(Por Joaquim Ventura Leite, in A Viagem dos Argonautas, 08/12/2022)

Macron numa entrevista de ontem manifesta a sua estupefação pelo facto do gás natural líquido estar 6x mais caro do que devia. E quem suporta esta brutalidade? AS PESSOAS! E qual a economia que vai ser mais afetada? A EUROPEIA!
Agora afirma que um acordo de paz na Ucrânia “deve acomodar as exigências russas em termos da sua segurança”! COMO É QUE ESTA BRILHANTE DESCOBERTA SÓ CHEGA AGORA DEPOIS DE 100.000 militares mortos só do lado da Ucrânia, sem contar com as centenas de milhar feridos, e a destruição da economia? Esta lentidão da inteligência é típica nos liberais. Só admitem os problemas quando eles se tornam gigantescos!
Onde estiveram o juízo e o bom senso europeu no último ano? Putin avisou várias vezes para as red lines que não podiam ser ultrapassadas, e para os abusos da NATO, mas os líderes europeus ainda gozaram com a Rússia. Quem era a Rússia para fazer avisos ao poderoso OCIDENTE E À NATO?
Agora vamos todos pagar esta guerra que alguns se convenceram a si próprios de que era uma questão de democracia ucraniana versus ditadura russa. Uma questão de invasor e invadido, e pronto. Estava assim definida a equação ideológica e política da solução! Não sei o que deu a tanta gente que eu considerava intelectualmente diferenciada.
O ocidente cometeu três erros infantis do ponto de vista político, económico, histórico e cultural.
- Por pressão dos EUA, a Europa alinhou, com a colaboração ativa dos seus “atlantistas”, na ideia de que a Rússia era necessariamente um inimigo do ocidente. Ignorantes da história não toparam que a Rússia faz historicamente parte da cultura ocidental e não oriental. É da história! A antiga URSS comunista ajudou a salvar a Europa do Nazismo. Não foram só os americanos.
- O facto da URSS ter sido comunista não significava que a Rússia atual seja comunista. Isso equivaleria a considerar o Portugal de hoje colonialista ou de tentações colonialistas, e a Alemanha atual como nazi. O fim da guerra fria foi considerado pelos EUA como uma derrota russa, quando devia ter sido simplesmente uma derrota do comunismo, e não do povo russo. O fim do colonialismo português não foi uma derrota da nação portuguesa, mas do regime político português. Se conseguimos entender isto devíamos entender que a Rússia não é a URSS. Este equívoco serviu apenas para manter o imperialismo americano consolidado depois da Segunda Guerra Mundial, e manter a Europa subjugada a esse projeto imperial.
- Os media e muita gente no ocidente alinham na ideia estúpida ou ignorante de que a economia russa é apenas gás e petróleo, e até li que era pouco maior do que a economia espanhola, imagine-se! Os economistas sérios sabem muito bem que a Rússia é uma das economias mais fortes do mundo, mesmo não fazendo BMW e Porches. Há intelectuais americanos que sabem e referem isto. Retirando o sector de serviços, a economia russa é maior do que a alemã, mas se tivermos em conta a disponibilidade de vastíssimos recursos energéticos, minerais e alimentares, a Rússia é nesta altura uma das economias mais fortes do mundo. Por estes erros infantis o Macron não percebe o que se está a passar com a EUROPA, a alhada em que se meteu, e como foram tramados pelos americanos. Macron devia lembrar-se que durante quase meio século a URSS, e atualmente a Rússia, cumpriram escrupulosamente os seus compromissos em termos de fornecimento de energia, e que foi a Europa quem procurou esse fornecimento. Ele devia estudar o que tentaram fazer Helmut Schmidt, Helmut Khol, Gerard Schröeder, na procura de relações comerciais normais com a Rússia.
Os inteligentes do ocidente “descobriram” agora que a Rússia afinal é uma ameaça à Europa, e que aqueles dirigentes alemães deviam ser estúpidos. Nem Margaret Thatcher era assim.
Agora iremos perceber como a Europa deu um passo para o abismo, ou para a total irrelevância mundial, desindustrialização e perda de competitividade, servindo para ajudar a acelerar a mudança do mundo unipolar para um mundo multipolar. Alguns ainda levarão algum tempo a entender isso, porque não conseguem ler os sinais que surgem todos os dias.
NÃO ME VENHAM AGORA DIZER QUE SOU PRÓ RUSSO. Sou é contra a estupidez que nestes tempos grassa pela Europa! Disse-o desde o primeiro dia desta guerra!
É a vida!
Onde se pode ver a entrevista?
Pode ver este link:
https://www.rfi.fr/br/fran%C3%A7a/20221203-macron-pede-que-franceses-n%C3%A3o-entrem-em-p%C3%A2nico-com-falta-de-luz-e-diz-que-2023-ser%C3%A1-ano-dif%C3%ADcil
Talvez a Rússia, quando iniciou a por si denominada «operação especial» na Ucrânia, não tivesse previsto todo o apoio que os EUA e seus aliados viriam a dar a esta, tendo em atenção, por um lado, a forma como tinham acabado de ser forçados a sair do Afeganistão, com acusações entre si por tal facto e, por outro, o clima de quase guerra civil nos EUA vividos, de que o assalto ao Capitólio seria um testemunho.
Por sua vez, a UE, em particular, talvez não tenha previsto que as sanções aplicadas à Rússia, visando enfraquecê-la, não a vergassem facilmente e viessem a ter efeito de ricochete, com todas as consequências que estarão à vista, levando a um descontentamento popular cada vez maior face a elas.
Finalmente, a Ucrânia talvez tenha pensado que a NATO se envolveria diretamente no conflito, fazendo com que o mesmo fosse de resolução rápida e não se acabasse por ver, em cada dia que passa, cada vez mais reduzida a cinzas.
A ser assim, talvez o fim das hostilidades não passe por uma das partes levando de vencida a outra (não se vislumbrando quando tal pudesse vir a acontecer), nem por via de negociações (o que pressuporia cedências mútuas, quando se desconhece, contudo, o que cada uma delas estaria disposta a ceder), mas sim por via dum armistício, ou seja, as partes aceitando um cessar fogo e ocupando o terreno que ocuparem à data do mesmo, mas continuando, tecnicamente, em guerra, cada uma na expectativa de que no futuro a correlação de forças jogue a seu favor e obtenha, finalmente, aquilo que se propõe, em definitivo, alcançar. Tal como sucede hoje entre a Coreia do Norte e a do Sul, depois de todo um conflito militar entre elas no princípio dos anos cinquenta do século passado, em que anuíram num cessar-fogo, mas não no celebrar dum tratado de paz.
Talvez… Trata-se de um simples exercício especulativo dum não «especialista» em questões geoestratégicas e militares, simples cidadão.
A questão do ser “guerra” ou “operação militar especial” não é mera propaganda ou eufemismo, é técnica, legal, e factual. Na Rússia diacute-se mesmo a legalidade de tudo isto tendo em conta as regras da ONU, e o Direito Internacional (que não é o que os Ocidentais acham que é…).
A Rússia não invadiu a Ucrânia. A Ucrânia é que invadiu o Donbass. A Rússia não começou nada, viu o Ocidente (EUA) começar tudo descaradamente em 2007 e depois 2014, e perdeu a paciência só em 2022.
A Rússia discute como a sua intervenção está de acordo com certo artigo da ONU que diz que um Estado tem o direito de intervir militarmente se outro por si reconhecido estiver a ser atacado, e de facto as Repúblicas independentes de Donetsk (referendos de 2014 são tão ou mais legítimos que o violento golpe Maidan em Kiev feito pelos Nazis) estavam a ser atacadas brutalmente entre 16 e 23 de Fevereiro.
Chegam ao ponto, e eu concordo, de acusar a Alemanha e França, signatários dos acordos de paz de Minsk, de violarem as suas obrigações ao nada fazerem para castigar a Ucrânia por ter violado esses acordos.
Alemanha e França tinham a obrigação de aplicar sanções à Ucrânia desde que a OSCE reportou a violação dos acordos de paz.
Em vez disso, declararam guerra à Rússia, e deram armas aos Nazis violadores da paz.
E há ainda a parte que mais interessa aos Russos: na intervenção militar limitada a que chamaram “operação especial” (seguindo a moda da NATO em todas as suas agressões… se é que os “jornalistas” destes regimes falam sequer nelas, por exemplo estão neste momento a omitir a invasão Turca no.Curdistão da Síria) é uma coisa que só envolveu uma parte do exército profissional, aquele que qualquer país mantém em tempo de paz, com ataques precisos, muitas infraestruturas poupadas, com armas menos destrutivas, e algo que os terroristas da NATO nunca fizeram nas suas agressões: sucessivos apelos à paz, e sucessivas interrupções para poder criar corredores humanitários.
Quando a terra ucraniana deixar de ser lama e voltar a ficar sólida, acabou a brincadeira. A GUERRA de facto terá início em 2023, e a Ucrânia não tem qualquer hipótese.
Voltam os profissionais que, lembro, deixaram soon Ucraniano em Julho, pois após a libertação total da República de Lugansk, Putin deu-lhes férias.
E acrescentam-se os 300 mil mobilizados, todos altamente motivados, pois sabem tudo o que está em causa, e como tudo isto foi provocado, e é justificado até ao dia em que deixar de haver Nazis e fantoches da NATO em Kiev a dizer que “a Crimeia será nossa a bem ou a mal” – isto para falar de uma península historicamente Russa, com povo Russo, onde sondagens OCIDENTAIS confirmam quase 100% a favor do referendo (a exceção é acima de tudo a minoria étnica Tatar), e que só foi Ucrânia entre 1992 e 2014 por mera trapalhada no período da dissolução da URSS.
Repara nisto: a Rússia que tem mísseis que podem acertar em qualquer alvo em todo planeta, não fez um único bombardeamento a um centro de decisão em Kiev.
E já que te incomodam as imprecisões, eu digo-te que não houve uma saída forçada do Afeganistão. Como Julien Assange disse, os INVASORES ILEGAIS e CRIMINOSOS DE GUERRA do Ocidente em geral (Ucrânia incluída!!!), terminaram a OCUPAÇÃO de 20 anos e centenas de milhar de mortos quando quiseram, devolvendo negociadamente o poder aos extremistas inventados pela CIA/Pentágono nos anos 80 e 90, aos quais agora chamam Taliban, mas antes até dedicavam filmes só Rambo e chamavam-lhes “guerreiros Mujahidin, heróis anti-soviéticos”, Osama Bin Laden incluído (neste caso “guerreiro Saudita”).
Voltando ao terreno onde se desenrola a guerra por procuração da NATO contra o povo Russo, por intermédio de NAZIS Ucranianos e outros mobilizados não-nazis, se há alguma coisa a chamar ao que se vai passar em 2023, também não é guerra total nem invasão de facto. Pode-se isso sim chamar-lhe o “Dia D” da Rússia, pois também é decisivo, também é para derrotar um mal maior (Nazis e NATO), também é para acabar com a guerra iniciada por outros, e também envolverá desembarques (neste caso em Kherson primeiro e Odessa mais tarde).
Resta só saber se a Ucrânia se rende antes ou depois do ditador, escondido no bunker rodeado de Nazis, levar um tiro nos cornos… dado por ele próprio, ou por um lunático dos Azov ou outro grupo terrorista desse género.
Em 10 meses de operação limitada foi-se um exército de 100 mil homens, preparado pela NATO ao longo de 8 anos, e esgotaram-se não só as armas que a Ucrânia já tinha assim como as que a NATO enviou e prometeu.
Ainda não viram nada, e já Bakhmut começou a cair e o cerco de Avdiivka a apertar, a iniciativa a ser retomada na direção de Siversk, Ugledar a tremer, e várias localidades a serem libertadas pelos PMC Wagner, pelas milícias ex-Ucranianas das LDPR, e pelos barbudos da Chechénia.
Agora junta a escassez de armas e veículos de um lado (os combatentes Ucranianos deslocam-se em carros civis!), e mais 300 mil mobilizados do outro lado, bem motivados e ainda melhor equipados, e faz as contas.
Já foram 3 oblasts e meio. A seguir vão outros tantos, ou mais.
Mas ainda há de estar a Rússia a içar a bandeira em tudo o que está a leste do Dnieper, e a propaganda aqui do regime genocida a falar em “vitória” da NATO… “está quase, é só produzir e entregar mais 20 camionetas HIMARS e amanhã temos a Crimeia toda, a Rússia não mete medo, temos de apoiar isto só mais uns tempos em breve chegamos a Moscovo”…
É que é já a seguir.
Escrevi:
«Talvez a Rússia, quando iniciou a por si denominada «operação especial» na Ucrânia…».
Escreveu o Carlos Marques:
«E há ainda a parte que mais interessa aos Russos: na intervenção militar limitada a que chamaram “operação especial…”
Ou seja, em termos de «direitos de autor» quanto à denominação da intervenção, diremos ambos a mesma coisa, não discutindo eu, contudo, a sua natureza jurídica ou, se se quiser, a razão de ser ou não de tal denominação.
Quanto ao resto, como tive o cuidado de alertar, tratou-se dum mero exercício especulativo meu, não especialista em geoestratégias ou questões militares, ficando grato pelos esclarecimentos do Carlos Marques.
Não me parece que o Manu Morcon tenha tido, de repente, um ataque de lucidez e razoabilidade. Como chico-esperto que é, o jogo dele não passará, provavelmente, de uma reedição do espírito vigarista com que França e Alemanha (com a faca escondida atrás das costas) “patrocinaram” os Acordos de Minsk de 2014 e 2015. Como há dias confessou a Merkel, e já há alguns meses confessara o “rei do chocolate” Poroshenko, tratou-se apenas de evitar a derrota iminente dos ucronazis azovianos e afins e ganhar tempo para rearmá-los até aos dentes, tendo em vista uma futura operação mista de limpeza étnica e genocídio das populações russófonas e russófilas do Donbass e da Crimeia. Essa operação foi abortada pela antecipação russa de 24 de Fevereiro, mas, aparentemente, continuam a julgá-la possível. Enfim, sonhos molhados que provavelmente secarão até à liofilização, já que a ingenuidade russa que apoiou os Acordos de Minsk tem poucas hipóteses de se repetir. À primeira cai qualquer um. À segunda só cai quem quer.