(Clara Ferreira Alves, in Expresso, 14/11/2020)

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No dia 5 de setembro de 2020, o Governo anunciava aos quatro ventos que tinha decidido e executado a maior compra de sempre de vacinas da gripe — 2 milhões de vacinas — e que as primeiras iriam chegar mais cedo às unidades de saúde para garantir a vacinação dos grupos de risco. Numa divisão em idades puramente arbitrária, os com mais de 65 anos ficaram abrangidos pelo Plano Nacional de Vacinação. Considerados grupo de risco. Quem tiver, digamos, 64 anos e 11 meses estará salvo, porque os vírus da gripe e da covid encaram estas coisas da idade com uma atenção extraordinária e poupam o ‘utente’ com mais de 60 anos. Há prioridades, vamos aos que têm mais de 65 primeiro, cogita o vírus.
Portugal tem 10 milhões de habitantes, 2 milhões com mais de 65 anos, logo, mais de 2 milhões com mais de 60 anos. Pensei que 2 milhões não parecia uma quantidade útil ou apreciável. E teríamos sempre de excluir o azarado com 59 anos e 11 meses, independentemente do seu estado de saúde.
Ao mesmo tempo, o Governo avisava que toda a gente deveria vacinar-se contra a gripe este inverno, porque a confluência do corona com a gripe sazonal poderia complicar e tornar-se perigosa ou fatal. O povo, obediente, ouviu. No dia 5 de setembro, o país tinha 15 mil infeções ativas e 400 novos casos de infeção. Ficámos descansados.
No dia 28 de setembro, o XXII Governo anunciava no site da República Portuguesa o início da campanha de vacinação contra a gripe, intitulada “Vacine-se por si, vacine-se por todos”, e ao mesmo tempo a ministra da Saúde, Marta Temido, visitava a Estrutura Residencial para Idosos (ERI) da Casa do Artista, em Lisboa, onde estavam a ser ministradas vacinas a 69 residentes e 42 profissionais. Em declarações à comunicação social, única razão pela qual a ministra se interessou subitamente pelos idosos da Casa do Artista, Marta Temido afirmou que “este é um momento muito especial, porque estamos num ano absolutamente extraordinário e que tem exigido o melhor de nós todos”. Justificou a escolha da Casa do Artista para a sua propaganda e para esta indigência (que os cidadãos ouvem até à náusea) porque a Casa do Artista não tinha tido até aí casos de covid entre utentes e profissionais, um “resultado que nos encoraja a todos”. Destacou ainda o “envelhecimento ativo” que se pratica nesta instituição, onde habitam “várias pessoas que já ultrapassaram os 100 anos e que, até este momento, tinham vidas bastante ativas artística e socialmente”.
Logo, o problema do lar de Reguengos de Monsaraz, e o de todos os outros, os dos velhos empilhados, é não ter “envelhecimento ativo”. E não serem “artistas”, uma espécie ameaçada em tudo menos na idade, caso cheguem aos 90 ou aos 100 anos. Temido rematou, noutra pérola discursiva: “Têm de estar aqui sujeitos a uma enorme pressão, e isso também é um exemplo para toda a sociedade.” A ministra ficou bem na fotografia. Nunca mais ouvimos falar na Casa do Artista. Segue para bingo.
Três dias antes, a 25 de setembro, no site da DGS, Maria da Graça Gregório de Freitas publicou a norma 0162020, instituindo a divisão entre os vacinados do plano e os não vacinados, sem deixar de explicar as razões pelas quais era importante a vacinação contra a gripe. A primeira fase estava iniciada, a segunda fase iniciar-se-ia a 19 de outubro, com o plano de dar a vacina a pessoas com idade igual ou superior a 65 anos, doentes crónicos ou imunodeprimidos com 6 ou mais meses de idade, trabalhadores da saúde ou prestadores de cuidados e pessoas incluídas nos contextos definidos no Quadro III — Anexo. Recomendava-se também a vacinação de pessoas com idades entre os 60 e os 64 anos. A vacina devia ser administrada durante o outono e o inverno, de preferência até ao fim do ano civil.
Esta última recomendação e as palavras “de preferência” são úteis não apenas para sossegar o utente de 64 anos e 11 meses mas para insinuar que uma vacina deve ser tomada o mais cedo possível para fazer efeito. Claro que se o utente levar a vacina no dia 30 de dezembro e apanhar a gripe a 5 de janeiro, altura de infeções do Natal e Ano Novo, o vírus da gripe terá certamente em linha de conta que, não tendo conseguido a vacina mais cedo, o utente não deverá ser infetado. O vírus espera, e o mesmo fará a covid por simpatia. Há prioridades.
O Quadro III — Anexo refere quem tem direito a vacina gratuita. Todos os outros que quiserem ser vacinados, incluindo os não gratuitos do grupo entre os 60 e os 64 anos, que se recomenda vivamente que sejam vacinados, devem ter acesso à vacina nas farmácias comunitárias mediante prescrição médica, com comparticipação de 37%. A DGS afirmava que a vacina “já está disponível”.
Tendo ouvido durante o verão que a vacina da gripe era essencial para proteger as pessoas no inverno, o utente foi à farmácia do bairro e inscreveu-se para comprar e tomar a vacina. As primeiras inscrições foram feitas em junho e julho e continuaram nos meses seguintes. O Governo e os ‘peritos’ mandam. O povo obedece. Como a vacina é relativamente barata, mais inscrições se seguiram. Aqui chegados, depois de tanta propaganda, calculei que 2 milhões era uma quantidade ínfima. Eu calculei, o Governo não calculou. E continuou a recomendar a vacinação geral.
Com a primeira fase da vacinação começada, foram disponibilizadas 350 mil vacinas a 28 de setembro. Velhinhos social e artisticamente ativos foram vacinados. Muito bem. A 10 de novembro de 2020 não há uma única vacina disponível nas farmácias. Não há vacinas nos hospitais. Esgotaram. Não se sabe quando chegam. O Governo nada disse sobre o assunto.
Temos pessoas do Plano Nacional de Vacinação, incluindo os com mais de 65 anos, em lista de espera. Temos pessoas que querem comprar a vacina e que se inscreveram no verão em lista de espera, depois dos grupos de risco. Temos farmacêuticos que dizem que não sabem quando recebem vacinas, ou se as recebem, e que o Governo disponibilizou apenas 200 mil vacinas para as farmácias. Não haverá vacinas para todos.
Nas farmácias há ameaças, discussões, iras, violência verbal. Há quem conclua que não vai ser vacinado, incluindo o pobre utente com 64 anos e 11 meses. Há quem insulte, barafuste, espinoteie. Para a vacina administrada nas farmácias é medida a temperatura do utente, e os dados são introduzidos num sistema informático partilhado com o SNS. Quais dados? Não se sabe. Isto é constitucional? Não se sabe.
Diz-se por aí que na segunda quinzena de novembro chegarão mais vacinas. O rumor anterior dizia que chegariam no princípio de novembro. As farmácias avisam que não serão suficientes para as listas de espera e as marcações dos vacinados gratuitos. Muito menos para os da lista não gratuita. A inquietação cresce. A ira também.
Estamos em Portugal. Em paralelo, há um mercado negro das vacinas. Não tanto movido a dinheiro, movido a influência. O dinheiro ajuda. Quem conhece uma pessoa que conhece uma pessoa que conhece um político importante, tipo ministro ou família ou amigo, ou um médico importante, ou mesmo um ‘perito’, arranja a vacina. Ainda bem que o Presidente Marcelo conseguiu tomar a dele a tempo e horas.
Imagine-se tal incompetência e tráfico de influência aplicados à vacina da covid.
Boa tarde
Não havendo outra forma de contactar os autores deste blogue, segue-se esta via. Para informar que o uso não autorizado de artigos do Público é uma violação grosseira dos direitos de propriedade intelectual. Pedimos o favor de respeitarem a lei ou seremos forçados a agir judicialmente.
Cumprimentos
A Direcção Editorial do Público
Valha-lhe Santa Efigénia. Nunca pensei que o Público se preocupasse com um ignorado blog. Devem ser efeitos do Covid que alastram para onde menos se espera. Acho que perdem mais que o que ganham: de facto faço publicidade gratuita ao Público e levo muitos a assinar porque só publico de quando em quando e uma ínfima parte dos conteúdos, logo ler um artigo aqui não substitui a compra do jornal para o ler na totalidade. Felizmente o Público já teve melhores dias e cada vez menos publica peças que se encaixem na nossa linha editorial, salvo honrosas excepções. Mas seja feita a sua vontade. Amém.
Nota. Pede à Edite Estrela para publicares sob prévia autorização algumas peças literárias do Acção Socialista, talvez assim…
🙂
https://www.publico.pt/autor/joao-miguel-tavares , respeitinho!
foi a ela que pediste prévia autorização para andares a publicar “coisas abjectas” no horário do emprego que os portugueses te pagam para trabalhares, quando o chega chegar é que vamos ver como é que vocês vão sobreviver. são as nulidades como tú que dão fama à função pública e criam espaço para a outra nulidade se achar dono disto tudo. tás ao nivel dos ciganos a quem ele paga pra criar o caos e confusão onde ele é doutorado.
… http://www.aspirinab.com , xô bar aberto!
Nota. Este é o tal travesti que anda fugido à bófia, ó d’A Estátua. Portanto, se o famoso pilha-galinhas anda por aqui a farejar hoje e nos presenteia com mais um exemplo das suas manuscritas missivas desenvolvidas !ao nível do ensino primário, cheias de erros de ortografia básicos!, algo me diz que se fez passar pelo Manuel Carvalho, e olha que não uso uma bola de cristal.
… e lá foi ele, a ganir!
tudo muito mau, tenham muito medo
17 de Novembro de 2020 às 13:27
E, no fim, é o mercado que provine, como proveu nos contentores de idosos; isso é inveja de conhecer as pessoas erradas que não lhe fornecem o material, Clarinha. Empreendedore e cria a Casa do Escritor de Vacuidades, assim garante acesso da próxima.
O que era mau era o estado ter alguma coisa a dizer sobre a produção, não fossem os aliados chatearem-se. Por isso, olhe, amanhe-se, velhinha. Até pode ficar em casa e chatear menos e tudo.
É nojento este artigo.
O que lhe aconteceu Clara Ferreira Alves? É o Governo que não presta? É a Ministra da Saúde que a irrita? É a DGS que está entregue a pessoas sem qualificações. Você fazia isso tudo melhor? Vamos chamar o Ventura? Pó arece que esse tb não pertence aos seus mais amados. O que quer? Ser vacinada? Faltam vacinas? Talvez mas os motivos que tenta inocular são rasteiras. Ser jornalista não dá direito a tudo. Ao escrever tanto até parece que se debruçou sobre o assunto e fez uma aturada investigação. Mas não fez colou daqui dali saltou por cima ou por baixo. Há quem vá adorar e ganhará uma rolha de cortiça. Pena tenho eu que não leia este meu comentário feito para si pensando em si e perguntando a M m própria quem é que Clara Ferreira Alves pretende ofender.
Foram-lhe aos privilégios. Tivesse o seu círculo vacinado-se e defenderia o contrário.
Deixei aqui um comentário em relação a este artigo que acho nojento pela maneira como ataca os responsáveis pela gestão da crise sanitária que não apareceu publicado.
Informo que vou cancelar a minha subscrição do Estátua de sal porque fiz um comentário neste artigo da clara ferreira alves e não apareceu publicado .
Todos os comentários saem, meu caro. Como é a primeira vez que comenta tenho que aprovar e nem sempre sou assim tão rápido. Também tenho outra vida e direito a ela fora da Estátua. Mande sempre e espero que compreenda.
coisas que claramente só a freira Alves iluminada por alguma das entidades sua correspondente no além tem a clara-evidencia para abordar com a invaginação que o problema carece.
Uma crónica produto de alguém que, há muitos anos é remunerada por dizer mal de tudo e de todos, julgando-se uma luminária, mas que infelizmente não passa de uma torpe figura.
Rebatendo o que insinua no sua crónica, relembro a essa “despenteada mental” o que se passou comigo.
Enviei um mail ao Centro de Saúde da área da minha residência (faço parte do grupo de risco de mais dos 65 anos) a marcar a vacinação contra a gripe, e decorrido uma semana, recebi no telemóvel a indicação do dia e hora da toma da vacina.
No dia e hora marcadas dirigi-me ao Centro de Saúde, onde sem qualquer tempo de espera, um enfermeiro, com um humor fantástico, me disse “tire a camisa como o outro (Marcelo) mas sem direito a directo a televisão” e em menos de 5 minutos estava vacinado.
Entre a marcação e a toma da vacina, foram menos de 15 dias.
Não me admira nada o teor desta crónica, vindo de quem vem, a Senhora tem desculpa, está xe-xé, mentalmente imprópria para consumo, mais do que aparenta por fora, que também diga-se de verdade está um caos. Aliás estão todos os da cor dela, basta ver as contradições do Sr. Rio em relação ao que diz hoje dizendo o contrário amanhã, o desespero é grande e não há maneira de se conformarem «cheguem-se mais», quanto mais maior a queda.