(António Guerreiro, in Público, 20/05/2022)

Na sua crónica da passada segunda-feira, dia 16 de Maio, neste jornal, Carmo Afonso desenvolveu o argumento de que a esquerda não encontra na guerra da Ucrânia nenhum reduto onde se possa instalar e procurar aí uma identificação política. Porquê? Porque, diz a autora, “é uma guerra entre direitas”. É louvável e até um pouco temerária esta tentativa para introduzir alguma ordem e orientação naquilo que tem sido a desorientação generalizada da esquerda (não me refiro apenas ao Partido Comunista Português), um pouco por todo o lado, na sua reacção a esta guerra e na relação com as duas partes em conflito. Mas utilizar as categorias de esquerda e direita para analisar e representar as coordenadas essenciais deste conflito é inadequado e incapaz de penetrar em zonas para as quais não serve o léxico conceptual da tradição.
Esquerda e direita constituem, como sabemos, as categorias centrais com que identificamos as posições políticas e representamos as coordenadas essenciais da divisão social e política, na modernidade. Sabemos também que não é fácil, nem sequer possível, estabelecer um critério geral que permita distinguir, ao longo de mais de dois séculos de história povoada por muitas esquerdas e muitas direitas, o que é de esquerda e o que é de direita. Por exemplo, o conceito de Nação foi de esquerda, no Iluminismo, foi de direita, no Romantismo, e foi novamente de esquerda nos movimentos de “libertação nacional” que lutavam pela descolonização. Giddens, com a sua ideia da “terceira via”, entendeu que se devia retirar da lógica dicotómica do esquema esquerda/direita um grande número de questões contemporâneas (tais como os problemas ecológicos e as mutações na estrutura e na ordem da família), mas o que ele achou que escapava ao esquema acabou quase sempre por ser reapropriável e ser mais uma prova da persistência da famigerada dicotomia. E quando alguém se declarou antipolítico ou que não é de direita nem de esquerda, quase sempre isso foi visto como uma tentativa de denegar posições de direita, já que a direita, por princípio e por tradição, está sempre mais do lado da metapolítica (conceito que tem afinidades com o de “metafísica”) do que da política propriamente dita.
Mas há um lugar, nem o da política nem o da antipolítica, que não é apropriável pela dicotomia esquerda/direita. É uma zona que o pensamento político clássico deixa à sombra, é uma margem impensada, uma negatividade que abre um outro horizonte categorial. Esta guerra pertence a esse espaço: nem de esquerda nem de direita, mas de modo nenhum despolitizada. E é isso que a análise de Carmo Afonso não vislumbra. Ela — tal análise — revela que não conhece senão o conceito de política da modernidade e dos seus autores canónicos, que vão de uma concepção teológica da política a uma concepção puramente técnica. As ferramentas conceptuais da autora só lhe permitem concluir que se não existe “um lugar com que a esquerda se possa identificar politicamente”, então é porque tudo se passa entre a direita. Se Carmo Afonso analisasse esta guerra a partir da leitura de autores como Hermann Broch, Elias Canetti, Simone Weil, Bataille e Blanchot, e não a partir dos conceitos políticos que se tornaram um esquema formal de análise, cristalizado, encontraria uma modalidade de olhar o avesso problemático da política que seria de muita utilidade para analisar esta guerra e para fugir aos impasses a que, pelos vistos, ela conduz, sobretudo à esquerda. Cito estes autores não porque tenha chegado a eles, pelos meus próprios meios, quando percebi que de pouco serviam as categorias de direita e de esquerda para analisar tudo o que envolve esta guerra (as suas origens, as suas motivações, mas sobretudo as reacções que desencadeou nos diversos sectores políticos), mas porque são eles que estão na base da categoria do “impolítico”, a que o bem conhecido e reconhecido filósofo italiano Roberto Esposito dedicou um livro que já se tornou um clássico. O livro chama-se Categorie dell’ impolítico (1988).
O tema do impolítico (que não deve ser confundido com o antipolítico ou o apolítico) nasce da consciência de que as categorias do léxico político contemporâneo estão esgotadas ou, pelo menos, não iluminam o avesso, as zonas de sombra, a negatividade, o irrepresentável, as margens, os vazios. E este é o espaço de muita da política contemporânea. E desta guerra.

Alguns pensam que agua com farinha é leite ,mas “esse leite” nem dá coalhada nem queijo,o que quer dizer como diziam nosssos antanhos que comem gato por lebre e por cá s “nossas TVs” especializaram-se “nesssa receita que nos servem a todas as”refeiçoes”……
Bem, que evolução! Para ver claramente é uma virtude infelizmente muito mal partilhada, acreditei reler “o regresso ao melhor do mundo” de huxley esta pequena opúscula ou tudo é dito desde há muito tempo também a nível político como económico sobre o futuro certo do nosso futuro e como disse Soljenitsine “Eu conheço o vosso futuro, Vivi-a e não funcionou”, sim é mais do que tempo de os nossos contemporâneos saírem do seu rabo e não se deixarem prender em falsas alternativas esquerda/direita feitas para os confundir e que infelizmente funciona há 40 anos, a guerra está aqui, a do globalismo contra os soberanistas, eu escolhi o meu lado há muito tempo.(Neutro)
O conceito de esquerda e direita é um engodo que foi inventado para nos cegar para a vacuidade das nossas elites, um conceito aprendido como um catecismo do qual algumas pessoas já não se podem livrar porque está tão gravado nos seus cérebros. A esquerda e a direita são como detergente em pó X e Z, a embalagem é diferente mas o produto é o mesmo, feito no mesmo local. Por uma questão de clareza, não devemos nunca mais falar destas noções obsoletas. A única coisa que move os nossos políticos é o dinheiro.
A esquerda, e direita? O que é isso?
Esta quimera totalmente ubuesca já não existe.
Hoje, há os que pilham e os assaltados, ponto final!
No dia em que o assaltante acordar, serão os ladrões que roubarão, mas muito longe! E depois basear toda uma peroração na atitude dos ecologistas do governo é um pouco fácil!
A dívida é o denominador comum para os partidos no poder, e esta dívida esmagadora apaga todas as diferenças para um governo em dificuldades terríveis assim que chega o mês de setembro, quando as receitas fiscais se esgotam e é necessário contrair empréstimos para pagar aos funcionários públicos;
Ainda não há controlo parlamentar sobre o limite máximo da dívida?
Infelizmente, a política demitiu-se, já nada se mantém unida, nem da direita nem da esquerda, mas na marcha, podemos ver como tudo correu mal!
Os termos esquerda/direita já não significam nada, foram desviados.
Devemos expressar-nos e fazer uma separação em termos de classes dominantes/classes dominadas.
Hoje não há esquerda/direita mas sim ricos/pobres, cabe a nós restabelecer uma melhor igualdade.
Hoje o político ainda não saiu da escuridão, este sistema está apenas a repetir-se, mais pessoas estão desligadas da política e é por isso que 25% dos votos levam uma administração às botas de uma elite para empobrecer Portugal ao ponto de as pessoas já não saberem o que significa “viver em Portugal”.
Temos um espectro político que vai desde a extrema direita do capital até à extrema esquerda do capital.
E todos querem gerir o capital de forma diferente.
(a expressão não é minha, mas de Marx)
As ideias que ontem eram de esquerda são hoje de extrema esquerda e o mesmo se passa com a direita… Apenas a política de recuperação da esquerda, hoje em dia, os partidos que a defendem passam por extremistas, tanto liberalismo catalisa todas as referências políticas .
O capitalismo é a má distribuição da riqueza.
Winston Church
A esquerda e a direita são um bom par para negar a luta de classes. Não se trata apenas de distribuir riqueza a partir do nada. Trata-se de determinar os papéis sociais e a legitimidade de cada um.
A direita defende os ricos afirmando que eles criam empregos (é o trabalho que cria valor económico, não o contrário, mas se os faz felizes em contar a si próprios fábulas…), e a esquerda defende os pobres como pobres (pobres, sem necessariamente uma análise de classe), tendo a choradeira como a sua técnica preferida.
Acho que é mais fácil para o exterior colocar-me à esquerda do que à direita. Dito isto, eu não defendo “os pobres”. Mas o proletariado!
Nos poucos meses em que tenho estado interessado em economia, não demorei muito tempo a chegar à mesma conclusão:
Fazer política sem falar de economia é ser polémico.
Direita/Esquerda… é a política económica que define a orientação política, o resto é apenas vento.
Sejam de direita ou esquerda a maioria das pessoas pensam que estamos num país republicano mas na realidade somos governados por burgueses que se sentam em palácios.
Só pensam nas suas vantagens, estão acima da lei, um sistema fora do solo que terminará mal se continuarem assim.
A inaptocracia (ou “ineptocracia”) é o governo dos incapazes. De acordo com a definição (frequentemente atribuída erroneamente a Jean d’Ormesson):
“Inaptocracia: um sistema de governo no qual os menos capazes de governar são eleitos pelos menos capazes de produzir, e no qual os restantes membros da sociedade menos capazes de se sustentarem ou serem bem sucedidos são recompensados com bens e serviços que foram pagos pela confiscação da riqueza e do trabalho de um número continuamente decrescente de produtores”.
E no entanto, a economia obriga-nos a acreditar que este modelo é um “sucesso” . …
Basicamente, quanto mais ideologias de todos os tipos e um exército mexicano de sub-líderes for feito para liderar sem ter a mínima ideia ou opinião sobre o objectivo a alcançar, mais os empregos de treta ocupam um lugar importante para legitimar uma organização de dominação. Pior ainda quando o diagnóstico inicial é errado para o estabelecimento de objectivos; pior ainda, há frequentemente uma inversão entre as causas e as consequências.
E aqui, acabo de fazer uma verborreia inútil que se assemelha fortemente a tretas .
De facto, a dicotomia esquerda/direita sempre muito práctica e esquemática acabou por se esvaziar numa formalidade demasiado redutora. Tentar enfiar o conflito armado Rússia-Ucrânia, é dele que se trata, na camisa de forças do esquema esquerda/direita, acaba por ficar muito conflito de fora. A Ucrânia é apenas a procuradora suicída dos EUA/NATO. Morrem ucranianos por uma causa, por interesses que não são os seus.
Substituindo-se os mantras e o oco fraseado ocidental de democracia, liberdade e direitos humanos por interesses, sólidos interesses, e aproximamo-nos da verdade escaldante. O universo hegemónico e unipolar desejado para o mundo pelos EUA e seus lulus europeus nunca passou de um sonho molhado. Rússia e China são hoje a sua “negatividade”. Outros opositores foram destruídos à bomba mas como fazê-lo com estas duas “beldades”? Pelo andar da caravana tudo indica que o sonho está numa sopa.
Os sólidos interesses da Rússia são os seus imensos recursos naturais e o seu imenso conhecimento técnico. Os sólidos interesses da China são a sua mão de obra disciplinada e diligente e hoje também o seu imenso conhecimento técnico.
Se quisermos ainda aproveitar a dicotomia esquerda/direita temos de a dilatar. Pomos a Rússia como uma esquerda conservadora contra uma direita reaccionária dos EUA. A humanidade precisa dos EUA mas, sinceramente, eu não dava um chavo por aquilo.
A discussão da dicotomia esquerda/direita continuará, pois, etérea, sonâmbula, metafísica. De outro modo para que raio servem os inefáveis intelectuais?