Os bem informados

(Miguel Sousa Tavares, in Expresso, 13/05/2022)

Miguel Sousa Tavares

Os bem informados tinham-nos avisado de que em 9 de Maio, no discurso do Dia da Vitória, Vladimir Putin iria anunciar, cumulativamente ou em alternativa, as seguintes coisas: a vitória militar na Ucrânia, a mobilização geral com vista à vitória, a declaração formal de guerra à Ucrânia ou — o mais assustador de tudo — a ameaça de utilização de armas nucleares para garantir a vitória. Verdade se diga que as suas previsões não se fundamentavam em nada que Putin ou os russos tenham deixado antever, mas sim nas suas particulares fontes e privilegiadas intuições.

E em 9 de Maio, na Praça Vermelha, com o habitual aparato mas menos soldados e sem força aérea, Putin fez tudo ao contrário das doutas previsões dos bem informados. Chamou à colação duas das batalhas históricas dos russos contra invasores externos, para lembrar que as batalhas determinantes da história da Rússia não foram para invadir território alheio mas sim para repelir invasões no “solo sagrado” da “Mãe Rússia”. E, deixando de fora qualquer referência aos 26 milhões de mortos russos na Grande Guerra Patriótica contra a Alemanha nazi, sustentou a invasão da Ucrânia como uma “acção preventiva e sem alternativa”, fundamentada num argumentário em parte já conhecido — o cerco da NATO nas fronteiras da Rússia e a ausência de resposta às propostas de Moscovo para uma solução mútua de segurança — e noutra parte desconhecido e por provar — que a Ucrânia estava a tentar dotar-se de armamento nuclear. Aliás, no capítulo do nuclear — onde tanta especulação e tantos temores tinham sido avançados, e com alguma razão —, Putin, dirigindo-se directamente aos soldados, teve uma frase que, não sendo hipócrita, é merecedora de reflexão: “É vosso dever evitar que o horror da guerra global aconteça novamente.”

ILUSTRAÇÃO HUGO PINTO

Em suma, o tão temível discurso de guerra de Vladimir Putin desiludiu todos os bem informados e todos os que, a milhares de quilómetros de distância, sentados em frente ao conforto do seu computador e contemplando na televisão as imagens de destruição e morte na Ucrânia, escrevem como Pacheco Pereira: “Estou todos os dias mais belicista. Com isto não é possível nem entender, nem pactuar, a não ser por covardia, nem negociar. Isso mesmo, nem negociar.” E, por isso, no dia seguinte, de Nova Iorque a Londres, de Helsínquia a Lisboa, na ausência de um discurso de guerra de Putin, o “Clube NATO” já tinha uma resposta perfeitamente afinada e sincronizada: “Putin não teve um discurso de vitória para apresentar.” Seria uma oportunidade, então, para lhe propor a paz? Não, pelo contrário. Foi uma oportunidade para o que Lloyd Austin, o secretário da Defesa americano, anunciou serem os objectivos da NATO na guerra da Ucrânia: enfraquecer a Rússia até ao ponto de a deixar impotente. E se Putin, aparentemente, excluiu o recurso à arma nuclear, tanto melhor, a guerra é grátis para a NATO. Só a Ucrânia é que paga.

Aliás, a guerra não só é grátis como é um excelente negócio para a NATO: vende armas a todos os membros, que agora não podem negar-se ao esforço de rearmamento, acrescenta novos membros e nova geografia, ganha nova razão geoestratégica sobre um cadáver anunciado, testa em campo de batalha, e não apenas em manobras de rotina, as suas capacidades militares e de armamento e descobre, com volúpia, as fraquezas do inimigo russo. Tudo graças ao erro de avaliação e à soberba de Putin e ao sacrifício dos ucranianos.

No mesmo dia 9 de Maio, Zelensky resolveu responder à parada da Praça Vermelha desfilando sozinho numa das principais avenidas de Kiev. A cena foi patética: vestido com o habitual uniforme militar, o herói de nenhuma batalha travada, o Churchill da Ucrânia, pop star de todos os Parlamentos e descrito como um génio da comunicação, dizia a Putin que em breve iria ter dois dias da vitória para celebrar contra nenhum do russo. Há um mês, Zelensky desdobrava-se em ofertas de negociações, dizia já ter abdicado da Crimeia e da NATO e acusava o Ocidente de estar a prolongar a guerra à custa da destruição da Ucrânia. Hoje mudou radicalmente: diz que não cederá nem um centímetro de território, que está a lutar contra nazis e que só a vitória lhe interessa. O que mudou, entretanto, foi que a NATO o convenceu de que, com o apoio que não lhe faltaria, ele iria derrotar os russos e entrar para a História como o homem que venceu o Exército Vermelho, mesmo que à custa da destruição da Ucrânia. Um grande líder patriótico dirige a resistência do seu povo a uma invasão externa — e isso Zelensky soube fazer. Mas também sabe negociar quando percebe que é melhor para o seu povo um acordo com o invasor do que a glória pessoal de uma hipotética vitória militar sobre ele. E isso Zelensky já deixou de estar interessado em fazer. Dir-me-ão que Putin também não, e eu estaria de acordo até segunda-feira passada. Mas, se é possível ler entre linhas, o discurso da “não-vitória” de Putin talvez tenha mostrado um líder cansado de uma guerra que o arrasta cada vez mais para um beco sem saída. Já sucedeu antes no Afeganistão, e a então URSS retirou-se.

O problema também é que, neste momento, Zelensky é prisioneiro da imagem que o Ocidente criou dele, a de um herói da liberdade, numa sociedade e em tempos sem heróis a sério e com heróis instantâneos, prontos a consumir. Políticos medíocres, sem nenhuns horizontes além das próximas eleições, como Boris Johnson, encostam-se a Zelensky vegetando na sua boleia, da mesma forma que a NATO enfrenta a Rússia à boleia da Ucrânia. E isso é facilitado por uma coisa que já antes aqui escrevi e que tem passado tranquilamente face à indiferença geral: estamos perante a mais unilateral cobertura mediática de um conflito a que alguma vez assisti. Não culpo por isso directamente a imprensa ou os jornalistas, que relatam o que vêm e o melhor que podem, cumprindo a sua missão de denunciar o horror de uma guerra e o estendal de morte e destruição que a Rússia levou à Ucrânia. A questão é que eles estão apenas junto de um dos lados e reportando apenas aquilo que esse lado deixa e só depois de as coisas acontecerem: não assistem aos combates nem aos invocados massacres, não falam com o outro lado nem têm acesso à sua versão do mesmo acontecimento. E é sobre isso que depois os “analistas” e os “especialistas” extraem as suas conclusões, sempre de sentido único.

Um bom exemplo disso é o que se passou com os civis encurralados com os militares na fábrica Azovstal, em Mariupol. Durante dois meses foi-nos contado que mais de 1200 civis, mulheres e crianças, estavam refugiados nos subterrâneos da Azovstal, impedidos de sair pelos russos, que violavam sistematicamente todos os acordos de evacuação estabelecidos, incluindo os propostos pelos próprios russos. Ninguém nunca contestou a versão ucraniana e ninguém no terreno a confirmou. Mas quando António Guterres conseguiu colocar pessoal da ONU em Azovstal, em dois ou três dias, como que por milagre, todos os civis que quiseram foram evacuados sem qualquer incidente. A pergunta é: por que razão nunca alguém levantou a hipótese de os civis estarem a ser retidos pelos próprios militares do Batalhão Azov, que os usou como escudo, tentando assim garantir uma coisa impossível na guerra — saírem em liberdade juntamente com os civis sem terem de se render? O mesmo aconteceu em relação às incansáveis imagens de destruição de edifícios civis bombardeados pelos russos e às infindáveis entrevistas aos sobreviventes civis desses bombardeamentos. As imagens são tão revoltantes como as de qualquer outro conflito, como no Iémen ou na Síria, só que aqui, em maior escala e diariamente filmadas por centenas de jornalistas, transmitem uma narrativa de absoluto caos e de destruição quase sem precedentes. Em contrapartida, são escamoteadas quaisquer imagens dos alvos militares onde se sabe que os russos têm concentrado o grosso dos seus bombardeamentos, de modo a passar a ideia de que o alvo é indiscriminado e atinge sobretudo civis. E, todavia, segundo os números divulgados pela ONU em 9 de Maio, morreram na Ucrânia, ao fim de 75 dias de guerra, 3381 civis, embora estes números possam vir a ser “consideravelmente maiores”. Mas sabem quantos civis morreram no bombardeamento aéreo de dois dias dos Aliados a Dresden, durante a II Guerra Mundial? 22 mil. E em Hamburgo 50 mil. E 100 mil em Hiroxima e 70 mil em Nagasáqui, só no primeiro dia após despejada a bomba atómica, sem que em nenhum caso se tenha falado em “crimes de guerra” ou em “genocídio”, como agora se fala a propósito dos mortos civis na Ucrânia. Sendo que em Dresden bombardeou-se deliberadamente o centro da cidade, com o objectivo declarado de atingir a “força de trabalho alemã” — ou seja, as mulheres, visto que os homens estavam na guerra. Aqui, na guerra da Ucrânia, confunde-se o horror que qualquer guerra é com o horror particular que se pretende atribuir a esta, como se houvesse guerras limpas em que só morrem combatentes.

Nada disso torna a invasão e a guerra que Putin levou à Ucrânia mais justificável ou menos condenável. Esta é, como disse Charles Michel, uma guerra do século passado, que julgávamos já não ser possível no século XXI. Porque acreditávamos que existiam suficientes mecanismos internacionais capazes de a evitar, assim houvesse vontade. Mas esses mecanismos falharam e continuam a falhar, como está à vista. E, se há um só culpado pela invasão, há mais culpados pela continuação da guerra, e a desinformação, a informação truncada, incompleta ou unilateral é a sua principal arma. Um dia saberemos a história toda.

Miguel Sousa Tavares escreve de acordo com a antiga ortografia


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15 pensamentos sobre “Os bem informados

  1. Cada vez mais deplorável… Mariupol já está de volta à vida, algumas linhas de transporte foram reabertas, escolas e cinemas também… Se as pessoas não podem sair sozinhas, é que se querem ir para Zoporizhzia do lado ucraniano têm de atravessar a linha da frente e como não há nenhum corredor humanitário aberto de momento é para a sua segurança. A comunicação social é pior do que os meios de comunicação anglo-saxónicos em propaganda, realmente para vomitar …Desmascarar as falsificações russas é bom, mas nada sobre as ucranianas?Penso que a União Europeia vai encontrar novos parceiros e a Rússia também. Penso que estamos a assistir a uma transição para um mundo mais multipolar, ao regresso da corrida aos armamentos a um mundo mais perigoso e ao recuo da Europa durante muito tempo. E uma maior vassalização da Europa, que dependerá dos EUA para a energia e segurança. Há um défice gritante de estadistas na Europa. Agem como amadores,na emoção da ideologia e numa total ausência de cultura histórica e geoestratégica, ou mesmo de cultura em absoluto. A pedra angular é a confiança na moeda, e através desta confiança o seu valor intrínseco. A apreensão de contas russas tem o efeito para os jogadores globais de incluir um prémio de risco na moeda de transacção, quer em Euros quer em Dólares. Isto leva estes compradores a reconsiderar a oferta russa com um desconto de 30 a 40 dólares, dependendo do destino. A longo prazo, o valor das moedas RUBLE e YUAN, apoiadas por ouro e um cabaz de mercadorias, permitirá a estes bancos reconsiderar a solidez destas duas moedas nos mercados. Claro que não é este o caso actualmente, mas a curto prazo, digamos 6 meses, tornar-se-á óbvio. Isto é tanto mais verdade quanto as grandes descobertas de ouro estão em curso na Rússia. Todos precisam de petróleo, os russos não terão problemas em vender a sua produção. A Índia e a China irão comprá-lo e vendê-lo, se não o consumirem imediatamente. Quer se trate da China ou da Índia, não os vejo a temer nada da NATO ou dos americanos. Aconteça o que acontecer, os americanos imporão sanções a qualquer país de que não gostem, ou que não lhes permita fazer grandes lucros…
    Estou mais preocupado com a UE do que com a Rússia, tenho a certeza que a Rússia fará melhor do que nós.
    Obrigado, mas a Europa, digam o que disserem, continuará a comprar produtos petrolíferos aos russos, seja gás, combustível, plástico, etc… compraremos a eles enquanto o tiverem, poderá ser através de outros países, mas virá da Rússia na base. A Europa coloca sanções que tornam a vida mais difícil para eles do que para os sancionados, é uma loucura, não é?Com a adesão da Finlândia à NATO é provável que a Rússia corte os seus abastecimentos como retaliação pela quebra de uma cláusula de neutralidade num tratado de paz, o que agravará as tensões de abastecimento na Europa. Então, num momento apropriado, alguns agitadores com armas recuperadas da Ucrânia, estilo Stinger-Javelin, afundarão um petroleiro no Estreito de Hormuz ou no Canal de Suez… Não acredito por um segundo que a Rússia não responderá à guerra assimétrica que está a ser travada contra ela pela Nato. Não acredito por um segundo que a Rússia não responda à guerra assimétrica que a OTAN está a travar contra ela. Tenho dificuldade em não ver esta guerra como uma grande guerra de reinício contra a Europa.

  2. No meio de tantos ridículos “professores de ciência política”, felizmente, ainda há -poucos- jornalistas e comentadores independentes que escrevem o que pensam ao contrario de uma maioria que “escrevinha e fala conforme a “voz do dono” manda.

  3. Bom artigo! desta vez o MST acertou e é sempre bom ver textos destes na «imprensa livre». Agora venha outro sobre a onda revivalista do nazismo que à boleia da russofobia tem varrido alguns países europeus recentemente.

  4. «deixando de fora qualquer referência aos 26 milhões de mortos russos na Grande Guerra Patriótica contra a Alemanha nazi»
    MENTIRA – o discurso lembrou várias vezes esses heróis, alguns até individualmente pelo nome e local de origem.

    «e noutra parte desconhecido e por provar — que a Ucrânia estava a tentar dotar-se de armamento nuclear»
    MENTIRA – Zelensky discursou na Conferência de Munique que a Ucrânia ia violar os tratados e obter armas nucleares. Não era para levar a sério?

    «NATO: vende armas a todos os membros, que agora não podem negar-se ao esforço de rearmamento»
    DISCUTÍVEL – não podem porquê? Porque não são democracias independentes e não olham para a paz como objectivo. Que “novidade”… mas era um ponto que o Miguel devia ter desenvolvido.

    «Tudo graças ao erro de avaliação e à soberba de Putin e ao sacrifício dos ucranianos»
    ERRADO – seria como chamar à vítima de violação a culpada, por se ter posto a jeito. Se a NATO avançou, ameaçou, se o golpe de Estado da Ucrânia aconteceu nos termos em que sabemos (Victoria’s secret…), se o regime Ucraniano é o que é, se a guerra no Donbass durou 8 anos, se a OSCE mostra os milhares de explosões que NeoNazi fizeram ANTES desta invasão contra o povo do Donbass, como é que ir em auxílio desses humanos (do Donbass) é um erro de avaliação? Este é o ponto mais hipócrita deste texto. A alternativa era Putin ficar a ver NeoNazis a matar milhares ou milhões de pessoas na “operação especial de LIMPEZA” que os Azov e companhia tantas vezes anunciaram!

    «Um grande líder patriótico dirige a resistência do seu povo a uma invasão externa — e isso Zelensky soube fazer»
    ERRADO – um grande líder patriótico teria cumprido a promessa eleitoral que o fez ser o mais votado no Leste e Sul: respeitar acordos de PAZ de Minsk em vez de ceder às vontades sanguinárias do aparelho do regime que está nas mãos da Extrema-Direita. Um grande líder que ficaria para a história por ter conseguido a paz e evitado a guerra. O oposto de Zelensky.
    E quanto chamar “resistência” à prisão de opositores (os que tiveram a sorte de não serem “limpos” pelo SBU e companhia), ilegalização de partidos da oposição (exceto os NeoNazis, claro), a proibição dos homens civis de 18 a 60 anos de saírem do país, o apelo indigno de irem para a rua só com uma garrafa e um farrapo fazer frente a tanques e soldados bem treinados, o chamar “traidores” aos que recusaram essa indignidade, e fazer do Donbass um triturador de carne ucraniana para canhão russo, perder em duas semanas o território equivalente a um Reino Unido, só ter capacidade para pequenos actos de sabotagem, prender e matar os cidadãos que usaram braçadeira branca (e a provável encenação em Bucha com esses corpos), ou ser o recordista da propaganda que chega a condecorar postumamente quem afinal está vivo, ou manda para a morte dezenas de homens só para tentar re-conquistar um rochedo, etc. Isso não é resistência. É estupidez.

    «estamos perante a mais unilateral cobertura mediática de um conflito a que alguma vez assisti. Não culpo por isso directamente a imprensa ou os jornalistas, que relatam o que vêm e o melhor que podem, cumprindo a sua missão»
    MENTIRA – é de facto a maior campanha de propaganda e falsidade de que até Goebbels teria inveja, mas se há alguém a culpar são exatamente a “imprensa livre” e os “jornalistas”. Se eu, cidadão comum sem tempo nem meios para investigar, sei das coisas, como é que eles podem dizer que não sabem? Pior, como é que têm o descaramento de difundir o que já se sabe ser mentira desde início (ex: fantasma de Kiev), manipular o público ao branquear o que antes era uma certeza (ex: Nazismo), e isto depois de 8 anos quase em silêncio sobre o que se passava no Donbass (ainda ontem informei mais uma pessoa sobre o relatório da OSCE de que a ofensiva ucraniana contra civis no Donbass começou uma semana ANTES da Rússia intervir para salvar essas pessoas, e essa pessoa só acreditou quando mostrei a fonte da informação). A “imprensa livre” e os “jornalistas” ocidentais foram os assassinos e cangalheiros da verdade neste conflito. São mais culpados dos que os mentirosos autores da propaganda, pois a missão do jornalista é de investigar, ser neutro, dar contexto, contraditório, e informar sobre factos. Ou pensava eu que sim, quando era ingénuo…

    «A questão é que eles estão apenas junto de um dos lados e reportando apenas aquilo que esse lado deixa e só depois de as coisas acontecerem»
    GENERALIZAÇÃO – certíssima esta análise, mas comete o erro de generalizar. Há de facto muitos jornalistas, russos, não ocidentais, pelo menos uma francesa e um português, a relatar o assunto do lado de lá também. Aos russos, a ditadura da UE censurou-os, aos não-ocidentais quase ninguém aqui vai ver os seus canais, francesa foi apagada do ecrã, e o português tem sido perseguido e acusado de “putinismo”. Ou seja, ou poucos que são mesmo JORNALISTAS, são alvos dos ditadores do pensamento único.

    «por que razão nunca alguém levantou a hipótese de os civis estarem a ser retidos pelos próprios militares do Batalhão Azov, que os usou como escudo»
    OCIDENTALISMO/UMBIGUISMO – ao contrário do Miguel, eu vi/li rios de gente não só a colocar essa questão, como a mostrar provas disso mesmo, a mostrar como os Russos foram pacientes e abriram corredores humanitários quase diariamente. Até sei que a Cruz Vermelha estava lá para os ajudar e transportar. E que Zelensky criticou a Cruz Vermelha. Mas eu, ao contrário do Miguel, vejo o Mundo pelos olhos do Mundo, e não pelos canais de propaganda do Ocidente. Vejo a RT, vejo a Al-Jazeera, a CGTN, (ainda) a Euronews, a TeleSUR, até a TRT e i24News, vejo toda a gente. Excepto aqueles que já sei que não vão fazer outra coisa a não ser mentir-me e tentar manipular-me.
    Se eu sei o que me fizeram aquando da “operação tempestade no deserto” e das armas de destruição massiva imaginárias, porque é que agora havia de confiar neles?

    «Nada disso torna a invasão e a guerra que Putin levou à Ucrânia mais justificável ou menos condenável.»
    DISCORDO – tudo isto, e muito mais, justifica a intervenção. E não foi Putin que levou a guerra à Ucrânia, foi a Ucrânia que levou a guerra ao Donbass durante 8 anos, violou acordos de PAZ, treinou e armou NeoNazis, e prometeu (pela voz de Zelensky) levar a guerra também à Crimeia. O Miguel, e outros que continuam com este discurso de “Miss Mundo” queriam o quê? Ver gente morrer indefesa numa limpeza étnica feita com armas da NATO, só para poderem que “são a favor da paz e da não intervenção”?
    É aqui que eu tenho o único pequeníssimo ponto de entendimento com quem critica o PCP, com quem critica o Miguel, a Estátua e outros: a incoerência argumentativa, ou pelo menos, o saberem de tudo isto e no final não serem a favor da intervenção russa. Tudo o que dizemos e sabemos sobre este conflito grita “a intervenção russa foi JUSTIFICADÍSSIMA”. E é por os outros, os Atlantistas e NeoCon, chegarem à mesma conclusão que eu, que depois vos acusam de serem a favor da guerra (ou de Putin) de forma disfarçada. É uma acusação estúpida, mas é daqui que ela vem.
    Por isso mesmo a minha posição mudou (de condenar a invasão, para passar a vê-la com toda a justificação), pois é essa a conclusão coerente de quem sabe e compreende todo o contexto e todo o passado pré-24-Fevereiro-2024.
    E podemos mesmo assim, como faço, ser oposição política a Putin, e ser a favor da paz.

    Parece muita coisa a criticar, mas não é. Eu é que, quando começo a escrever, nunca mais paro. O resto do texto do Miguel é mais um texto bom, com muito boas posições e pontos de vista. Só temos uma conclusão diferente, como acabei de explicar no parágrafo anterior.
    E digo mais, se houver justiça no Mundo, um dia os “líderes” Ocidentais que nestes 10 anos ajudaram a fazer o golpe de 2014, patrocinaram aquele regime, e deram armas àqueles assassinos, deviam ser todos sentados no banco dos réus e julgados exemplarmente. António Costa incluído. Morreram mais de 13 mil pessoas no Donbass, e esta gente tudo fez para que morressem muitas mais, caso a Rússia não tivesse ido em auxílio desse povo.

    PS: e em nome dos Palestinianos, que viram mais uma das suas a ser assassinada, uma jornalista daquelas que fazemcorar de vergonha os “jornalistas” ocidentais (nos poucos casos em que ainda têm vergonha no focinho), desejo que um dia tenham uma Rússia, Irão, China, etc, ao seu lado para os ajudar contra os outros NeoNazis de Tel-Aviv e arredores… É que, por mais que sejamos a favor da paz, há coisas que só se resolvem com bombardeamentos em cima dos cornos de quem não merece o oxigénio que respira (ex: turcos que bombardeiam curdos, sauditas que bombardeiam iemenitas, israelitas que bombardeiam os vizinhos todos, e os fans da NATO/EUA em geral, e os próprios EUA em particular). Isso, para mim, ficou claríssimo nestes 2 meses de hipocrisia ocidental.

    É pena, mas é esta a natureza do ser humano: a completa falta de humanidade. Que o nuclear venha depressa, que é para o Mundo ser vacinado contra este vírus chamado Homo “Sapiens”… Pode ser que assim ainda haja espécies suficientes a evitar a extinção que vão sofrer nas Alterações Climáticas provocadas pelos amantes de carvão polaco, petróleo saudita, e gás de fracking americano!

    Ainda tinha a esperança, ingénua, que a nova geração poderia ser de uma estirpe diferente. Mas não. São os mais facilmente manipuláveis por influencers idiotas, e alguns até pediram logo em Fevereiro o início da 3ª Guerra Mundial (com cartazes a pedir a no-fly zone da NATO na Ucrânia). Podiam ser o nosso futuro, mas não passam de variantes Omicron do vírus Homo “Sapiens”…

    • Obrigado, Carlos Marques, pela lucidez e pragmatismo.
      Eu sou, por princípio, contra TODAS as guerras e inicialmente pensei que, desta vez, tinha sido despoletado um processo que permitiria “atacar” o problema global de forma definitiva.
      Surpreendentemente, a “comunidade internacional” optou por condenar apenas esta guerra e a veemência com que o fez revelou o estado deplorável em que se encontra.
      Esta atitude hipócrita acaba por, silenciosamente, legitimar todas as chacinas e destruição provocadas no mundo, desde há décadas (incluindo a Ucrânia), até ao dia de hoje em que continuam a morrer milhares de civis inocentes noutros cenários e ninguém se rala.
      A subserviência canina da UE face ao império mais agressivo e expansionista, chocou-me e embora pense que o Governo português pudesse ter revelado menos entusiasmo na sua demonstração de fidelidade sabuja aos ditames da UE/OTAN, não estava à espera de qualquer resistência dada a dependência dos fundos europeus, ainda mais agravada pela crise pandémica (coincidência?). E preparem-se que vem aí o Cóvides outra vez.
      Quanto ao texto do MST em concreto, apenas tenho a dizer que é melhor do que nada.
      O Miguel já nos habituou a esta ambiguidade que deriva apenas da sua narcísica soberba. É irónico como apenas temos direito ao consolo das “vozes dissonantes” no comentariado VIP mainstream quando estes se querem evidenciar acima da plebe, tal é o “unanimismo” que reina nos mérdia. Faz lembrar o Rogeiro (o da Fundação Luso Americana para o Desenvolvimento) que deixava escapar dados interessantes quando queria dar nas vistas.
      Ainda assim digo e repito:
      É melhor do que nada.

      Pela Ucrânia e pela Rússia. Abaixo o palhaço!

      • Convém não esquecer que isto é um artigo no Expresso, uma das instituições mais conservadoras da imprensa portuguesa com uma audiência também com características muito próprias, e talvez isso explique melhor as ambiguidades do MST, que mesmo assim deve ter deixado perplexos muitos dos seus fiéis leitores… portanto tendo em conta que é um artigo do MST publicado no Expresso, temos de reconhecer que é um bom texto, assim houvesse mais.

  5. Tanta edição no texto dá nisto.
    “…da UE, face ao império mais agressivo e expansionista DE SEMPRE, chocou-me …” leia-se

  6. O opressor/ditador mais forte e dominante actualmente no mundo, principalmente desde o início da II guerra Mundial) são os EUA. Sempre controlaram e dirigiram (a seu gosto) a economia mundial e,por arrasto, as sociedades. O problema na Ucrânia já tinha começado nos anos 90, tendo os EUA garantido, em 2014 que seguiria este caminho. A grande maioria dos países seguem, quais lacaios cegos, tudo o que os EUA fazem, dizem, acham, etc.. Por isso, toda a informação a que temos acesso é, óbviamente, “ajustada” para nos formatar a opinião. Por fim, a guerra é sempre na. Espero que Zelensky abra os olhos, que lhe passe o calor de ser a figura pública mundial n°1 e volte à realidade e negocie a paz com Vladimir Putin. Senão será ele responsabilizado pelo que acontecer, depois do povo mundial acordar (se acordar)!

  7. Todos os homens e mulheres que estão na fábrica Azovstal , que tenham tatuado no corpo símbolos nazis serão presos e enviados para a Sibéria. E também aqueles que tiveram telemóveis que comprovem terem contactos frequentos com ucranianos considerados nazis… Os russos não brincam em serviço. Nem deixam que os metadados escondam atividades nazis.
    É por isso que eles não se rendem. Não é por patriotismo.

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