Tanta verdade junta mereceu publicação – take IV

(Carlos Marques, 09/04/2022)

A execução dos soldados aparenta ter sido o resultado de uma emboscada ucraniana a uma coluna russa, realizada a 30 de março.

(Este texto resulta da resposta ao comentário a um artigo de que publicámos do próprio autor, ver aqui, e que está na imagem acima. Perante tanta verdade junta, resolvi dar-lhe o destaque que, penso, merece.

Estátua de Sal, 09/04/2022)


A melhor maneira de se ser intelectualmente desonesto é fazer o que você fez: citar partes sem contexto, manipular o sentido, e acusar o outro de dizer o que não disse com exageros e generalizações. Se o seu argumento é só o “reductio ad absurdum”, então já perdeu a discussão.

«todos os seus mais de 40 milhões de habitantes eram e são soldados, uns rasos, outros generalíssimos, mas todos sem sombra de dúvida nazis» – é algo que nunca disse, nem vou dizer. É uma promessa que posso fazer, porque sempre preferi e vou continuar a preferir debater com base em factos e em ideias complexas, evitando generalizações sempre que possível. Até lá, só posso continuar a ser o mais intelectualmente honesto que se pode ser em tempos de desinformação, e a apontar o dedo aos que fazem da mentira o seu oxigénio… Se isso o incomoda, diz muito de si.

Quanto aos alvos militares legítimos, são-no todos aqueles em que estejam combatentes e armas. Obviamente o ideal era não haver guerra nem destruição, e obviamente a morte numa guerra é uma tragédia. Esse é o meu primeiro ponto, e também o primeiro ponto da EstatuaDeSal e de tantos outros que resistem ao pensamento único de que você foi vítima. Se a Europa tivesse dado um coice aos EUA, e obrigasse a Ucrânia a cumprir acordos de paz de Minsk, e Zelensky tivesse percebido o dever de neutralidade do seu país em vez de andar a provocar (e a matar no Donbass), hoje não havia guerra na Ucrânia.
Em resposta você pode dizer que “Putin é tão mau que iria sempre invadir, mesmo sem ser ameaçado”, ao que eu respondo: estamos melhor assim? Esta situação de confrontação é melhor do que tentar a paz até à última possibilidade?

E mais, a Europa merecia ter líderes que tivessem evitado isto. Em vez disso, só tem compradores de armas aos americanos, e fornecedores de armas aos ucranianos (e israelitas, e sauditas, etc), que continuam o périplo por todos os semi-parlamentos (“semi” porque já não decidem nem metade do que deviam decidir em reais democracias soberanas) por essa Europa fora a repetir: “armas, armas, e mais armas”. Devem ser para fazer a paz, salvar vidas, e evitar mais destruição… Devem ser como as armas de que falei no meu texto. Se vêm da NATO, então são armas:

«que disparam mísseis feministas e balas LGBT, têm granadas que distribuem paz e drones que espalham democracia»

Se isto não é o expoente máximo da propaganda, da manipulação, da lavagem cerebral, e da mentira, em toda a história da humanidade, então não sei o que será. Ou então é algo ainda pior, é xenofobia, neo-colonialismo, e racismo. É eu ter de ver a CGTN (canal chinês) para num suplemento informativo sobre África ficar a saber que esta semana o exército do Mali (com ajuda da França e da Alemanha, entre outros) matou mais umas centenas. Mas no Ocidente isso não interessa nada, pois os rebeldes que querem independência, os Tuareg, como não brancos nem loiros como os Ucranianos… E a guerra apoiada por França e Alemanha é uma das “guerras boas” ou nem sequer passa nos OCS mainstream, pois a narrativa actual é a de que “são defensores da paz”.

E como gosto de fazer perguntas, deixo-lhe esta só para si: sabe a que aliança militar e união económica pertencem os países cujo mainstream político e mediático colabora com um regime de Apartheid, faz propaganda em nome de uma ocupação, rouba um povo inteiro do seu direito à autodeterminação e das suas próprias casas, e acusa de “terrorismo” os jovens que pegam em meras pedras ou cocktails molotov para atirar contra exército invasor?

Porque falo de Israel? – perguntará você. Não é para desviar de assunto. É para mostrar que a posição do tal Ocidente não é nem a favor da paz, nem da liberdade, nem da democracia. É apenas “business as usual” (oligarcas sediados no Dellaware a comprar muitos saquinhos azuis na “Bruxelândia” e a decidir a política externa da Europa) e carradas de hipocrisia. E eu, ao contrário de si, vou prestando a atenção que posso a todos os oprimidos do Mundo. Sem esperar que uns OCS me digam o que devo ver, ouvi, e pensar. Já estou acima disso. Tal como estive nos últimos 8 anos, a ver +13 mil ucranianos russófonos a morrer no Donbass, assassinados por Nazis do Batalhão Azov, colocado no poder graças a mais um golpe da CIA, e armado pela NATO. E você? Onde estava? É só mais um da manada que acha que só há uma guerra no Mundo neste momento, e que só começou a 24-Fevereiro-2022, e só devido a um mau humor do Putin?

Ou podia falar da Venezuela, e daquele período de alguns meses em que alguém em Washington decidiu que era tempo de mudar de regime em Caracas, e como tal, nesses meses nos nossos OCS mainstream ocidentais, não se falou noutra coisa. Trump, o mentiroso compulsivo, assim que dizia a palavra “Venezuela” ou “Maduro” ou “Guaidó”, de repente, era um homem honesto e exemplo da “democracia liberal”. Lembro-me em particular da ação de propaganda da “ajuda humanitária”, que que camiões de comida foram incendiados pelo ditador… ah, espera, isso foi o que os OCS por cá disseram (e nunca desmentiram). Na verdade, vi em directo na TeleSUR (e verdade seja dita, o New York Times fez uma correção 3 semanas mais tarde…) não era ajuda humanitária, mas sim camiões da USAid, uma organização dentro do exército dos EUA (algo que sabemos graças à Wikileaks de Assange). E a ajuda não era para colmatar os defeitos económicos do governo, mas sim uma só gota para fazer de conta que se ia compensar os defeitos económicos na realidade causados pelas sanções. E não foi incendiada pelo ditador, mas sim pelos cocktails molotov que os guarimberos pagos por Guaidó atiraram contra a GNB (Guarda Nacional Bolivariana) nessa ponte, tal como atiraram noutras partes do país, contra civis eleitores do PSUV, contra armazéns das CLAP (caixas de comida que o governo distribui aos mais carenciados), e nos autocarros públicos.

Mas o efeito na opinião pública Ocidental já estava conseguido com a mentira em directo e seguindo a cartilha enviada a partir da Casa Branca, logo para quê darem-se ao trabalho de desmentir?… Voltando à Ucrânia, podemos ver este modus operandi numa base diária! Não acha que é propaganda e mentira a mais? Ou melhor, não acha que já vai tendo obrigação de pelo menos questionar a palha que lhe querem dar a comer?

Da mesma forma, de cada vez que vejo algo no TASS, no SouthFront, na Sputnik, na RT em geral e no CrossTalk em particular, ou no Channel One Russia, estou já preparado o suficiente para perceber o que são factos, e o que é propaganda. Nunca me ouvirá chamar “operação especial” ao que é de facto uma invasão, nunca me ouvirá culpar o George Soros pelo que quer que seja, e muito menos a repetir as acusações que o lado Russo faz ao lado Ucraniano de forma tão mentirosa quanto o Ucraniano faz ao Russo. Prefiro fazer perguntas e esperar por factos, ou por explicações independentes minimamente convincentes.

Por exemplo, sei que a Rússia tem andado a bombardear estações de comboio em torno de Kramatorsk (nomeadamente em Slavyansk, Barvinkove, e Pokrovsk) e também noutros Oblasts, que o tem justificado com o “impedir o abastecimento das AFU (Armed Forces of Ukraine) no Donbass” com o material que alegadamente estaria nos vagões/comboios/estações bombardeados, e que tem publicado vários vídeos onde mostra a captura de material de guerra ucraniano, pelo que é provável que a desgraça que matou cerca de 50 pessoas na estação de Kramatorsk tenha sido de facto culpa do exército Russo. Mas sem confirmação independente, a versão da desculpa russa (de que o míssil era ucraniano e foi lançado ali para impedir as pessoas de fugir e assim terem escudos humanos e fazerem mais uma ação de falsa bandeira com fins propagandísticos) é também plausível. Mas lá está, só posso deduzir, não o posso afirmar com certeza, ao contrário do que fazem os propagandistas que têm sempre a certeza de tudo e nem precisam de saber o que aconteceu, basta-lhes ver os vídeos emotivos com edifícios destruídos e pessoas mortas e “já sabem” quem fez o quê…

E posso lembrar como na Segunda Guerra Mundial, por decisão dos EUA e acima de tudo do Reino Unido, se bombardeou de propósito alvos civis e refugiados em Dresden, transformando uma cidade inteira numa inferno de chamas e corpos queimados, sem qualquer intenção de acertar em alvos militares nazi, mas apenas com intenção de mostrar nos jornais a parte “boa” (o poderio aéreo dos Aliados nessa fase da guerra, e a vingança contra os alemães), e acima de tudo com a intenção de atrasar o avanço das tropas aliadas da União Soviética que ainda teriam de passar por Dresden (e teriam mais dificuldade se tivessem corpos e casas destruídas a bloquear as estradas). Sim, isto é um facto, isto é nojento, isto é um crime de guerra, um atentado contra a humanidade, e este acto abjecto foi cometido pelo lado que qualquer um de nós apoiaria se tivesse vivido aquela época. Já para não falar da história por trás da decisão de usar as bombas atómicas no Japão.

Enfim, a guerra é guerra. É o fim do humanismo, e assim que se dispara a primeira bala, já perdemos todos. Por isso, quem é mais condenável? Os que têm de fazer a guerra mesmo que pelo meio cometam crimes (os Aliados em 1945, ou a Rússia em 2022), ou aqueles que a começaram, mataram muitos mais nos anos anteriores, recusaram acordos de paz, têm nazis nas suas fileiras, e ameaçaram tanto os países vizinhos que tornaram inevitável a entrada desses outros países no conflito?

Ou seja, sim, o Putin é muito mau porque invadiu a Ucrânia, mas eu pergunto: qual era a alternativa? Deixar morrer mais 13 mil no Donbass sem nada fazer? Deixar a Crimeia ser invadida e arrastada para essa guerra? Deixar armar ainda mais os Batalhões como o Azov? Desenvolver ainda mais laboratórios biológicos? Deixar a Ucrânia entrar na NATO e ter armas nucleares na Ucrânia como Zelensky ameaçou? E depois, a Rússia defendia-se como?

Pois a minha posição é que nesta conjuntura a maior crítica que faço à Rússia é a mesma que faço aos EUA em relação à Segunda Grande Guerra: até deviam ter entrado na guerra mais cedo! Se num caso o resultado seria impedir a Alemanha de matar mais gente na Europa, no outro seria impedir a Ucrânia de matar mais gente no Donbass. Esta é que é a verdade inconveniente que dói que se farta! A narrativa oposta (a do Ocidente atlantista, a tua) é a de que a Rússia tem de ser travada porque é inaceitável que a sua invasão tenha morto +1500 civis, mas a Ucrânia não precisava de ser travada pois os 13 mil mortos em 8 anos no Donbass (e os outros tantos que morreriam nas ações que estavam a ser preparadas no ataque final a Donetsk e Lugansk, e ainda na Crimeia) são aceitáveis porque são em nome da NATO/EUA/UE. Desculpa que te diga, mas essa posição do Ocidente é uma posição nojenta.

PS: muito obrigado à EstátuaDeSal por mais uma publicação. E um obrigado ainda maior por publicar tanto texto bom, como os de Carlos Matos Gomes, Boaventura Sousa Santos, Major-General Carlos Branco, Michael Hudson, e Nauman Sidaq. São mentes que se atrevem a pensar e luzes que brilham numa era de escuridão imposta pela propaganda do “pensamento” único do Atlantismo/Europeísmo.

PS2: e parabéns ao povo da Crimeia, que após anos com a água cortada pela Ucrânia (que não os queria independentes, mas pelos vistos queria matá-los à cede e, segundo um documentário francês que a EstátuaDeSal publicou, impedia também a comida de lá chegar por via terrestre), graças ao exército russo que ocupou o Sul da Ucrânia voltou a ter o abastecimento reposto a partir do rio Dniepre. E esta, hein? Só me imagino numa situação semelhante, com a Espanha a cortar a água dos rios que lá nascem, e a dizer que só a podemos voltar a receber se deixarmos de ser independentes e, a dizer como faz com a Catalunha, que não reconhece a legitimidade das nossas eleições. Com o Aquecimento Global a tornar a Península Ibérica cada vez mais árida, e os fascistas (que no tempo de Franco quase nos invadiram) a crescer em Espanha, é um cenário mais plausível do que se imagina à primeira vista. Quem é que virá em auxílio de Portugal? A NATO/EUA/UE não vai ser de certeza. Até pelo péssimo exemplo que acabaram de dar em relação ao Sahara Ocidental e Marrocos. Mas lá está, como os Ucranianos são europeus brancos cristãos e louros de olhos azuis, “têm direito” a entrar num bloco militar que ameaça a segurança/vida dos vizinhos, mas os do Sahara Ocidental são demasiado escuros para terem sequer o direito a existir enquanto povo/país. Diz que são os “valores Europeus”…


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7 pensamentos sobre “Tanta verdade junta mereceu publicação – take IV

  1. Este blogue é uma agressão e um insulto aos portugueses, aos europeus e ao mundo livre. Não se percebe como não é anulado no ciberespaço, tanto mal faz aos que conservam a sua humanidade e são, felizmente, a maioria esmagadora dos seres pensantes e com coração no seu lugar.

    • Se se sente incomodado tem bom remédio. Não venha cá. Mas deixe os “errados da História” viverem em paz. Ou quer mandá-los para a câmara de gás? Pela sua conversa parece.

    • O “mundo livre” ainda agora matou mais umas centenas de Tuaregs no Mali, com os “bombardeamentos do bem”.
      Vai continuar a financiar a máquina de guerra Saudita para matar crianças no Iémen, a apoiar o Apartheid Israelita que mata Palestinianos todas as semanas, a comprar o carvão ao fascista Polaco (diz que é o ” green new deal”…), e a dar armas aos Nazi de Azov que gostam muito de glorificar Stepan Bandera. Já quando deram armas aos Talibã (na altura também eram guerreiros pela “liberdade”) correu tão bem… Portanto agora com Nazis vai correr ainda melhor!

      O tal “Mundo livre” vai continuar a dar muitos lucros à oligarquia ocidental do complexo militar industrial que assassinou milhões no médio oriente e, não satisfeito, continua a matar crianças afegãs, mas agora à fome devido às sanções ilegais (aka roubo) impostas unilateralmente em nome do “Mundo livre”. Isso é que é ter o “coração no seu lugar”…

      Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és: mais um Atlantista/Europeísta (aka OTANacho/€UROcorno) a defender o “pensamento” único e a pedir a censura de quem discorda. Era o mercado único, depois a moeda única, e agora o “pensamento” único. Gostam muito de coisas únicas… Já vi o 1984 de Orwell sem ficar tão assustado!!

      Um dia destes, os “humanistas” da Europa ainda se vão deparar com a situação de mandarem os seus filhos para a guerra no exército europeu comandado por Le Pen ou pela AfD em nome da defesa da UE (organização económica não democrática) e da moeda única (projecto monetário de imposição do fanatismo austeritário NeoLiberal), e a polícia social informal da cancel culture irá censurar quem apelar à paz, confundindo esse apelo com uma defesa do “inimigo”.
      Depois não digas que não foste avisado ou que não sabias o que se passava, como fizeram os cidadãos alemães após 1945…

      Há uns séculos atrás a Inquisição queimava na fogueira quem se atrevesse a dizer que a história do Universo começou antes da narrativa da Bíblia e que a Terra não era o centro do Mundo. Hoje tentam queimar na praça pública quem se atreva a dizer que a história desta invasão não começou em 2022 e que o Ocidente (ridiculamente 13% do Mundo, mas auto-denominado “comunidade internacional”) não é o centro do Mundo.
      Mudaram as modas e os ídolos (dos santos da igreja Católica para os “santos” da igreja da NATO), mas o fanatismo e a senha persecutória são os mesmos.

      Sobre o nazismo, o catolicismo inquisidor, e outras ideologias bárbaras, diz-se: “primeiro queimam só os livros, mas depois queimam as pessoas”.
      Acho que os tempos modernos requerem uma actualização: “primeiro queimam só os canais/blogs russos, mas depois queimam todos canais/blogs de cuja opinião não gostem”.
      A sociedade Ocidental abriu a porta ao NeoFascismo. O problema é que a partir de agora não sabemos quando nem como se fecha. E revoluções efetivamente livres e democráticas e pacíficas como a Portuguesa de 1974, são a excepção, não são a regra. A regra são décadas a fio a levar com a PIDE nos costados, guerras civis, e regimes maus a seguir a regimes péssimos

      Pelo menos foi bom enquanto durou… De 1974 (Revolução de Abril) até 1999 (Escudo -> Euro). Com expoente máximo de 1976 (Constituição de Estado soberano exemplar) até 1992 (Tratado de Mastricht e passagem oficial a Estado vassalo).
      Só foi pena nunca se ter corrigido/revertido a adesão à NATO feita em 1949 pela outra senhora que gostava muito de ir a África explicar o que era o “Mundo livre” com a distribuição de balas e bombas… Mas de resto, gostei de saber, por um breve momento, o que era viver em Democracia e ter Liberdade de Expressão sem ter medo de sofrer represálias.

      Espero só que a próxima geração, se sobreviver à catástrofe que lhe estamos a deixar no Globo em geral e no Ocidente em particular, também um dia saiba o que é viver em Liberdade e consiga reconstruir um estado de bem-estar social, em vez de ter os denunciantes (ex: Assange, Snowden) presos e pagar para ver destruir a sociedade numa teia de offshores e individualismo.
      Isto que descrevi no final, e é aquilo em que se transformou o regime em que vivemos, isso sim é um insulto para os Europeus e os Portugueses, mesmo para aqueles, como tu, já demasiado vítimas da propaganda e como tal incapazes de perceber o insulto.

  2. Senhor Carlos Marques, posso ser simultaneamente contra as atrocidades da NATO por esse mundo fora, contra os tiques imperialistas dos EUA, contra a indústria do armamento, contra as guerras nos países dos loiros e dos morenos, dos brancos e dos negros, contra as mortes no Donbass e na Crimeia, contra os nazis e os Azov, e, até, entender que foram cometidos muitos erros pelo “ocidente” (no sentido lato) e pela Ucrânia no pré guerra, chamemos-lhe assim, e condenar o outro lado, que neste caso é o russo e é Putin. O que parece separar-nos claramente é eu entender que todos esses erros não justificam nem legitimam a invasão ordenada pelo Putin à Ucrânia, e o senhor parecer procurar tudo o que possa transmitir a sensação de legitimidade para esta guerra, incluindo factos históricos que nada têm a ver com ela. Que tudo isto acabe depressa, é o que desejo.

    • Percebo o que tentou dizer e concordo com alguns pontos. Mas repare na contradição de começar a dizer que é contra a guerra e que condena os crimes da NATO e imperialismo dos EUA, e depois acabar a dizer que a Rússia não tinha o direito sequer de se defender disso, e que devia ficar quieta a ver os russófonos do leste da Ucrânia a serem assassinados, os da Crimeia invadidos, e armas nucleares colocadas numa proximidade tal que impediria o atual equilíbrio de destruição mútua assegurada (que é a razão pela qual elas não são usadas).

      Ou seja, está a dizer que a Rússia devia assistir quieta enquanto os EUA preparavam o terreno à sua volta para transformar esse país de 140 milhões de habitantes na próxima Jugoslávia, Iraque, ou Afeganistão. Travar a ameaça mortal da NATO/EUA não é justificação? Experimente sair da bolha mediática dos 13% Ocidentais, e ir explicar o seu ponto de vista a todos os milhões de vítimas desse bloco militar, que só têm pena de não ter tido a capacidade da Rússia para se defender preventivamente.

      No início da invasão comecei por ter a sua opinião, mas entretanto, após muita leitura sobre o assunto e todo o contexto histórico, que está ligadíssimo a este conflito mesmo nos exemplos que dei de outras décadas e de outros países, percebi a contradição. Como não gosto de contradições, mudei de opinião.

      Quanto à condenação de um líder em particular, eu condeno quem provocou a guerra e recusou acordos de paz: Zelensly, e Biden.
      Basta ler o já famoso relatório Brandt para perceber que todos os passos do plano estão a ser seguidos por estas lideranças e pelos seus antecessores desde 2014. E tudo em nome da oligarquia ocidental, morra quem morrer pelo caminho.

      Putin só após 7 anos à espera que os acordos de paz de Minsk fossem cumpridos, é que agiu..
      Mas o lado que violou os acordos de paz, agora está arrependido por ter guerra? Anedótica, a posição da Ucrânia.
      Se a Ucrânia tivesse um Presidente decente, não teria usado o seu povo como carne para canhão na proxy war do seu corruptor. Em vez disso tem um lunático, que praticamente prendeu todos os homens civis dos 18 aos 60 anos. Eu acho isso indigno!
      E se os EUA fossem liderados por Bernie Sanders, talvez só assim este plano do instituto Randt não fosse cumprido. Mas provavelmente acabaria da mesma maneira que o pacifista J.F.Kennedy… Está a ver, é preciso conhecer a natureza do animal/regime. Nos EUA um governante pacifista ou perde os apoios financeiros (CORRUPÇÃO) da Lockeed Martin e companhia, ou corre perigo de vida. Repare que nos OCS (ex: CNN) dos “Democratas” o fanatismo NeoCon chegou a tal ponto, que elogiaram Trump quando detonou as MOAB no médio oriente e assassinou um general Iraniano, mas foi criticado por preparar o fim da invasão do Afeganistão. É um país/regime de bestas sanguinárias!

      Acho que o Presidente da Rússia até podia ter intervido logo em 2014 aquando do golpe de estado contra um Presidente eleito, em que a extrema-direita armada pela CIA/Victoria Nulland andou a matar para exaltarnos ânimos, e mesmo sendo minoria no Parlamento, teve poder para influenciar todas as decisões daí para a frente, desde a ilegalização do Partido das Regiões (que fazia o difícil equilíbrio entre Este e Oeste) até ao recente voto na ONU em que a Ucrânia de Zelensky votou a favor da glorificação do Nazismo, e outras coisas indignas como atar opositores e ciganos em postes e regá-los com água em pleno inverno, sem que a polícia tivesse ordem para proibir os ultra-nacionalistas de cometer tais crimes. E proibir milhões de ucranianos russófonos de falarem a própria língua. Uma barbaridade comparável à cometida pelo ditador fascista Franco em Espanha.
      É este o regime que vai aderir à UE cumprindo o requisito de “respeito pelas minorias”?

      E não me digam que Stepan Bandera é um herói só porque lutou contra os Soviéticos. Um assassino que vestiu as cores nazi, não pode ser herói de um povo/país decente e bem intencionado, defensor da liberdade e da democracia.
      O mesmo Zelensky (e seus eleitores) que diz ser Judeu e chama “genocida” a Putin (que se for bem sucedido colocará fim a uma guerra de 8 anos que a Ucrânia queria continuar), acha normal celebrar e glorificar um nazi que participou no holocausto dos Judeus? Stepan Bandera é o “herói” escolhido? Não tinham mais ninguém? E a “imprensa livre” ocidental ainda tem a lata de tentar branquear isto?

      Recomendo a entrevista de Putin feita pelo grande realizador Oliver Stone, disponível na RTP Play, em que ele lembra a forma exemplar como os líderes dos EUA e da URSS acabaram por resolver pacificamente a crise dos mísseis de Cuba (ainda assim os EUA invadiram Cuba), e como ele lamenta como hoje (entrevista feita em várias partes entre 2015 e 2017) já não é possível à Rússia falar com um interlocutor minimamente decente ou confiável do outro lado. À URSS bastou colocar mísseis em Cuba para obrigar os EUA a retirar os mísseis que tinha colocado em segredo na Turquia. Hoje, os EUA queriam armas nucleares da NATO na Ucrânia operados por nazis e em violação do acordo de paz de Minsk, e após estes anos todos de ameaças é agora óbvio (graças ao relatório Randt) que o objetivo dos EUA sempre foi este: a guerra o mais prolongada possível, e as sanções. E que a Rússia, liderada por Putin ou outro qualquer, acabaria sempre nesta situação, entre a espada da NATO e a parede das sanções em caso de resposta militar contra a ameaça.

      E aqui pode perguntar: se era o objetivo dos EUA, porque é que Putin caíu na armadilha? A resposta é: não tinham alternativa que lhes garantisse a vida a médio/longo prazo.
      A Rússia (o povo russo, pois isto está totalmente para além de Putin) morreria na guerra que os EUA estavam a preparar, com a Rússia cercada militarmente por todos os lados, e com armas nucleares à porta, sem tempo de resposta para sequer disparar as suas.
      Confiar na palavra de quem inventou armas de destruição massivasó para fazer uma vontade ao Complexo Militar Industrial e destruir o Iraque, não é nem nunca foi uma opção válida para a Rússia.
      E eu acho revoltante que se diga que a Rússia tinha de continuar a aceitar tal perigo de vida.

      É por ter esta opinião que, apesar de condenar Putin no início da invasão, já deixei de o fazer, e sou aliás totalmente contra o envio de armas para a Ucrânia, e contra as sanções. Aliás, nestes pontos sou eu acompanhado de 87% do Mundo, a verdadeira Comunidade Internacional, ou seja os que estão fora do Ocidente.

      Por falar nisto, as votações da ONU têm muito que se lhe diga, quando votos da “meia dúzia” de habitantes das Ilhas Marshal, Andorra, San Marino, Liechtenstein, etc, valem cada um o mesmo que a China ou a Índia inteiras.
      Quando na ONU valer 1 voto por cada 10 milhões de habitantes, ou se avaliar as votações em % de população e sem direito de veto de países individuais, talvez o cadáver do “direito internacional” ressuscite…
      Até lá, não é justo que uns tenham de cumprir a lei, enquanto outros (EUA) quase fazem a lei sozinhos, e são os primeiros a violá-la sem quaisquer consequências.
      Por isso é que o Mundo recusa acompanhar as sanções dos ISOLADOS 13% do Ocidente (EUA, NATO, e aliados próximos).
      A Comunidade Internacional até condena a guerra, mas percebe as justificações da Rússia, e acima de tudo conhece a lista de cadáveres de quem ameaçou a Rússia.

      A invasão dura há +1 mês, mas a guerra dura há 8 ANOS, e a expansão ameaçadora da NATO dura há +30.
      E para haver guerra, seja fria ou quente, é como no tango, são sempre precisos dois.
      A resolução do conflito entre Arménia e Azerbaijão (com forças de paz neutrais totalmente a cargo da Rússia) mostra isto mesmo: o Azerbaijão, com armas da NATO, invadiu a Arménia, mas felizmente a Arménia teve uma liderança decente que, ao ver que estava a perder a guerra, assinou acordo de paz e abdicou da região de Nagorno-Kharabak, em vez de andar a matar o próprio povo até ao último naco de carne para canhão e a pedir armas em video-chamadas aos Parlamentos de outros países.
      Eu até condenei o Azerbaijão, mas foi a decisão certa por parte da liderança Arménia. O povo Arménio ainda protestou mas lá se resignou.
      Mas na Ucrânja, quando Zelensky assinar o que terá de assinar, duvido que os nazionalistas se fiquem pelos protestos…

      A maioria dos que a condenam esta invasão, não só não condenam, como nem sequer toleram que se fale dos +14 mil mortos da guerra de 8 anos no Donbass, onde nazionalistas ucranianos tentaram de facto um limpeza étnica, apoiados com armas da NATO.
      Essas pessoas exigem quem eu condene o resultado final, não toleram que se fale das causas, e tentam cancelar quem sair desta narrariva.
      Até aos militares, alguns heróis de Abril, por simplesmente tentarem falar do contexto e do ponto de vista militar ou factual, foram atacados de uma forma vil, quase cruxificados. Bastou que as suas intervenções públicas se afastassem um milímetro da cartilha da NATO, e um deles que muito estimo, até teve de desistir da sua conta no twitter.
      Isto é que é liberdade de expressão. É em nome de um regime assim que querem lutar?

      Dito isto, eu não te confundo com essas pessoas. Tu condenas e continuas a condenar Putin, e eu já o condenei e já deixei de o condenar. Mesmo com esta diferença (que eu respeito), por tudo aquilo que escreveste no início do teu comentário, considero que estamos do mesmo lado, o lado certo da história, que é o lado de quem começa por condenar quem provoca as guerras.
      Os apoiantes da NATO estão do lado oposto, e alguns são tão fanáticos, belicistas e lunáticos, que até andaram em manifestações por essa Europa fora a pedir a zona de exclusão aérea, ou seja, o início da Terceira guerra mundial (e provavelmente a ÚLTIMA como disse Einstein ao falar da quarta guerra Mundial feita com paus e pedras após o holocausto nuclear). Tão pacifistas que eles são… Era nesta gentalha que tu querias que os Russos confiassem a sua segurança, o seu destino, as suas vidas?

      NATO prometeu que não se ia mover um centímetro para lá da Alemanha, mas acabou por chegar à fronteira Russa nos Bálticos, e queria também a da Ucrânia e da Geórgia. Os que condenam a Rússia por agir de forma agressiva perante esta ameaça existencial, já pararam para fazer o exercício contrário? Ou seja, a Rússia e a China, ao longo de 30 anos, a converterem e armarem até aos dentes, um por um, os países em torno da Alemanha e dos EUA? Ou a fazerem no Canadá uma “revolução da dignidade” com um governo pró-Rússia/China que passe a vida a fazer exerxícios com exércitos da Rússia+China na fronteira?
      Se os EUA arrasaram o Iraque só porque lhes apeteceu, imagine-se o que fariam perante uma ameaça verdadeira na sua fronteira.
      Ou como reagiriam os vassalos na Europa que participaram nessa pouca vergonha.

      Quanto a condenar politicamente Putin, aí sim contas comigo. Putin, um NeoLiberal na economia, NeoConservador nos costumes, e orgulhoso líder de um regime autoritário, está nos antípodas daquilo que eu defendo.
      Mas também o mesmo posso dizer de Duda e Erdogan, ou sobre qualquer que seja o POTUS (a exceção seria Bernie Sanders). Não são gente boa, não lideram regimes democráticos, são muito mais belicistas que Putin, e a Liberdade é coisa que os incomoda, a não ser em relação à “liberdade” dos respetivos oligarcas para espezinhar os respetivos zés povinhos.

      E acho ridículo, até xenófobo, quando gente NÃO-eleita em Bruxelas fala nos “valores europeus” enquanto vende armas e compra petróleo a Sauditas, contribuindo para alimentar a guerra no Iémen (a cujos refugiados depois fecha as fronteiras com arame farpado). É uma das mais brutais ditaduras do Mundo, que no mês passado assassinou 81 opositores, e a quem a Europa aplica ZERO sanções e de quem os EUA são aliados próximos.
      Se tivéssemos “imprensa livre” isto era falado pelos jornalistas diariamente, e confrontavam os líderes europeus, em vez de andarem só na propaganda de regime anti-russa onde até já chamaram “líder da oposição pró democracia” a um criminoso militante de um pequeno partido e demagogo de extrema-direita chamado Navalny, que nem a Amnistia Internacional considera preso político.

      Outro exemplo, se amanhã um país poderoso invadir Israel até que esta aceite parar a invasão, guerra e Apartheid contra o povo Palestiniano, e fique desmilitarizada, eu apoiarei essa invasão mais que justificada!
      O ideal seria Israel optar pela decência de forma pacífica, e parar de matar Palestinianos sem ser preciso alguém matar Israelitas. Mas se Israel o recusa, então é a primeira culpada e depois não se pode queixar do que lhe fizerem.
      Esta posição é má? Olha, sempre é melhor do que ser cúmplice de um Apartheid, chamar “terroristas” ou “escudos humanos do Hamas” às crianças bombardeadas, e dizer, como a UE em uníssono disse há meses atrás, que “Israel pode invadir e bombardear, pois é legítima defesa”… E esta alarvidade é repetida pelo Ocidente (ZELENSKY INCLUÍDO) há anos e anos, e com milhares e milhares de Palestinianos assassinados. São estas as pessoas com moral para condenar a Rússia? Ou em quem a Rússia devia confiar a sua segurança sem nada fazer para se proteger?
      Num mês de invasão a Russofobia é usada para atacar a arte e o desporto russos, mas Israel continua nas provas da UEFA e na Eurovisão.
      Esta hipocrisia do Ocidente dá-me nojo!!!

      Tu dirias que este é mais um dos assuntos que nada têm a ver com o que se passa na Ucrânia. Mas eu afirmo que tudo isto faz prova da “qualidade”, “credibilidade”, intenção e modus operandi das pessoas/instituições envolvidas.

      A Ucrânia é que foi invadida? Sim, e isso é uma tragédia. Mas antes disso há tanta história para trás, e eu recuso condenar quem (Rússia) deu um tiro ao mais recente cúmplice (Ucrânia) do assaltante (NATO) em vez de ficar quieto à espera de ser mais uma na longa lista de vítimas desse assaltante, com medo da opinião “pacifista” dos (UE) que pagam as armas do assaltante e nunca ajudaram nenhuma das vítimas, pelo contrário, disseram sempre: “toma lá que é para aprenderes a não te meteres no caminho do meu assaltante preferido, e se no final ainda esriveres viva, ainda ajudamos a aplicar o castigo económico para ver se a pobreza e a fome te fazem mudar de ideias”.

      E portanto, eu pergunto: o que é que está a impedir os Europeus, que me exigem que condene a Rússia, de irem para a rua com bandeiras de TODOS os países invadidos, e exigirem sanções e exclusão militar contra os EUA, chorarem esses milhões de vítimas como humanos iguais a eles, e fazerem reportagens diárias sobre as desgraças no Médio Oriente, como as 5 milhões de crianças Afegãs neste momento a passar fome, enquanto o dinheiro do seu país está confiscado/roubado pelo assaltante que é a economia mais rica do Mundo?
      Eu tenho de condenar e tem de ser nos vossos termos, mas vocês têm o direito divino a provocar a tragédia, serem amigos e financiadores da pior máquina de guerra, e assobiar para o lado?
      A minha paciência para essa hipocrisia está mais que esgotada.

      Mas acabo com uma proposta que estou disposto a cumprir, duvido é que os OTANachos aceitem: vou condenar Putin por causa da invasão, no dia em que a “imprensa livre” e a UE condenarem Zelensky por violar acordos de paz de Minsk e por mandar os nazionalistas de Azov matar ainda mais no leste do país, e condenarem também a NATO/EUA/Biden pelo principal papel que teve na provocação (que está mais do que documentada) deste conflito.
      Vou esperar sentado…

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