Costa diz que falará com a esquerda

(Liliana Valente, in Expresso Diário, 24/01/2022)

No jogo de pressão à esquerda, ninguém quer ficar com o ónus da culpa pelo fim passado da ‘geringonça’ e pela morte futura de um entendimento, muito menos a dias das eleições em que se joga, da parte do PS, um forte apelo ao voto útil. É neste tabuleiro que se podem ler as mensagens que Catarina Martins e António Costa deixaram nos últimos dias. A primeira, desafiou Costa a marcar uma reunião no dia 31 de Janeiro, o dia a seguir às eleições, para conversarem sobre uma solução de Governo. O segundo, respondeu que não fechou portas.

Em entrevista à Rádio Renascença, o secretário-geral do PS, questionado sobre o desafio da coordenadora bloquista, respondeu: “Com certeza a seguir às eleições todos vamos ter de falar com todos. Nunca recusei conversas com o Bloco de Esquerda, só tive mesmo pena que o Bloco de Esquerda tenha impedido que as negociações do Orçamento do Estado tenham tenham prosseguido para a especialidade”, disse relembrando o voto contra do BE no OE de 2021 e de 2022. Mas a ideia que queria passar era que apesar disso, o PS falou sempre com o BE, nomeadamente na reforma do SEF: “Nunca tivemos nenhuma porta fechada ao Bloco”, frisou.

Nos últimos dois dias, António Costa suavizou o pedido de maioria absoluta, nesta entrevista voltou a suavizar esse pedido e focou-se, sobretudo nesta questão da governabilidade, de tentar mostrar que é dialogante – lembrando com “imodéstia” que foi quem derrubou os muros que “impediam um diálogo construtivo à esquerda do PS” – e que encontrará a “melhor solução de Governo para futuro” que sair dos resultados eleitorais. “A seguir às eleições teremos conversas com todos os partidos, com excepção do Chega com quem não há muito a falar”, garantiu.

A ‘geringonça” não é no entanto “a única solução”, quis frisar. E foi aqui que se percebeu que a estratégia de Costa estava agora a afastar-se um pouco do tal pedido de maioria absoluta. Na sua análise, diz que os portugueses “não têm um grande amor pela ideia de maiorias absolutras” e questionado se irá insistir, respondeu que dirá sempre aquilo que pensa que é a melhor solução, ma que não fará “o mesmo que outro no passado” de dizer “ou maioria absoluta ou o caos ou maioria absoluta ou vou enbora”, numa referência implícita a Cavaco Silva.

O que fará então, falar com o PSD? “Nunca falo dos partidos como ‘este PSD’, ‘este PCP’, ‘este Bloco’. Cada partido escolha a sua liderança e nada pessoal me impede de falar com os líderes partidários, tenho estima e consideração por todos”, respondeu. Contudo, nestas eleições o que conta é a bipolarização e por isso defendeu que o que está em causa são as opções programáticas para o país entre as do PS e as do PSD.


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