O PR e o recandidato óbvio

Carlos Esperança, 06/09/2020

Marcelo Rebelo de Sousa nunca despiu a pele de candidato, e soube resistir ao desgaste da imagem com raro talento e a cumplicidade dos média.

Não tendo funções executivas ou competência em política externa, permite-se comentar tudo, em todos os lugares e momentos, fazendo com o poder moderador, que detém, um permanente ruído mediático, a condicionar a vida partidária.

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Sem a dimensão ética de Jorge Sampaio, a sagacidade de Mário Soares ou a sobriedade de Eanes, Marcelo não é só um obsessivo cultor de afetos, torna-se um carrasco quando julga poder beneficiar da desgraça alheia. É cada vez menos o que desejava parecer e parece ser, cada vez mais, o seu antecessor de que só a cultura e a inteligência o distinguem.

A sua atitude recente contra a Diretora Geral de Saúde, cuja abnegação e discernimento compensam uma ou outra falha, foi a gota que fez transbordar o copo da benevolência de que beneficiou. A atitude hostil à Dr.ª Graça Freitas, a pretexto da Festa do Avante, remete-nos para a implacável insensibilidade com que acossou Constança Dias Urbano, juntando-se à campanha contra o Governo, na tragédia do incêndio de Pedrógão Grande.

A atitude do inevitável recandidato a PR é inaceitável por usar a manifestação partidária quando sabe que os Governos não podem impedir iniciativas de qualquer Partido, salvo se vigorar um “Estado de Emergência”, proposto pelo PR e aprovado pelo Parlamento, o que manifestamente sabe não ter proposto.

A perseguição à Dr.ª Graça Freitas foi ainda mais chocante porque se calou perante duas manifestações fascistas do Chega, outra contra as medidas sanitárias do uso de máscaras e distanciamento social, diversos espetáculos, a peregrinação a Fátima de 13 de agosto e outros eventos, igualmente legais, que reuniram grandes aglomerações e onde os riscos foram menos acautelados.

Sub-repticiamente alimentou a campanha negra contra o PCP, não no confronto leal de ideias, mas ao gosto do primarismo salazarista que assusta os democratas.

Marcelo abriu espaço para uma candidatura entre a sua e a dos candidatos do PCP e BE.


13 pensamentos sobre “O PR e o recandidato óbvio

  1. Concordo com o conteúdo deste artigo de Carlos Esperança. Nunca escondi que que não gosto de Marcelo Rebelo de Sousa, quer como personalidade pública, quer como PR, ou melhor ainda mais como PR. Sempre com tendências velhacas de rato de sacristia, não teme,com as várias atoardas, magoar, tudo e todos em qualquer lugar, mesmo que com isso atinja quem não merece como é o caso da Diretora Geral de Saúde. Claro que foi sempre candidato e vai ser de novo candidato, mas não vai ter a votação que ambiciona e isso será a sua grande derrota. Não votarei nele e só votarei em alguém que tenha um perfil como o Dr. Jorge Sampaio, que foi, em minha análise, o melhor PR de sempre. Aéreo, quanto baste, tem sempre um ar de leviandade, quando fala, e como tal,não pode nem deve ser levado a sério.

    • Tiago vai em frente
      [que parece que vais de lado, para caber na agulha]
      tens aqui a tua gente!
      [somos três]

      «Marcelo abriu espaço para uma candidatura entre a sua e a dos candidatos do PCP e BE.», cito.

      Nota. Concordo com ambos os dois, coisa rara, mas como teria de ser alguém esterlicadinho para caber no buraco da agulha não sei se o Tiago Barbosa Ribeiro já atingiu a maioridade. Mandatário: que tal o ex-ministro Azeredo Lopes, que alegadamente também não consegue ver um exército, uma quadrilha ou uma manada à frente?

      Alegadamente, repito.

      • Adenda. André Ventura do Chega, Tiago Mayan Gonçalves da Iniciativa Liberal, Marcelo Rebelo de Sousa, esterlocadinho Tiago Barbosa Ribeiro que de frente que parece que vai de lado apoiado pelo Carlinhos-Julieta-RFC e tendo como mandatário o Azeredo Lopes, uma proscrita do PS dos negócios políticos do Costismo Ana Gomes, Marisa Matias do BE e candidato do PCP.

    • Nota. Carlinhos, camarada, então agora tens o apoio da personagem Valupiana? Somos quatro-4-quatro, já? Era o José Sócrates o candidato do PS e não dizias nada? Eheheh, ia ser bonito com a Ana Gomes e com o André Ventura…

  2. Até agora o Marcelo não deu nenhuma indicação que seja como o Cavaco.

    Em geral colabora amistosamente com o governo PS, como deve fazer um presidente da república.

    Ao contrário do Cavaco que agia como porta voz do PSD em vez de presidente da república.

    Mas colaborar não quer dizer que tenha de concordar com tudo, evidentemente, isso seria um fantoche do governo, o que também não seria conveniente.

  3. CRÓNICA não, um Obituário.

    Carta aberta a Vicente Jorge Silva

    Vicente amigo e camarada nas fainas de pôr de pé jornais, o que mais nos custa, mais me custa, não são as memórias que, de supetão, vêm ao pensamento e ao coração. São as saudades do tempo que gostaríamos, gostaria, de partilhar consigo.

    8 de Setembro de 2020, 15:36

    E, de repente, nós, que sabemos que esta vida é finita, conhecíamos as suas maleitas, mas pensávamos que a sua presença duraria muito mais entre nós — e bem precisávamos dela… —, demos connosco a lidar com um misto de recordação de mil memórias comuns e de outras mil saudades do que ainda sonhávamos viver consigo.

    Mil memórias comuns. Da sua gargalhada esfuziante. Da sua inteligência implacável. Da sua análise contundente, quase mordaz.

    Como gostaria de o ouvir – horas a fio – sobre a sua visão da sua vida, naquele jeito de quem ainda por cá anda, mas há muito que anda por fora ou acima do que cá se passa.

    Dos seus excessos — que não há toques de génio sem excessos, que nos faziam admirá-lo pela coragem, mas sofrer, por igual, pela incompreensão da generalidade dos concidadãos. Da sua escrita linear nas ideias, mas encaracolada, às vezes, na forma. Dos seus ímpetos criadores, interpolados de uma nostalgia insular, de uma solidão nunca assumida, de um querer viver em tempos e modos que já não entendia ou aceitava. Da sua luta por democracias não iliberais, por políticas não demagógicas ou espetaculares, por justiças sociais mais justas e mais rápidas, por uma mistura de empatia com os sofredores e de meritocracia intelectual.

    E memórias das conversas no Funchal na pré-História. Ou das reuniões e charlas — sem número — no Expresso, das ceias no Pabe e no Xenu ou seu antepassado, das deambulações a conceber dois Expressos num só, com a Revista, dos choques das mortes dos entes mais queridos, dos sonhos para o PÚBLICO, das crenças e descrenças nas incursões políticas, nas madrugadas a falar do Portugal a fazer-se e do Portugal ainda adiado.

    Vicente amigo e camarada nas fainas de pôr de pé jornais, o que mais nos custa, mais me custa, não são as memórias que, de supetão, vêm ao pensamento e ao coração. São as saudades do tempo que gostaríamos, gostaria, de partilhar consigo.

    Como gostaria de ler a sua escrita sobre o pós-pandemia, na vida das pessoas, como na vida coletiva. Ou sobre o futuro nas relações entre os dois lados do Atlântico após estes dias que num caso eleitorais, noutro de arranque para novo ciclo. Ou sobre os poderes emergentes. Ou sobre os estilos políticos em curso e a sua perdurabilidade. Ou sobre os problemas da comunicação social em idos de mudança de todo o tipo.

    Como gostaria de o ouvir — horas a fio — sobre a sua visão da sua vida, naquele jeito de quem ainda por cá anda, mas há muito que anda por fora ou acima do que cá se passa.

    Enfim!

    Vamos ter de nos ir falando, agora, mais de longe, mas, porventura, com maior frequência.

    Para já, retenha que, como seu aluno em tantos instantes da saga comum, aprendi bastante, mas não tudo o que devia.

    Que, como seu amigo e admirador, aí aprendi quase tudo — e lhe agradeço o Comércio do Funchal, o Expresso e o PÚBLICO em especial, e mais as inumeráveis coisas em que quis esbanjar a sua frenética existência. Esbanjar, não. Parecer que esbanjava, deixando, contudo, um traço útil no caminho dos outros.

    Que, como quem conheceu bem o que era e como era, guardo a impressão que se guarda sempre dos que mudam a nossa vida. Umas vezes, concordando consigo. Outras, não. Sempre, porém, situando-o no elenco dos raros por aquilo que são e por aquilo que fazem.

    Finalmente, que, como Presidente da República, lhe transmito, de forma mais institucional, a gratidão pelo que lutou para que houvesse democracia em Portugal. Mesmo quando se exasperou com ideias, costumes, gerações ou partes delas, que não conseguia compreender e aceitar.

    Dentro de uns tempos nos encontraremos, cara a cara. E verá que o seu Purgatório, se houver, será mais breve do que o meu.

    Até lá, não mude!

    Quero reencontrá-lo como era e é. Foi assim que gostei de o conhecer e privar consigo!

    Marcelo Rebelo de Sousa
    Presidente da República

    _______

    Nota. Isto ao pé do normal, do excepcional?, não me lembrarei obviamente de tudo mas não há PR que se compare.

  4. O problema de Marcelo é de ser uma barata tonta que tanto ilude o governo que está tudo bem com o apoio da esquerda, como depois, aproveita para lançar umas farpas indiretas e assim, tenta ajudar toda a direita (não só o psd) a ganhar popularidade, e claro como 90% dos mass media estão sempre a fazer campanha por ele e já agora pela direita, ele sabe que com o tempo os seus queridos poderão voltar ao governo. E assim vai o rumo de Portugal, onde aparentemente existem entendimentos entre PR e 1º Ministro, mas no fundo são tudo jogos de bastidores e de interesses, já que Costa também, como é moda hoje em dia, abusa dos media para manter popularidade. É complicado mudar a consciência ou até fazer o povo refletir de forma iluminada numa sociedade com futuro, quando os media continuam a meter a esquerda toda no mesmo saco (“os criminosos comunistas”) e a direita no papel de salvadores. Numa sociedade livre e democrática a polarização em excesso para um dos extremos não existe, já que os entendimentos e a diversidade de ideias permitem que assim seja, mas cá no burgo nacional isso é tudo uma ilusão. Atenção nem a esquerda nem a direita são detentoras das múltiplas possíveis soluções para o futuro do país (não só da economia), mas sim todos os partidos e a sociedade civil quando um dia eventualmente acordar, demasiada internet e mass media polui o cérebro nacional e internacional, a liberdade de se pensar e agir aprende-se no estudo e com a cultura e não nas netflixs e outros meios afins que continuam a entoxicar e aprisionar as futuras gerações, no sentido de as limitarem culturalmente e socialmente. Será que o ser humano no futuro vai ser o macaquinho de imitação ou já é ?

  5. Nota. O querido Valupi pergunta no Aspirina B para que serve a candidatura da Ana Gomes. Um marmanjo qualquer respondeu-lhe, e eu concordo… Vamos se o Valupi concorda também, e já seremos cinco a juntar-mo-nos ao adorável o Carlinhos: Pomba Branca, Julieta, RFC, Valupi e Carlinhos-ele-mesmo (pode não ser o José Sócrates, afinal).

    • Pomba Branca
      11 DE SETEMBRO DE 2020 ÀS 12:36

      Eu acho que a fase de debate deveria ir por aqui, Valupi. Seria um estrondo, ela é mulher para isto.

      31.08.20

      O prometido é de vidro.

      Não sei se viste a SIC N, Expresso da Meia-Noite. Pois a filha do Almeida Santos, por ora a titular da linhagem, exclama assim:

      – E, aliás, pedir desculpa do quê?

      Referia-se a senhora ao apodo de cobardes com que o actual PM resolveu brindar a classe dos médicos a propósito do lar de Monsaraz e da filha da putice embrulhada que o levou a ir logo de manhãzinha para S. Bento para ae justificar perante o bastonário da Ordem dos Médicos (e olha que, a julgar pela crista na sua trunfa, nem tomou um duche rápido que a obra de arte tinha ares de almofada). No jardim, em frente aos jornalistas, convida sabiamente o bastonário para abrir as hostes, o passarinho, ficando para o fim com o palco livre para mais uma… patifaria, perdão, para dizer redondamente o que lhe desse na telha.

      Ora, o que é que isto revela politicamente?

      1. É que a filha do Almeida Santos, tal como as gajas que são apaixonadas pelo Costismo como a Ana Catarina Mendes e tal, naturalmente não vêem para além do seu amado…

      2. E sendo ela a herdeira, e uma das filhas do regime, chegará o tempo em que uma das figuras do PS que por múltiplas formas fixou as suas memórias (e, portanto, uma das que mais ocultou os factos inconvenientes… e sei do que falo), há-de chegar o tempo, em que o seu papel como pivot no mundo profissional da advocacia dos negócios político-empresariais, a produção legislativa, nomeadamente nos tempos da brasa e da normalização, será escrutinada democraticamente.

      Sem desrespeito, sem o senhor ser um alvo a abater reencontrado algures no Além, sem paixões, mas enquanto alguns dos seus contemporâneos estiverem vivos e capazes de testemunhar.

      Continuarei depois, ai as golas e o António Vitorino.

      ______

      Adenda. E tu, ó d’A Estátua, juntas-te a nós e ao adorável Carlinhos? «André Ventura do Chega, Tiago Mayan Gonçalves da Iniciativa Liberal, Marcelo Rebelo de Sousa, uma proscrita do PS dos negócios políticos do Costismo a nossa Ana Gomes, Marisa Matias do BE e candidato do PCP.», actualização.

      🙂

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