Operação Corações ao Alto, instruções às distritais

(Francisco Louçã, in Expresso Diário, 15/05/2018)

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(Nota: Quero dar os meus parabéns a Francisco Louçã pela forma magistral como, neste artigo, descreve a estratégia que a direita está a utilizar para derrubar este Governo e regressar ao poder. É aterrador, sim, mas para essa direita sinistra, vale tudo, não há pudor nem respeito por nada nem ninguém. Preferem reinar num país destruído do que haver futuro e esperança para a maioria dos cidadãos num país onde tenham que se confrontar com uma democracia que sufrague os que se lhe opõem. 

Estátua de Sal, 15/05/2018)


O nosso partido foi conspirativamente afastado do poder em 2015 e agora vai recuperá-lo com glória. Para tanto, o guião seguinte deve ser cumprido escrupulosamente, para transformarmos o risco da derrota na certeza da vitória. Seguimos a regra Trump: o candidato mais implausível nas sondagens pode vencer, se criar um movimento emocional que varra o país. Tudo depende disso. Em resumo, vencemos se incendiarmos todos os debates nacionais.

 

1 Não é difícil, basta dizer que o mundo está a acabar, ou convencer cada eleitor de que está a ser esmagado por mais impostos e que, portanto, o terrorismo está a ameaçar a sua vida. Nos temas económicos, o que é preciso é baralhar, assustar o ouvinte com algoritmos. Se ninguém perceber nada, nós sabemos tudo. Portanto, avança quem debita percentagens algarismos e esgrime gráficos. Afogado em números, o eleitor tem que se esquecer da sua vida. Tem é que olhar para nós: somos os que gritam alerta, venham os incêndios, que falta que faz outro roubo em Tancos e até dava jeito um atentado bombista no Terreiro do Paço, é isso a emoção, é assim que se ganham eleições.

 

2 É preciso mudar os nomes às coisas e fazermo-nos malucos, a começar pela luta dos nomes, quem conquista as palavras tem as eleições na mão. A comunicação dos saldos das contas de mais de 50 mil euros é o “Big Brother fiscal”, o “fascismo tributário” ou a “devassa” que nos vai assaltar as poupanças, a maternidade de substituição deve ser chamada “barriga de aluguer”, soa a negócio, o direito à eutanásia vai ser o “holocausto” com “os médicos a matarem os idosos que tenham hipertensão”. Conclusão: em Portugal não se pode ter conta bancária, a gravidez é business e é perigoso ir a um hospital. Estão a perceber? Sigam a regra daquele homem do futebol, façam-se de malucos e depois é só manter a fama, toda a gente escuta.

 

3 Desviar atenções. Para explicar que os ministros do outro partido são todos trafulhas e que estão amaldiçoados é preciso mostrar que, connosco, tudo começa com a pureza dos anjos.

 

Costa é Sócrates que é Guterres, não, talvez este não, recomeça, Costa é Sócrates que é Pinho que é Salgado, não, este também não, que contratou o Durão Barroso, recomeça, Costa é Sócrates que é Pinho que é Mário Lino, não, este não foi acusado, recomeça, Pinho é Sócrates que é Costa… O que importa é que a ideia se perceba e que o Costa esteja no barulho. Se não, aplica-se a regra anterior, fazemo-nos malucos e tudo ao molho e fé em Deus. Eles não reconheceram a culpa, não expiaram, não aceitaram o nosso direito natural a mandar, não merecem trégua, todos trafulhas. Sobretudo o Costa, é o pior de todos, é fingido e não está nos processos, o que prova que anda fugido à justiça.

 

4 Nada de intelectuais, queremos guerra sem quartel. Qual conversa, qual propostas, qual argumentos, o que queremos são sombrios ajustes de contas, sangrentos ataques. Calem-se as finuras da Quadratura do Círculo, multipliquem-se os snipers do Observador e os valentões de outras paragens, deem o Nobel ao Saraiva, promova-se o Ribeiro a diretor de campanha. Esses são os nossos guerreiros, faca na liga. São os mestres do ódio a mulheres, que acham que são gente, ódio a desempregados, que são subsidiodependentes, ódio a miudagem que acha que a escola não é lição de praxe, ódio aos que criticam a América, ódio aos ecologistas, que só dão despesa, ódio ao arco-íris. O ódio é que gera likes e precisamos de muitos likes, inundaremos o país de ódio e de likes.

 

5 E, se tudo falhar, venha o Plano B. Se as eleições não nos respeitarem, é preciso convencer alguns juízes. É para isso urgente criar novos instrumentos, venha a revisão constitucional para a delação premiada, urgentíssima, a Cristas já topou a parada. Já se fazem interrogatórios para transmitir pela televisão, mas é preciso mais, é preciso encher os noticiários de prisões e informações, não pode sobrar nada dessa gente, drama todos os dias, medo nas ruas, sirenes a apitar, casos nutridos. É na pantalha que temos que os vencer, se falhar nas eleições. Precisamos de uma procuradoria de confiança, perpétua e alinhando amigos alinhados. Pois não há-de um tribunal governar, escolher os ministros, vingar as eleições, delimitar as políticas? Portugal ainda há-de ser um imenso Brasil. Perceberam? Guerra sem quartel, a nossa política é o fogo.

14 pensamentos sobre “Operação Corações ao Alto, instruções às distritais

  1. está bom mas eles conseguem ir pr’além disso, eles conseguem que os telejornais mostrem mais a galinha de angola do que o ministro, e que o moço do telejornal da televisão que todos pagamos faça uma espectacular descrição tipo orelhas, da baixa do crescimento em que um decréscimo de 0,1 que é a maior descida dos últimos 2 anos mais parece que o diabo ateou fogo ao País. se dessem o mesmo destaque ás subidas a rtp era uma festa permanente superior ao eurofestival.

  2. Pois, meu! Pias tarde porque porque não percebeste, fraca visão política a tua, ao que poderia dar aso o teu comportamento de conivência para o derrube do governo Sócrates. Podias ter olhado e seguido o velho e sabido Mário Soares, o “Tirésias” da política portuguesa, tinhas evitado ser conivente com o golpe dado por esta direita que agora denuncias usar o senhorio total sobre os media para criar factos com impressões, insinuações, mentiras e calúnias e formatar por exaltação emocional a mentalidade da malta com fim a destruir os inimigos políticos custe o que custar.
    Só agora estás vendo onde a direita queria e conseguiu ao fazer de Sócrates o bode expiatório da brutal corrupção do cavaquismo. Agora o refinamento deles fez-se luz pois, mesmo para meio entendidos como tu, já consegues ver que os, mesmo, corruptos continuam na sua prática corrupta com o maior àvontade face ao alibi à mão de atribuirem tudo que seja corrupção ao malvado do Sócrates.
    Até aqui, o golpe perfeito. Até quando! vamos ver.

    • Concordo em parte com o seu repto, mas não se pode esquecer que Sócrates também não fez nada para chegar a um entendimento com o BE. Ainda me lembro de um debate antes das legislativas de 2009 em que Sócrates provocou e até tentou humilhar Louça sobre a questão dos enormes benefícios fiscais de empresas e particulares ricos. Louça tinha razão nessa matéria.

  3. Valupi, larga o vinho.

    _____

    No Aspirina B, Valupi & friends continuam a defender José Sócrates. Valupi já chegou ao ponto de truncar citações, mas não se trata de enganar os outros, apenas de se enganar a si próprio. Também assim deve ser entendido o seu exercício de separação entre moral, como conjunto de regras para viver em comunidade, e ética, como conjunto de regras para as relações privadas. Com este arsenal teórico, Valupi conclui que aquilo que sabemos sobre os alegados empréstimos de Carlos Santos Silva a Sócrates tem, até a Justiça se pronunciar, apenas uma relevância ética e nenhuma relevância moral, isto é, nenhuma relevância política. Para chegar a esta conclusão. Valupi torce os factos, argumentando a partir de uma suposta condenação pública de Sócrates por aceitar empréstimos de um amigo; para Valupi, esta condenação é hipócrita, pois muita gente, em algum momento de aperto, recorre à ajuda de amigos. Chegou o momento de explicar a Valupi a natureza da condenação pública de Sócrates.

    […]

    Aqui, Manuel G. Lê este tipo e acabará tanto nervosismo e o suspense, que até aqui os consigo sentir:
    https://ouriquense.blogs.sapo.pt/socrates-o-discreto-tio-do-luxemburgo-e-717295?view=943343#t943343

      • Amigo 4ever, mas caro não, porque sabe o Manuel G. que a minha cortesia é sempre à borla.
        Filantropia, pura, embora conceda que na maioria (?) das vezes é menos aromática para si que os puros cubanos.

        pu-ro

        1. Sem mistura; límpido; genuíno.
        2. Virginal; imaculado; inocente, casto.
        3. Verdadeiro; exclusivo; natural; único.
        4. Sincero; suave.
        5. Mero; vernáculo.
        6. Correcto, irrepreensível.
        7. Mavioso.
        8. Incontestável.
        9. Fiel, exacto.
        10. Que ainda não foi.

        ______

        Ah!, e não se zanguem com os leitores. Deixem-nos falar.

        • quem é o dono deste RaFeirodoCaralho que o deixa andar por aí na vadiagem sujando tudo o que é sitio asseado. publiquem o IP do vadio que é para lhe fazer-mos uma desinfecção à casota que está com certeza cheia de pulgas e piolhos por isso o vadio não pára lá quieto. vamos fazer Portugal grande novamente enviando estes troll?s todos lá bem pró fundo das virilhas das mãezinhas deles sitio donde nunca deviam ter saído.

  4. Está brilhante como é costume , mas incompleto para o meu gosto.
    É a Santa Igreja que está numa autêntica revolução prá-frente bota-abaixo !!! Nunca gostaram de ideais socialistas ,coisa que não consigo compreender, embora o Papa o recomende todos os dias, mas a Igreja Portuguesa cada vez mais parece uma “máfia”…..SERÁ?
    Porque gostam tanto da direita exploradora?

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