(Hugo Dionísio, in Facebook, 29/08/2022)

Nestes dias, passar pelas notícias, nacionais ou internacionais, é como assistir à queda de um castelo de cartas ou de uma fileira de dominó, mas numa lógica preditiva, ou seja, em vez de assistirmos somente às peças – ou cartas – em queda, temos o prazer de assistir, antecipadamente, à queda das seguintes, mesmo antes de acontecer.
Paradoxal? Nem por isso. Não é mais paradoxal do que a realidade alternativa em que nos tenta colocar a comunicação social das grandes corporações do sector, transmitindo uma realidade desprendida de causas e causadores.
Vejamos o exemplo de Macron a dizer “a era da fartura acabou”, ou do primeiro-ministro Belga, dizendo que “nos próximos sete a dez anos as coisas serão muito difíceis”, ou de um sem número de ministros do espaço europeu da NATO, dizendo que teremos de reduzir o número de duches, fornecer as nossas casas de cobertores e desligar os ares condicionados, entre muitas outras medidas “democráticas” e de acordo com os “valores europeus”.
Ao mesmo tempo que vociferam estas atoardas, desfilam notícias de encarecimento brutal da eletricidade, do gás, da água, do combustível e de todos os bens e mais alguns. “É da guerra na Ucrânia”, dizem. Mas quando analisamos bem as coisas, verificamos que não fomos invadidos, bombardeados, bloqueados, sancionados ou embargados.
Ao mesmo tempo, sabemos que a Rússia não parou a produção de Gás, de Petróleo, Óleos lubrificantes, óleos alimentares, gasóleo, Zinco, Alumínio, Aço, eletricidade, trigo, centeio, papel, Água, e de todo o conjunto de bens que são a base da nossa civilização. Pelo contrário, a Rússia até aumentou a sua produção e venda. Só que não para a Europa. E porquê? Pois… É aqui que acaba a análise da comunicação social das classes proprietárias.
Quando chegam ao tema “sanções”, tudo se cala! É que, a única razão que faz com que esta guerra tenha um efeito diferente nas nossas economias, do que as muito mais mortíferas guerras do Iraque, Iémen ou Afeganistão, reside no facto de a oligarquia dos interesses económicos ocidentais ter ordenado, aos seus moços de recados, a adoção de sanções, que sabia de antemão, irem ter um efeito nefasto no sancionador, ou seja, no Ocidente.
O que é que justifica adotarem-se sanções contra um país, quando se sabia que o resultado seria deixarmos de receber, a muito curto prazo, produtos vitais para as nossas economias? Produtos que não são passíveis de se encontrar, na qualidade, preço e quantidade desejada, nos mercados internacionais.
Ora, o que chamar a um governador (não me atrevo a chamar-lhes “governantes”), que tendo os recursos adequados, em preço, qualidade e quantidade, decide deles prescindir, sabendo que com essa rejeição, vai trazer brutais consequências ao povo que jurou proteger? Por muito que abominassem a Rússia, nada justifica que todos tenhamos de ficar na miséria, com exceção dos mandantes e seus moços de recados, para combatermos um inimigo que não nos invadiu, bloqueou, embargou ou sancionou. Mesmo que o objetivo fosse sancionar tal inimigo, e sendo eu total e frontalmente contra as sanções unilaterais, ilegítimas e genocidas que os EUA têm a mania de aplicar contra os que não se lhe submetem, não seria exigível que, primeiro e antes de tudo, estes governadores de meia tijela, acautelassem os interesses do seu povo? O povo que dizem tê-los eleito? O mesmo povo que dizem ser o próprio a mandar, por vivermos numa “democracia”?
Afinal, que interesses e expectativas tiveram em conta estes moços de recados? Não foram as nossas, isso é certo. Daí que a esmagadora maioria da humanidade se tenha negado a criar danos irreversíveis aos seus povos, a troco de aplicar as sanções. É caricato que os que se consideram o exemplo acabado da “democracia” sejam os primeiros a trair os seus povos, entregando-nos uma bandeja de miséria, fome e aldrabice. Já os povos “mais atrasados” do sul global negaram-se a fazê-lo e hoje é muito interessante ver os americanos a quererem ir ao méxico comprar coisas como materiais de construção.
É certo que houve muita arrogância e impertinência, nomeadamente a de considerar a Rússia um país despreparado, impotente para responder às “sanções do inferno”, o que levaria à queda iminente do “regime” de Putin. Perante o colapso e a derrota, os EUA, em vez de negociarem com o seu opositor e pararem imediatamente a guerra, optaram por uma escalada xenófoba contra o povo Russo, incitando a sempre cumpridora EU e a sua estafeta Úrsula Van der Crazy, a impedirem os Russos de entrarem no espaço europeu, numa espécie de punição coletiva muito típica dos nazis, seus avós.
Já o corrupto, cocainómano e neonazi Zelinsky, em vez de se retirar para as suas mais de 20 casas, mostra o que costuma fazer um nazi quando tem costas quentes. Desesperado pela derrota iminente, decide bombardear a maior central nuclear da Ucrânia, numa tentativa de culpar a Rússia por uma catástrofe nuclear, que levasse a Nato a intervir. Claro que, na comunicação social da oligarquia reinante não vão encontrar uma só palavra sobre os autores dos bombardeamentos. Essa autoria é propositadamente deixada à especulação do ouvinte. Uns, mais informados, pensarão: “que raio, mas os Russos não tinham tomado a central nuclear logo nos primeiros dias?”. Se continuarem a investigar, chegarão rapidamente à conclusão e que existe informação mais do que suficiente e esclarecedora sobre os autores, da sua localização e do tipo de armas usadas, por sinal, na sua maioria, europeias e americanas. Se o seu estado for já de total submissão mental à realidade ilusória passada pela comunicação social corporativa, ficará por um simples “estes Russos são mesmos terríveis, até bombardeiam uma coisa que têm na sua posse para culparem os outros e para matarem tudo”! E acaba por ali a sua reflexão.
Os outros, ficarão pela tendência da moda, que será a do esquecimento do que se passou logo nos primeiros dias, com a tomada da NPP de Zaporozie, e de se contentarem com um “aquilo está mesmo perigoso”, ou “o Putin quer explodir com isto tudo”. A partir de tal acriticismo mental, tudo pode acontecer, sendo normal a adoção pelas mais mirabolantes explicações, menos as mais plausíveis.
E nesta escalada, assistimos à explosão controlada da economia europeia. Quem segue os meus escritos, já há muito tempo me ouve dizer que os EUA têm a pretensão de destruir a economia europeia, o euro e a sua indústria. A verdade é que, após uma colonização sem precedentes, da comunicação social corporativa aos órgãos institucionais, é isso mesmo que estão a conseguir e com a ajuda dos moços de recados que foram colocando em posições chave, ao longo dos anos.
Quando a Indústria automóvel, aeronáutica e eletrónica europeia e japonesas não conseguir manter os seus níveis de competitividade, devido aos elevados preços dos fatores de produção, qual será o país cujas indústrias aparecerão em melhores condições para ocupar as suas posições? As dos EUA. Quando a agricultura, agro-indústria, pecuária e agropecuária, não conseguirem subsistir por causa do preço dos fatores de produção – e da suicida agenda verde europeia que protege tudo menos o ambiente -, qual será o país cujos bens ocuparão o mercado europeu e por preços mais elevados? Pois… Os dos EUA. Quando, as empresas que já começaram a fechar (na EU estão a fechar todos os dias fábricas metalúrgicas – o metal é a base de tudo) precisarem de investidores, quem terá o dinheiro para as comprar? Pois, os EUA. Quando deixarmos de receber totalmente gás dos Russos, petróleo e derivados… Quem estará preparado para fornecer esses bens e a preços muito mais elevados? Pois, os EUA. E tudo em dólar, porque, afinal, os EUA estão a tentar travar o já circulante processo de desdolarização da economia mundial. Ou seja, OS POVOS EUROPEUS ESTÃO A SER TRATADOS COMO ALMOFADAS DE AMORTECIMENTO DA QUEDA DO IMPÉRIO ESTADO UNIDENSE, numa tentativa de manter a sua hegemonia incontestável. É esta a traição que devemos aos moços de recado a que chamam políticos do arco da governação e da direita.
No nosso país há ainda uma curiosidade, é que para além do PCP, que à esquerda tenta defender de forma cada vez mais difícil, a nossa soberania, independência e autonomia, como condições básicas necessárias para a liberdade e identidade nacional, à direita, o nosso parlamento não se pode orgulhar de ter um qualquer partido que defenda o país. Da ala direita do PS, ao PSD, passando pela moderna, no século XVII, Iniciativa Liberal, e da criação artificial Chegana, nenhum, mas nenhum, defende e protege a soberania nacional. TODOS NÃO PASSAM – INCLUINDO BE E PAN – DE MOÇOS DE RECADOS DO GLOBALISMO E IMPERIALISMO ESTADO UNIDENSE, alinhando alegremente nas suas quimeras genocidas, nas suas provocações supremacistas e no seu belicismo indiscriminado.
Se ser de esquerda é preocuparmo-nos com o nosso povo, a nossa pátria e a sua liberdade e identidade, para escolher o caminho histórico que mais lhe aprouver, então a esquerda está mesmo muito sub-representada no nosso parlamento. É que, vê-se muita esquerda no que respeita ao identitarismo e à liberdade dos costumes (LGBT+, Ambiente, Igualdade de Género, animais…), mas vemos muito pouca quando se trata de combater o imperialismo, opressor da soberania e cultura dos outros povos, de combater a pilhagem ocidental aos países do sul global, e de abordar o maior problema de classe de todos: o da desigualdade material entre pessoas, que vota uns à pobreza acrescentando a riqueza de outros.
É que como dizia Marx, isto não é um problema de esquerda ou direita – mera referência geográfica parlamentar -, é um problema de classe, de defesa da classe mais representativa, a classe trabalhadora. E não existe classe trabalhadora livre num mundo submetido ao imperialismo, ainda para mais na sua forma capitalista ideologicamente neoliberal. Nesse mundo todos se submetem, pela força se necessário, à oligarquia proprietária. E nunca, como antes, tal verdade foi tão clara. No final, o que existe é capital e trabalho. E muitos dos que se dizem de esquerda, não sabem se estão de um lado ou outro.
E hoje, se contassem efetivamente as questões de classe e a necessidade – democrática na sua essência – de se governar para a classe maioritária, nunca a Europa, e Portugal, se encontrariam nesta crise, pois o conflito nem havia começado, por não ser do interesse dos trabalhadores começa-lo.
Sabem quem é que não vai ter de racionar os banhos, a saída dos carros, a eletricidade? Os que nos pedem para fazê-lo agora, em nome dos interesses da classe que nos oprime.
E assim se suicida a economia europeia e se matam todos os que morrerem por falta de serviços de saúde, de alimento, de aquecimento, de alimentação de qualidade, de educação…. O capitalismo mata a sério e de muitas formas e a europa vai viver agora o que era previsto ter vivido nos anos 30 em diante, quando os EUA e o capitalismo mais feroz fomentaram pelo mundo as múltiplas formas de fascismo que conhecemos. Na altura houve uma URSS que disse basta e nos libertou dessa catástrofe… Hoje, teremos de ser nós, os povos e os trabalhadores, a derrotar tal proposta.
A xenofobia, a censura, a perseguição e o condicionamento já chegaram. A seguir, se deixarmos, virá o resto!
Um festival de lucidez.