A hipocrisia na TAP

(José Gameiro, in Expresso Diário, 21/02/2020)

Os prejuízos na TAP continuam de ano para ano. Aquando da privatização, tínhamos sido prometido que iriam acabar, a TAP tornar-se-ia ser um companhia rentável. Para já, é mais uma história da carochinha…

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O PS, cumprindo uma promessa eleitoral, voltou a nacionalizar, parcialmente, a TAP, mas fê-lo de “calças na mão”, ou seja, aceitando condições inadmissíveis, uma das mais gravosas, não ter nenhum representante na sua Comissão Executiva, além de que os seus direitos económicos são bem inferiores ao seu capital.

No ano passado, quando, quem de facto lá manda, deu prémios, alguns chorudos, a vários dirigentes, o Governo protestou, dizendo ser inaceitável que tal acontecesse. Agora, com David Nielmann, a anunciar que irá fazer o mesmo, o Ministro Pedro Nuno Santos, chora “lágrimas de crocodilo” e, mais cedo ou mais tarde, vai ter de arrepiar caminho.

De facto, toda esta história está mal explicada, desde o inicio.

Começa por um grande mistério. A TAP encomenda 15 Airbus 350 e, quando os acionistas privados chegam à companhia, cedem a sua posição na compra – numa altura em que a procura era muito grande e não havia aviões para entrega – e encomendam Airbus 330-900, justificando que não precisavam de tanta autonomia de voo. Pequeno pormenor os “preços de tabela” dos dois aviões são semelhantes, assim como o consumo de combustível.

Depois surgem os atrasos sistemáticos, o flop da Ponte Aérea Lisboa- Porto, já resolvido, as sucessivas queixas sobre o Aeroporto de Lisboa, como se não conhecessem as suas limitações.

Agora a justificação é a compra de novos aviões. À boa maneira portuguesa, anunciando, como o fez recentemente em Macau, o Chairman da TAP, que a companhia tinha uma das frotas mais recentes do mundo… A idade média da frota da TAP é de dez anos, o que é perfeitamente aceitável, mas não está no top. Mas hoje, no anuncio dos resultados, não “achou conveniente” pronunciar-se sobre a distribuição de prémios.

Desculpem a experiência pessoal, mas recentemente, vivi a pouca seriedade financeira da TAP. Cancelei um bilhete, de valor alto, com direito a reembolso, esperei dois meses, depois de vários telefonemas, até que o dinheiro me chegou à conta. Mas não vinha todo. Enganaram-se, mais duas semanas para pagarem o que deviam. O standart, é as companhias reembolsarem em sete a dez dias uteis.

Uma história que começa mal, só acaba bem, nos contos para crianças. O Governo bem pode tentar mudar o acionista privado, mas o maior acionista já veio dizer que não está interessado em vender e atira as culpas de tudo o que acontece para a empresa que gere o Aeroporto de Lisboa.

Mas tudo tem um preço e ele e o Estado sabem bem que o preço não é baixo.

Bem vindos à TAP, 50,1 % nossa, mas algum dia tiver lucro, para o Estado serão uns trocos…

4 pensamentos sobre “A hipocrisia na TAP

    • Não tem nada de esquerda, são pedintes parolos a fazer de conta que são progressistas com visão de estado, pouco diferente de quem a vendeu a saldo porque está na moda desregular. Nem uns nem outros têm plano além de ser um vassalo bem comportado.

  1. São os negócios costumeiros cozinhados pela classe política que nos desgoverna em total impunidade há mais de quarenta anos! Quando o Estado é lesado, alguma vez se foi ao bolso dos responsáveis pelas decisões desastrosas?!

  2. Imaginem se entre os acionistas não estivesse o know-how do grupo Barraqueiro do Humberto Pedrosa, a quem os governos abriram as portas ao transporte aéreo depois de terem dado à empresa de camionagem o suculento negócio ferroviário da Fertagus.
    No tempo do fascismo toda a rede ferroviária pertencia à CP excepto um torrão de açúcar que era a Sociedade Estoril que explorava a linha Cais do Sodré – Cascais
    Neste campo, o regime pós-fascista atual não fica nada a dever ao seu antecessor, o regime fascista

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