(Pedro Tadeu, in Diário de Notícias, 15/06/2022)

Se compreendi bem todas as notícias que li sobre a degradação do Serviço Nacional de Saúde, uma onda que desta vez começou por causa do colapso de algumas urgências de obstetrícia, a conclusão a tirar é que… não há notícia.
Não é notícia a falta de médicos e de enfermeiros, cada vez mais grave, no Serviço Nacional de Saúde.
Quem não se lembra da promessa de António Costa, em 2016, de garantir um médico de família para todos os portugueses? Essa promessa pressuponha que faltavam médicos no sistema, o que era verdade, e que Costa ia resolver o problema, o que seria mentira, pois ele, entretanto, agravou-se.
Não é notícia a fuga de profissionais de saúde do serviço público, seja para o estrangeiro (quando isso é possível), seja para o setor privado, que se expande cada vez mais.
Ainda agora, só para exemplificar, deram mais uma medalha ao enfermeiro português, um dos que decidira emigrar, que tratou a covid-19 de Boris Johnson.
Não é notícia a evidente suborçamentação do Ministério da Saúde, que o impede de resolver os problemas de vez. Uma das razões da queda da “geringonça” foi, precisamente, essa.
Não é notícia a crónica falta de dinheiro para o serviço público de Saúde, é um assunto com décadas, foi uma política comum a vários governos que, aliás, subsidiaram, simultaneamente, indiretamente, o crescimento do setor privado de várias maneiras, a começar pelas Parcerias-Público-Privadas e a passar por frequentes benefícios fiscais, para indivíduos e para empresas, dados a quem subscrevesse seguros de saúde, sustentando assim um início de crescimento, que era difícil, para os hospitais e as clínicas privadas,.
Não é notícia aparecer todos os anos o conjunto habitual de cromos político-corporativos a defender que a solução não está em colocar mais dinheiro no Serviço Nacional de Saúde, em pagar decentemente a médicos e enfermeiros para eles não se irem embora, em fixar mais profissionais no quadro.
Não, para esses profetas das consultas universais a 100 euros a solução é dar dinheiro às empresas privadas de saúde para elas fazerem o mesmo serviço.
De resto, a prática já é frequente, embora na sombra: vários sindicatos estão há anos a denunciar o recurso crescente a empresas de prestação de serviços, através das quais há médicos a receber mais por hora do que os clínicos dos quadros do Estado!
Não é notícia a incompetência, desleixo ou intenção de governar mal o Serviço Nacional de Saúde, que dá cada vez mais argumentos a quem defende a sua entrega para os privados – chegámos ao ponto de, a partir de 2006, mandarmos bebés portugueses, de mães que vivem na fronteira alentejana, nascerem em território estrangeiro, a Badajoz!
Não é notícia a acusação de “preconceito ideológico” feita sobre todos os que não concordam com a doação do Serviço Nacional de Saúde às empresas privadas. O papão de “o comunismo é a culpa disto tudo” é usado em Portugal há pelo menos 101 anos.
O problema não é ideológico, a não ser que achemos que, no que diz respeito à saúde, todos os portugueses não devem ter o mesmo direito de acesso a serviços de qualidade equivalente e que, também aí, o mundo tenha de se dividir entre ricos e pobres.
O problema é que a partir do momento em que se monte um sistema onde, generalizadamente, o Estado passa a pagar a privados ou ao setor social o fornecimento de um serviço de saúde universal e tendencialmente gratuito, perde uma estrutura que depois não será capaz de remontar. Se, ao fim de uns anos, com o SNS estatal praticamente desmontado, com a legislação entretanto produzida a defender, inevitavelmente, os interesses dessas empresas, elas disserem ao governo, “o contrato que temos não presta, queremos cobrar mais ou vamos embora”, o governo não tem outro remédio que não seja aceitar a fatura, seja qual for o preço a pagar, ou então deixar os portugueses mais pobres ao Deus dará.
Não tenhamos ilusões: veja-se o que se passa por esse mundo fora (Portugal, o que é incrível, ainda é dos melhorzinhos em Serviços de Saúde) ou o escândalo global dos preços dos medicamentos, para se perceber o espírito que impera nestes negócios da doença.
Se uma notícia pressupõe a existência de uma novidade, de uma informação nova que não conhecíamos, então a minha conclusão inicial estava certa e este debate é um “dejá vu“, é “old news“.
Respondo, por isso, para se perceber o que pode vir aí se não salvarmos o verdadeiro Serviço Nacional de Saúde, com o título de outra velha notícia, de 28 de outubro de 2020: Hospitais privados sem disponibilidade para receber doentes covid-19 em Lisboa.
Jornalista
“Estamos a entrar na era da escassez…”.
Está a acontecer o decrescimento de que tantas grandes mentes se estavam a rir, não há muito tempo?
Também não devemos esquecer a especulação que está a grassar sobre tantos produtos essenciais cujos preços foram generosamente confiados a operadores privados.
Churchill citou , sobre democracia. O mesmo prometeu ao seu povo “sangue e lágrimas”. Sim, a democracia também é sangue e lágrimas, mas a sociedade moderna já não a quer admitir…
Este processo de declínio está em curso há 20 anos, com a resposta namby-pamby “o nosso sistema de saúde era um dos melhores do mundo” ..
Cada vez que há uma crise nas vocações hospitalares, o peixe é afogado com pequenas medidas sem qualquer reforma fundamental até que se rompa. E o intervalo está a chegar. As pessoas que tinham a cabeça na areia redescobriram o que significa ter tempo para si próprias com o confinamento, os médicos casados com o hospital decidiram partir.
Quanto aos interinos, a sua remuneração não é estratosférica, limitada pelo legislador, nem sequer responde à lei da oferta e da procura, considero prudente, para dizer o mínimo, apontar o dedo da culpa aos profissionais que não aceitam os seus salários miseráveis.
Em termos de funcionamento, o dinheiro tão cantado durante anos por uniões incompetentes e fora de contacto é um problema secundário.
Durante décadas, as hierarquias, que são construídas pelo compadrio interno, têm estado completamente ultrapassadas.
Os hospitais é gerido como uma empresa é totalmente falsa, ainda são as palavras de pessoas que provavelmente nunca trabalharam numa empresa.
A logística só nos hospitais é uma calamidade, nenhuma empresa os quereria. O mesmo se aplica aos recursos humanos, que são inexistentes. Pelo contrário, se os hospitais tivessem as competências de empresas privadas, seriam muito melhor geridos… Ao contrário dos hospitais, uma empresa não pode pedir dinheiro ao Estado, quando é mau vai à falência.
O resultado é que os successivos governos tem sido um modelo de incompetência do ponto de vista da antecipação. No entanto, por vezes, tem-se destacado por se agarrar aos ramos a ponto de mistificar tanto a imprensa como os eleitores. Muito bem, senhoras e senhores! O espectáculo vai recomeçar.
Para dar sentido às profissões médicas e sociais, devemos antes de mais dar os meios às diferentes estruturas que acolhem e acompanham os utilizadores! Significa também valorizar o trabalho realizado por todas as mulheres e homens não-governamentais no terreno! Os hospitais são actualmente o nosso espelho, mas não esqueçamos todos os profissionais que sofrem diariamente para manter o seu serviço de apoio a funcionar, ao ponto de esquecerem a sua vida privada, de terem salários miseráveis, de terem períodos de descanso que são ignorados para substituir os colegas que vão de férias, ao ponto de se sentirem culpados por irem de férias e deixarem o resto da equipa a gerir o serviço com falta de pessoal. As nossas elites estão a pressionar os trabalhadores médico-sociais para se queimarem – é aí que nós estamos. Durante vários anos, só ouvimos números e números em resposta às nossas perguntas. Mas não devemos largar nada por convicção, por paixão, para que um dia possamos ser ouvidos pela maioria do povo Português .
Somos uma sociedade em que uma grande parte do povo Português tem grande admiração por jogadores de futebol cujos salários são indecentes.
Estão-se nas tintas para aqueles que cuidam deles, da sua segurança, da sua educação e da sua sobrevivência (agricultores).
Os ricos são sempre mais ricos e os pobres são sempre mais numerosos, é normal.
A grande burocracia soviética dos hospitais públicos. Um dos últimos territórios da ordem dos médicos,com a consequência do sistema de cuidados de saúde gratuitos e da ideologia do terceiro mundo.
Enquanto o governo estiver nas mãos de vigaristas e manipuladores, não esperamos ver quaisquer mudanças neste frágil e sensível sector. Os hospitais portugueses sofreram muito antes do covid e irá sofrer as consequências desta crise durante muito tempo.
Pedro Tadeu, brilhante como sempre, de princípio ao fim, subscrevo tudo.
Os que deram a “maioria” (só 41% dos votantes, só 21% dos eleitores) ao Partido-Faz-De-Conta-Que-É-Socialista, já se arrependeram, ou confirmam que os problemas mentais de que sofreram entre Outubro de 2021 e Janeiro de 2022 são permanentes?
Isto para mim, neste assunto, é assim à bojarda. A paciência para a estupidez dos portugueses esgotou-se.
Há sondagens que dizem que a esmagadora maioria (até entre eleitorado do PSD, CDS, e IL) gosta do SNS e quer que seja preservado e reforçado. Anda em torno dos 90%.
A sondagem das sondagens, as eleições, diz que 90% também é o número de Portugueses que decidiu castigar o BE e PCP pela “irresponsabilidade”, “intransigência”, e “extremismo” de recusar aprovar um orçamento caso ele não incluísse apenas 3 medidas que seriam um primeiro passo para salvar o SNS.
Concluo daqui que o eleitorado português, abstencionistas incluídos, é ATRASADO MENTAL.
Sem pedir licença nem desculpa. A paciência chegou a zero, e tenho o hábito compulsivo de falar a verdade, doa a quem doer.
Quando o SNS for desmantelado, e receberam facturas como as dos americanos, depois digam que foi o Sócrates, o Putin, ou o gambuzino que vos pariu.
Só me alegro com uma coisa: se o céu existe, neste momento estão lá os anjos Arnaut e Semedo a rirem-se, pois já viram a lista de chegadas futuras e notaram várias ausências, ou seja, várias chegadas que serão recebidas lá em baixo pelo Diabo, e mais ano menos ano, a máfia corrupta, aldrabona, e incompetente de A.Costa, Cabrita, Temido e companhia, vai lá toda parar, e vão arder na eternidade ao lado dos restantes Pinochetistas todps.
Como aquele alarve tornado Ministro da Cultura que diz que a precariedade é uma coisa boa e uma vez n’O Outro Lado disse que “contratar todos os médicos que faltam ao SNS de forma a garantir o serviço a toda a gente, não pode ser, é muito caro”.
Que vás lá parar abaixo o quanto antes, Pedro Adão e Silva!