Tanta verdade junta mereceu publicação – take III

(Carlos Marques, 07/04/2022)


(Este texto resulta da resposta ao comentário a um artigo de que publicámos do próprio autor ver aqui, e que está na imagem acima. Perante tanta verdade junta, resolvi dar-lhe o destaque que, penso, merece.

Estátua de Sal, 07/04/2022)


De um lado a Rússia que quer investigação ao que se passou em Bucha. Que só se chegou a Kiev para obrigar o outro lado a negociar, e que abriu corredores humanitários sempre e assim que possível. Que tem um arsenal destrutivo (ex: termobárico) que não usou, e que optou por uma guerra mais lenta e cara, em vez de fazer à Ucrânia o que os EUA/NATO fizeram no Médio Oriente: destruição total e milhões de mortos.

Do outro um governo que violou acordos de paz de Minsk, fez guerra no Donbass durante 8 anos, e se preparava para matar ainda mais do que os mais que 13 mil que já tinham morrido. Que ameaçou tomar a Crimeia pela força e que ameaçou a Rússia com futuras armas nucleares 5 dias antes da invasão. E que glorifica, integra e condecora nazis, algo documentado por tanta imprensa desde 2014, e até pelo FBI.

Na ONU um membro da NATO a bloquear a investigação, com medo que desmascarem a desculpa para mais sanções, e outro que tenta esconder a verdade sobre os quase trinta laboratórios de armas biológicas nos quais o filho do Presidente está envolvido num escândalo de corrupção.

Na imprensa ocidental um pensamento único construído num alicerce de areia qué é a propaganda N vezes falsa dos políticos de Kiev. Na ilha foram 13 mortos que afinal estavam vivos. Na maternidade era um escândalo, mas afinal já tinha sido evacuada. No teatro com “crianças” eram 1300 pessoas sob os escombros, mas afinal foram zero. Etc.

Cada um escolhe as suas fontes. Eu tenho o hábito de deixar de ver/ouvir aqueles que mentem sistematicamente: a “imprensa livre” que viu armas de destruição massiva no Iraque e justificou a invasão do Afeganistão (aliás, até chorou contra o seu fim em 2021). Ou um Polígrafo que precisa de ser poligrafado, tendo já dito coisas tão alarves e manipuladoras como chamar “crise da dívida do Sócrates” ao que se passou na Zona Euro em vários países. Seria como chamar “crise militar de Churchill” ao que se passou na Segunda Guerra Mundial. E isto dito por mim, que nem admiro Churchill nem tolero Sócrates!

Cada um escolhe como olhar para os crimes de guerra: eu espero por fontes credíveis e investigação independente; outros mais adeptos da NATO preferem acreditar na primeira coisa que lhes é dita por quem mantém o denunciante Assange preso… E por quem aplicou sanções contra os juízes do Tribunal Penal Internacional que se atreveram a investigar o que os EUA fizeram no Afeganistão. Essas é que são as fontes credíveis e o lado bom que merece apoio incondicional. Esses é que disparam mísseis feministas e balas LGBT, têm granadas que distribuem paz e drones que espalham democracia…

E não nos esqueçamos da “operação humanitária” na Jugoslávia, justificada por um alegado genocídio de dezenas de milhares, que afinal não tinha nem de perto essa dimensão, e até era prática dos dois lados do conflito. Saber isto, e lembrar isto tudo, e perceber como tudo se relaciona, e como cada lado tem o hábito de agir e mentir, não é ser putinista, nem é relativizar, e muito menos ser seletivo, mas é sim ser anti propaganda.

Se a Ucrânia e a NATO não queriam mais guerra, então tivessem cumprido os acordos de paz de Minsk (que implicava indiretamente a não expansão da NATO), e não enviassem armas para matar +13 mil ucranianos russófonos durante 8 anos. Este é o cerne da questão. Mas haver quem diga isto é algo que incomoda que se farta todos os fanáticos da NATO e todas as vítimas da sua máquina de propaganda, que até já faz inveja ao Kim Jong-un…

Em particular ao comentador “sabão russo” peço que aprenda a ler. No meu comentário eu não faço negação, até porque os mortos estão mortos e alguém os matou. Mas em vez de comer o que é dito por quem só tem mentido e manipulado e faz acusações sem provas nem verificação, eu faço perguntas. Mas até isso (fazer perguntas) passou a ser mal visto pelos PIDES do século XXI…

Volto a perguntar: porque é que um autarca de Bucha e uma deputada dessa zona fizeram vídeos após a saída russa a dizer que tudo tinha voltado à normalidade, e a Polícia Nacional fez um vídeo a mostrar a limpeza das estradas (com zero cadáveres), mas só uns dias depois é que aparecem corpos numa das ruas? Quem são essas vítimas? São civis, milícias, militares ucranianos, militares russos com roupas civis? Quando morreram? Durante ocupação, durante bombardeamento final dos Ucranianos, ou após regresso das tropas ucranianas? Quem as matou? Onde foram mortas? Porquê nessa rua e não noutras? E qual o número verdadeiro? Como se podem fazer acusações e ter certezas antes de ter estas respostas?
Será como no caso Skripal, em que ainda a equipa do CSI britânico não tinha chegado ao local, e já o Ministério dos Negócios Estrangeiros sabia o que tinha acontecido e de quem era a culpa?

Antes de uma investigação credível por uma parte neutra, tanto é válida a versão russa, quanto é válida a versão ucraniana, como são válidas todas as opiniões intermédias.
Eu, para já, tendo em conta o que li de AMBOS os lados, inclino-me para esta: há mortos mas são muito menos que o anunciado (algo típico na propaganda ucraniana desde o primeiro dia), uns são milícias (“civis” armados) mortas legitimamente por russos durante invasão, outros são efeitos colaterais normais em qualquer guerra vítimas de bombardeamentos ou fogo cruzado de ambos os lados, e outros são operação de “limpeza” de nacionalistas ucranianos contra os civis que colaboraram (de braçadeira branca) com os russos e cujos corpos foram colocados numa estrada para maior efeito televisivo no dia em que essa zona foi aberta aos mídia.

Ou seja, há mortes a lamentar, há culpados de ambos lados (como em qualquer guerra), há propaganda de ambos os lados, mas não há nada que se possa chamar de genocídio, e o grosso da mentira vem da propaganda ucraniana.

É como na maternidade de Mariupol. Também tinha sido um “crime de guerra” e um “genocídio”, e de facto houve vítimas, mas vai-se a ver e afinal a maternidade tinha sido evacuada, as vítimas contam-se pelos dedos de uma mão, era um alvo legítimo pois servia de base para o batalhão Azov, e uma grávida azarada pós-evacuação serviu para a ampliação de toda a propaganda de Kiev, ampliada exponencialmente pela “imprensa livre” dos países da NATO. Atenção, não me interprete mal, uma única morte já seria uma tragédia, mas esta análise fria também é necessária!

E no teatro de Donetsk/Mariupol a mesma coisa (eram 1300 crianças bombardeadas, mas afinal não). E no centro comercial a mesma coisa (era um bombardeamento indiscriminado, mas afinal estava lá artilharia pesada da Ucrânia). E na sinagoga a mesma coisa (tinha sido destruída, mas afinal ainda está inteira). E nos bloqueios aos corredores humanitários a mesma coisa (era a Rússia que não os abria como deve ser, mas afinal foram os atiradores Azov a impedir os seus escudos humanos de fugir). E na ilha dos 13 “mortos” a mesma coisa (Zelensky condecorou os mortos, mas afinal estão vivos). Etc.
São vezes a mais sempre em moldes semelhantes. Por isso o que eu acho mais inacreditável e inadmissível nesta altura do campeonato, é que ainda exista tanto desinformado a chamar “putinista” a quem passou a estar vacinado contra tanta manipulação, mentira e propaganda de Kiev e da NATO.

Mas desconfiar da propaganda de um lado não significa comer a propaganda do outro lado. No entanto chamar “putinista” a quem desconfia da propaganda de Kiev é um sinal claro e inequívoco da propaganda da NATO. É uma tentativa de impor o pensamento único, uma forma de censura (a cancel culture), e uma criação autoritária de barricadas anti-plurais: “ou comes tudo o que eu digo, ou estás contra mim”. É INDECENTE!

Felizmente, como bem disse a EstátuaDeSal sobre o vídeo do Pedro Mourinho, a verdade vem sempre ao de cima. Ora, é exatamente isso que também espero em relação às alegações sobre Bucha, doa a quem doer. Se tiver de fazer mea culpa, farei. Aliás, tal como fiz quando a Rússia iniciou a invasão, que eu, mesmo sabendo e compreendendo o contexto que nos trouxe aqui, com largas culpas de Kiev e da NATO/EUA, sempre quis acreditar até ao último momento que não ia acontecer e que era só “histeria” de alguns governos e comentadores pró-NATO. Eu estava errado, eles estavam certos. Ser intelectualmente honesto, é isto. É reconhecer o erro e admitir a razão do lado oposto.

Infelizmente a “imprensa livre” tem-se dedicado a ignorar olimpicamente os factos que contradizem a sua narrativa, e a deixar de falar sobre ela sempre que esta começa a ser desmascarada. Ou passa logo para a mentira seguinte, ou continua a mostrar imagens da destruição, sem contexto (como a existência de um alvo militar legítimo por baixo dos escombros aparentemente civis), só para continuar a manipular os corações dos mais influenciáveis (e menos informados), como já vi fazerem com as imagens do tal shopping bombardeado.

Ou seja, é o oposto da honestidade intelectual, salvo as raras ocasiões em que deram voz aos militares portugueses que explicaram a situação preto no branco. Uma imprensa assim não é confiável, e eu já há muito que esgotei a paciência para os aturar e de esperar pelos raros momentos de real pluralismo e honestidade intelectual.


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13 pensamentos sobre “Tanta verdade junta mereceu publicação – take III

  1. Os leitores da Estátua já estão a orgasmar com tanta verdade junta. Não importa que haja “propaganda de ambos os lados”, porque só dum deles é “que mentem sistematicamente”. A verdade é Carlos Marques e Carlos Marques é a verdade. Ele que “estava errado”, mas que está sempre certo, assim como estão sempre certos os mísseis russos que encontram sempre “um alvo militar legítimo por baixo dos escombros aparentemente civis”, comprovando sem sombra de dúvida que todo o território da Ucrânia, hoje um enorme escombro de norte a sul e de este a oeste, não passava na verdade de uma enorme base militar avançada da NATO, e que todos os seus mais de 40 milhões de habitantes eram e são soldados, uns rasos, outros generalíssimos, mas todos sem sombra de dúvida nazis. Amén. E haja pachorra!

    • Eu sou sempre pelos mais fracos. E nesta guerra, do ponto de vista comunicacional, de imprensa, a Rússia é o lado mais fraco. Nem os seus reduzidos canais podem ser vistos no Ocidente dito “livre”, sem artefactos. Se tem razão porque temem ser contrariados? Se não gosta deste blog, esqueça-o. Leia o Expresso, o Público, o DN, veja a SICN, a CNN Portugal e fica de barriga cheia: dizem todos o mesmo.

    • Se não gostas pq não “emigra””quando tens tantos canais e Jornaleiros ,que te dão a “refeição” confeccioada ,Pavloviana servida …..boa viagem……

    • A melhor maneira de se ser intelectualmente desonesto é fazer o que você fez: citar partes sem contexto, manipular o sentido, e acusar o outro de dizer o que não disse com exageros e generalizações. Se o seu argumento é só o “reductio ad absurdum”, então já perdeu a discussão.

      «todos os seus mais de 40 milhões de habitantes eram e são soldados, uns rasos, outros generalíssimos, mas todos sem sombra de dúvida nazis» – é algo que nunca disse, nem vou dizer. É uma promessa que posso fazer, porque sempre preferi e vou continuar a preferir debater com base em factos e em ideias complexas, evitando generalizações sempre que possível. Até lá, só posso continuar a ser o mais intelectualmente honesto que se pode ser em tempos de desinformação, e a apontar o dedo aos que fazem da mentira o seu oxigénio… Se isso o incomoda, diz muito de si.

      Quanto aos alvos militares legítimos, são-no todos aqueles em que estejam combatentes e armas. Obviamente o ideal era não haver guerra nem destruição, e obviamente a morte numa guerra é uma tragédia. Esse é o meu primeiro ponto, e também o primeiro ponto da EstatuaDeSal e de tantos outros que resistem ao pensamento único de que você foi vítima. Se a Europa tivesse dado um coice aos EUA, e obrigasse a Ucrânia a cumprir acordos de paz de Minsk, e Zelensky tivesse percebido o dever de neutralidade do seu país em vez de andar a provocar (e a matar no Donbass), hoje não havia guerra na Ucrânia.
      Em resposta você pode dizer que “Putin é tão mau que iria sempre invadir, mesmo sem ser ameaçado”, ao que eu respondo: estamos melhor assim? Esta situação de confrontação é melhor do que tentar a paz até à última possibilidade?

      E mais, a Europa merecia ter líderes que tivessem evitado isto. Em vez disso, só tem compradores de armas aos americanos, e fornecedores de armas aos ucranianos (e israelitas, e sauditas, etc), que continuam o périplo por todos os semi-parlamentos (“semi” porque já não decidem nem metade do que deviam decidir em reais democracias soberanas) por essa Europa fora a repetir: “armas, armas, e mais armas”. Devem ser para fazer a paz, salvar vidas, e evitar mais destruição… Devem ser como as armas de que falei no meu texto. Se vêm da NATO, então são armas:

      «que disparam mísseis feministas e balas LGBT, têm granadas que distribuem paz e drones que espalham democracia»

      Se isto não é o expoente máximo da propaganda, da manipulação, da lavagem cerebral, e da mentira, em toda a história da humanidade, então não sei o que será. Ou então é algo ainda pior, é xenofobia, neo-colonialismo, e racismo. É eu ter de ver a CGTN (canal chinês) para num suplemento informativo sobre África ficar a saber que esta semana o exército do Mali (com ajuda da França e da Alemanha, entre outros) matou mais umas centenas. Mas no Ocidente isso não interessa nada, pois os rebeldes que querem independência, os Tuareg, como não brancos nem loiros como os Ucranianos… E a guerra apoiada por França e Alemanha é uma das “guerras boas” ou nem sequer passa nos OCS mainstream, pois a narrativa actual é a de que “são defensores da paz”.

      E como gosto de fazer perguntas, deixo-lhe esta só para si: sabe a que aliança militar e união económica pertencem os países cujo mainstream político e mediático colabora com um regime de Apartheid, faz propaganda em nome de uma ocupação, rouba um povo inteiro do seu direito à autodeterminação e das suas próprias casas, e acusa de “terrorismo” os jovens que pegam em meras pedras ou cocktails molotov para atirar contra exército invasor?

      Porque falo de Israel? – perguntará você. Não é para desviar de assunto. É para mostrar que a posição do tal Ocidente não é nem a favor da paz, nem da liberdade, nem da democracia. É apenas “business as usual” (oligarcas sediados no Dellaware a comprar muitos saquinhos azuis na “Bruxelândia” e a decidir a política externa da Europa) e carradas de hipocrisia. E eu, ao contrário de si, vou prestando a atenção que posso a todos os oprimidos do Mundo. Sem esperar que uns OCS me digam o que devo ver, ouvi, e pensar. Já estou acima disso. Tal como estive nos últimos 8 anos, a ver +13 mil ucranianos russófonos a morrer no Donbass, assassinados por Nazis do Batalhão Azov, colocado no poder graças a mais um golpe da CIA, e armado pela NATO. E você? Onde estava? É só mais um da manada que acha que só há uma guerra no Mundo neste momento, e que só começou a 24-Fevereiro-2022, e só devido a um mau humor do Putin?

      Ou podia falar da Venezuela, e daquele período de alguns meses em que alguém em Washington decidiu que era tempo de mudar de regime em Caracas, e como tal, nesses meses nos nossos OCS mainstream ocidentais, não se falou noutra coisa. Trump, o mentiroso compulsivo, assim que dizia a palavra “Venezuela” ou “Maduro” ou “Guaidó”, de repente, era um homem honesto e exemplo da “democracia liberal”. Lembro-me em particular da ação de propaganda da “ajuda humanitária”, que que camiões de comida foram incendiados pelo ditador… ah, espera, isso foi o que os OCS por cá disseram (e nunca desmentiram). Na verdade, vi em directo na TeleSUR (e verdade seja dita, o New York Times fez uma correção 3 semanas mais tarde…) não era ajuda humanitária, mas sim camiões da USAid, uma organização dentro do exército dos EUA (algo que sabemos graças à Wikileaks de Assange). E a ajuda não era para colmatar os defeitos económicos do governo, mas sim uma só gota para fazer de conta que se ia compensar os defeitos económicos na realidade causados pelas sanções. E não foi incendiada pelo ditador, mas sim pelos cocktails molotov que os guarimberos pagos por Guaidó atiraram contra a GNB (Guarda Nacional Bolivariana) nessa ponte, tal como atiraram noutras partes do país, contra civis eleitores do PSUV, contra armazéns das CLAP (caixas de comida que o governo distribui aos mais carenciados), e nos autocarros públicos.

      Mas o efeito na opinião pública Ocidental já estava conseguido com a mentira em directo e seguindo a cartilha enviada a partir da Casa Branca, logo para quê darem-se ao trabalho de desmentir?… Voltando à Ucrânia, podemos ver este modus operandi numa base diária! Não acha que é propaganda e mentira a mais? Ou melhor, não acha que já vai tendo obrigação de pelo menos questionar a palha que lhe querem dar a comer?

      Da mesma forma, de cada vez que vejo algo no TASS, no SouthFront, na Sputnik, na RT em geral e no CrossTalk em particular, ou no Channel One Russia, estou já preparado o suficiente para perceber o que são factos, e o que é propaganda. Nunca me ouvirá chamar “operação especial” ao que é de facto uma invasão, nunca me ouvirá culpar o George Soros pelo que quer que seja, e muito menos a repetir as acusações que o lado Russo faz ao lado Ucraniano de forma tão mentirosa quanto o Ucraniano faz ao Russo. Prefiro fazer perguntas e esperar por factos, ou por explicações independentes minimamente convincentes.

      Por exemplo, sei que a Rússia tem andado a bombardear estações de comboio em torno de Kramatorsk (nomeadamente em Slavyansk, Barvinkove, e Pokrovsk) e também noutros Oblasts, que o tem justificado com o “impedir o abastecimento das AFU (Armed Forces of Ukraine) no Donbass” com o material que alegadamente estaria nos vagões/comboios/estações bombardeados, e que tem publicado vários vídeos onde mostra a captura de material de guerra ucraniano, pelo que é provável que a desgraça que matou cerca de 50 pessoas na estação de Kramatorsk tenha sido de facto culpa do exército Russo. Mas sem confirmação independente, a versão da desculpa russa (de que o míssil era ucraniano e foi lançado ali para impedir as pessoas de fugir e assim terem escudos humanos e fazerem mais uma ação de falsa bandeira com fins propagandísticos) é também plausível. Mas lá está, só posso deduzir, não o posso afirmar com certeza, ao contrário do que fazem os propagandistas que têm sempre a certeza de tudo e nem precisam de saber o que aconteceu, basta-lhes ver os vídeos emotivos com edifícios destruídos e pessoas mortas e “já sabem” quem fez o quê…

      E posso lembrar como na Segunda Guerra Mundial, por decisão dos EUA e acima de tudo do Reino Unido, se bombardeou de propósito alvos civis e refugiados em Dresden, transformando uma cidade inteira numa inferno de chamas e corpos queimados, sem qualquer intenção de acertar em alvos militares nazi, mas apenas com intenção de mostrar nos jornais a parte “boa” (o poderio aéreo dos Aliados nessa fase da guerra, e a vingança contra os alemães), e acima de tudo com a intenção de atrasar o avanço das tropas aliadas da União Soviética que ainda teriam de passar por Dresden (e teriam mais dificuldade se tivessem corpos e casas destruídas a bloquear as estradas). Sim, isto é um facto, isto é nojento, isto é um crime de guerra, um atentado contra a humanidade, e este acto abjecto foi cometido pelo lado que qualquer um de nós apoiaria se tivesse vivido aquela época. Já para não falar da história por trás da decisão de usar as bombas atómicas no Japão.

      Enfim, a guerra é guerra. É o fim do humanismo, e assim que se dispara a primeira bala, já perdemos todos. Por isso, quem é mais condenável? Os que têm de fazer a guerra mesmo que pelo meio cometam crimes (os Aliados em 1945, ou a Rússia em 2022), ou aqueles que a começaram, mataram muitos mais nos anos anteriores, recusaram acordos de paz, têm nazis nas suas fileiras, e ameaçaram tanto os países vizinhos que tornaram inevitável a entrada desses outros países no conflito? Ou seja, sim, o Putin é muito mau porque invadiu a Ucrânia, mas eu pergunto: qual era a alternativa? Deixar morrer mais 13 mil no Donbass sem nada fazer? Deixar a Crimeia ser invadida e arrastada para essa guerra? Deixar armar ainda mais os Batalhões como o Azov? Desenvolver ainda mais laboratórios biológicos? Deixar a Ucrânia entrar na NATO e ter armas nucleares na Ucrânia como Zelensky ameaçou? E depois, a Rússia defendia-se como?

      Pois a minha posição é que nesta conjuntura a maior crítica que faço à Rússia é a mesma que faço aos EUA em relação à Segunda Grande Guerra: até deviam ter entrado na guerra mais cedo! Se num caso o resultado seria impedir a Alemanha de matar mais gente na Europa, no outro seria impedir a Ucrânia de matar mais gente no Donbass. Esta é que é a verdade inconveniente que dói que se farta! A narrativa oposta (a do Ocidente atlantista, a tua) é a de que a Rússia tem de ser travada porque é inaceitável que a sua invasão tenha morto +1500 civis, mas a Ucrânia não precisava de ser travada pois os 13 mil mortos em 8 anos no Donbass (e os outros tantos que morreriam nas ações que estavam a ser preparadas no ataque final a Donetsk e Lugansk, e ainda na Crimeia) são aceitáveis porque são em nome da NATO/EUA/UE. Desculpa que te diga, mas essa posição do Ocidente é uma posição nojenta.

      PS: muito obrigado à EstátuaDeSal por mais uma publicação. E um obrigado ainda maior por publicar tanto texto bom, como os de Carlos Matos Gomes, Boaventura Sousa Santos, Major-General Carlos Branco, Michael Hudson, e Nauman Sidaq. São mentes que se atrevem a pensar e luzes que brilham numa era de escuridão imposta pela propaganda do “pensamento” único do Atlantismo/Europeísmo.

      PS2: e parabéns ao povo da Crimeia, que após anos com a água cortada pela Ucrânia (que não os queria independentes, mas pelos vistos queria matá-los à cede e, segundo um documentário francês que a EstátuaDeSal publicou, impedia também a comida de lá chegar por via terrestre), graças ao exército russo que ocupou o Sul da Ucrânia voltou a ter o abastecimento reposto a partir do rio Dniepre. E esta, hein? Só me imagino numa situação semelhante, com a Espanha a cortar a água dos rios que lá nascem, e a dizer que só a podemos voltar a receber se deixarmos de ser independentes e, a dizer como faz com a Catalunha, que não reconhece a legitimidade das nossas eleições. Com o Aquecimento Global a tornar a Península Ibérica cada vez mais árida, e os fascistas (que no tempo de Franco quase nos invadiram) a crescer em Espanha, é um cenário mais plausível do que se imagina à primeira vista. Quem é que virá em auxílio de Portugal? A NATO/EUA/UE não vai ser de certeza. Até pelo péssimo exemplo que acabaram de dar em relação ao Sahara Ocidental e Marrocos. Mas lá está, como os Ucranianos são europeus brancos cristãos e louros de olhos azuis, “têm direito” a entrar num bloco militar que ameaça a segurança/vida dos vizinhos, mas os do Sahara Ocidental são demasiado escuros para terem sequer o direito a existir enquanto povo/país. Diz que são os “valores Europeus”…

  2. O que seria de nós sem estes iluminados (escrevem e regurgitam em loop) que contradizem e desmascaram a narrativa da “imprensa livre” através do acesso às mais credíveis fontes de Pós-verdade -. Milagrosa naftalina Gulaguiana.

  3. O estátua de sal, em jeito de resposta, produz um recital de ressentimento anti-ocidental, adotando acriticamente as verdades propaladas pela propaganda do kremlin. Até ao dia de hoje, faltou-lhe tempo para esmiuçar o que pensa sobre putin e o seu regime, em matéria de respeito dos direitos cívicos, de ideologia imperialista e de militarismo. Resolvida essa falha, poderá ser que o estátua de sal fique em condições de dar lições de coerência.

    • Eu proponho que a EstátuaDeSal (e todos os que percebem que a história não começou em 24-Fevereiro-2022) só tenham de esmiuçar o que pensam sobre Putin e o seu regime, após o Ocidente Atlantista esmiuçar o que pensa sobre:
      – Zelensky, e todos os corruptos ucranianos que fazem parte ou dão continuidade do golpe de Estado apoiado por milícias de extrema-direita desde 2014 (Zelensky até deu ordem para votar na ONU a FAVOR da glorificação do nazismo, isolado ao lado do seu dono: EUA) e que agora ilegalizou partidos da oposição que representavam milhões de ucranianos russófonos
      – Filipinas e ditador assassino Duterte
      – Polónia do fascista anti-estado de direito e homofóbico Duda
      – Hungria do proto-fascista Orbán
      – Brasil do fascista e fã da ditadura militar Bolsonaro
      – Mali e sua guerra (com armas da NATO) contra os Tuareg
      – Arábia Saudita e sua guerra (com armas da NATO) no Iémen, ou o jornalista cortado aos pedaços, ou os 81 opositores assassinados no mês passado, e agora um país ainda mais preferencial da UE para a compra de gás/petróleo
      – Azerbeijão e sua guerra (com armas da NATO) na Arménia (uma guerra onde a Rússia foi a parte neutra q.b. que promoveu a paz e a garante no terreno)
      – Turquia e sua guerra (com exército da NATO) contra os Curdos
      – Líbia após tanta guerra (com armas da NATO fornecidas a ambos os lados do conflito)
      – Narco-estado da Colômbia
      – Apartheid de Israel, seus bombardeamentos semanais (a escolas, hospitais, e até um prédio onde só estavam jornalistas), e roubo de terras Palestinianas e Sírias
      – Qatar e seu Mundial de Futebol FIFA onde morreram mais trabalhadores nas obras dos estádios do que civis na invasão da Ucrânia
      – sanções económicas mortais contra povos do Irão, Venezuela, e Cuba, três países que não invadiram ninguém
      – o regime pós-democrático da Zona Euro, onde NÃO-eleitos impõe leis a quem não os pode eleger, repetem referendos até dar resultado “certo”, aprovam Tratados à porta fechada, e fazem ultimatos contra governos eleitos (ex: contra a Grécia após Syriza ganhar eleições)
      – regime económico NeoLiberal, com austeridade para os 90%, desigualdade pornográfica, ataques de carácter fascista contra quem trabalha, e offshores com impostos 0% para os mais ricos oligarcas de todo o Mundo
      – e os próprios EUA, com regime não proporcional, manipulação de círculos eleitorais (gerrymandering), supressão de voto (acima de tudo de minorias não brancas), racismo sistémico, estado policial assassino, pena de morte, eleições compradas, partidos socialistas/comunistas proibidos, um GULAG em Guantánamo, presos/perseguidos políticos (C.Manning, J.Assange, E.Snowden) por se atreverem a denunciar crimes do regime, golpes de Estado e intervenção nas eleições de outros países, sanções contra pessoas do Tribunal Penal Internacional que se atreverem a investigar crimes de guerra e, lá está, 25 anos de invasões ilegais e injustificadas resultantes em milhões de mortos (e culpa na criação do ISIS).

      Há algum Ocidental Atlantista com coragem para responder, ou já não há ninguém nessa ideologia fanática que tenha um pingo de vergonha? E isto foram só alguns exemplos que me lembrei de cor.

      E pergunta bónus para os anti-Geringonça primários: como esmiuçam a “democracia” de se ir a eleições “porque não há tempo a perder com a apresentação de orçamento alternativo” e “os funcionários públicos não podem perder poder de compra com os 0,9% de atualização em linha com a inflação”, ,mas após atraso aqui, “é preciso esperar por Rangel” ali, e votos dos emigrantes suprimidos acolá, teremos orçamento só meio ano depois, aprovado por uma “maioria absoluta” que só teve 42% dos votos, centenas de milhares de votos deitados ao lixo e centenas de milhares de eleitores impedidos de votar no seu partido devido à lei eleitoral da batota do PS e do PSD, e no final um orçamento que continua a cativar investimento e a manter o país na cauda da Europa em nome das regras anti-democráticas e anti-racionais do Euro, e a inflação (causada pelas sanções não escrutinadas pelos povos europeus, e por medidas que só têm o objetivo de prolongar a guerra) a disparar e a ser totalmente paga pela quebra de rendimento de quem trabalha? Já para não falar do aumento dos défices para pagar os lucros da oligarquia dos EUA que nos vai vender as armas necessárias para os tais 2% da NATO pedidos por Trump/Biden (tanto faz, pois aquilo é um regime de partido único: o partido capitalista da guerra).

      Se já tínhamos 4.3 milhões de pobres (mais 0.5 do que antes do €), e gente a morrer de frio no Inverno, e ~10% dispostos a votar no Ch*ga para deitar abaixo esse regime (e +70% sem confiança para ir votar nas Europeias), então daqui para a frente isto vai ser engraçado… É uma “democracia” do caraças! Felizmente salvei-me a tempo, e emigrei daí para fora, para um país com moeda própria, fora da NATO, e com sistema de Ghent (promove maioria de sindicalizados, e assim garante a distribuição justa da riqueza), os 3 pilares da decência nos tempos que correm. A Social-Democracia de Modelo Nórdico da Suécia.

      Tack och adjö.

  4. Carlos Marques o meu respeito! De acordo em quase tudo… Pelo menos no essencial… Que pena que ninguém reflicta porque é que o Reino Unido não quer a investigação sobre o dito massacre! Porque é que o Ocidente não deixa que haja investigação… porque é que só os EUA e os seus aliados da Europa estão com tanta raiva anti russa?

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