, porque se os países árabes garantirem petróleo para a Europa, haverá escassez na China, Índia e Coreia, e a Rússia compensará esta escassez nos países asiáticos, pelo que a ideia de punir a Rússia é uma mentira política, e actualmente a Rússia está a vender petróleo em mais quantidades nos mercados asiáticos e vice-versa.

    4. A América está a tentar tornar os países da OPEP hostis à Rússia numa aliança com o mundo ocidental, enquanto a OPEP encontra interesse em cooperar com a Rússia para assegurar o equilíbrio das economias do seu governo porque está ligada a estes preços do petróleo de um ponto de vista económico, de um ponto de vista político, o mundo ocidental não se manteve com os árabes nas suas questões fatídicas como uma crise na Palestina, Síria, Iraque, Al-Ahwaz, etc. A América apoia a entidade sionista e destruiu o Iraque em benefício do Irão. Não apoiou a revolução síria devido à brutalidade de Putin e Khamenei. Não apoiou o direito do povo Ahwazi à autodeterminação, etc… Pelo contrário, os países ocidentais são temperamentais e praticam a chantagem política na mais pequena das diferenças. Não há segurança em ter uma aliança unipolar com o mundo ocidental. Pelo contrário, é melhor estabelecer parcerias com mais do que um pólo económico, político e militar.

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