O ABSURDO

(Eldad Mário Neto, 05/05/2018)

soco

Como se sabe, a lealdade, dentro do ringue político, nunca foi regra de oiro; pelo contrário, são imensos e obscenos os casos de traição que chilreiam nas árvores dos poderes.
Infelizmente, a República tornou-se um pântano de promiscuidade entre o poder político e o poder económico.

Nada, pois, de especialmente novo que pudesse justificar, de alguma forma, esta recente inversão da narrativa do Partido Socialista relativamente ao caso Sócrates. Na verdade, a posição de não interferência directa no curso do processo, sob a égide dos princípios do direito à presunção de inocência e da separação de poderes, parecia recomendável, eticamente sustentada e, por que não dizê-lo, insusceptível de provocar danos eleitorais de monta, mesmo partindo do princípio que a direita tudo faria – como vem fazendo – para fazer coincidir o julgamento com as eleições legislativas. 

Assim sendo, o que terá levado o PS a abandonar a confortável e assertiva posição que vinha mantendo?
Terá sido o escândalo com o recente caso Manuel Pinho?
Não me parece; ministro de um governo Sócrates, não era, sequer, militante do partido socialista.
Outra hipótese, seria a da eventual divulgação da lista dos principais devedores da CGD e dos responsáveis pela concessão dos empréstimos sem garantias adequadas ( os chamados mal-parados ou, mais modernamente, de imparidades).
Também não vislumbro motivos para que o PS pudesse temer, mais do que o PSD e o CDS, o resultado de tal divulgação.
Qual, portanto, o motivo que terá levado A Costa e seus mais directos conselheiros, a “condenar” o já mais que condenado?

O PS nada ganha no eleitorado da direita, pelo menos tanto quanto perde no de esquerda; divide-se no seio das suas próprias hostes e não embaraça Rui Rio que jamais perderá a oportunidade de reclamar para si mesmo a limpeza ética que quer levar a cabo dentro do PSD.

Todavia, com um ganho de monta; não está no poder, corre por fora e sem “espantalho” político interno que possa sacrificar na fogueira eleitoral que se avizinha, pelo menos da importância que Sócrates indiscutivelmente conclama e a coberto da bruma que envolveu, há muito, os prosélitos do cavaquismo.
Existirá, já, acordo pré-eleitoral que venha a sustentar um futuro governo de bloco central? Não creio nessa hipótese. Seria de uma ingenuidade a toda a prova!
Residualmente, resta-nos o “absurdo”; sim, porque tudo isto me parece decorrer de um inenarrável absurdo, salvo qualquer facto que, ainda no segredo dos deuses, venha a revelar-se nos próximos tempos.
A não ser assim, esta posição do PS, constitui um harakiri político absolutamente incompreensível.

2 pensamentos sobre “O ABSURDO

  1. Infelizmente, a República tornou-se um pântano…” esta só dá para 😆
    A República sempre foi um pantâno! Basta observar a forma como este modelo organizacional foi posto em acção.
    Ou ainda há quem “pense” que foi a populaça que estava farta dos “reis” e que queria “presidentes”?!

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