Biden condena a guerra nuclear num discurso da ONU cheio de mentiras, mas ele está a promover essa guerra

(Editorial in Strategic Culture, 23/09/2022, trad. Estátua de Sal)

Se houvesse justiça, Biden deveria ter sido retirado do pódio da ONU para uma cela numa prisão aguardando julgamento por crimes contra a paz.


O discurso do presidente dos EUA, Joe Biden, à 77ª Assembleia Geral Anual da ONU esta semana foi um espetáculo de mentiras e ilusões descaradas.

Todos os anos, o mundo é forçado a suportar presidentes americanos diante da assembleia de 193 países membros proclamando as supostas virtudes dos Estados Unidos. No entanto, é sempre uma ocasião de ilusão e deceção embaraçosas proferidas com uma autoestima untuosa.

Este ano, os líderes da Rússia e da China nem se incomodaram em participar do evento realizado na sede da ONU em Nova Iorque. Sem dúvida, têm coisas melhores para fazer. E, além disso, quem gostaria de assistir a um discurso de um presidente americano que é um insulto absurdo à inteligência comum e à verdade histórica?

Biden condenou a guerra nuclear, dizendo que “não pode ser vencida e nunca deve ser combatida”. E passou a acusar a Rússia e a China de minar a paz mundial com a postura nuclear.

A Rússia está “fazendo ameaças nucleares irresponsáveis” e a China está “conduzindo uma construção nuclear sem precedentes, sem transparência”.

Biden disse que “os Estados Unidos e eu, como presidente, defendemos uma visão para o nosso mundo baseada nos valores da democracia… Rejeito o uso da violência e da guerra para conquistar nações ou expandir fronteiras por meio de derramamento de sangue”.

A calúnia é tão desprezível quanto surpreendente vinda de Biden, que durante seus mais de 50 anos como político sénior de Washington defendeu dezenas de guerras criminosas de agressão dos EUA em todas as partes do globo.

É particularmente revoltante que o discurso de Biden na ONU tenha sido apresentado pela média americana como uma “missão histórica” para evitar uma guerra nuclear.

São os Estados Unidos e este presidente que estão incitando imprudentemente tensões perigosas com as potências nucleares Rússia e China. A paz mundial está de fato sob ameaça iminente de uma guerra global catastrófica – dos Estados Unidos na sua implacável agressão à Rússia e à China.

O governo Biden e seus parceiros da OTAN estão injetando armas na Ucrânia para prolongar o conflito naquele país na fronteira ocidental da Rússia. Essa guerra é o culminar de oito anos de armamento deliberado do regime anti russo de Kiev para atuar como ponta de lança contra a Rússia.

O regime neonazista de Kiev, que foi instalado por um golpe apoiado pela CIA em 2014, vem bombardeando há semanas a central nuclear de Zaporozhie, no sudeste da Ucrânia, com artilharia fornecida pelos EUA. A inteligência americana e britânica está orientando suas forças por procuração de Kiev para atacar o território russo com mísseis de longo alcance.

O ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, observou esta semana que a Rússia está em guerra não apenas contra a Ucrânia, mas contra o bloco coletivo da OTAN liderado pelos EUA. A implicação disso é realmente alarmante, como a Strategic Culture Foundation afirmou em recentes editoriais anteriores. Já estamos numa situação de quase guerra mundial que está à beira de escalar para um confronto nuclear, que inevitavelmente destruiria todo o planeta.

As áreas ucranianas sob controlo russo devem terminar referendos na próxima semana, o que provavelmente verá essas áreas separatistas ingressarem na Federação Russa, como a Crimeia fez em 2014. A partir de então, isso significará que as forças da OTAN estarão diretamente envolvidas no ataque à Rússia se persistirem em apoiar o regime de Kiev. Há todas as indicações de que Washington e seus aliados continuarão na sua loucura. Biden disse que os EUA apoiarão a Ucrânia “pelo tempo que for necessário”. Qual o interesse disso? A suposta conquista da Rússia, objetivo estratégico de Washington desde a dissolução da União Soviética em 1991.

O presidente russo, Vladimir Putin, alertou esta semana a OTAN de que enfrenta uma escolha difícil. Referindo-se aos próximos referendos e à união das regiões de Donbass com a Federação Russa, Putin notificou que a Rússia se reserva o direito de se defender por todos os meios.

Biden e a média ocidental viram a realidade de cabeça para baixo. Putin é acusado de ameaçar com ataques nucleares. Mas são os Estados Unidos e os seus líderes lacaios europeus que criaram o impasse abismal que decorre da sua ação inoportuna de armamento da Ucrânia e repetida recusa de se envolver com Moscou na negociação de um acordo de segurança definitivo sobre a interrupção da expansão da OTAN nas suas fronteiras.

Voltando à China, há uma situação análoga. O governo Biden, como seus predecessores republicanos e democratas na Casa Branca, está armando o território insular separatista de Taiwan num ataque descarado à soberania e segurança nacional da China. Os Estados Unidos e seus parceiros da OTAN, bem como alguns outros países não pertencentes à OTAN, Austrália e Japão, estão a navegar com navios de guerra pelo Estreito de Taiwan numa tentativa cínica de provocar Pequim.

No início desta semana, Biden anunciou pela quarta vez que os Estados Unidos “defenderiam” Taiwan militarmente se a China lançasse uma invasão militar. Legalmente no quadro legal da ONU, Taiwan é parte integrante da China, então como é que a China se pode “invadir” a si mesma?

Washington está deliberadamente incitando Pequim e violando a própria legislação interna dos EUA que reconhece Taiwan como estando sob a soberania da China. No entanto, Biden tem a ousadia de dizer à Assembleia da ONU que sua nação ainda defende a Política de Uma Só China. Os americanos gostam de chamar a isso “ambiguidade estratégica”. Para outros observadores, trata-se simplesmente de uma “duplicidade estratégica” ofensiva.

O mundo parece estar testemunhando um poder imperialista americano enlouquecido a todo vapor. O líder da maior nação agressora do mundo, que inexoravelmente faz provocações contra a Rússia e a China, tem a audácia de dar uma palestra ao resto do mundo sobre paz, segurança, direito internacional e democracia – e o perigo de uma guerra nuclear.

Se houvesse alguma sanidade e justiça, Biden deveria ter sido escoltado do pódio da ONU para uma cela de prisão aguardando julgamento por crimes contra a paz.


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3 pensamentos sobre “Biden condena a guerra nuclear num discurso da ONU cheio de mentiras, mas ele está a promover essa guerra

  1. Convém acrescentar a toda esta denúncia o facto de os EUA serem o único país do mundo que até hoje lançou armas nucleares sobre as populações indefesas de Hiroxima e Nagasaki, causando mais de 200.000 mortos, quando o Japão já estava derrotado.
    São uns desavergonhados criminosos e uns mistificadores.

  2. Se bem que desvairada, percebo a posição americana: têm interesses a defender.
    Mas, não consigo entender as decisões dos dirigentes dos países da UE, especialmente depois das consequências já visíveis (não as mais graves, que, essas, sempre serão as advindas da entrada directa e assumida na guerra) das suas decisões de fomento do conflito.
    Daqui, apelo à constituição de uma plataforma nacional que exija ao governo português que, dentro das instituições em que intervém, se comprometa a defender o diálogo entre os beligerantes directos. O povo português não foi ouvido sobre este assunto, por isso não pode ser envolvido numa guerra sem sentido. O governo não tem legitimidade para hipotecar os interesses do país nesta guerra. NÂO À GUERRA, SIM À PAZ.

  3. “os Estados Unidos e eu, como presidente, defendemos uma visão para o nosso mundo baseada nos valores da democracia… Rejeito o uso da violência e da guerra para conquistar nações ou expandir fronteiras por meio de derramamento de sangue”.
    Se houvesse um Pulitzer para a frase mais falsa e hipócrita do ano, esta levaria o prémio. E se na AG das nações unidas houvesse dignidade e vergonha na cara, ou toda aquela malta abandonaria a sala ao ouvir tamanha treta dum psicopata senil, ou uma gargalhada colectiva atiraria a sala abaixo.
    Mas ao invés, ouviram com cara séria e até aplaudiram um discurso que, vindo de quem vem, dá vómitos em qualquer pessoa com neurónios funcionais.
    De facto, está na altura da UN seguir o mesmo caminho, pelos mesmos motivos, da Sociedade das Nações. Se valerá a pena tentar mais uma solução duma organização similar, ou se estamos fadados a acabar em holocausto nuclear, dependeria, evidentemente, de não deixar tal organização ser dominada pelo poder financeiro e por estados terroristas.

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